segunda-feira, novembro 08, 2021

Nicaráguas


Sou de um tempo em que o mundo se mobilizava contra a ditadura de Somoza, na Nicarágua, louvando a luta de Ortega e dos seus amigos em favor da democracia no país.

Agora, vivemos num tempo em que há que apoiar a luta de quantos lutam contra Ortega e denunciam o modo repressivo e autoritário como ele domina a Nicarágua.

Duas lutas igualmente justas.

8 comentários:

Luís Lavoura disse...

há que apoiar a luta de quantos lutam contra Ortega

Desde que o apoio seja feito puramente por entidades privadas, ou desde que o apoio seja meramente moral, tudo bem.

Se o apoio fôr por Estados e/ou se assumir a forma de boicotes ou sanções (ou, ainda pior, de atividades militares), temos com toda a probabilidade o caldo entornado.

Jaime Santos disse...

Enfim, mais um exemplo da transformação do nacionalismo progressista na sua variante autoritária, corrupta e no caso de Ortega e su mujer, até obscurantista...

Nada que não tenhamos já visto noutros locais, provavelmente trata-se mesmo de uma regra geral.

E ainda anda gente a cantar loas ao movimento... Como eu sempre digo, se isto é soberania, tragam-me já as grilhetas de Bruxelas...

Joaquim de Freitas disse...

Eis que a Nicarágua merece de novo todas as atenções do Ocidente « democrático ».
É um pesadelo “americano”, sim Senhor Embaixador! Com ou sem Muro de Berlim !

Em 1985, Ronald Reagan declarou que a sandinista Nicarágua "é uma ameaça aos Estados Unidos" e, em 1 de Maio, anunciou um embargo total, semelhante ao imposto a Cuba.
De Honduras e da Costa Rica, o “Contra”, organizado e financiado pela CIA, semeia a morte na Nicarágua.

O nome da média é puramente anedótico: sejam da direita, da esquerda, do centro ou mesmo se professam "todos ao mesmo tempo", quase todos os meios de comunicação, como um "partido único", publicam quase a mesma coisa para denunciar a "deriva criminosa do regime de Daniel Ortega".
Essa unanimidade devia meter uma pulga na orelha dos observadores “imparciais”, como se diz em francês! Mas não! Ou a Nicarágua se tornou efectivamente "o Gulag centro-americano" do diário espanhol El País (27 de Junho), ou esse surpreendente consenso é uma abstracção perversa (ou preguiçosa) da realidade.

Herdeiro da luta de libertação contra a ditadura de Anastasio Somoza (1979) e depois da resistência à guerra de baixa intensidade que lhe foi imposta por Ronald Reagan (1981-1989) e George HW Bush (1989-1993), a Frente Sandinista (FSLN) voltou ao poder, pelas urnas, desde 2007, na pessoa de Ortega.
Sem fazer milagres, e no quadro de uma política pragmática, com seus bons e seus não tão bons, este libertou os mais modestos nicaraguenses do longo pesadelo em que a direita neoliberal os mergulhou desde a chegada à presidência “da Guaido” de Washington em 1990 Violeta Chamorro. Por isso, em duas ocasiões, Ortega foi reeleito com, aliás, confortável maioria sandinista na Assembleia.
Que um Helmut Kohl ou uma Angela Merkel possam permanecer no poder na Alemanha durante dezasseis anos, é perfeito!
Porém, a oposição denuncia antecipadamente uma "farsa eleitoral". Como Trump…Isso apesar de todas as sondagens terem mostrado Ortega vitorioso, (independentemente da postura política do instituto, incluindo o CID Gallup, que as executou). Daí a busca de uma obsessão: como e por quais meios livrar-se do sandinismo e de Ortega.
O "Golpe" foi decidido como meio de "regime change"...
A oposição tentou fazer isso em 2018 pela violência. Sem resultado concreto, excepto por um balanço muito pesado: 220 mortos, incluindo 22 policias e 48 sandinistas.

Como nas Honduras por Manuel Zelaya em 2009 (Parlamento, Corte Suprema de Justiça, Exército), no Paraguai por Fernando Lugo em 2012 e no Brasil por Dilma Rousseff em 2016 (Parlamentos), na Bolívia por Evo Morales em 2019 (Polícia, Exército) - com uma contribuição mais ou menos discreta do Governo dos EUA.

De facto, a direita teme enfrentar "com lealdade" o casal Ortega-Murillo "(Daniel, presidente; Rosario Murillo, sua esposa e vice-presidente), a direita só pode culpar a si mesma. Nostálgica da época em que os "mendigos" foram laminados pelas suas políticas,sociais, ela não acreditava que deveria desenvolver e propor qualquer programa ou projecto de país que pudesse fazer seus compatriotas esquecerem o desastre social que lhes causaram no passado.
Nada - excepto ódio por Ortega! E ambições pessoais. Inclusive famílias, no caso do clã Chamorro - Cristiana, Carlos Fernando, Juan Sebastián, Pedro Joaquín - que, herdeiros de uma dinastia de presidentes conservadores], se consideram legítimos donos da Nicarágua. De modo que, além dos grandes discursos essencialmente destinados ao exterior, a irmandade de personalidades que supostamente lutam juntas contra o sandinismo passa o seu tempo dilacerando-se.


E no exterior, os eternos servidores do "Sistema", qualquer que seja o presidente na Casa Branca, recusam-se a ver os tentáculos do polvo gigante que asfixiam os povos da América Latina.

Flor disse...

"Ora agora virás tu, Ora agora viro eu"e no meio disto tudo está um povo faminto e a viver em condições degradantes. Ok! Eu sei "que o meu é mais bolos" mas porquê a América Latina está sempre quase toda a ferro e fogo? Menos a Argentina, Chile, Uruguay e pouco mais. É triste!

José disse...

Já eu, sou do tempo em que os EUA se opunham a escumalha desta em toda a América Latina.
Já repararam no estilo "blusão e boné" do ditador? Aquela escola hispano-americana...

Paulo Guerra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Paulo Guerra disse...

Opunham-se a quê não sei. Ou melhor, chama-se doutrina Monroe. Mas sei com quê. Com tráfico de armas e tráfico de drogas. Enquanto nos EUA, a Nancy alertava todos os dias as criancinhas para que não aceitassem rebuçados nas escolas. Uma moda que também chegou cá aliás.

Já misturar o que foram as intervenções, para não dizer agressões externas norte-americanas no seu próprio Continente durante toda a segunda metade do século XX, que várias Administrações viam como o seu próprio quintal - como foi o caso aqui retratado - com missões essencialmente de manutenção de paz no quadro da ONU ou da UE em países mais pobres e nomeadamente no continente africano, só serve para reavivar a memória como ainda é impossível discutir o continente africano com a esmagadora maioria dos retornados.


Já as invasões do Afeganistão e do Iraque em quadros de legitimidade internacional só per si já completamente distintos, na medida em que a invasão do Iraque nem decorreu sob nenhum mandado da ONU, só denuncia mais uma vez uma vontade de misturar no mesmo saco contextos internacionais e conflitos armados completamente distintos quando não completamente opostos no quadro do direito internacional. O Mundo já está como está, sem qualquer governação global há demasiado tempo mas era bonito se a diplomacia internacional também se desenvolvesse com a mesma falta de discernimento. Tipo com os diplomatas sempre armados com uma varinha mágica ou uma misturadora Moulinex. Passe a publicidade.

Paulo Guerra disse...

Queria só fazer uma correcção ao facto de ter datado as intervenções externas dos EUA no seu próprio subcontinente à segunda metade do século XX. Na medida em que continuam hoje como todos sabemos. Como o golpe levado a cabo na Venezuela que chegou a depor Chavez. Tudo pelas maiores reservas de petróleo mundiais. Hoje tão unanimemente reconhecido internacionalmente como a deposição do legítimo PM iraniano que também ameaçava nacionalizar o petróleo logo em 1953. E que viria a conduzir mais tarde à ameaça mundial que representa o fundamentalismo religiosos no Irão hoje. Mas também não é boa ideia estar agora a desviar-me para as inúmeras trapalhadas no Médio Oriente que transformaram aquela zona do Globo só na zona mais sensível do planeta.


Que pagamos todos, de uma maneira ou outra e logo a começar pelos primeiros choques petrolíferos que conduziram a dois resgates só em Portugal. Porque nunca foi o tempo, o local ou outra razão qualquer mais abstracta como o altruísmo que determinaram as intervenções externas norte-americanas no globo mas sim a riqueza de um determinado país. Ou melhor, o seu saque. E basta ver a miséria à volta da Venezuela que ainda hoje leva muitos mais refugiados a baterem à porta dos EUA e que nunca lhes despertou qualquer tipo de consciência. E podia falar de situações humanitárias dramáticas, de pobreza extrema ou até do quotidiano de perseguições políticas que ajudaram a promover na Colômbia, no Panamá ou nas Honduras depois do golpe de 2009. E que fique claro que ao criticar tão fortemente este tipo de agressões externas completamente ilegítimas sob o ponto de vista do direito internacional não pretendo com isto necessariamente defender qualquer regime. O que também se tornou infelizmente uma forma de olhar para a política. Ou estás com eles ou contra eles?! De maneira nenhuma.


Mesmo sem governação mundial ainda existe uma ONU - muito enfraquecida infelizmente - e o povo de cada país para resolver os seus próprios problemas. O mundo nunca precisou de um polícia ilegítimo - amigo das Monarquias mais sanguinários do mundo - que só acrescentou mais problemas ao mundo. Nomeadamente No seu subcontinente. Onde os EUA continuam a depor governos legitimamente eleitos que trocam pelos seus espantalhos. Toda a ofensiva na América do Sul que passou por muitos países que não tenho agora tempo para pormenorizar e que culminou com a deposição de Dilma e a prisão de Lula é o melhor exemplo disso. E é bom lembrar que antes da crise económica mundial espoletada por mais uma bolha de crédito nos EUA, para não variar, o Brasil tinha acabado de ultrapassar o RU e já era a 6ª maior economia do Mundo. Muito provavelmente a única com capacidade para elevar todo o seu subcontinente a outros patamares de desenvolvimento. Como já estava aliás a acontecer com uma espécie de União entre os países da região promovida por Lula.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...