É uma hora que não tem a menor graça quando já regressámos a casa. Tem ainda bastante menos quando estamos a trabalhar. Mas sempre achei magnífico o final dos dias nos cafés das cidades, em especial nos inícios do outono. Já não há por ali grupos de tertúlia, como nas manhãs ou a meio da tarde. Os espaços rarefazem-se progressivamente de gente, porque o jantar se aproxima e a novela (ou qualquer outra coisa) convoca. É a hora dos solitários ou de quantos, por qualquer razão, vão atrasando o regresso a penates (ainda alguém sabe o que isto significa?). Quase que nos empurram das mesas, os que por ali estão, sem gosto, no último turno de serviço e nos olham com alguma piedade desconfiada (“o que é que este tipo ainda faz por aqui?!”). No que me toca, sempre vi esta hora como mágica - e lembro-me dela, por décadas, em várias cidades, em muitos cafés, em diversos climas, em ocasiões muito diferentes. Alguns, ao que parece, acham-na triste. Coitados, não percebem nada! Talvez porque eu seja “do contra”, sempre adorei esta hora magnífica! À saída do café (que interessa onde é?), estavam estas árvores e esta luz. Percebem agora?
7 comentários:
o lusco-fusco é sempre magnífico sr embaixador.
o ir a penates sempre o utilisei no sentido de ir a pé, mas visivelmente não é esse o sentido original da expressão.
cumprimentos
deixo lhe como compensação da minha ignorância do penates esta pequena recordação de um fado do antigamente
DESORDEM ENTRE REFRESCOS(1873)
No botequim do Martinho
A dona carapinhada
Deu um tabefe valente
N'uma pobre limonada
Um capilé estava lendo
O que o Popular trazia
Eis apanha uma sangria
Em um artigo tremendo,
Grita a groseille: «Eu defendo,
O que vem no artiguinho,»
Eis salta com agua o vinho,
Com o seu ar pedantesco,
A chasqueiar o refresco.
No botequim do Martinho.
O sorvete poz-se á teza,
N'isto, viu a gente toda,
Ferra-lhe um murro uma soda
Que quebra a pedra da mesa.
Salta uma cerveja ingleza
Dá em tudo bordoada,
Assanha-se a laranjada,
E entre ditos esquisitos
Vae presa entre copitos,
A dona carapinhada.
Um limão amarelinho
Deu um murro, mas que murro,
No tal capilé casmurro
Mas sem ser de cavalinho.
Um boocks muito tezinho
Co'a pinhoada innocente,
Do barulho põe-se á frente,
E depressa... oh! maravilha,
Na pobre salsa-parrilha,
Deu um tabefe valente.
Serviu de empenho a orchata,
Para isto se acabar,
Pois era p'ra lastimar,
Entre o refresco a bravata.
A Dona altéa barata.
Paga a fiança coitada,
E no Carmo foi tratada,
Vamos lá com ,seu dichote,
Saltando a agua do pote,
N'uma pobre limonada.
cumprimentos
Penates eram os deuses do lar, na mitologia romana. ‘Regressar a penates” é ir para casa
Hora mágica - está tudo dito.
Ou retomar uma actividade ou quaquer outra coisa que não apetece fazer . Claro , num sentido menos científico do que o da mitologia romana ... mais popular .
Se fosse por mim acho que os cafés fechavam todos. Vai para mais 3 dezenas de anos que não me sento num, seja dentro ou fora dele. Abomino completamente esse conceito.
Texto de quem, à evidência, se sente bem com a vida. Que assim continue, senhor embaixador...
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