Estava um grupo sentado na mesa do Procópio, a meio dos anos 90. Três membros do governo de António Guterres, recém-nomeado, faziam parte da tertúlia, numa dessas barulhentas sextas-feiras. Eu era um deles.
Veio à conversa uma determinada política pública, de natureza social, e, perante uma reivindicação sobre a urgência na sua implementação, um dos nóveis governantes comentou que havia que dar mostras de contenção, que era irresponsável estar a "pedir o céu", que devíamos ser gradualistas nas nossas ambições.
Foi então que um menos contido membro do nosso grupo, um homem que desportivamente arquiteta a alegria da vida com voz grossa e gesto largo, que se havia entretanto juntado à "mêlée" da Mesa Dois, interpelou os governantes que por ali estavam, de copo à ilharga:
- Eh pá! Desculpem lá! Durante os últimos 13 anos, andámos a "levar porrada" do Cavaco, que se marimbava para tudo o que nós defendíamos. Nessa altura, pronto!, nada era possível e a malta tinha de amouxar. Agora que o PS chegou ao poder, porque o país estava farto das políticas "do gajo", surgem-me vocês a dizer que temos de ser "modestos", que não é prudente colocar excessiva pressão sobre um governo que "é nosso". Então respondam-me lá: quando é que podemos, sem qualquer limitação, pedir e obter financiamento para uma política que é necessária, justa e que o país compreende como essencial? É que assim não se percebe para que serve mudar de governo, a não ser para estarem lá vocês e não os outros?
Às vezes, nestes tempos de Geringonça, lembro-me disto.
4 comentários:
Soyez realistes, demandez l'impossible.
2. Sobre o que Marco Antonio Costa considera ser "preocupante"(sic) era bom lembrar que ha uma cortina de silencio publico sobre as inquirições de que foi alvo. Transparência, a bem dizer, so pode apregoar para os outros.
Obrigado por explicar como chegámos ao pântano e como nele iremos continuar.
"como chegámos ao pântano"
mas alguma vez de la saimos?...
Passados estes anos.....mais do mesmo...
Qurem que acreditemos que António Costa, Mário Centeno, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa podem meter no bolso as "causas" de propaganda nacional, mas não conseguem "enganar" todos ao mesmo tempo......
Enviar um comentário