A questão catalã não tem surgido como um tema relevante para os portugueses. Por opção em favor da autodeterminação, mas também por algum anti-espanholismo, certos setores nacionais manifestam simpatia pelo independentismo catalão. Há ainda uma gratidão pelo facto de, em 1640, a concentração das atenções madrilenas no conflito com Barcelona ter permitido à aristocracia portuguesa, descontente com o modo como Castela tinha começado a tratá-la, passar a re-titular a plena soberania de Lisboa sobre o nosso território europeu e colónias. E, vamos ser claros!, há também por aí muito quem, íntima ou abertamente, pense que um cenário de “balcanização” da Espanha poderia ser útil a Portugal. Uma agenda onde, curiosamente, se junta gente da extrema-direita à extrema-esquerda, passando por alguns moderados úteis à ideia.
Uma independência serena da Catalunha não constituiria uma tragédia para Portugal. Teria, no entanto, duas consequências óbvias: Lisboa passaria a ser, em termos de importância, a terceira capital da península ibérica e haveria um inevitável efeito-dominó sobre o complexo sistema autonómico do país aqui ao lado. Para uns, a primeira circunstância é irrelevante, porque outros valores mais altos se alevantam na sua análise; para outros, para os que gostam de “muitas Espanhas” (como alguns gostavam de duas Alemanhas, lembram-se?), esse seria mesmo o cenário ideal. E seria mesmo?
Caso mais bicudo se tornaria uma independência catalã obtida “a pulso”, depois de um conflito mais ou menos grave com Madrid. A estabilidade dos nossos vizinhos (neste caso, do nosso único vizinho) é uma questão que nos não pode ser indiferente. Ver uma Espanha convulsa e tensa não seria uma boa notícia, no nosso principal parceiro comercial, de cujo crescimento em estabilidade somos “free riders”.
Dito isto, e quanto a nós, Portugal, por ora, o que fazer? Oficialmente, rigorosamente nada. Apenas aguardar. Compete-nos aceitar a resultante final deste complexo debate, qualquer que ela seja. Não se peça a Lisboa para tomar uma posição: nem a favor do anti-independentismo de Madrid, nem simpatizando com a secessão catalã. A seu tempo, e perante cada passo que por lá vier a ser dado, Portugal decidirá o que tiver (se tiver) que fazer.
E na Europa? É simples. Se e quando a Catalunha vier a ser independente e pedir adesão à UE, Portugal deverá analisar o assunto à luz dos seus méritos próprio. Como nos outros casos.
7 comentários:
Uma Catalunha independente sentiria uma enorme necessidade de se integrar economicamente com o máximo de países por forma a sacudir a pressão espanhola. Nesse cenário, a Catalunha seria uma economia aberta - ao contrário da protecionista Espanha -, e as parcerias com os vizinhos da Espanha (Portugal, França e Marrocos), seriam essenciais. Isto, só poderia ser bom para Portugal.
Por outro lado, o soco no estômago que a Espanha levaria (através da enorme redução de recursos), levá-la-ia a baixar de nível e peso político, na Europa e - claro -, na Península Ibérica, vendo-se na necessidade de moderar os seus habituais instintos predatórios.
Uma Espanha sem a Catalunha seria um país consideravelmente mais fraco e - consequentemente -, um vizinho com o qual seria mais fácil lidar e ao qual seria mais fácil opor-nos. Num cenário de alterações climáticas conducentes à seca e sendo nós "alimentados" por quatro rios nascidos em Espanha, quanto mais fraca esta for, mais assertivos nós poderemos ser na defesa dos nossos interesses. E não esqueçamos a central nuclear e as Selvagens!
Qualquer país saudável procura ter relações equilibradas com os seus vizinhos. Isso não existe de momento. Há um forte desequilíbrio demográfico, económico, político e militar e a independência da Catalunha só contribuiria para atenuar este desequilíbrio (mais no plano económico, convenhamos).
A Catalunha é (ainda) a Espanha moderna, avançada, cosmopolita. A Europa só pode ganhar com o aparecimento de um país da qualidade da Catalunha. O exemplo que o seu povo tem dado de democracia, participação cívica, civismo e persistência não pode ser ignorado!
@ anónimo de 21 Set 09.53
A Espanha é membro da UE.
A Catalunha se se tornar independente só será reconhecida talvez pela Coreia do Norte e mesmo isso.......... Nem Andorra.
Já percebeu com que unidade monetária vai a Catalunha fazer as suas milionárias trocas comerciais?
Sabe como se deve comportar um Estado para que outros Estados possam respeitá-lo e aceitar relações comerciais e políticas.
Por que tratados comerciais se regerão essas trocas comerciais.
Isto já não é o Burundi. É muito melhor.
Para se fazer uma revoluçao não é preciso senão reunir alguns exaltados e se possível, do antigamente; para a manter... "c'est tout à fait une autre histoire."
E, quando a população catalã, que está habituada ao "bem bom", se aperceberem disto.....Não sei não.
Não se cria um Estado de novo, do pé para a mão, na UE.
Veja-se o exemplo da Grécia de que se ouve cada vez falar menos e que chegou a ser um assunto de certa forma muito mais sério.
É absolutamente inadmissível o que se está a passar na Catalunha. O governo do PP e os juízes às suas ordens têm de parar a repressão feroz sobre os direitos humanos e a democracia. Demonstram que o franquismo está bem vivo em Espanha! Prendem e multam pessoas cujo único "crime" é quererem votar ou aceitar fazer parte de uma comissão eleitoral! Misturam poder legislativo, executivo e judicial. Passam uma lei declarando que é crime organizar um referendo, e agora dizem que se limitam a cumprir uma lei! Congelam contas de tudo o que é público, incluindo contas bancárias de universidades, centros de investigação, mesmo que boa parte das verbas sejam de fundos europeus, paralisando a vida de todos indiscriminadamente! Franco na sua tumba esfrega as mãos de contente!
"21 de setembro de 2017 às 16:26" conseguiu passar ao lado de tudo o que escrevi...
44:40, Pacheco Pereira a dizer tudo o que interessa sobre a questão da Catalunha. Os pontos nos "i" contra a hipocrisia!!!
https://www.youtube.com/watch?v=cnl40oDI7mI
Anónimo 22 Set 05:48
Mas foi isso que pretendi de uma maneira não politizada e mais realista.
Independência para a Catalunha, Pais Basco e Galiza.
Fim ao imperialismo Castelhano.
Viva Portugal!
Visca Catalunya Liure!
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