sexta-feira, dezembro 12, 2014

Fundação

Um dia de 2010, ao tempo em que era embaixador em Paris, fui apresentado e almocei com um jovem luso-descendente, creio que de segunda geração, quadro em franca ascensão dentro da UMP, o partido francês então no poder. Tinha uma ideia que me pareceu bastante interessante: criar uma Fundação França-Portugal que pudesse servir de centro propulsor das relações entre os dois países, da economia à cultura, passando por vários outros setores. O projeto, contudo, estava ainda escassamente desenvolvido. Disse-lhe que a embaixada estaria disponível para apoiar a iniciativa, desde que o processo de criação de uma fundação fosse totalmente transparente, aberto e inclusivo. Lembro-me que fiz algumas sugestões, que ele ficou de analisar. Por uma qualquer razão, nunca mais me procurou. E, confesso, tive pena.

Há meses, verifiquei que o nome daquele meu interlocutor parisiense surgiu ligado ao famoso caso da empresa Bygmalion, envolvida numa burla de sobrefaturação financeira no quadro da campanha eleitoral de Sarkozy, em 2012. Acabo de ler que foi detido. O mundo é pequeno e perigoso.

14 comentários:

Anónimo disse...

Chico

Poizé. Afinal le garçon era o mau da fita e ninguém sabia de nada. Como o Salgado, aliás caso muito...salgado.

Abç

Le Parisien disse...

Chama-se Alvés ou Alves?

Joaquim de Freitas disse...

Le "copain à Copé" , Guy Alves, não arrisca grande coisa! A não ser que , através Copé e "l'affaire" Bygmalion , a justiça procure enviar um míssil a Sarkozy, antes da sua "mise en orbite" para 2017!

Quando vejo que ontem, Eric Woerth saiu das garras da justiça puro como um anho, branquinho como a neve que cai esta manhã em frente da minha janela, ele, que ia buscar os cheques para Sarkozy, chez Madame Bettencourt, já vitima d'Alzheimer, a quem era preciso explicar quantos zeros tinha de escrever depois do numero 1, para escrever um milhão !

Joaquim de Freitas disse...

Senhor Embaixador : Permita, por favor, para os leitores eventuais que não conhecem Eric Woerth , que acrescente alguns detalhes sobre o "artista"!

Ministro do Orçamento de Sarkozy e encarregado da luta contra a evasão fiscal ( como Cahuzac, o socialista de François Hollande, no mesmo posto e com as mesmas funções , com uma conta na Suiça. !) .

Era o mensageiro de Sarkozy, que se deslocava a Genebra e regressava com a mala cheia de dinheiro para as despesas de Sarkozy. Os doadores eram "exilados" franceses , como por exemplo, os tenismen da equipa de França, certos artistas e outros que escapam aos impostos, mas vêm a França jogar, cantar, e fazer cinema... levando o pecúlio para a Suíça. Bons patriotas. Para Woerth, há a boa evasão fiscal e depois a outra ...

Eric Woerth vendeu terrenos contíguos a um campo de corridas de cavalos pertencentes ao Estado, na comuna onde é o Maire, a um preço de amigos, a certos amigos, mas a justiça, finalmente não considerou que foi "une affaire".

Quanto a Guy Alves, felizmente que há outros luso franceses que militam à esquerda e representam honradamente o povo na Assembleia Nacional , como deputados.

Anónimo disse...

pelos lados do Brasil isso é rotineiro, só que lá ninguém é preso e continuam roubando e todos nos seus mesmos postos.

ARD disse...

Tal como SÓCRATES, não terão eles direito à presunção de inocência?

Francisco Seixas da Costa disse...

Podes crer que têm, António. Até porque o impacto político e mediático não é, apesar de tudo, o mesmo.

Anónimo disse...

Pois é! No melhor pano cai a nódoa!

Helena Sacadura Cabral disse...

Conclusão: não somos nada originais. Cá e lá mais fadas há!

Anónimo disse...

Não tem não porque "não militar honradamente à esquerda"!!!
Parece demais!
João Vieira

Cinderela disse...

"Felizmente que existem outros que militam à esquerda e representam honradamente o povo ...". Como se o facto de militar à esquerda , seja o que isso for, fosse um certificado de garantia de honradez e de defesa dos interesses do povo. Com todo um passado que não quer calar e o presente que estamos a viver ... não dá para ser um pouco menos arrogante? Já não sei se é arrogância, se é fé, se é bug no software ... Boa sorte para nós!

Joaquim de Freitas disse...

Cara Cinderela :

Se mencionei a existência de três luso descendentes na Assembleia Nacional francesa, eleitos em 2012, além do facto histórico é a capacidade de intervenção da comunidade portuguesa e a sua participação democrática neste país, onde vivo, que me interessa. Eu mesmo fui eleito , a um nível inferior, numa comuna de centro esquerda.
Que os três deputados luso
descendentes sejam socialistas não é para me desagradar. Antes pelo contrário.

Que sejam honestos , e que o tenha notado , também não quer dizer que não existam deputados honestos à direita.
E que existam deputados desonestos à direita como à esquerda, basta ler o meu comentário precedente sobre Cahuzac , socialista, para o constatar.

O mundo politico é o espelho da sociedade.

Creio que a situação é idêntica em Portugal.

Por isso, não existe arrogância, nem "bug" nem uma fé particular no facto que tenha mencionado que são homens de esquerda.
Se eles militassem à direita, e se o tivesse mencionado, certamente que Cinderela não teria feito o mesmo comentário.
Cumprimentos.

Cinderela disse...

Caro J de Freitas,
Ah, pode apostar que teria. A minha fé, ou melhor, a minha esperança, é menos nas arrumações partidárias (falo num expectro democrático, sobretudo na mancha formada pelos hoje designados partidos socialists e sociais democratas) e mais nos homens que as integram e que, conjunturalmente,detenham o poder. Tenho visto tanta coisa .... de todos os lados. Lógico que não é um tema simples, há várias maneiras de o abordar, mas para quem tem acompanhado e sofrido na pele o filme dos ultimos 40 anos, a bondade da esquerda e a maldade da direita é apenas retórica para boi dormir ...
Cumprimentos e vou continuar lendo os seus comentários, sempre interessantes!

Joaquim de Freitas disse...

Cara Cinderela :

Há as ideologias, os partidos e os homens. O socialismo, a social democracia , que tendem ambos para o liberalismo, todas essas fórmulas estão ultrapassadas . Mesmo se o liberalismo desempenhou um papel histórico considerável, é absurdo de ser liberal hoje. Se quisermos ser honestos devemos dizer que a sociedade liberal já não existe, mesmo se muitos a criticam ainda, pensando que ela existe. A sua doutrina está completamente ultrapassada , numa época de concentrações capitalisticas sem igual na história.

Os movimentos de enormes massas financeiras não têm em conta nem os interesses dos Estados nem os dos povos, povos compostos de indivíduos. O liberalismo subentende a iniciativa pessoal e o risco financeiro pessoal. Ora nada se faz hoje sem o dinheiro dos bancos.

Estes bancos, cujo número é cada vez mais reduzido, conduzem uma política ditatorial, dirigista por natureza. Os proprietários estão à sua "merci", pois que tudo é submetido ao crédito e portanto ao controlo dos poderes financeiros.

A importância dos indivíduos, fundamento do liberalismo, reduz-se cada dia que passa. Pouco importa quem dirige hoje tal ou tal empresa, ou tal ou tal país : Blair ou Cameron, Sarkozy ou Hollande, Socrates ou Passos Coelho, Merkel ou Kohl, Zapatero ou Rajoy, Bush ou Clinton, que importância ? Eles conduzem e conduzirão a mesma politica. Porque não são eles que decidem desta política. Esta é-lhes imposta pelo verdadeiro poder, o poder financeiro internacional.

Mas os povos, à procura de alívio para os seus sofrimentos confiam ainda nos discursos dos homens. Dos homens políticos, subentenda-se. E entre estes talvez hajam aqueles que crêem mas não poderão fazer nada, e depois os que sabem que não poderão fazer nada daquilo que prometem. .. mas continuam a prometer. O pêndulo das eleições alterna-os no poder.

No grupo dos que crêem , uma certa solidariedade existe. São os promotores do Estado social, que a direita conservadora combate e dele pretende destruir o pouco que subsiste.

Em nome da rentabilidade dos capitais, porque estes não estão lá para criar empregos, dizem, mas para aumentar o seu valor , acumulando.

Cumprimentos.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...