segunda-feira, dezembro 01, 2014

O 1° de dezembro

António Barreto chamou "estupidez" à decisão governamental que eliminou o 1° de dezembro do mapa dos feriados nacionais. Eu falei em "ignorância" e "irresponsabilidade". Não fixei exatamente os termos utilizados pelos restantes oradores, como Adriano Moreira e Eurico de Figueiredo, na crítica unânime a essa medida. Foi durante a sessão organizada pela Associação dos Antigos Alunos do Liceu Camilo Castelo Branco, em Vila Real, precisamente para comemorar a data da Restauração.

Juntámos cerca de duas centenas de pessoas, unidos pelo interesse em rememorar a data, a sua simbologia, muito para além das sensibilidades políticas. É que o 1° de dezembro não é uma data apropriável pelas ideologias, muito embora o Estado Novo me tivesse feito marchar algumas vezes, de camisa verde (a minha mãe enchouriçava-me de camisolas), calção castanho curto (!!!) e um cinto com um grande S (que era de Salazar mas que a vergonha levava os prosélitos do regime a dizer que era de Serviço), de braço estendido em saudação romana (e também nazi-fascista), sob o frio matinal de uma Vila Real invernosa. Nem assim fui dissuadido de venerar o gesto histórico dos conjurados que, em 1640, recuperaram a nossa independência de Madrid.

Para o ano, espero regressar a Vila Real no 1° de dezembro, já com o feriado reposto. Voltarei a encontrar os velhos amigos na "ceia" da véspera da data, que agora se faz já com as mulheres (no meu tempo de liceu, as "ceias" eram exclusivamente masculinas), com outros pratos para além do arroz de frango (a tradição era a ceia ser confecionada com as "penosas" desviadas dos quintais, por onde nos introduzíamos nas noites anteriores). Iremos, como sempre, cantar o Hino da Restauração e berrar os Efe-Erre-Ás de regra, com a romagem à estátua de Camilo Castelo Branco, no jardim da Carreira. E, a partir de então, procuraremos fazer esquecer à cidade que foi um primeiro-ministro dela originário quem decidiu promover a suspensão da comemoração dessa data fundacional da nossa identidade e do nosso orgulho como país.

Viva o 1° de dezembro!

8 comentários:

Joaquim de Freitas disse...

Muito bem Senhor Embaixador. O meu Pai, quando me viu vestido com a tal farda da MP mandou-me despir e não me deixou sair! Estava doente! Foi assim que respondeu quando lhe perguntaram porque é que eu não estive "presente" no desfile do 28 de Maio no estádio antigo do Braga!

Manuel do Edmundo-Filho disse...

Viva!

Anónimo disse...

"data fundacional da nossa identidade e do nosso orgulho como país."

Fundacional???!!!

E, depois, admirem-se que ande para aí gente a dizer que a independência de Portugal se deu em 1640...

Anónimo disse...

Peço-lhe a fineza de não referir o sr. Passos de Coelho como originário da Bila. O filho do dr. António nasceu em Coimbra mas descobriu a vida em Angola, terra que continua a marcar o seu imaginário e as suas pulsões. É certo que passou uns curtos anos juvenis pela Bila, a passear os livros, a bater-se nas mesas de sueca, a aprimorar-se na nobre arte de falar muito e nada dizer que o levaria ao posto actual, mas dos valores vila-realenses e trasmontanos nada levou para as tascas do Bairro Alto onde se fez homem.

Francisco Seixas da Costa disse...

Eu escrevi "fundacional da nossa identidade", não da nossa independência. Percebam as metáforas, caramba!

Unknown disse...

Caro Sr. Embaixador:
haveria uma terceira versão do significado do "S":
Serviço Secreto Sem Salazar Saber; Se Soubesse Seria Sério Sarilho!
João Barros (anfitrião no Couço)

Carlos Fonseca disse...

O João Oliveira, meu condiscípulo no Liceu D. João III (que foi rebaptizado José Falcão, depois do 25A), dizia que o S do cinto da "Bufa" era a inicial de Salafrário.

Anónimo disse...

Viva.

Isabel Seixas

Ah! Leão!

Quantos pontos poderia o Sporting ter poupado se tivesse havido uma decisão mais ponderada na escolha do sucessor de Amorim?