O vento das privatizações sopra a todo o vapor. Faltam
escassos meses para o termo do mandato deste executivo, mas a vontade de
“passar a patacos” tudo o que cheire a público parece fazer parte do caderno de
encargos de quem ainda dirige este país.
Fala-se agora, com renovada insistência, na privatização
integral das Pousadas de Portugal. Declarações oficiais mostram essa
disponibilidade de alienar o capital das Pousadas que ainda estava em mãos
públicas.
As Pousadas foram uma criação do Estado, em 1940. Desde
então, foram criadas 59 unidades, das quais só restam 35, uma delas no Brasil. (Escrevo
com a “autoridade” afetiva de quem pernoitou em 49 dessas unidades). As
Pousadas destinavam-se a fomentar o turismo e o conhecimento de zonas mais remotas
do país. Tiveram, durante muito tempo, preços “políticos” baixos, chegando a
haver a regra de não se poder pernoitar mais de três noites seguidas na mesma
unidade. O Estado desenhou e construiu os edifícios, ou adaptou com elevados
custos monumentos históricos, e manteve sempre as Pousadas – criadas à imagem
dos Paradores espanhóis – como propriedade pública. Inicialmente, era a própria
Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais que equipava as Pousadas, recheando-as
com obras de arte onde se gastou muito dinheiro dos contribuintes e que
constituem hoje um riquíssimo património, que se espera esteja bem inventariado
e preservado.
Depois de uma experiência de gestão através de uma empresa
pública, foi decidido abrir as Pousadas a um concessionário privado, por um
período limitado de tempo. Neste entretanto, desde a concessão, como evoluíram
as Pousadas? O serviço piorou em muitas unidades, que sofreram drásticos cortes
no pessoal e, o que é bem mais grave, foram encerradas ou “franchisadas" unidades
clássicas da rede, edifícios de elevado valor arquitetónico, algumas das
primeiras unidades criadas logo após 1940. Por virtude destes encerramentos, foram
retiradas algumas unidades hoteleiras importantes a certas zonas do país e, com
essa alienação, perdeu-se para sempre um património de grande valor simbólico e
sentimental.
Não terá sido por acaso que, à época, foi feita uma
concessão não uma alienação da rede. É porque as Pousadas cumprem também um
serviço público, elas não são uma mera cadeia de hotéis. Algumas Pousadas podiam
ser menos rentáveis do que as outras, mas esse era o preço que o concessionário
teria de suportar por ter herdado uma marca de prestígio e uma rede fabulosa de
edifícios públicos, de onde retira fortes lucros. Essa era também a
contrapartida para que novas e ainda mais rentáveis Pousadas pudessem continuar
a ser instaladas em outros espaços e edifícios públicos, como se diz agora que
vai ocorrer no Palácio Foz.
As Pousadas fazem parte da nossa memória patrimonial. Não se
pode pedir a um concessionário que com elas perca dinheiro, mas o Estado tem a
obrigação de garantir que os bens públicos – patrimoniais e morais – são objeto
de uma gestão equilibrada que salvaguarde sempre o interesse coletivo.
(Artigo que hoje publico no "Diário Económico")
14 comentários:
é um sentimento partilhado Sr. Embaixador!
Sempre o "ESTADO", que "doença" !
Embrenhe-se no espírito de Natal Católico, os verdadeiros valores são sempre os da Fé
Um Santo
Natal para si e família.
Se recuarmos 60 anos, de lá para cá, foram criados tantos Direitos que só seria possível mantê-los se houvesse um poço de petróleo gordinho. Se não for descoberto um Elemento capaz de o substituir,os tais direitos hoje tidos( dos quais sou beneficiário) como «garantidos» perdurarão mais uma década.Aliás já nos estão a acenar que temos de cortar com as pensões bondosas.
cumps.
Excelente artigo, que, infelizmente, vai cair em saco roto. Esta cambada é de uma insensibilidade que choca. Nada que respeite ao Estado lhes interessa. No caso das Pousadas, a coisa já tinha piorado com a equipe Pestana, pois, ao contrário do que sucedia quando eram do Estado, cada Pousada tinha a sua própria administração, a sua própria gastronomia (ou cozinha), os seus próprios vinhos, ou seja, era um lugar onde se ia para desfrutar aquela região, ou aquele local, quer paisagisticamente, quer gastronomicamente (e patrimonialmente). E cada Pousada era diferente das outras. Ainda me recordo, por exemplo, de uma pequena, mas saudosa, que funcionava muito bem, em Monsanto (famosa pelos excelentes queijos daquela região). Depois, com os Pestanas, com vista a baixar custos e extrair o máximo de lucro, o que contrariava a filosofia das Pousadas, passou a haver administrações regionais, que abarcavam várias Pousadas e, pior, o passo seguinte foi a “harmonização” das respectivas gastronomias ou cozinhas, o que se comia numa determinada Pousada, era idêntico (o menu e carta de vinhos) ao de outras na mesma região (Alentejo, etc e tal).
Convém, contudo, recordar que esse primeiro mau passo, que hoje abre as portas ao desastre que aqui nos revela e se prepara, por decisão deste lastimável governo de abutres, foi dado pelo “suspeito da cela 44”, José Sócrates, ao ceder o negócio ao Pestana, se a memória não me falha.
Também pernoitei em muitas delas, pois uma das minhas paixões era precisamente visitar e ficar num fim-de-semana numa Pousada.
A última dessas Pousadas, que vale a pena visitar pela recuperação que foi feita, através de um projecto do Arquitecto Souto Moura, é a do antigo Sanatório ali perto da Covilhã, mas a falta de originalidade da gastronomia deixa algo a desejar.
Eduardo Lemos
Concordo inteiramente.
JPGarcia
Ao Senhor Eduardo Lemos informo que o negocio das pousadas com o grupo Pestana foi realizado em 2003, ao tempo de Durao Barroso.
obrigado e ctos.
Essa do espírito de Natal Católico dá para perguntar onde está, tendo em conta que os membros deste governo de destruição social, designadamente Passos, Portas, Albuquerque, são católicos praticantes?
Onde está esse espírito quando se corta nas pensões, no período dos subsídios de desemprego, no auxílio ao BPN, na leveza fiscal com que se tratam as grandes empresas e a Banca, quando se ignora os níveis de pobreza que se atingiu graças a este católico governo?
Dos católicos, o melhor é fugir deles! O tal seu “espírito” é socialmente arrasador. E vem depois o PR perorar desejando o tal Feliz Natal, esquecendo toda esta destruição social e económica!
Qual Fé, qual Santo Natal, qual espírito Católico de Natal quando se está despedido, quando se recebe uma pensão de 400 euros, quando não se tem dinheiro para curar um cancro, pagar gastos de saúde, nem dinheiro para se alimentar com dignidade!
Católicos de um raio que os parta, mas é!
Augusto Moira
Para o Sr. Moira, das 12:31, já dizia Buda:
"Feliz aqueles cujo conhecimento é livre de ilusões e superstições"
Há certas soluções políticas e económicas que só são viáveis com um "SALAZAR".
Salazar, foi uma excepção , ou seja um momento raro, um parêntese na História de Portugal.
TAP, POUSADAS, ESCOLAS do CENTENÁRIO, ESTAÇÕES FERROVIÁRIAS, AFORRO dos CTT, etc...enfim a CASA PORTUGUESA, e outras pequeninas coisas, não se coadunam com a cultura abrilista.
Agora é preciso baralhar e tornar a dar.
Só pode ser distração. Então como é possível que nenhum governo "democrático" se tenha lembrado de acabar com as ditas pousadas? Mas não foi uma invenção do Estado Novo?! valha-nos Deus...
Por falar neste governo estar a vender tudo o que é do Estado, a última que corre pelo MNE, é que já foi decidida a venda do Palácio que serve de Residência do Embaixador de Portugal junto da Santa Sé! Um edifício belíssimo! Uma ideia peregrina do Portas, para realizar dinheiro, que este Ministro terá acabado por levar avante, possivelmente pressionado pelo G/PM e das Finanças, para além do Irrevogável.
Será que o nosso Embaixador, o afável Almeida Ribeiro, confirma?
E se é verdade, o que fez o GSG e o DGA para o evitar?
Não dá para acreditar!
a)”O Diplomata”
Quem mata os símbolos da nação mata a nação.
Fernando Neves
Razão tem o Papa Francisco quando fala em "Alzeimer Espiritual". Uma das expressões mais lindas que a minha provecta idade saboreou.
Guilherme.
Espero que a venda das Pousadas de Portugal não se concretize.
Sou um admirador do conceito original das pousadas, que podem ser um excelente meio de conhecer Portugal, nomeadamente para os estrangeiros.
Lamentavelmente o conceito original foi muito deturpado desde que o Grupo Pestana assumiu o controle. Criaram-se Pousadas enormes, Viseu, Porto, Loios, que vão contra o espírito intimista original, descurou-se substancialmente a vertente da promoção das especialidades regionais.
Espero que não se cometa o crime de vender as Pousadas.
Quanto a uma possível venda da Residência do Embaixador de Portugal junto da Santa Sé, espero que não passe de um boato. Portugal devia comprar Residências e Chancelarias pois assim poupava a longo prazo.
LBA
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