Era uma data importante. Dez anos de presença de uma grande empresa pública portuguesa naquele país era algo que cumpria comemorar. O prestígio internacional de Portugal depende muito da "performance" das nossas empresas, a qual, em muitos casos, tem ajudado a melhorar a perceção do nosso país.
Como "estrela" dessa comemoração, a empresa convidou o ministro que, no governo português, tinha a seu cargo a área onde operava. Aproveitou-se, como sempre acontece nestas ocasiões, para o fazer visitar unidades e instalações da empresa, a esses momentos associando personalidades políticas locais relevantes. Mas o grande evento dessas comemorações, anunciado em toda a imprensa, seria um grande jantar de gala, no qual tinham aceite participar figuras de relevo da sociedade local, parceiros económicos e, naturalmente, os quadros superiores da empresa, desde os nacionais aos expatriados. Seriam entregues prémios e haveria um momento musical associado. Coisa para quase um milhar de pessoas. Uma operação de "public relations" cara mas que se justificava, como forma de marcar a data e aproveitar para reforçar a imagem do negócio português num país estrangeiro.
O dia fora longo. Acompanhei o ministro nas várias visitas, que implicaram uma viagem aérea. A meio da tarde, recolhemos ao hotel. Havia mais do que tempo para nos retemperarmos, antes do jantar de gala.
Ainda no quarto, recebi um telefonema do presidente da empresa. Entre o embaraçado e o desiludido, informava-me que o ministro acabara de dizer que não estava disponível para ir ao jantar, onde, em nome do Estado, deveria produzir uma intervenção que assinalaria a importância política que Portugal atribuía à ação daquela nossa grande empresa, sublinhando, ao mesmo tempo, o apoio oficial que o governo a que pertencia atribuía à respetiva atividade naquele país.
Ainda no quarto, recebi um telefonema do presidente da empresa. Entre o embaraçado e o desiludido, informava-me que o ministro acabara de dizer que não estava disponível para ir ao jantar, onde, em nome do Estado, deveria produzir uma intervenção que assinalaria a importância política que Portugal atribuía à ação daquela nossa grande empresa, sublinhando, ao mesmo tempo, o apoio oficial que o governo a que pertencia atribuía à respetiva atividade naquele país.
Logo inquiri se o ministro "caíra" doente. Aparentemente, não. Apenas avisara que "não estava com disposição" para ir ao jantar e decidira, em alternativa, organizar uma jantarada com amigos residentes naquela cidade, num celebrado restaurante. Melhor: pedira à empresa para lhe mandar reservar uma mesa. Para oito pessoas, "for the record". Só não guardei nota de quem terá pago a conta.
O embaraço do presidente da empresa era evidente. E, com visível incómodo, inquiria se eu, como a mais representativa entidade oficial portuguesa naquele país, na ausência do ministro, poderia representar o Estado português e intervir no encerramento do evento. Disse que sim, naturalmente. Um embaixador, às vezes, também serve para estas coisas, para substituir governantes relapsos e irresponsáveis.
4 comentários:
Nestes casos é absolutamente indispensável o nome do "relapso irresponsável"
João Vieira
simplesmente grosseiro e mal educado, sem o sentido do dever profissional, nacional e do cargo.
mas acontecem coisas destas e não tão raramente quanto se pensa...
O Senhor Embaixador vai-me perdoar, embora saiba que não me vai responder. Mas esta figura governativa não é a mesma que há dias nos disse não ter feito uma importante "diligência" (como erntão disse?) E não terá sido alguém que foi quadro do BES. A minha memória diz-me alguma coisa.
Caro Embaixador,
Apreciei o seu texto, a sua denuncia dessa atitude mal educada, abusadora.
Permita, ainda assim, considerar que o 'encobrimento' do personagem permitirá que este (e outros do mesmo 'calibre') repitam essas situações. E será o país a perder prestígio, bom nome.
Identificar essa criatura será serviço público.
MBS
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