Vai para duas décadas, dormi uma noite na Faixa de Gaza. Embora fosse novembro, a noite estava quente e abafada. A insónia fez com que eu me sentasse, por algum tempo, na varanda da espartana "guest house" que o governo de Arafat me tinha destinado. Recordo-me de ter dado por mim a notar o pesado silêncio da noite daquela que era, e ainda hoje é, uma das zonas mais densamente povoadas do mundo. Só ao fim de uns minutos realizei que, tendo sido assassinado horas antes o primeiro-ministro de Israel, Itzak Rabin, aquela não era para Gaza uma noite normal, numa terra que se habituou a conviver com a insegurança. O silêncio significava então algo mais: o medo.
Os últimos dias e noites não têm sido fáceis em Gaza e as muitas centenas de mortos árabes, para punir a mão-cheia de vítimas israelitas, repetem um "script" que todos conhecemos de cor.
Não faço a menor ideia de como vai acabar, se é que algum dia vai acabar, o triste conflito israelo-palestiniano. Uma coisa tenho por certo: as humilhações e os padecimentos, somados à pobreza e à raiva que vêm com eles, são o irreversível caldo de cultura em que foram criadas várias gerações de palestinianos. Nunca uma paz sustentável de construiu sobre a persistência do ódio e Israel sabe bem que, com esta sua postura, afasta, dia após dia, as hipóteses de uma paz negociada, numa guerra que nunca vai poder ganhar em absoluto. Pelo contrário, com a sua política de permanente desprestígio da Autoridade Palestiniana e desprezo notório pelas vidas dos seus vizinhos, Israel dá adubo ao terreno onde prosperarão sempre o Hamas e outros grupos radicais. O governo de Telavive recorre, ano após ano, às ações militares que só geram novos e eternos inimigos nas populações civis árabes, fartas de ver nascer, como cogumelos, sucessivos colonatos judaicos - sob a cínica complacência internacional - que afastam, a cada hora, a sua esperança de retornar à terra que as resoluções da ONU lhes atribuiu, mas que ninguém obriga Israel a cumprir.
Perante o mundo, desde os "taken for granted" EUA até à pusilanimidade europeia, os palestinianos parece só terem o dever à sua ritual humilhação. Israel, na assunção eterna do direito histórico à "terra prometida", potenciado pelo usufruto da memória da barbárie nazi e, mais recentemente, da onda anti-muçulmana depois do 11 de setembro, tem sempre mão livre para tudo quanto entenda fazer, não se lhe aplicando a condenação que atitudes idênticas provocariam, se acaso tivessem sido outros Estados a praticá-las. Por muito que alguns atos palestinianos sejam condenáveis, o saldo da violência israelita é incomensuravelmente maior, é uma insuportável bofetada no Direito Internacional, assumida com arrogância e com uma cegueira histórica que um dia acabará por se voltar, em definitivo, contra o Estado judeu.
Termino com uma pergunta: por que razão Israel não aceita que as Nações Unidas coloquem observadores internacionais com a responsabilidade de vigiarem as linhas de separação entre o seu território e as áreas atribuídas às autoridades palestinianas, que, por exemplo, facilmente poderiam denunciar os ataques feitos destes últimos para o seu território? É na resposta nunca abertamente dada a esta questão que reside a chave da verdadeira atitude de Israel perante todo este problema.
Termino com uma pergunta: por que razão Israel não aceita que as Nações Unidas coloquem observadores internacionais com a responsabilidade de vigiarem as linhas de separação entre o seu território e as áreas atribuídas às autoridades palestinianas, que, por exemplo, facilmente poderiam denunciar os ataques feitos destes últimos para o seu território? É na resposta nunca abertamente dada a esta questão que reside a chave da verdadeira atitude de Israel perante todo este problema.
20 comentários:
O objectivo dos judeus é simples e claro: recriar o Estado bíblico, a chamada "terra prometida". Enquanto houver um árabe nesse território, a tarefa não estará cumprida. E quando digo "judeus" não estou a dizer "israelitas" que são uma parte dos judeus - aqueles que já residem no território que consideram seu por direito divino. O apoio dos Estados Unidos também é simples: os judeus americanos constituem um lobby poderoso que apoia Israel e que impede qualquer presidente americano (senador, representativa) de esboçar uma leve crítica que seja ao desígnio de Israel. Isto é por demais evidente e não carece de demonstração.
Agora, do outro lado temos estados árabes riquíssimos e com muito espaço livre que já poderiam há muito ter absorvido e dado condições de vida aos exilados do território israelita - aos seus "irmãos", como eles dizem - mas não o fazem deliberadamente para ter os palestinianos como carne para canhão contra israel. Não há solidariedade para com os palestinos, da parte de ninguém. Apenas a Europa os auxilia materialmente e fá-lo porque tem um sentimento de culpa em relação à sua situação, pois foram alguns países europeus (França, Grã bretanha, mais concretamente) que ao longo da História (a partir do século XIX) fecharam os olhos ao que se estava a passar na Palestina e por meio de omissão, descaso, promessas falsas e acordos leoninos foram permitindo a situação que culminou em 1948 com a fundação do Estado de Israel.
Os judeus têm direito a lá estar? Sem dúvida. Mas os palestinos também. Ou, se não cabem lá todos, os palestinos podiam ser integrados nos países vizinhos. O cinismo internacional não tem limites.
Comentário perfeitamwente nazi, desprezível. A Bíblia, muito menos a da minoria judaica não é fonte de direito internacional, e muito menos de história...
Pequena lição de História do Médio Oriente
Os palestinianos são a população autóctone da Palestina, pelo menos há 4.000 anos. A sua religião maioritária até aos finais do séc. I foi o judaísmo, passando depois a ser o cristianismo (em todo o Médio Oriente e norte de Africa). Houve um fenómeno duplo de conversão religiosa (cristã) e de aculturação (helenística) que se repetiu seis séculos mais tarde, passando então a religião maioritária a ser o islão e a cultura a árabe. MAS O POVO É E FOI SEMPRE O MESMO. Só os ignorantes é que desconhecem o fenómeno da aculturação e imaginam que os “árabes” vieram todos de Meca !!! Meca era uma aldeia com umas centenas de beduínos… que não podiam povoar o vastíssimo império árabe do Indo aos Pirinéus. Os povos desses territórios não mudaram. Só que se converteram ao islão e assimilaram a cultura e lingua árabes. Também não foram os cidadãos de Roma que povoaram o também vastíssimo império Romano, mas os autóctones que se romanizaram a adoptaram o latim como lingua…Elementar… Mas há mais… É que a maioria (90%) dos judeus de hoje, os askenazis nem sequer são semitas e oriundos, mesmo longinquamente da Palestina !!! Só a minoria sefardita pode invocar esse parentesco longínquo: são semitas, mas magrebis e não palestinianos ou médio orientais (vieram com os árabes para a península em 711 com Tarik, ele próprio ex-judeu convertido ao islão após a conquista árabe do Magrebe, onde antes havia um reino berbere judeu). Mas os palestinianos de hoje é que são os descendentes directos dos habitantes da Palestina do tempo de Cristo. O povo é ETNICAMENTE o mesmo. É semita. Só a religião dominante mudou duas vezes em 2.000 anos. E não perdem o parentesco de sangue pelo facto de os seus antepassados se terem convertido sucessivamente ao cristianismo e ao islão. Foram judeus (que é religião e não comunidade étnica) mas já não são. Mas continuam a ser semitas palestinianos. Sempre. Os askenazins de pele e olhos claros são descendentes dos turcos khazares do antigo império Khazar, convertido ao judaísmo (séc VII-X) na região do Cáucaso, Ucrânia e Casaquistão (hoje), que foram depois empurrados pelos mongóis para a Polónia e Lituânia, berço dos askenazins medievais e dos quais descendem 90% dos judeus actuais e dos israelitas judeus. Não são semitas e NADA têm a ver com a Palestina. Também os filipinos são católicos e nem por isso têm a ver etnicamente com a terra de Jesus. Elementar… Ver, v.g., a obra de Arthur Koestler, judeu askenazin, “a 13ª Tribo” onde tudo está explicado… http://www.biblebelievers.org.au/13trindx.htm
O Sr, Rui (Teixiera) Neves: mas que tara! Par além disso tem de estudar História e deixar-se de ler "protocolos de sião" e afins. Último ponto: é crime debitar as teorias do vademecum do tio Wolf, o porreiraço do Doutor Rosenberg. Mas que coisa: tarado e ignorante!
O Excelentíssimo Sr Dr Anónimo acima , que chama Rui Neves de "Tarado e Ignorante" é de uma inteligência acima do normal , que com medo que lhes roubem sua inteligência , se dá ao desprazer de chamar outros do que bem entende sem indicar seu próprio nome ... Casimiro Martins Rodrigues
O número de mortos desde o início deste conflito diz tudo: 410 palestinianos mortos em Gaza, na sua maioria civis, contra os 4 do lado de Israel - um soldado mais os três jovens que, infelizmente, serviram de desculpa para os israelitas darem uso às armas que tanto apreciam passear nas ruas (mesmo nos poucos períodos de "paz").
Isabel BP
Até pelos comentários iremos ver que o verdadeiro conflito mundial reside neste espaço. Apenas pergunto porque razão este conflito pesa tanto na paz mundial? Não haverá forma de o fazer?
Convém fazer varias distinçôes antes de se deixar afogar em preconceitos racistas. 1)Em Israel distinguir o grupo do Likoud, e no interior deste um sous-grupo de falcôes, radicais e fundamentalistas religiosos (estrema direita) 2)Do lado palestiniano, distinguir o grupo do Hamas, que corresponde aos irmâos muçulmanos egipcios et que nenhum governo arabe quer mais aceitar.
Sobre a base dum documento segundo dizem de origem divina, um Estado racista foi criado.
Um tal Estado - forçosamente racista e criminoso - será apoiado por uma rede internacional de cúmplices que, sob o pretexto do sofrimento injusto infligido pelos europeus, durante séculos , em progroms e genocídios infames a uma minoria perseguida desde o Calvário, aplica agora contra outro povo , que não foi culpado do crime dos europeus, o mesmo sofrimento num cativeiro imenso a céu aberto .
Quando jovens judeus exaltados correm nas ruas de Jerusalém gritando " morte aos Árabes" e atacam os Árabes só porque são árabes, e depois de lhes roubar a terra lhes roubam a vida, queimando vivo um jovem, o sentimento consequente só pode ser o do ódio eterno.
Indivíduos, que são a força bruta dominante do pais, clamando a voz alta o que a maioria dos Israelitas pensam : " Somos melhores que os Árabes".
Aparece claramente que a formação dum governo de "reconciliação nacional" pelos movimentos do Fatah e do Hamas, cuja divisão foi desde sempre a chave da politica israelita e americana, não estava nos planos dos dois parceiros.
Fazer tudo o que fosse possível, já, para impedir a reconciliação, era vital.
A operação "Bring Back Our Boys" , enquanto hoje é sabido que o governo israelita já estava ao corrente do assassinato dos jovens israelitas , foi orquestrada rapidamente. 500 militantes presos e 6 mortos, assim como um adolescente queimado vivo pelos colonos, foi a maneira para Benjamin Netanyahu de dizer que o acordo assinado entre le Fatah e o Hamas não seria aceite por Israel.
No fim do dia, 600 mortos Palestinianos.
Apesar dos esforços dos israelitas para esconder a verdade, a opinião internacional nunca esteve tão favorável à causa palestiniana.
Mas quando nos nossos países cúmplices os políticos e os media fazem a diferença entre um sangue e outro sangue, entre um ser humano e um outro ser humano, penso que se não formos vigilantes, os media conseguirão convencer-nos a detestar os oprimidos e a gostar daqueles que os oprimem
Eu penso que as Nações Unidas deveriam...
Pois deveriam, mas temos de acabar com a lei do mais forte que beneficia o mais forte.
José Barros
@ Defreitas
Estou plenamente de acordo por uma x.
O que mais me chateia é que eu não tenho nada a ver com isto e desde que nasci que levo com esta história diariamente, como se fosse uma coisa muito importante para o mundo. Israel, Palestina... o que vem de lá, já agora? Laranjas e...?
Dói-me a alma.
Caro Defreitas,
Corroboro na íntegra o seu comentário.
Isabel BP
O Estado de Israel nunca deveria ter sido reconhecido como um Estado independente, sem previamente se ter acordado, em simultâneo com a criação do Estado da Palestina, tudo isso com as fronteiras bem definidas.
O resultado de imbecilidade e irresponsabilidade do que se fez, ao permitir apenas a criação do Estado de Israel, está à vista desde então, até hoje.
Israel tem como prioridade externa e única o extermínio da Palestina. Só não executou esse plano porque seria demais para a “comunidade internacional” (leia-se, EUA e Europa/UE). As relações com os países árabes ficariam compremetidas. Nem tanto á terra, nem tanto ao mar.
Hoje, o SG das NU, esse criado dos EUA, BanKi-moon, pede, imagine-se...”contenção” a Israel!! Em vez de criticar seriamente o massacre e activar os mecanismos, como lhe competirá, para que a ONU discuta estes crimes praticados por Israel.
Ao mesmo tempo, O PM inglês, outro criado dos EUA, ignora esta gravíssima questão e em vez disso prefere criticar o abate do avião, cujos responsáveis estão por apurar, embora haja suspeitas de quem terão sido os seus autores. O morticínio praticado por Israel é uma coisa menor. O mesmo para os EUA.
Assim sendo, não admira que o facínora e criminoso de guerra, o PM israelita, que devia era estar sentado no Tribunal em Haia, que é responsável por aqueles massacres, possa dizer, alarvemente: “Israel tem apoios muito fortes” ! Pois tem: os EUA, a UE (RU sobretudo) e uma data de políticos moralmente venais.
E assim vai Israel, a UE e cos EUA. Até ao próximo massacre e depois do seguinte. O Médio Oriente, tal como dizia um comentador, sempre foi assim. Desde que se decidiu, irresponsavelmente, dar-lhe a independência. Sem se ter dado em simultâneo à Palestina.
Tudo isto é um nojo. Fede! Bem razão tem o Sr. DeFreitas.
P.
Israel viveria em paz, num curto espaço de tempo, se devolvesse a Cis à Jordânia e Gaza ao Egito, mas não o fará: seguirá pacientemente o caminho que vemos, avançando um passinho aqui, outro ali, até que o estado palestino fique inviável por déficit populacional, e isso se não ocorrer um evento maior que justifique a anexação daqueles territórios.
Se aos judeus a terra é sagrada, o que dizer da água! Sim, a guerra acabará quando acabarem os palestinos.
Nem tinha lido o comentário do Anónimo das 21:45 - Uma tristeza!
A questão do "Anónimo": "Israel, Palestina... o que vem de lá, já agora? Laranjas e...?"
A minha resposta: SERES HUMANOS!!!
Isabel BP
Que tal alguém se lembrar do petróleo a explorar ao largo da faixa de Gaza?
Talvez tenha um interesse menos elevado do que a Terra prometida, Abraão e afins mas mais "interesses" tem certamente.
xg
Ao ler o seu comentário, pensei irresistivelmente no que poderia ter sido o comentário do anónimo das 21:45 se tivesse vivido em 1936.
Certamente que, como muitos outros, teria dito que Dantzig era muito longe e que não valia a pena morrer por Dantzig, povoado de Alemães, que Hitler queria ligar ao grande Reich através dum corredor em território polaco.
Quando Hitler determinou no lançamento do plano quadrienal de Novembro 1936 as tarefas seguintes para o povo alemão:
" Estamos sobrepovoados e não poderemos subsistir na nossa própria terra. A solução definitiva reside no alargamento do "espaço vital", fonte de matérias primas e da subsistência do nosso povo. Agora é necessário realizar o que podemos.
Fixo as tarefas seguintes:
1) O exército alemão deve estar pronto a entrar em acção dentro de quatro anos.
2) dentro de quatro anos a economia alemã deve ser capaz de suportar uma guerra"
Perante a inércia das democracias europeias, Hitler lançou-se na conquista do "espaço vital". As grandes manobras começaram então, que levaram ao cataclismo mundial. Dezenas de milhões de mortos!
A colonização da Palestina por Israel corresponde à mesma ambição.
Da Palestina e de Israel vêm-nos as laranjas, mas dos países do Médio Oriente vem-nos a energia vital : o petróleo. Esta é uma das razoes que justificam que os Estados Unidos fazem parte do jogo.
A descoberta recente de grandes jazigos de gás na costa de Gaza, não está alheia ao massacre actual por Israel do povo palestiniano.
O anónimo das 21:45 continuará, durante muito tempo, a ouvir falar ...das laranjas de Jaffa!
Se calhar, o anónimo das 21:45 acha é que israelitas e palestinianos são iguais a tchetchenos e russos, a tibetanos, a cingaleses, a ugandeses, a costamarfinenses, a etíopes, a sudaneses e a toda essa gente que por esse mundo fora passa a vida a matar e a morrer.
Estes (em Israel) têm é tempo de antena assegurado. Mas há que aceitar que ,para muitos, israelitas e palestinianos tenham mais interesse do que "pretalhada" e "chinesada", gente que, como se sabe, nem merecia grande atenção em 1936.
Que tristeza de mentalidades! Que cabecinhas tão "bem" formatadas...
"Que sorte para os ditadores que os homens não pensem".
Hitler
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