"Pode-se contestar aquilo que nos é imputado, não se constentam os fundamentos da Justiça, porque nesse momento contesta-se a República", disse o presidente da Comissão Constitucional francesa, Jean-Louis Debré, em reação à entrevista em que Nicolas Sarkozy, depois de ter sido interrogado pela polícia, colocou em causa e acusou de instrumentalização política os agentes judiciais.
Debré é um homem de direita, filho de um antigo primeiro-ministro de De Gaulle, ele próprio antigo ministro do Interior. Tem um humor à flor da pele e é escritor de (razoáveis) romances policiais. É sabido que Sarkozy não faz parte das suas amizades, "to say the least".
Um dia, numa ocasião em que tive o ensejo de o conhecer, o seu telemóvel tocou e o som que dele saiu foi uma versão da "A Internacional". Com exceção do amigo em cuja casa estávamos, todos os convivas mostrámos um ar de surpresa. Debré explicou: decidira colocar no telefone, em relação a algumas pessoas, músicas que as identificassem. Assim, com "A Internacional", ele sabia que quem o chamava era alguém de esquerda. Revelou então que tinha a "Le Chant des Partisans" para os amigos gaullistas, creio que "A Marselhesa" para os contactos de direita e outras músicas, com menos conotações políticas, para os contactos de familiares.
Já na rua, à saída, depois de termos ouvido Debré ironizar bastante sobre o então presidente da República, um conhecido quem nos acompanhava disse: "Devíamos ter perguntado a Debré que música tinha no 'portable' para identificar Sarkozy". Um de nós sugeriu, exagerando, pela certa: "Talvez 'Le métèque' "...
Já na rua, à saída, depois de termos ouvido Debré ironizar bastante sobre o então presidente da República, um conhecido quem nos acompanhava disse: "Devíamos ter perguntado a Debré que música tinha no 'portable' para identificar Sarkozy". Um de nós sugeriu, exagerando, pela certa: "Talvez 'Le métèque' "...
5 comentários:
Se me permite, a frase parece -me um pouco racista, meu caro Francisco. Se Sarkozy fosse um "puro" francês, a coisa até passava. Sendo de uma família de imigrantes húngaros, não a julgo feliz.
Mas, como o meu amigo costuma dizer, é a vida!
E o sentido do humor, digo eu...
Welcome back Srª Drª Cabral,
Aos comentários, claro está!
Simpatias muito vivas e atuais.
É mesmo a vida.
Guilherme.
Cara Helena: "métèque" quer hoje significar, na linguagem comum (e que Moustaki consagrou), "estrangeiro". O engraçadinho pode assim ser acusado de xenofobia (política), mas não de racismo.
Ó Francisco a sua resposta mostra uma das muitas qualidades que aprecio em si, nomeadamente a subtileza.
Todavia, hoje, "estrangeiro" é mais sinónimo de imigrante. E imigrante tem, infelizmente, uma conotação negativa. É alguém que não é "como nós".
Xenofobia será, assim, meio caminho andado para o racismo, ou seja, a intolerância para com aqueles que não têm a nossa cor política...
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