Os brasileiros dizem "caiu a ficha" para designar o instante em que uma certa informação nos desencadeia um reflexo de memória. Foi o que me aconteceu, há dias, quando, ao selecionar os livros que ia doar à Biblioteca Municipal de Vila Real, deparei com "A Sociedade da Abundância", de John Kenneth Galbraith, uma edição de 1963, da "Sá da Costa".
O livro original é de 1958 (!) e, à época, foi considerada um obra fundamental daquele famoso economista (e também embaixador americano na Índia, período de que resultou uma memória muito interessante, o "Ambassador's Journal"). A tradução (verifico agora) é de Henrique de Barros, uma grande figura que viria a ser ministro e presidente da Assembleia da República.
Aí por 1967 ou 1968, eu costumava passar por aquela Biblioteca, em algumas tardes de férias. Era o tempo em que ela funcionava no rés-do-chão do município, com entrada junto ao liceu. Requisitava um livro ao sr. Agostinho e, lido que fosse, devolvia-o e pedia outro. "A Sociedade da Abundância" terá sido a única exceção a esta regra, talvez por ter sido o último livro que por lá pedi. Fui ficando com ele, julgo que a certa altura já tinha acanhamento de o devolver. Tenho mesmo a ideia de que, às vezes, me furtei ao olhar do sr. Agostinho, pelas ruas da cidade, quando com ele me cruzava.
Resolvi há dias esta questão, enviando definitivamente o livro, com muitos outros, para a Biblioteca, no âmbito da doação de que aqui falei. Mas será que ele deve integrar o meu espólio? O Vitor Nogueira que decida...
11 comentários:
"Mas será que ele deve integrar o meu espólio? "
Isso nem é pergunta que se faça, sr.Embaixador,sinceramente...Só é seu se for por usucapião...
Pois, caro Embaixador, não sou eu quem lhe vai atirar a primeira pedra. Logo eu, que também tenho uma história dessas no currículo. Envio-lhe, ao invés, um abraço agradecido por tudo o que tem feito pela nossa (que é a sua) Biblioteca.
Vítor Nogueira
Ao meu gato que mia, chamei-lhe Mião; ao meu cão que ladra, chamei-lhe Ladrão; a quem usa um livro e não o devolve, chamo-lhe Usucapião.
Recordei-me da Livrelco, da Universitária, da 111, da Joie de Lire, não sei bem porquê.
Caro Anónimo das 20.47: eu não sei o seu nome e, muito em especial, eu não sei do que fala. E sei que o Anónimo vai acreditar no que digo. Ou não?
pois sucede, a não devolução foi-se estendendo, os serviços da biblioteca tambem não funcionaram, a devolução não foi pedida, de quem será agora o livro? cada parte que decida, mas o livro voltou ao seu lugar quando já estava acomodado a outro...
O ecletico escritor português Valter Hugo Mãe (Valter Hugo Lemos) participou brilhantemente do programa Roda Viva (Brasil) ontem (06/01/2014) demonstrando inteligência, sensibilidade e empolgou os participantes que pediram até para ele cantar, e sob insistência cantou umas estrofes de um fado, sendo aplaudido. Valter é muito querido por aqui e cumpre extensa agenda toda vez que aporta pelas terras Brasilis.
'OMG!'... ele é com cada 'confissão', que não se pode deixar de ficar enternecido.
E se as histórias remontam aos anos sessenta (63 foi um ano formidável, by the way), então, "é-de-ir-às-lágrimas". Fora de brincadeiras.
As confissões são intemporais e valem pela sinceridade com que são feitas. Uma pública assim vale muito mais.
E quem somos nós para julgar?
Apenas podemos compreender, respeitar e admirar.
...
snif...
...
Estes dias andam sentimentais em excesso. Já estamos precisados de sol e uma história picaresca.
À laia de certos programas radiofónicos: posso pedir um post?
Era uma coisinha que nos animasse, s.f.f., a nossa cara excelência tem, por certo, um vasto espólio de coisinhas apetitosas para partilhar (q.b.) connosco...
Agradecida.
A sociedade da Abundancia está para nós como o tempo dos dinossauros. Mas é verdade que há muita gente que se interessa por isso, para recordar o passado da abundancia...
http://www.youtube.com/watch?v=AmS4QI1Dv8E
Bem pelo menos por Si o livro foi estimado e deu-lhe bom viver...
Pensando bem, talvez seja necessário
evocar, por analogia, a história do rei Salomão e das duas mães...
no ambassador's journal jkg regista a ocupação de goa em 1961era embaixador na india nesse tempo e dedica entradas ao caso.
tem ainda um curioso romance politico, o triunfo, foi traduzido em portugues, etc
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