sábado, janeiro 25, 2014

Das tentações

Frédéric Mitterrand foi um improvável ministro da Cultura de Nicolas Sarkozy. Sobrinho de François Mitterrand, surgiria no governo pela mão de Carla Bruni. No seu currículo figurava um livro algo comprometedor, que remetia para algumas suas práticas libertinas com jovens, nos terrenos do turismo sexual na Tailândia. Seria, contudo, muito injusto medir esse Mitterrand conservador apenas por esses pecadilhos. Trata-se de um homem inteligente, com graça, boa escrita, com obra feita na área cultural e mediática, que não tendo ofuscado minimamente a memória de Malraux, ou mesmo de Lang, acabou por ter uma prestação bem mais "honorable" que outras figuras que a história política francesa quase não notou no mesmo lugar.

Há dias, vi numa livraria parisiense que tinha publicado uma memória desses tempos de governo. Ainda não li o livro todo, mas não deixa de ser curiosa a confissão que nele faz sobre as tentações que teve face ao seu colega de executivo Laurent Wauquiez, a quem revela ter lançado "un regard langoureux" e que define da seguinte e elucidativa forma: "un beau gars dans le genre qu'on regarde dans les vestiaires après un match de foot et à qui on parle de filles en pensant éventuellement à autre chose". Estou curioso em conhecer a reação de Waquiez a esta declaração.

Por aqui se fica a perceber que a tentação, no seio dos Conselhos de ministros, é um tema a explorar. E por cá? Como terá sido, desde sempre?

12 comentários:

Alcipe disse...

Há um texto fundador, meu caro Francisco, nas memórias de Valéry Giscard d'Estaing. Ele relata o que lhe passa pela cabeça, no momento em que vê chegar ao Eliseu a ministra da Educação da época e escreve: "não consegui impedir-me de imaginar como seria ela na cama". Li isto publicado nas ditas memórias e pasmei! Hoje não seria possível...

(A ministra era Alice Saunier-Seité e é nomeada assim mesmo pelo Giscard e nunca se aborreceu, que eu saiba)

Anónimo disse...

Que apenas tem como inédito, no caso em apreço, o facto de a sedução ocorrer em terreno profissional. Parece que uma grande parte das relações sentimentais aí ocorrem pelo simples facto de as pessoas aí passarem boa parte do tempo. Mas Mitterrand fora já criticado, no passado, pelos seus relatos, também públicos, das suas viagens ao Extremo Oriente... mas a França é sempre tolerante é dúplice no que respeita à vida privada: diz respeitar o direito, embora comente sempre em privado...

Anónimo disse...

A passagem de Frédéric Mitterrand pelo governo de François Fillon mostrou-nos que havia, de facto, um Ministro da cultura. E que era um Ministro de abertura. Falou-se dessa abertura mais de uma vez e do que o seu ministério poderia fazer...
Falou-se também, e por vezes de forma acentuada, que a ação do Mnistro nunca melindrou qualquer sensibilidade do Presidente Sarkozy...
José Barros

patricio branco disse...

tambem foi embaixador em roma ou algo perto, bom apresentador de grandes programas de televisão,vi um ao vivo transmitido duma praça duma importante cidade marroquina, marrakesh, parece me, bem falante e até devem ser interessantes essas memórias, o homem deve escrever bem, etc etc

Anónimo disse...

Houve vários ministros soi-disant de abertura sob o mandato de Sarkozy, embora todos eles com afiliações mais ou menos próximas à UMP, como Rama Yade, hoje condenada por ofensas públicas, Jouyet e Bockel. Miterrand celebrizou-se sobretudo por ter sido o continuador de Pivot ao apresentar na televisão um programa de literatura. Sendo o Presidente em França um monarca não é pensável que qualquer ministro o possa "désavouer"...

Isabel Seixas disse...

"(A ministra era Alice Saunier-Seité e é nomeada assim mesmo pelo Giscard e nunca se aborreceu, que eu saiba)"

Essa agora, por que diabo haveria a Senhora de aborrecer-se ao ser desejada dessa maneira e por alguém com valor... Social ou Comercial no mínimo...

Aborrecer aborrecem-se aquelas senhoras donas de casa e esposas a levar frondosos pares de ....., Tendo que sorrir permanentemente de orelha a orelha, recalcar a raiva que isso lhes dá, digamos a bem de uma causa e profissão "justa" apêndice do marido e sofrer o imaginário dos pensamentos que o louvável marido por "sua honra" lhe destinou em locais bem mais desgastantes e promotores de pés de galinha e afins como por exemplo...

Como será Ela no fogão?...

ou como será Ela no tanque?...

como será ela nos cuidados na doença ?... E aqui uma ressalva, claro que está a pensar numa enfermeira de vestes maxi avental a arrastar no chão um sorrisinho complacente de Mãe e uma disponibilidade quase total, excetuando os prazeres da cama esses são mais para o protótipo da enfermeira de mini saia, aventalinho, meias com liga rendadinha de silicone a ver-se além de um ligueiro promissor, que virá ao fim de todos os cuidados com a eliminação de toxinas prestados pela enfermeira misericordiosa, com um sorriso maroto peito vasto todo ele a insinuar colo para o repouso no leito do "guerreiro"...

Tomaram as Senhoras substituir o fogão o tanque e os cuidados penosos por uma cama Comme il Faut... Bem, talvez, mesmo assim, salvaguardando a exclusividade ou talvez não...

Penso até que algumas senhoras estariam dispostas a abdicar da obtusidade das barreiras arquitetónicas da sexualidade onde foram barbaramente embalsamadas, que pena... Ainda bem que são só %...



"Não devemos resistir às tentações:
Elas podem não voltar..."
Millôr fernandes

Anónimo disse...

Caro Alcipe. Não terá sido essa Ministra, da Universidades e não da Educação a " galante compagnie " que VGE levava no carro quando do célebre acidente na Etoile, ao que dizem num Ferrari emprestado?

Hã Ministras com Pasta mas que ainda servem para outras coisas, como havia em Portugal ministros sem Pasta que não serviam para nada. Não se aplica ao malogrado a quem chamavam Magalhães Pasta, Ministro sem Mota.

Anónimo disse...

Falar de ministros da Cultura neste país, onde nesse domínio já tudo de delirante aconteceu e hoje estamos «bem entregues» (tenha o cargo o título de ministro ou de secretário de estado, tem sido um festival da asneira..., com raríssimas e honrosas excepções). Esse Mitterrand, interrogado sobre como era possível ser ministro de Sarkozy, ao menos respondeu que seria ministro da cultura, não de Sarkozy, mas "de la République"!!! ASqui nem sabem o que isso significa, seja qual for o governo.

Anónimo disse...

Portugal perdeu sobretudo por perder Canavilhas na Cultura que tinha o porte e a elegância para.

Anónimo disse...

Alice Saunier não era própriamente uma bomba, embora outras tenham ascendido ao estrelato por cultivarem relações muito próximas com o poder. Casos de Noelle Lenoir e de Elisabeth-Guigou. Védrine e Miterrand, François, respectivamente.

Anónimo disse...

Se nenhum ministro "chucha" teve tentações com a ministra Canavilhas, então mereciam fazer parte do Governo actual. E não digo mais

Anónimo disse...

Toujours La France, ma Patrie.....

Ceci bon !



Alexandre

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...