domingo, janeiro 26, 2014

Trasladação

- Trago-lhe aqui um problema, senhor diretor-geral. Trata-se do pedido da viúva do embaixador que morreu há semanas no seu posto, lá na Ásia. Quer receber 12 mil euros, valor da trasladação do cadáver do marido para cá.

- Mas qual é o problema? O direito ao repatriamento do corpo existe na lei, não é?

- É, mas ela não possui nenhum justificativo.

- Está bem, meu caro, mas temos de ser flexíveis com a pobre senhora. São países complicados para se obterem essas papeladas. E, além disso, não me parece um montante exagerado. Ela que prepare uma declaração de despesa. Eu darei uma palavra ao ministro.

- Bom, mas há um pormenor que entretanto chegou ao meu conhecimento...

- Qual é?

- Soube que embaixador foi incinerado lá no país onde morreu...

História verdadeira, ocorrida no serviço diplomático francês.

5 comentários:

Anónimo disse...

O português que foi assassinado esta semana em Londres, este homem que aceitou saír da sua " zona de conforto" para ir procurar trabalho noutras zonas, merece que o seu corpo seja transladado para Portugal. Não sei se a nossa Embaixada ou Consulado em Londres ainda têm serviços sociais com competência para resolver estes problemas. Mas que a familia daquele homem merece socorro, merece. E aquela transladação não terá os custos que a mulher do Embaixador apresenta.
E agora que nos anunciam que Portugal está no bom caminho, esta dívida para com o português assassinado não será um esforço por aí além.
José Barros

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro José Barros: é a lei, e não o casuísmo, que orienta o trabalho das entidades consulares portuguesas. O assunto deve ser colocado ao CG em Londres.

Mônica disse...

Francisco.
Mas aqui em Minas a gente transporta as cinzas também.
com carinho Monica

patricio branco disse...

tudo tem um preço...

Anónimo disse...

Caro Senhor Embaixador,

Para colocar a questão em termos práticos, direi que seria melhor não incomodar a senhora com pormenores mórbidos. A situação foi, por si, muito desagradável e a senhora provavelmente estava debilitada pela perda trágica do marido. Assim sendo, talvez não fosse a despropósito colocar alguns tijolos num caixão...

Com os meus respeitosos cumprimentos,

Henrique Souza de Azevedo

PS-Espero que não tenha ficado ofendido com o "humour noir"!

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...