Ontem, à volta de uma mesa, ouvi histórias deliciosas sobre Natália Correia e o ambiente do Botequim, esse fantástico lugar da noite dos anos 70 e 80. Recordou-se aquele porteiro de cor cadavérica, o Bento, o empregado Bandola, bem como o Carlinhos do piano. Falou-se de Isabel Meirelles, a artista plástica surrealista, sócia de Natália Correia, que bastante encontrei por Paris, e que deu nome ao famoso "bife à Fritz", que era por ali servido. E até se contou a história de um cliente dos Açores, que sempre chegava depois de jantar no Gambrinus, e que, sendo homossexual, revelou um dia que, quando vinha ao continente, tinha uma "dificuldade", porque só aceitava parceiros açoreanos e isso nem sempre era fácil em Lisboa...
Acabado o repasto, deu-me uma de nostalgia e, com amigos, passei pelo Botequim. "Passei" é a expressão exata. Nos breves segundos que estive no bar senti-me como no fado da Amália. É que, de facto, "está tudo tão mudado" que "não vi nada, nada, nada, que fizesse recordar" a Natália Correia. Embora o ambiente parecesse animado, a "onda" não era, definitivamente, a nossa. Abalámos e fomos "dar de beber à dor" a um pouso mais ao nosso jeito.
5 comentários:
Terá ido para o Procópio?
Permita-me que acrescente ao seu "post" este "Auto-Retrato" da Natália Correia:
Espáduas brancas palpitantes
asas no exílio dum corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis.
Mário Quartin Graça
Há de facto pessoas que partem precocemente.
Que saudade da Natália Botequim Correia.
As conversas soltas e ácidas, o prego ao balcão, o piano e as poesias que o deputado Morgado não poderia ouvir...
Guilherme.
Acabou-se o estado de graça.
"A lei do aborto e do casamento GAY anda à frente da convicção da maioria dos portugueses". Ipsis verbis.
Clemente Patriarca de Lisboa.
Nem o deputado Morgado...
Guilherme.
Boa tarde
Eu sou o "Carlinhos" de que fala na sua noite do Botequim.
Dou aulas na Escola Superior de Música de Lisboa e estou a preparar um pequeno sarau musical com alunos meus do curso de Licenciatura em Música na Comunidade. Nesse sarau eu quero recordar as músicas do Botequim no meu tempo e deixar esse legado aos jovens que, infelizmente, mal sabem quem foi a Natália.
Eu gostaria de convidar algumas das pessoas que frequentavam o Botequim e gostava que este sarau assumisse um formato de tertúlia onde as pessoas falassem do seu tempo no Botequim. Não tenho contacto de praticamente ninguém. Será que me pode pôr em contacto com alguém que conheça e conhecesse o Botequim, o sr escritor F. Da Costa seria fantástico se eu o conseguisse contactar. Agradecia a divulgação desta iniciativa.
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