quarta-feira, novembro 27, 2013

Católica?

Desde há muito, é para mim um insondável mistério o modo como a Universidade Católica Portuguesa consegue compatibilizar a observância e o respeito pela doutrina social da sua igreja, que deveria ser a matriz identitária da casa, com a promoção obsessiva de um liberalismo económico radical, que constitui a imagem de marca de muita da "produção" saída da sua linha de montagem académica, nas últimas décadas.

Não está em causa a qualidade intelectual desses quadros, gente tecnicamente muito bem preparada, com alguns dos quais convivo no meu dia-a-dia profissional e em outros círculos em que me movo. A UCP é indiscutivelmente uma das melhores universidades portuguesas. Mas esse fascínio cego e absoluto pelas virtudes da "mão invisível", parece ter-se convertido na doutrina oficiosa da casa (e leiam-se os textos que ela produz para não se ter, sobre isto, a menor dúvida), e baseia-se no culto de modelos extremos de competição e de destruição, por opção ideológica, de todas as estruturas de defesa do bem público comum. Assim se sacrifica a vida de gerações, forçadas à crença salvífica num novo tipo de "amanhãs que cantam", como o comprova a orientação política que entre nós prevalece, com os resultados que estão à vista de toda a gente. E assim se empurra, pelos vistos sem remorso, os excluídos da sorte dos mercados para as margens do sistema e para os caminhos da caridade, que remendam os efeitos das políticas que geraram essas desiguadades. Tudo isto é feito em lugar de colocar as pessoas no centro dos interesses das políticas económicas, as quais, pela ética católica (e não só), existiriam para construir o bem-estar dos homens e não para a "réussite" dos mais fortes entre eles. Se isto é ser católico, então vou ali e já venho...

Por essa razão, estou muito curioso para saber a opinião da escola económica da UCP sobre aquilo que ontem foi dito pelo papa Francisco a propósito da economia e do sistema prevalecente na sociedade em que vivemos.

40 comentários:

Odoacro disse...

Excelente texto, Sr. Embaixador. É o dedo na ferida sobre o (cada vez mais) falso prestígio dessa instituição de Ensino Superior "Concordatário".
A dita "universidade", "católica" e "portuguesa" (sempre com aspas, porque não é nenhum dos três) vive da hipocrisia desses supostos católicos e da ignorância do "homo betinhus", da ignorância que ainda grassa sobre as Universidades públicas - em particular as três grandes: Porto, Lisboa (UL/UTL) e Coimbra - e de uma poderosa máquina de compadrio e publicidade, patente nos lugares comprados ou bajulados em pseudo-rankings de publicações de índole duvidosa (sim, que o Financial Times recompensa estas "escolas" de miséria, mas põe o Munchau a escrever o contrário do que defendem) e nas inclusões, no corpo docente de Economia (agora com designação em inglês, a suprema parolada) e de Direito.
No caso de Direito, a católica vê apenas a pseudo-advocacia dos megaescritórios como saída profissional (dane-se as magistraturas e por aí fora, já que no respectivo concurso são sempre comidos pela FDL e FDUC), oferecendo, nos seus cursos de mestrado, oportunidade de leccionar aos sócios de tais centrais de corrupção activa e passiva ("vide" os escritos de Paulo Morais sobre a questão), em troca de vagas de estágio, corrompendo o que deve ser a meritocracia. Produção científica é que nem vê-la, só mesmo o LIXO referido pelo Sr. Embaixador.
A juventude vê isto e larga os centrais tradicionais, como a FDL e a FDUC e convence-se de que a "católica" é que é boa, que tem a melhor organização e a melhor empregabilidade; quando se vê "nelas", desengana-se e percebe onde se foi meter: depois dos desejos de adolescência de trazer Justiça para os mais fracos, vêem-se em societário ou comercial em geral, contribuindo para a promiscuidade público/privado e para o esmagamento dos pequenos proprietários e funcionários, aumentando as desigualdades. Claro que há sempre gentalha sem escrúpulos, não nos iludamos.
As vigarices da "Católica Global School of Law" são mais do que muitas: promover sumidades como parte do corpo docente do curso, mas que na verdade só lá vão proferir a conferência de abertura, perorar sobre "ensino prático", mas com prevalência de teorias jurídicas caducas e não aplicáveis por cá e por aí fora.
Quanto ao Direito e Gestão: não é carne nem peixe, só mesmo banha da cobra para engordar aqueles que mais têm lucrado com a crise.

Onde esse antro não consegue construir "lobby" acaba por fechar portas, como aconteceu com a Faculdade de Engenharia.

Sim, Sr. Embaixador, são mesmo uns hipócritas, mas só cai nelas quem quer. E não sou nem comunist,a nem católico, bem longe de ambos...

Decidam-se os católicos: ou apoiam as ideias de mudança do Papa e reflectem e pugnam por ela ou apoiam o tenebroso substrato institucional - "maxime" mangas de alpaca do Vaticano, "universidades católicas" e seitas tipo Opus Dei - que tão bons resultados tem dado aos poderosos.


P.S. - Tinha notas mais do que suficientes para entrar em qualquer curso da "católica", ao ponto de poder ficar isento de propinas no 1.º ano, mas tive dois dedos de testa e fui para onde se sofre para tirar boas notas. Mais vale um 12 da FDUC ou da FDL do que um 16 na "católica" ou da sua contraparte pública, a Nova que, na verdade, é bem velha.

Anónimo disse...

O Papa é infalível no exercício do seu múnus pastoral. Desde 1870 que isto é dogma de fé (mais vale tarde que nunca). A exortação apostólica, não sendo encíclica, está contudo plenamente inserida no múnus pastoral de Sua Santidade. Esta tarde vou para a manifestação que estiver a dar.

a) Frei Feliciano da Mata, acabado de professar nos Beneditinos do Golungo Alto (os do Golungo Baixo são ainda da linha do Ratzinger), temporariamente em Portugal, num retiro espiritual em Singeverga

Defreitas disse...

Recordo quantas vezes me "inflamei" nos meus tempos da juventude do MUD Juvenil, com a leitura da Encíclica "Rerum Novarum" do papa Leão XIII. Só que, constatei com o tempo, que a Igreja , à parte um ou outro bispo mais "progressista" continuava a ser a aliada objectiva do regime de Salazar. A politica social da Igreja não ia mais longe que a caridade e a promessa duma vida melhor , mas "depois" !

Quando o papa Francisco foi eleito, as forças patronais argentinas manifestaram o seu regozijo porque saiam reconfortadas desta eleição, unindo-se assim ao orgulho nacional que animava a fé católica . Neste contexto , muitos foram aqueles que manifestaram também a sua indignação : ' O papa cúmplice!". Porque por trás da imagem dum papa humilde e próximo dos pobres que a Igreja hoje mete em destaque , esconde-se um pesado passado para aquele que foi o arcebispo de Buenos Aires: a sua cumplicidade com a ditadura genocidiaria argentina dos anos 70, a mais sangrenta da história deste pais ; a mesma que fez desaparecer mais de 30 000 militantes operários e das organizações de esquerda sob as ordens do general Videla e do Almirante Massera , autores do golpe de estado militar de 1976. O que me incomoda, é que antes de ser nomeado responsável da Companhia de Jesus, Bergoglio militou no seio da Guarda de Ferro, organização da direita peronista, e que ele tinha pedido que Massera fosse nomeado membro honorifico da Universidade de Salvador em 1976.

Alors! O papa ter-se-ia reconvertido à causa verdadeira dos pobres,
São numerosos aqueles que se deixam seduzir pela imagem deste novo papa "soit-disant" aberto sobre o mundo e as populações desfavorecidas e que declarava depois da sua eleição querer "uma Igreja pobre, para os pobres".

A instituição sagrada estaria pronta a aceitar a mesma cura de austeridade que esmagam as massas populares de muitos países vitimas da crise capitalista? A imagem de pobreza que se quer dar o novo papa não é inocente e inscreve-se no contexto mais geral duma crise da instituição que perdeu estes últimos anos milhares de fieis, em particular na América Latina, onde a população católica teria diminuído de um quarto, levada pelos evangelistas e seitas de todos os géneros. A operação "marketing" do Rio não tinha outro objectivo que de recuperar as ovelhas perdidas do rebanho!
A eleição dum papa não europeu não é uma garantia duma vontade qualquer de modernidade ou de simplicidade, mas corresponde a uma necessidade para a Igreja de parar a hemorragia católica que grassa num continente adquirido até agora à sua influência moral e espiritual.

Bergoglio tinha além do seu perfil latino-americano, a vantagem de ser filho de italiano e de controlar a língua do Vaticano. E apareceu como o homem da situação, aquele que poderia afrontar as numerosas dificuldades da Igreja Católica : e Deus sabe que entre os escândalos da pedofilia, as fraudes bancárias e as divisões internas, o trabalho não falta.

As instituições próximas da Igreja, como a Universidade Católica a que se refere, não podem extirpar-se do jugo exercido pela religião sobre a humanidade, na medida em que este é o reflecto do jugo económico que existe no seio da sociedade. As grandes desigualdades entre os homens são essenciais para a competição e o Capitalismo. Este é o ensino que ai se recebe.
O que não quer dizer que não se fala ai também de democracia como estando ligada e dependente da economia capitalista, como se houvesse uma correlação entre eles. Alguns dos seus amigos, Senhor Embaixador, são certamente democratas. Eu também os tenho. O que me revolta é que o capitalismo se permite a audácia e a arrogância de confundir democracia com um sistema económico de exploração de massa.
A lógica, a razão e a democracia não podem ser compatíveis com o capitalismo e o individualismo.
Por isso o discurso do papa Francisco não trará uma lufada de ar fresco à Universidade. Seria incompatível.

patricio branco disse...

vamos a ver...
e mário soares disse coisas parecidas, alertando também para previsíveis reacções violentas de quem sofre na pele.

ps. partilhei em fbk dizendo a origem

Anónimo disse...

E o PS, é "socialista"?
E o PSD, é "social democrata"?

Anónimo disse...

Desculpe o conselho mas é melhor esperar sentado!

Tiago disse...

Mas que grande malha!
Apoio totalmente.
Como um dos estatisticamente chamados "católicos praticantes", uma das coisas que mais me incomoda na Igreja portuguesa é precisamente o estado a que a UCP chegou...

Fernando Correia de Oliveira disse...

Não poderia estar mais de acordo, caro Embaixador. Se a isso juntarmos o comportamento de certos militantes da Opus Dei (vide caso BCP, entre outros), temos o quadro completo.

Anónimo disse...



ouve-se e lê-se muitos discursos durante décadas sobre a defesa dos povos oprimidos, sobre o fim da exploração do homem pelo homem, sobre a solidariedade da UE, agora seria a ideologia do valor das pessoas pela máxima rentabilidade e pelo maior consumo?! e depois é o que se vê!

Anónimo disse...

Um dos seus mais brilhantes textos

afag43 disse...

Belíssimo texto sobre a Universidade Católica, Senhor Embaixador!
Quantos aos comentários que li sobre este texto, já não digo tanto. Aparecem verdades misturadas com meias verdades (que, por regra, emolduram as mentiras)o que retira o rigor às observações, para além de algumas estarem manchadas por um "ódio de estimação" que é latente. Porém, nenhum deles tolda ou sequer belisca as justas considerações que faz sobre uma universidade que se diz católica.

Anónimo disse...

Bravo, Francisco! Boa "malha"! Oportuno. Gostei de ler.
P.

Anónimo disse...

Blague: dou graças a deus por me ter feito ateu. O que ficou como a "doutrina social da igreja" há muito que a dita - nomeadamenta a portuguesa - a colocou atrás da porta dos fundos (alô Defreitas!). Quanto à UCP mais valera haver católicos na universidade do que universidade católica.
E.Dias

Anónimo disse...

Pois é, é.
Aqui em França, a igreja católica, colocou-se, frequentemente, ao lado dos trabalhadores imigrantes na defesa das suas reivindicações sem impôr rezas ou missas. Pessoalmente participei em vários movimentos e sempre vi a minha diferença respeitada.
Tenho por isso muitos amigos católicos e, de entre eles, alguns padres que ensinam e divulgam o catolicismo.
E não são amigos do acaso. Frequentamo-nos com regularidade desde há muitos anos num respeito mútuo a combater as injustiças.
E sempre guardamos a liberdade de trocar opiniões dizendo coisas que só podem ser ditas, calmamente, entre amigos. Disse repetidas vezes que não posso compartilhar tudo, tanto no passado como no presente, com a igreja, e que, tantas vezes, a igreja católica não tem sido muito católica.
Uma vez um Padre amigo, em resposta a uma opinião minha, disse-me que eu era tão Padre como ele.
Seria para ver se eu recebia aquela reflexão como um insulto ou, então, uma forma de me querer integrar...
Eu recebi aquelas palavras religiosamente como vindas de alguém que me aceitava como seu igual.
José Barros.

Anónimo disse...

Graças a Deus, a Maçonaria é muitom mais fraterna e transparente, com ensinamentos sempre actualizados regularmente!

Bem hajam aventais!

Alexandre

Guerra disse...

Viva sr. Embaixador,

Meteu-se em boa, como se diz por cá.
Eu estou de acordo consigo, para que conste.
Prepare-se para a factura que lhe irá ser apresentada, de que forma não sei, e o pagamento irá ser exigido, o cobrador será quem menos se espera.
Cá estarei para acompanhar o que virá a seguir.
Cumprimentos cá da Bila

Anónimo disse...

Gostaria de lembrar ao Senhor Defreitas que as principais acusações que foram feitas contra o Cardeal Bergoglio de cumplicidade ou passividade perante os abusos de poder do regime militar argentino foram desmentidas pelas próprias supostas vítimas da sua negligência em defesa dos perseguidos.
Quando se trata destes assuntos, que são sérios, convém tentar ter o máximo de informação e não se ficar pela primeira coisa que vemos ou ouvimos, mesmo que esta nos agrade muito e sirva para construirmos e propagarmos a nossa "verdade" acerca dos factos. É o mínimo que se pode pedir a quem, ao acusar os outros de carrasco, não quer ele próprio correr o risco de ser um carrasco, ainda por cima injusto e leviano.
Leão do Amaral

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Guerra: ando nisto há muito. Eles que venham! Como diria o major: Quantos são? Quantos são?

Jose Tomaz Mello Breyner disse...

Senhor Embaixador,

Sou Católico praticante e acho que este seu texto é mais que pertinente. Não podemos pregar uma coisa e fazer outra. Certamente que o Santo Padre irá fazer algo em relação ao que se ensina nas Universidades Católicas por esse mundo fora.

João Pedro disse...

Há já muito que reparei na contradição entre o que ensinam na UCP Gestão/economia e nas exortações da Igreja (e não apenas do actual Papa, já com Bento XVI se passava o mesmo). E quando confrontados com isso, alguns docentes tentavam a quadratura do círculo, apresentando encíclicas em que se defendia a liberdade económica (mas escondendo muito convenientemente outras partes da mesma, em que se defendia que os lucros deveriam tomar em devida conta o Bem Comum e a justa remuneração dos trabalhadores), ou simplesmente "chutando para canto". Pergunto-me como irão sair desta agora.
Dito isto, apenas duas notas a dois comentadores: o primeiro, que assina Odoacro, faz uma arenga contra a toda UCP, incluindo a de Direito. Ignoro o porquê desta fúria toda, mas esclareço que me formei precisamente em direito na Católica, não trabalho em nenhum grande escritório de advogados (como a grande maioria dos que comigo estudaram, aliás) e conheço muitos colegas de curso que estão na magistratura, o que desmente a generalização feita acima.

Quanto ao comentador Defreitas cai no equívoco de confundir o peronismo com a junta limitar dos anos setenta, que o derrubou, e sobretudo que todos os testemunhos válidos indicam precisamente o trabalho de Bergoglio em prol de muitos perseguidos pelo regime então vigente. De resto, dizer que "A lógica, a razão e a democracia não podem ser compatíveis com o capitalismo e o individualismo" é muito ilógico, pouco razoável, e tão democrático quanto eram as "democracias populares". Como se o capitalismo fosse apenas bancos especuladores e agências de rating...

Olinda disse...

e esse catolicismo defeituoso está já tão entranhado no tecido empresarial português que não será por acaso que nos últimos dois anos crescem as ofertas de emprego em regime de voluntariado ou também, vamos lá depurar palavras, estágios profissionais ao abrigo da medida estímulo.

Eu e Tu disse...

Sr. Embaixador e Srs.comentadores,
tentar denegrir a Igreja, até com grandes mentiras sobre o Papa Francisco nos comentários a propósito deste texto, não é de hoje nem de ontem. Tentar fazer a colagem da Igreja aos males do mundo e deste caso, do país, também não é novo, muito pelo contrário - infelizmente, é prática habitual. Mas não tem problema porque, estando a Igreja fundada sobre Cristo, resistirá a tudo isso.

A Igreja cometeu erros e continua a cometê-los e sempre os irá cometer por ser constituída por pecadores; contudo, Cristo é a sua cabeça e é Santa por isso. O Espírito Santo conduz a Igreja qual "mão invisível" que se torna visível quando o cristão se deixa habitar por Cristo - e esse é um caminho que não acaba, qual peregrino para chegar à sua meta. Mas o Espírito Santo também fala muitas vezes através de "males que vêm por bem" - não que os males sejam desejáveis mas porque o Amor de Deus, através do Espírito Santo, assim o realiza para que a Esperança seja sempre uma realidade e o homem não se torne dono do mundo.

Por outro lado, ao longo da história da Igreja, têm sido mais os bons exemplos e o desenvolvimento do mundo, como por exemplo no que se refere à arte, à ciência, à educação, do que os seus erros.

Bastas vezes a defesa dos pobres e oprimidos, por parte daqueles que denigrem a Igreja, é de uma demagogia dilacerante porque, na verdade, nada se altera, nada se constitui como alternativa, e nenhum enriquecimento acontece. No que à educação diz respeito, oscilamos entre dois extremos - por um lado, a certificação sem que tal corresponda a saberes adquiridos e a competências desenvolvidas; e, por outro, o fechar de portas a jovens que não têm as mesmas oportunidades do que os outros e que acabam por não poder ir tão longe quanto os outros. Tanto uma como outra, discriminam fortemente as crianças e jovens que frequentam qualquer grau de ensino, desde o ensino básico à universidade. Quanto à UCP, continua a ser uma grande universidade, e não apenas por ter bons professores - a doutrina social da Igreja também se lá vive; e tudo o que houver para ser melhorado, que seja discutido.

Não vejo comentar e criticar com tanta veemência os crimes horrendos que praticaram e continuam a praticar regimes que nada têm a ver com nazismo... Não vejo criticar sistemas "falidos" que insistem ser alternativa mas que tantas vidas ceifam, e que transformam em mortos-vivos.

Porém, os erros de uns não justificam os erros de outros e foi o Papa João Paulo II a pedir desculpa pelos atos da Inquisição, foi Bento XVI a antecipar-se dizendo que o maior inimigo da Igreja estava dentro da própria Igreja e é agora Francisco que volta a assumir publicamente o "mea culpa" e a chamar a atenção de todos os católicos à conversão diária a Jesus Cristo, verdadeira conversão que tenha reflexos no dia-a-dia, na forma como se vive - também em sociedade, naturalmente.

Que outro "grupo" o tem feito? Que outra organização? Que outra instituição?

Num mundo em que o dinheiro manda (em todos os grupos sociais, políticos, partidários - mesmo os que criticam o liberalismo, e tantos outros grupos) a Igreja representa a Esperança com a sua capacidade de auto-crítica e com a riqueza da mensagem de Jesus Cristo que, acredito, seja a resposta que o mundo precisa e a alternativa por que ansiamos.

Defreitas disse...

Ao Senhor Leao do Amaral

Desde os tempos medievais que a Igreja nega a evidência. Galileu , entre outros, fez a amarga experiência. Quando a Igreja foi capaz de negar os factos científicos, porque é que ela não negaria hoje os assassinatos da ditadura argentina e a "passividade" do Arcebispo de Buenos Aires. Onde estão os escritos do Arcebispo protestando contra a ditadura? Quando dois padres da Companhia de Jesus , que trabalhavam num "bidonville", a quem retirou o sacerdócio semanas antes, expondo-os, foram presos e torturados pela ditadura, onde estão os protestos do Arcebispo?

Num julgamento de 7 de Dezembro do ano passado contra três militares, o tribunal de La Rioja sublinhou a "indiferença" e "a cumplicidade" da Igreja com os torcionários.

O tribunal afirmou que a hierarquia católica argentina não fez caso nenhum da perseguição dos padres operários, que o regime fascista detestava. Um pouco como o que se passou com Pio XII e os relatórios sobre os campos de concentração nazis que lhe foram transmitidos e não mereceram um grito universal do papa.

Não houve um protesto do Arcebispo contra o roubo das crianças, filhos dos dissidentes, que as avôs da praça do 1° de Maio reclamam todos os anos.

Segundo o jornal francês "La Croix", o papa Francisco não respondeu ao pedido dum juiz francês que o queria ouvir sobre o assassinato do padre francês Gabriel Longueville durante a ditadura. Existem documentos na Argentina e no Vaticano elucidativos sobre este assassinato.

Enfim, quando os bispos argentinos apresentaram ultimamente desculpas por não terem sido eficientes na protecção da população contra a ditadura, é que se sentiam realmente culpados da tal "indiferença" que também foi aquela do Arcebispo de Buenos Aires

"Queremos confessar perante Deus que fizemos mal", assim se exprimiu a Conferência episcopal argentina em 2000".

O Cardinal Karol Wojtyla , na Polónia, teve a coragem que faltou ao arcebispo de Buenos Aires. O seu apoio explicito ao sindicato Solidarnosc, foi decisivo para a queda do poder comunista na Polónia, e marcou um combate decisivo em prol dos direitos do homem.

Enfim, Senhor Leao de Amaral, que a Igreja negue todos os atropelos à verdade, como negou o terror da Inquisição é normal, O Senhor diz que aqueles que o acusaram desmentiram depois as acusações. Mas quem desmentiu ? O padre que já faleceu ? As mães da praça do 1° de Maio que vêm todos os anos reclamar os corpos dos filhos lançados dos aviões no oceano? Acaso o Senhor Leao precisa de mais testemunhas que estas ?

Se o arcebispo de Buenos Aires tivesse agido de qualquer maneira, quanto mais não fosse de denunciar os crimes da ditadura, ele, protegido como prelado da Igreja, poderia ter certamente reduzido o sofrimento dos Argentinos.

A resposta do Vaticano em 15 de Março 2013 às acusações que o Senhor Leão refuta, diz isto: " Trata-se duma campanha "de elementos da esquerda anticlerical para atacar a Igreja e devem ser rejeitadas". Evidentemente, visto assim, é de notoriedade pública que para os elementos da direita , os cidadãos da esquerda devem ser fuzilados num estádio como no Chile ou lançados dos aviões no oceano como o fez a junta argentina. Este comunicado do Vaticano é claro, porque demonstra que a Igreja escolheu o seu campo, se posiciona contra os ensinamentos de Jesus e que ela protege o que há de mais miserável no humano. O poder exercido sobre os outros o que ela faz com abundância.

Defreitas disse...

A Eu e TU ...


Li com muito interesse a "predicação" precedente.. Assassina-se muito em nome de Deus desde há algum tempo . Mas , não é isso que se faz desde há muitos séculos? Entretanto parece-me que renascem um pouco por toda a parte tensões e afrontamentos inter-religiosos particularmente vivos. Os representantes das religiões dirão que estas são um bom álibi para cobrir ou esconder conflitos de ordem bem profana afim de os justificar, de os exaltar, de os amplificar. A disputa ou a reivindicação dum território, o acesso ao poder politico, os antigos conflitos étnicos não seriam por acaso as únicas e verdadeiras razoes das violências perpetradas em nome de Deus ?
A religião não seria mais que um para vento atrás do qual se abrigam aqueles que procuram conquistar ou conservar poderes bem temporais: Judeus contra Muçulmanos em vez de Israelitas contra Palestinos, Muçulmanos contra Ortodoxos em vez de Kosovars contra Sérvios, Protestantes contra Católicos em vez de Britânicos contra Irlandeses, Cristãos contra Muçulmanos, Muçulmanos contra Siks, Hinduístas contra Cristãos, Cristãos contra Animistas, etc,etc. e sempre vice versa segundo a crença religiosa ancestral dos povos e com o objectivo de se disputar um poder, uma terra, uma zona de influencia, privilégios, direitos adquiridos ou muito simplesmente confortar reivindicações de ordem económica, social ,política.
E isto não data de ontem. Foi assim que as Cruzadas, a Inquisição, as empresas coloniais levadas a cabo em nome duma "civilização cristã", na África e na América, fizeram do Cristianismo uma das religiões mais cruéis e das mais sangrentas da historia dos dois últimos milenários.
Poderíamos pensar que num mundo que se transformou num "village planetário", e enquanto as distâncias se reduzem, que as proximidades se multiplicam e que as trocas se reforçam, as mestiçagens culturais favoreceriam um pouco mais de tolerância e respeito do outro. Ora não somente parece bem que estejamos longe do resultado mas aparece que bem frequentemente, sob o nome das religiões, as clivagens se acentuam, as oposições endurecem, as especificidades se afirmam.
Eis porque, apresentar a religião, qualquer que ela seja, como a solução para os males presentes da humanidade, dissociando-a dos conflitos históricos que rebentaram em seu nome, ilibando-a da responsabilidade fundamental, é, na minha opinião, historicamente e intelectualmente falso. As estruturas mesmo das sociedades ocidentais, a realeza de "direito divino" por exemplo, não foram elas modeladas durante séculos pela adesão à fé cristã e pela preeminência reconhecida e admitida do "poder espiritual" sobre o "poder temporal", do Papa e do Imperador?

(à suivre)

Defreitas disse...

Foi sem duvida em nome de Deus que, durante séculos, os grupos humanos antagonistas de origem religiosa diferente acabaram por se estripar uns aos outros, mesmo se esse Deus era proclamado único, mesmo e sobretudo , se estas religiões emanavam duma mesma fonte "revelada", como o são as "religiões do livro" ( a Bíblia), o judaísmo, o cristianismo e o islão.
Como se chegou a este ponto? Como foi possível que religiões fundadas em doutrinas, pregando o amor fraterno universal, a paz, a justiça, tenham vindo a destilar tantos ódios e por vezes a ser o motor de tantas atrocidades ?
A resposta é inerente às religiões elas mesmas. As três religiões citadas, estimam-se por cada uma de entre elas, detentoras e garantes duma única verdade. Um Deus único, um pensamento único, um só modelo de desenvolvimento, uma só moral, uma civilização única . A disputa pelo poder será sangrenta . A" guerra santa" ou a defesa do "ocidente cristão", a guerra do "Crescente contra a Cruz" são bons motivos para a conquista do poder.
O cristianismo porque se espalhou no mundo durante dois séculos, pela predicação, invasão e a força, primeiro em toda a Europa, depois as Américas, e a maior parte da África, com a crença profunda de deter A VERDADE sobre o homem , engendrou a ideia que os ocidentais deviam reger o mundo.
Assim, contrariamente ao que o Senhor escreve, creio que não é a religião que é a chave do nosso futuro, e muito menos uma esperança, mas o contrário. Quero dizer que ultrapassando as clivagens religiosas doutra era, seria antes tempo para todos os homens sequiosos de justiça e de liberdade de se unirem. Eu sei... é utópico !

Defreitas disse...

Ao Senhor Joao Pedro
*
Desculpe, Caro Senhor Pedro, mantenho a minha opinião que a existência simultânea dum projecto democrático e dum projecto capitalista é contraditório.

A democracia apela ao projecto de autonomia individual e colectiva. O capitalismo ao do tudo economia.
Claro Senhor Pedro que os dois projectos coabitam. Mas, contrariamente à propaganda político mediática e pseudo-intelectual quotidiana, esta coabitação entre a Democracia e o Mercado não é "feliz", ela é intrinsecamente conflitual.

A era do tudo económico conduz a humanidade à catástrofe. Catástrofe social, com a explosão das desigualdades e a pobreza cada vez mais real; catástrofe económica, com a dominação de multinacionais privadas poderosas, dominantes e incontroláveis pelos Estados (quando estes não são simplesmente cúmplices); catástrofe cultural, com a uniformização mundial das sociedades sobre o modelo consumista, portanto conformista; e claro está catástrofe ecológica, com a destruição dos recursos naturais dum planeta.

A situação do nosso pais, mesmo se não vivo ai, onde vivo segue o mesmo caminho, é a prova que a Democracia perde terreno todos os dias numa sociedade onde o Capitalismo destrói todos os valores, e sobretudo os da família. E a corrupção não é dos menores flagelos infligidos pelo capitalismo selvagem.
E é ilógico porque a sociedade se desintegra, enquanto em boa lógica, o progresso tecnológico deveria fazer avançar a humanidade.

Anónimo disse...

Muito nos contam, aqui aos do interior profundo: Que a instrução neste País não está nada “católica” por todo o lado! Mesmo com tudo o que está a acontecer, ainda ficamos admirados…
Que uns não são católicos por princípio e os outros, dizendo que são, não praticam, já nos tínhamos apercebido! (na pele). Agora, haver incompetência (e outras sujidades) como é referido, onde o contrário é tão apregoado, sem contradição, ainda tem alguma novidade…
antonio pa

Odoacro disse...

Caro Pedro e demais defensores da ucp:

I - Claramente, não sabem o que actualmente se passa na dita instituição, em particular na escola de Lisboa.

II - Pedro, pelo que vejo licenciou-se na ucp do Porto, onde, apesar de tudo, o cenário é menos tenebroso, dado o compadrio com os megaescritórios de advogados ser menos evidente, ao contrário do que se passa em Lisboa - para tal, "vide" as brochuras dos mestrados de Direito em Lisboa.
Caso não seja desse tempo, note que estamos na era pós-palhaçada de Bolonha, na qual a licenciatura e o mestrado foram nivelados por baixo, em nome de valores obscuros delineados por burocratas da "Europa", ignorantes de Bártolo, Acúrsio, Suárez, Vitória, Molina, Savigny e por aí fora, mas muito sabedores do € e do $ e da desvalorização dos salários;

III - As admissões à OA e ao CEJ são dominadas pela FDL e pela FDUC; nenhuma das faculdades mais recentes lhes chega aos calcanhares, salvo a FDUP (pública, claro) que, no concurso de 2012 se deu um pouco melhor, mas longe das clássicas. Nem é quantidade, é mesmo qualidade, porque, no caso do CEJ, a proporção é avassaladora;

IV - Estou à espera dos tais "grandes professores" da católica, em especial na área económica. Atenção: não vale mencionar os saneados das Universidades públicas nos idos do PREC (de esquerda, porque actualmente temos o de direita em curso), nem os Confrarias e Abomináveis Césares das Neves. E os tais centros de investigação de "excelência";

V - Todas as críticas efectuadas têm uma base factual, real. Não são produto de ódios de estimação nem de recalcamentos. O problema é todo vosso e dos brandos costumes, que deixam de o ser quando são confrontados com as verdades expostas por mim, pelo Sr. Embaixador e pela maioria dos comentadores deste post. Andaram enganados durante décadas, o resto é conversa.

Anónimo disse...

Está imparável a 'velha senhora'. Já vai no terceiro sonetilho, esta noite:

estou consigo de acordo,
mais co'a versão do defreitas;
católica - eu mal a abordo,
do papa sei as maleitas.

em tempos até rimaram,
bergoglio e universidade:
direitas aproveitaram
da sua cumplicidade.

agora bergoglio é papa
e adota ideias mais leves,
salvando, julga, a igreja;

católica, essa derrapa
num tal de césar das neves
que aquí perora e peleja.

Anónimo disse...

Diz-me ainda a 'velha senhora' que não pode deixar de cumprimentar o seu velho amigo Feliciano da Mata:

saúdo o mata de frade
o frei lhe assenta mui bem
e hoje a infalibilidade
parece que é ele que a tem

João Pedro disse...

Caro Defreitas, distingamos: não em capitalismo selvagem. Porque afinal de contas o capitalismo é que caracteriza as nações mais ricas. Capitalismo são as fábricas, empresas de transportes, lojas, etc, que não pertencem ao estado.

Caro Odoacro, lamento dizer-lhe mas a sua "verdade" não coincide com a minha experiência na UCP. não sei porque é que defende tão encarniçadamente a FDL e a UC, que em muitos pontos estão bastante anquilosadas, mas digo-lhe que sei de vários formadores do CEJ que por acaso até são formados na UCP e na Nova. Algumas das melhores cabeças jurídicas também. E quando diz que "as admissões à OA e ao CEJ são dominadas pela FDL e pela FDUC", lamento dizer-lhe, mas não me parece que abonem nada em favor das instituições que defende; bem pelo contrário, dá a ideia de que há esquemas de compadrio e preferência dominados por essas faculdades.

Anónimo disse...

Parece que o Papa o ouviu (ou de como por cá se antecipam):
http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=29&did=131192

Defreitas disse...

Ao Senhor Joao Pedro


A" sede de adquirir", a "procura do lucro", do dinheiro, da maior quantidade de dinheiro possível, não têm em si nada a ver com o capitalismo. Empregados de café, médicos, mendigos, artistas, prostitutas, funcionários venais, soldados, ladroes, todos podem ser
vitimas desta mesma sede - como o foram as pessoas de condições variadas em todas as épocas e em todos os sítios, por toda a parte onde existiram duma maneira qualquer as condições objectivas deste este estado de coisas.
A avidez dum ganho sem limite não implica em nada o capitalismo., e ainda menos o seu "espírito".
O capitalismo identifica-se antes com a dominação, "por todos os meios", à procura dum lucro sempre renovado, numa empresa continua, racional e capitalista - a procura da rentabilidade e da acumulação.

Se a acção económica "capitalista se limitasse unicamente ao espírito dum lucro pela exploração das possibilidades de troca, isto é sobre as "chances" pacíficas do lucro, ainda bem. O problema é que o "capitalismo" moderno segue as suas próprias leis orientadas para a violência, seja directamente pela guerra, seja indirectamente sob a forma de roubo fiscal, isto é pela exploração dos sujeitos.

Capitalismo dos flibusteiros da finança, dos grandes especuladores, dos caçadores de concessões coloniais, dos grandes financeiros. E sobretudo naquele que aproveita as guerras às quais se livram hoje como sempre, uma parte do grande comércio internacional.

E enfim pela organização e a remuneração do trabalho, que atinge proporções tais que se aproximam do trabalho servil da antiga escravatura.

Odoacro disse...

E hoje mais umas mentirolas na comunicação social, com os tais famigerados "rankings" do Financial Times (acompanhados de mais um artigo de opinião contra a austeridade e a ganância dos CEO, na melhor tradição de dar uma no cravo e outra na ferradura dos britânicos) dos cursinhos de gestão da Católica e Nova, essas "partners in crime".
Curioso é que na Pátria do MBA já muita gente discute a pretensa utilidade deste; décadas de Milkens e Lehman Brothers dão que pensar. Cá na parvónia, a jumentude e os bimbos em geral continuam fascinados com esse falso mestrado e verdadeiro flagelo ou, se preferirem, curso de Contabilidade e Marketing glorificado por idiotas.
A transformação das boas e velhas faculdades de Economia em "escolas de negócios" (leia-se de negociatas) nada trouxe de bom, bem pelo contrário. Os resultados estão à vista. Querem um economista da velha guarda ou gentalha como o Carlos Moedas?

Não representam nada para o Ensino Superior português: a sua doutrina nada tem de nacional - nem sequer alguma adaptação às circunstâncias, como na jurídica -, parte dos professores são quasi-juízes de fora/capatazes intelectuais ou "académicos" sem colocação no seu País de origem e as tretas sobre alunos estrangeiros são tantas que até dói.
Aqui há três anos, numa brochura do "Lisbon MBA" (a parolice subserviente continua, claro), constatei que as duas "academicas" afirmavam que 30% dos alunos do dito curso eram estrangeiros; contudo, após verificar, no próprio sítio da Internet do curso um ficheiro .pdf sobre essa mesma edição do tal MBA, vinha lá escarrapachado que só 4 (quatro) por cento dos alunos eram estrangeiros. Pergunto-me o que terá acontecido aos outros 26%...
Mais: parece-me que estrangeiros anglófonos só cá vêm parar porque não têm notas (ou cunhas, que na Ivy League as há, "vide" como entrou o imbecil George W. Bush em Yale) para faculdades verdadeiramente decentes, ainda que o conceito de decência em Gestão, perdão, em "Business Schools" seja muito, muito relativo.
E não esqueçamos a corrupção que paira na Câmara de Cascais e em São Bento, ao declararem que terrenos da Reserva Agrícola Nacional, junto à NATO em Oeiras, são para as novas instalações da "Nova School of Business".

O Rei vai nu e quase ninguém diz nada; os ígnaros da imprensa publicam tudo o que seja relativo a Portugal no estrangeiro, desde luzes de Natal em Londres até esta publicidade em forma de notícia e não há qualquer critério.
Novamente, caros católicos: ou se mancam e dizem o que querem ou são complacentes com a instituição mais hipócrita deste Mundo, a par dos partidos políticos e das multinacionais.
Prestígio? Isso têm (à sua medida, não tenhamos ilusões) Coimbra, Porto, Lisboa, Cambridge, Oxford, Sorbonne, Heidelberg, Bolonha, Pádua, Complutense, Leiden e por aí fora. Acham mesmo que a Católica é superior a Oxford?
Acham mesmo que a rapaziada da Opus Dei que enxameia empresas e bancos quer mesmo saber do seu irmão? Acham mesmo que querem saber do que diz o Deuterónimo?
Se acham, se "pensam" assim, deixem-me rir com as vossas ilusões.

Odoacro disse...

Caro Pedro: não se engane mais, que a Nova e a Católica não são exemplo para ninguém em matéria de compadrio, para mais que o concurso do CEJ é suficientemente exigente e exige mérito, ao contrário das cunhas para sociedades de "advogados", em que um candidato com 11 de média numa Lusíada passa à frente de um com 14 numa de topo só porque tem o factor "C" - claro que depois desilude-se ao descobrir que o ordenado chorudo de estagiário ou mesmo de "associado" é para lá de metade do que o apregoado pela sociedade em mais publicidade em forma de notícia. Comparativamente, os formadores do CEJ provindos da UCP e da UNL são poucos e pergunto-lhe se são magistrados de carreira - se forem, são dos poucos dessas faculdades que acederam à carreira.
E não, não sou magistrado, portanto nem estou a defender a profissão ou a instituição CEJ, meramente a reafirmar FACTOS. Não percebe a minha defesa da FDL e da FDUC? Nem é defesa, é constatação de um facto: de que são as duas principais faculdades de Direito de Portugal, as que mais deram e dão ao Direito português. Têm já novas gerações de Doutores, capazes de continuar a ensinar e a investigar o Direito em alto nível.
Anquilosadas? Em quê? Em não terem dado (tanto quanto a ucp e a unl, vá) o flanco às PLMJ, MLGTS e afins desta vida? Essas sim, verdadeiras centrais de compadrio que não conseguiram sabotar as eleições na OA? Veja lá a "educação" do seu colega da UCP, Vasco Marques Correia, relativamente à candidata Elina Fraga, nas redes sociais.
Eu dei-lhe factos e nomes e chamei os bois pelos nomes, o Pedro dá-me ficções e aleivosia contra realidades que não conhece. Já agora: sabe que boa parte dos professores da Católica lá na Foz tem parte da formação em Coimbra? Desde Taipa de Carvalho até ao pessoal mais jovem de Comercial. Por alguma razão é.
Na Católica de Lisboa insistem na parvalheira própria, talvez por isso seja uma faculdade inferior à congénere portuense, dou-lhe isso de barato, se quiser.
A sorte é que a FDUP, sendo a faculdade mais fraca da grande Universidade do Porto, é uma faculdade inferior à sua, veremos até quando. Ser um feudo de quem a fundou não ajuda nada...

Irene Ramires disse...

Eheh, é normal o Financial Times galardoar as Universidades Neo-Liberais. Haviam de galardoar quem?

Estes neo-liberais venderam a sua ideia a muitos católicos, como sendo o anti-comunismo. E muitos católicos abraçaram tal ideia mais parva.
Agora temos que aturar isto.

Oxalá o discurso do Papa ajude a desmascarar essa ideia que o neo-liberalismo é bom, porque não é comunista.

Oxalá qualquer pessoa seja católica ou não, continue repetindo o discurso do Papa Francisco, até essa escumalha sair da Universidade Católica.

E da Nova, mas aí os argumentos serão diferentes.

Parabéns por este brilhante artigo.

Anónimo disse...

Não se preocupe, todos somos limitados e haverá muitas outras coisas que não percebe.
No entanto é facilmente compatível. Uma coisa é a produção, outra a distribuição.
O problema principal do mundo é que estamos todos no mesmo barco, num mundo cada vez mais pequeno, mas não há ninguém ao leme. A nível lobal o problema é o excesso de regulação, a nível global é a falta dela.

OCNI

Anónimo disse...

Odoacro

A sanha quanto à Escola de Lisboa da faculdade de Direito da UCP tem, certamente, muito que se diga...Não deixe que os factos o atrapalhem,mas, em todo o caso, faço notar que os actuais presidente do Conselho Científico e do Conselho Directivo da FDL são, certamente por acaso, licenciados (e, no caso do presidente do CC, também mestre) pela UCP.

José disse...

(comentário deixado no Blogue Blasfémias)
Não pude disponibilizar ontem a atenção que este assunto (e esta saudável polémica) merecia.
Já hoje li alguns dos textos oferecidos pelos links, bem como vários comentários neles colocados, e gostei muito.
Reforcei a ideia de que rui a. escreve dos mais interessantes e mais razoáveis textos na área do pensamento económico (e social) liberal. Escrevo isto, acrescentando que não me aproximei (com a “desimportância” que tenho) daquela “doutrina”. Acho mesmo que o pensamento de rui a. assenta numa fortíssima crença nas capacidades individuais, capazes de resolver, pela associação voluntária entre os indivíduos e pela autorregulação, todos os problemas da humanidade, o que é segundo a segundo desmentido pela realidade. As notícias de hoje sobre os cartéis de super-instituições bancárias são mais uma, mas acredito que até ao fim do dia tenhamos mais provas de que são necessários Estados fortes e interventores.
http://sicnoticias.sapo.pt/economia/2013/12/04/bancos-multados-em-17-mil-milhoes-de-euros-por-concertacao-do-valor-das-taxas
Mas gostaria de salientar também o excelente texto do embaixador Seixas da Costa, de cujas ideias me senti muito próximo. Além disso, fiquei a conhecer o blogue que, certamente, passarei a visitar com a regularidade possível.
Quanto à Universidade Católica, acredito que seja uma das melhores, dentro daquilo que são os seus objetivos e a perspetiva dos setores económicos que lhe dão esse honroso lugar. Não interessará muito aos avaliadores saber por onde labutam as “formiguinhas” que lá fizeram os seus estudos, que tipo de sociedade andam a tentar construir, que palavras suas não coincidem com a doutrina social da igreja. Interessará, sim, saber em que princípios ideológicos assentam as suas bases. Sabido isto, pode concluir-se que os seus pupilos tenderão a seguir os passos dos mestres. Haverá “ovelhas” tresmalhadas, mas isso faz parte dos riscos de qualquer pastor.
O Rui diz que “A ideia de liberdade académica não se compatibiliza com filtros censórios de espécie alguma, e quando uma Universidade os põe em prática, ainda que em nome de princípios e valores, deixa de o ser.” Sendo um pensamento que partilho, acho-o contudo, mais uma vez, um excesso de confiança na natureza humana e nas instituições que, voluntariamente, cria.
Por mim, as universidades não deveriam ser católicas, nem evangélicas, nem ateias. Deveriam tornar universais os conhecimentos e contribuir para a investigação e o desenvolvimento. De resto, algumas (poucas) pessoas da elite política (e não só) que sei que se formaram na UC ou que lá lecionam não mostram qualquer superioridade ética ou outra qualquer. Provavelmente, vítimas da sua própria natureza. Não sei.
Por isso, considero importante o que fazem as tais “formiguinhas” para ver se andam a fazer o trabalho dos “rapazes de Chicago” ou a tratar de melhorar o mundo. E isto não conta nada para a avaliação das universidades.
Cumprimentos ao Rui Albuquerque e ao embaixador Seixas da Costa
JR

Odoacro disse...

Parece que há gente que não sabe ler o que escrevo. Os professores que o anónimo de 4 de Dezembro menciona licenciaram-se na UCP no tempo em que 100% do seu corpo docente era da FDL e da FDUC - Antunes Varela, Cavaleiro de Ferreira, Almeida Costa, Freitas do Amaral, Soares Martínez, entre outros. Para lá tiveram de ir, forçados pelos saneamentos da extrema-esquerda.
Note-se que em 1977 ainda se cuspia em professores, em Coimbra; não admira que preferissem fazer uma perninha na UCP até que a poeira da estupidez ideológica assentasse.


Não só os ditos lentes da FDL se licenciaram na UCP hoje em dia, com o medíocre corpo docente e organização curricular da dita faculdade, como prosseguiram a formação na FDL - note-se que o professor Pedro Romano Martínez já nem é professor na UCP e tinha por costume colocar, nas suas obras, o nome da FDL primeiro.
Contudo, a FDL e a FDUC andaram para a frente; a UCP prefere fazer fretes a gente pouco recomendável, como as PLMJ desta vida.
E que dizer do professor Vasco Pereira da Silva, que agora é meramente professor convidado da UCP?
Não é sanha, é realidade.

Repito, caros leitores: estamos em 2013 e não em 1979. Não queiram comparar o incomparável.

Aqui vos deixei novamente FACTOS. E contra estes não há argumentos, só ilusões de gente ignorante.

Para que conste, um dos filhos do actual director da FDL formou-se na dita faculdade; outros o fizeram, como os filhos dos professores Pais de Vasconcelos, Menezes Cordeiro e Jorge Miranda.
Só conheço a obra do filho deste último e recomendo, sobretudo para quem gosta de Direito Administrativo - em especial o Direito do Ambiente.


FACTOS, senhores, FACTOS. Ide lá para as vossas ilusões de que não andaram numa espelunca endeusada por uma sociedade medíocre e ignorante.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...