quarta-feira, novembro 27, 2013

Das escadas às portas

Muitos amigos meus não gostarão do que vou escrever a seguir. "Tant pis"!

O que ontem se passou, com a ocupação das entradas de alguns ministérios por sindicalistas, associado aos acontecimentos que ocorreram há dias na escadaria da Assembleia da República, representa uma forma de expressão de interesses particulares que, a prosseguir e a ser tolerada, coloca em causa os fundamentos do sistema democrático. Entendo perfeitamente a revolta, mais do que justa, de quem vê o seu emprego ameaçado, vantagens adquiridas em causa, a sua vida e a dos seus em frangalhos, por uma política que parece indiferente ao sofrimento das pessoas. Mas é por demais evidente que todos os cidadãos portugueses - esses e outros - continuam a poder usufruir livremente da plenitude dos direitos de expressão política e de manifestação que a Constituição e a legalidade democrática lhes concedem. E que só quando esses direitos fundamentais eventualmente tivessem sido colocados em causa é que se justificaria o recurso a métodos alheios à legalidade vigente. O que ontem e há dias se passou assume o caráter de uma perigosa abertura da "caixa de Pandora" que, a meu ver, não é uma situação favorável à democracia portuguesa. E eu, julgo que como muitos portugueses, não me sinto representado por quem utiliza métodos de expressão cívica que se afastam da estrita observância da legalidade democrática em que pretendo continuar a viver.

Admito estar enganado nesta minha forma de ver as coisas, mas é, muito simplesmente, o que eu penso.

24 comentários:

Rui C. Marques disse...

Caro Francisco,
Não está enganado.Revejo-me por inteiro nas suas palavras.Tenhamos,pelo menos,o direito a viver e a respirar em democracia.Não hipotequemos esse direito com coelhos saídos não de uma cartola mas de uma qualquer caixa de Pandora.

O abraço de sempre.

opjj disse...

Caro Dr. Seixas da Costa, o que diz é tão evidente!Suponho que este abuso perpetrado por 1 ou 2 dezenas de desordeiros,noutro país eram de imediato postos na ordem.Penso que, a polícia condescendeu porque está enfraquecida em consequência da desobediência pública de à dias na Assembleia.
Parece que 50 manifestantes,com representatividade nula,falando em nome do povo, determinam a governação do país.
Vão ateando fogos que depois são pagos com o sofrimento do povo.
Cumprimentos

Anónimo disse...

O sr. embaixador devia
reequacionar o problema das adversativas. Mas, mas, mas... Assim não vamos lá. Há sempre um mas, ou muitos mas. É preciso é saber pô-las onde devem ser postas. Ao que isto chegou... É sempre uma coisa e o seu contrário...

Anónimo disse...

Havendo queimódromo, sambódromo, e autódromo, designações, julgo eu por cronologia, derivadas de hipódromo, podiam construir um manifestódromo (utilizando até os fundos de “coesão”) e, assim, não se “criavam”, “sem querer”, bastiões a conquistar, como sejam, subir a escadaria ou atravessar a ponte…
Alguém dizia que em democracia é proibido proibir…
antonio pa

Anónimo disse...

Nem sequer é ilegal!
Num país em que o governo pretende, sistematicamente violar a Constituição - conseguindo-0, por vezes - e em que são quotidianamente espezinhados os mais elementares valores da dignidade e da cidadania, fazer de um protesto que a Lei não sanciona, de um pacífico acto de protesto público, uma espécie de atentado à democracia, é que brada aos céus.
E que responder a um comentário segundo o qual "este abuso (...) noutro país " receberia umaresposta mais violenta, se pensarmos em Occupy Wall Street" ou que se passa em protestos em Bruxelas, Madrid, Paris ou Londres.
Tenham juízo, vedem-se, deixem-se de atitudes de vestias cívicas que são deslocadas, hipócritas e politicamente correctas.

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Anónimo das 17.11: uso as adversativas quando uma relativizacao se justifica.
Caro Anónimo das 17.21: uma ilegalidade não justifica outra. E aqui ninguém é politicamente correto. Digo apenas o que penso e deixo que me contradigam, nos limites da urbanidade, que não deixo ultrapassar travestida de indignação cívica, tão "l'air du temps".
Para todos: vamos a ver se nos entendemos! Eu escrevo o que penso, não passo recados, nào tenho agenda, sei que agrado a alguns e desagrado a outros, sem que sejam necessariamente sempre os mesmos. Como não tenciono ir a votos...

Anónimo disse...

Tudo o que abale a autoridade deste governo, dá-me um gozo imenso! Com algum optimismo, talvez ainda venhamos a assistir a uma réplica do cerco de 75, quando Pinheiro de Azevedo era PM. Tenhamos esperança!

Anónimo disse...

Para um não-politizado como eu isto está cada x + interessante. Será que um destes dias iremos assistir ao "assalto do Palácio de Inverno" quasi 100 anos depois..... Só não sei quem será assaltado e quem serão os que assaltam.. Mas isso não fará muita diferença. A escolha das barricadas será pelo coração.

Anónimo disse...

Concordo com o seu comentário das 17:50 !

Fora com o políticamente correcto!

Alexandre

Anónimo disse...

Mas de que ilegalidade fala?
Não há qualquer ilegalidade em entrar, em grupo, num Ministério e exigir ser recebido.
E o que está em "l'air du temps" é a pose indignada contra os "excessos", sejam os do Dr. Mário Soares, sejam os de manifestantes justamente indignados.
É da hipocrisia bem-pensante e, repito, politicamente correcta que falo.
Trata-se de escolher campos, essa é que é essa.
Não sei quem os seus muitos amigos que não vão gostar do que escreveu mas acarinhe-os.

a) anónimo das 17.21

Anónimo disse...

Noto em si o hábito de se "desculpar" quando tem uma opinião contrária à politicamente correta.

Que raio! Cada um tem a sua opinião e não há que lamentar ou desculpar-se.

É o velho hábito do "Desculpem lá... mas eu não estou de acordo"

Anónimo disse...

Quando há fome real e miséria e fortunas cada vez mais
exponenciais...

Quem sabe faz a hora , não espera acontecer.

Não há anestesiantes para o sofrimento continuado.

Silva.

patricio branco disse...

não creio que tivessem sido ocupações embora nos noticiários assim se diga. antes um grupo de sindicalistas uns ficando à porta dos ministérios, outros dentro na portaria, pedindo reuniões com responsaveis politicos. aliás conseguiram reuniões e a policia de guarda aos ministérios estava calma, não intervindo pois não foi necessario, nem houve reacções do governo ou comunicados como quando das policias no parlamento.
nada de grave se passou neste país de brandos costumes.
afinal, o reino unido, há uns anos, viu o parlamento, a sala dos comuns, invadida em plena sessão...

Freire de Andrade disse...

Completamente apoiado. É também o que eu penso e que pensei ao ter notícia dos acontecimentos.

Anónimo disse...

Mais do que as próprias investidas nos ministérios, preocupa-me verificar que esse acto totalmente reprovável, independentemente dos motivos que o determinaram, merece a aprovação de tantos comentaristas deste "blog", que em princípio se supõe serem pessoas de um certo grau de cultura política e formação cívica. Pede-se mais reflexão e menos emoção, senhores comentaristas.
Leão do Amaral

Anónimo disse...

O sr. embaixador não distingue um grão de areia do areal? É grave, muito grave.

Defreitas disse...

Tenho a impressão, visto de longe, que " a montanha pariu dum rato" ! Assisti, por acaso, há dias, em Paris, a uma manifestação junto da Assembleia Nacional , de alguns milhares de manifestante, dos quais uma delegação foi recebida pelo presidente da Assembleia.

Eu acho que uma manifestação que não viola o espaço da "casa do povo", que é a Assembleia Nacional, pode ser visto como uma das maneiras de" respirar" da democracia.

E vou mesmo mais longe: esta forma de "respiração da democracia" é aconselhável na medida em que tenho a impressão que as nossas democracias representativas estão em crise por causa dum défice crescente de confiança nas elites políticas, cujo autismo alimenta um fundo revolucionário que só pede uma centelha para explodir !
Outras formas de luta não convencionais de participação emergem aqui e ali e reforçam-se : petições, manifestações, fóruns, mobilização de colectivos de luta, etc.

A prática de desconfiança dos cidadãos em relação àqueles que eles elegeram são estruturalmente necessários à democracia. Não vejo perigo nisso para a democracia.

Talvez seja difícil a dizer, mas esta espécie de "contra-democracia" seria antes uma exigência democrática de controlo pelos cidadãos mesmos do "compromisso das autoridades em favor do bem comum". Era aliás que se fazia já em Sparta.

Creio que foi Bentham que disse - " The more strictly we are watched, the better we behave" .

Imaginemos que se criam três regras : Vigilância, de comités de cidadãos, por exemplo, denunciação, que graças aos media põe à prova a reputação dos governantes e notação enfim, praticada pelos espertos, agências, observatórios, comités de utentes, etc.

Esta semana, em França, passou-se algo que vai neste sentido. Quando o presidente de Peugeot decidiu de partir para a reforma e que o conselho de administração lhe ofereceu 21 milhões de euros como "reforma-chapéu" ( presente de partida), o pessoal da Peugeot , todos os média, os sindicatos e por fim o próprio governo e o Presidente François Hollande gritaram tanto contra o escândalo , que hoje, o presidente da Peugeot, Philippe Varin, abandonou o "cadeau".

Escândalo porque, Peugeot perde dinheiro, fecharam uma fábrica (Aulnay) porque os negócios vão mal, e fomos nos, os contribuintes, que salvaram Peugeot da falência em 2008 emprestando-lhe 8 mil milhões do meu dinheiro!
A vigilância e a denunciação foram eficazes!

Quanto à notação das empresas e dos governos, é o que fazem as agências de "rating" para proteger o dinheiro dos accionistas.

Anónimo disse...

Penso que a lógica subjacente à sua posição levá-lo-ia numa situação extrema a tomar partido contra os explorados e a favor dos exploradores. Dito de outro modo: entre a revolução e a reacção escolheria esta última. Entre a Inquisição e o Novo Mundo (o Comunismo) escolheria a fogueira...
Estou enganado, Sr. Embaixador ?

Cumprimentos

João Pedro

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro João Pedro: o mundo não existe pintado a preto e branco como o pinta. A falácia do seu discurso maniqueu é, aliás, bem fácil de desmontar.

Eduardo Saraiva disse...

Alguém,mesmo "inimigo" pode discordar? Creio que não.

Anónimo disse...

O João Pedro tem razão. Você no fundo, sem nunca se querer comprometer a fundo, preferindo sempre a rama, porta aberta aqui outra fechada acoli, fica sempre na zona cinzenta. Nem preto, nem branco.
Como dizia num Post acima, uma no cravo, outra na ferradura. Das duas uma: ou você continua prisioneiro de comportamentos mentais por ter sido diplomata, ou tem/alimenta, em reserva, ilusões políticas e daí não "dever" revelar-se tal como, talvez seja.
Boa noite!

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Anónimo das 22.06: felizes os que, como você, não têm dúvidas. Eu tenho e tenho a coragem de as confessar. O meu futuro responderá ao resto do comentário.

Anónimo disse...

Está muito opinativa, hoje, a 'velha senhora':

cravo mais que ferradura,
vejo a tal 'legalidade
democrática', tão dura
que nos mata a liberdade
de comer em cada dia,
como burra fantasia.

se o governo tudo pode
contra a 'má' constituição
sem que a gente se incomode,
não partilho a indignação
por escadas ou portões:
morram tais proibições!

e não morra o meu país
que quer - há de ser feliz!

Anónimo disse...

Eu cá por mim já achei mais que tudo ou era branco ou era preto, embora neste momento ache que praticamente tudo está preto. Um abraço. JPGarcia

"Visão"

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