segunda-feira, dezembro 26, 2011

Ping-pong

Se os leitores deste blogue quiserem ter o cuidado de revisitar, um pouco mais abaixo, o post "À esquina da Gomes", sobre o café mais carismático de Vila Real, poderão verificar na fotografia que, sobre as suas instalações. há uma série de janelas, que aparentemente pertencem agora aos escritórios da seguradora francesa Axa. Mas nem sempre foi assim: nesse andar, por muitos anos, situava-se a "urbanização", um serviço chefiado pelo engº Barreto, pai do conhecido sociólogo António Barreto, um dos membros de um avantajado rancho de filhos, alguns dos quais cruzei nos tempos de liceu.

Com um deles, o também sociólogo José Barreto, fui co-autor de uma bem sucedida patranha (numa cidade que sempre teve uma história de grandes "partidas"), algures em meados dos anos 60. 

Sabedores que o Sport Club de Vila Real tinha organizado, ao longo do dia, um torneio de ping-pong, instalámo-nos os dois na "urbanização" (o Zé Barreto deve ter subtraído a chave ao pai), ao final da tarde, e, em nome do "Norte Desportivo", um jornal "azul" de referência nortenha, contactámos telefonicamente a organização do torneio. Explicámos que, lamentavelmente, não havia sido possível ao jornal enviar um repórter, pelo que pedimos que nos fossem transmitidos os resultados do torneio pelo telefone. "Todos?", perguntou o nosso interlocutor, abismado, lá da sede do Sport Club, na Rua Direita. "Todos, claro! Queremos dedicar uma página completa ao torneio". E foi assim que, durante aí uns 20 minutos, o pobre do homem (que sabiamos bem quem era, esperando que o contrário não fosse verdade!) lá ilustrou, com abundantes números, a "reportagem" a "sair" no dia seguinte: "José Fraga/Claudino Areias: 21-12; 19-21; ganhou José Fraga "à melhor", com 23-21". E por aí adiante, com dezenas de outros jogos. 

O Zé Barreto tinha, entretanto uma função vital: como a chamada era supostamente "interurbana", havia que fazer "bip" a cada três minutos, o que se tornava progressivamente difícil, com a "barrigada de riso" que íamos tendo. Quanto tudo acabou, para além de um sentimento de pena pelo nosso esforçado interlocutor, perpassou-nos algum temor sobre o que se iria passar no dia seguinte. Mas logo se veria!

Na tarde desse dia, colocámo-nos estrategicamente numa mesa da Pompeia, o café em frente à tabacaria do Bragança, onde o Fernando "Choco" traria, na sua motorizada, o rolo dos jornais, chegados no comboio da tarde. Por essa hora, notava-se uma pequena multidão na rua, pelos passeios entre a loja do Chico "americano" e a funerária do Zézé. Imagina-se que, derrotados ou campeões, muitos participantes do torneio da véspera estariam ansiosos em ver o seu nome em letra de forma. Arribado o "Choco", vimos os escassos "Norte Desportivo" disputados com ânsia, com aquelas folhas enormes, cuja tinta sujava as mãos, a serem percorridas... em vão!

Lembro-me de me ter safado pela porta que a Pompeia tem para a avenida, temente aos impactos da desilusão. Nunca percebi quantos, com o tempo, nos identificaram como autores da "partida". Uma coisa tenho a certeza: o meu interlocutor dessa noite ainda hoje, mais de quatro décadas passadas, cruza-se comigo com cara pouco amigos. Ó Sr. Mário, deixe lá, já foi há tanto tempo!

Em tempo: dedico este post ao meu amigo Zé Barreto, leitor do blogue, que deixou um comentário no "À esquina da Gomes", onde éramos companheiros de mesa.

9 comentários:

Anónimo disse...

Não conhecia esta historia. Mas ouvi falar do telefonema para o Bispo.

Anónimo disse...

Obrigado por essa história! Tens excelente memória, eu só me comecei a lembrar desse caso em particular na parte do pi-pi-pi da chamada interurbana. Teríamos talvez uns 15 anos e éramos tidos individualmente por bem comportadinhos. Juntos, o atrevimento vinha ao de cima. Fizemos várias dessas. O telefonema para o Bispo, a que alude aqui alguém, não me lembro se foi da nossa lavra, mas soa-me a familiar.
Uma das partidas, a mais inconsciente, metia uma bomba de cinco tostões (das maiores), com rastilho de cordão de sapato, que coloquei nem digo onde, com aviso prévio por telefone de que ia rebentar. E rebentou, atroando a noite vilarrealense, por sorte sem fazer estragos. Hoje custa a acreditar, mas essas bombas listadas, grossas como um dedo grande e bastante perigosas, vendiam-se pacatamente a qualquer adolescente nos quiosques. Felizmente que a minha carreira de bombista ficou por aí, apesar do auspicioso começo.
Um grande abraço do
Zé Barreto

Isabel Seixas disse...

Que "maroteira"!!!

Guilherme Sanches disse...

Para o Zé Barreto, se a vassoura do tempo não varreu da memória os menos importantes, menos "bombistas" mas mais bem comportadinhos colegas, um grande abraço.

"A. Sanches"

Anónimo disse...

ERA UMA VEZ

Ainda estou e rir com os pipis.
Como vos compreendo, eu com algumas ousadas partidas no cadastro...

Ui, o estrago que fiz ao sair do Banco mais cedo para amamentar o filhote e resolvi telefonar ao mais dedicado "militante do PSD" em tempo de eleições, aí por 76, fazendo-me passar por Helena Roseta. E "ela"a pedir-lhe que convencesse os colegas.
E ele a queixar-se que éramos todos socialistas e comunistas e que isso era uma missão impossível.
E "ela" a apertar com ele...e ele todo vénias...e o pessoal do Banco, avisado que estava, a assistir e a esconder-se a rir debaixo das secretárias, disseram-me...

e ele a pensar que ficara mal visto no partido...
Enfim...
a questão é que a mania das imitações passou para o filho "amamentado" e que hoje faz isso "profissionalmente".Genes!

O dito colega não ficou nada mal visto pelo seu partido. Alguns anos mais tarde ninguém percebeu muito bem a sua "promoção" a chefe, lugar para o qual...enfim!

Nada é por acaso caro Embaixador...
Divertido é mesmo recordar.

Helena Sacadura Cabral disse...

Que saudades tenho dos tempos em que me portava mal.
O que não quer dizer que agora me porte bem...

Anónimo disse...

boa noite e bom ano para o autor e leitores do blog_ devido ás festa só hoje li os textos sobre Vila Real e por acaso lembrei-me, se tem memorias das celebres corridas.Onde tomavam café os pilotos e o staff? Hoje parece tudo esquecido e não sei o que se diria de tal imposto, comer carne na altura era raro, logo era um imposto para os "ricos"....pena não haver vídeos...

"Para ajudar a criar o Circuito foi lançado em Vila Real um imposto de $40 em cada quilo de carne ao qual todas as pessoas aderiram de bom grado......
1931 marca o início do Circuito pois é nas festas da Cidade,.....A partida era na Avenida Almeida Lucena e fazia-se de uma forma diferente. ...Os carros estavam em frente a tribuna, do outro lado da rua já com os motores ligados, enquanto que os pilotos estavam do outro lado da estrada e quando a bandeira de partida, normalmente com o emblema do Clube ou da cidade, dava o sinal de partida os pilotos corriam para os carros e "metiam-se" a estrada."

http://www.eb23-diogo-cao.rcts.pt/Trabalhos/9ano/corridas/circuito.htm

uma leitora.

Anónimo disse...

Meu caro Embaixador

Foi há muito tempo, mas nãoi se...faz!!!!!!

Ass:o anónimo das 00.24 do outro dia

Armando Pires disse...

O que eu me ri com o assunto postado e os respetivos comentários, pois quem não fez algo parecido, não viveu a melhor parte e a mais linda da sua vida.
Divertido e comovente...

25 de novembro