quinta-feira, maio 24, 2018

Letrados

Depois de bastantes horas, ao volante de um automóvel, a ouvir música portuguesa contemporânea, quero apresentar um sincero pedido de desculpas aos intérpretes do “nacional-cançonetismo” dos tempos “da outra senhora”. 

Andei anos a zurzi-los, por darem voz a letras de uma pobreza indigente. Agora, ao ouvir com alguma atenção alguns nomes por aí renomados, dou-me conta de que o nível poético daquilo que é cantado é, frequentemente, inferior ao dos tempos que então desprezávamos, mesmo com alguma arrogância.

Assim, “Nóbrega e Sousa/Jerónimo Bragança”, as minhas desculpas!

O “reviralho”

Há qualquer coisa de comum entre os termos “reviralho” e “geringonça”. Ambos são expressões depreciativas crismadas pelos opositores situados mais à direita.

Os “reviralhistas” ou “os do reviralho” foram historicamente os opositores democráticos ao golpe militar autoritário de 28 de maio de 1926, que instituiu a Ditadura Militar (1926-1933), a que se sucederia a ditadura civil que se auto-intitulou de Estado Novo (1933-1974). 

Os adeptos da “situação” (nome comummente dado ao regime ditatorial, mesmo pelos seus apoiantes, para contrastar com “oposição”), chamavam “reviralhistas” aos republicanos, que tinham como programa da sua acção de resistência (política e revolucionária, em inúmeras intentonas) regressar ao regime da I República (1910-1926). Também no seio da oposição à ditadura, onde passaram a florescer tendências mais ideológicas (anarquistas, comunistas, socialistas) o nome de “reviralhista” era dado, também depreciativamente, a esses “democráticos” ou “republicanos”.

Havia gente “do reviralho” um pouco por todo o país, embora, com o avançar dos anos, eles constituíssem cada vez mais uma minoria no seio das estruturas que, aquando dos atos eleitorais permitidos pela ditadura, se organizavam de forma unitária para ações de oposição.

Por altura das “eleições” legislativas para a Assembleia Nacional, em 1969, em Vila Real, percebi um dia o que era o “reviralhismo”, na sua forma mais caricatural. 

Tinha calhado à conversa, na sede da Comissão Democrática Eleitoral (CDE), com um velho democrata local. Era uma figura pouco prestigiada, às vezes mesmo objeto de algum gozo por parte de quem tinha com ele mais confiança. Porém, com os meus vinte e poucos anos, eu mantinha naturalmente uma atitude respeitosa perante alguém que era mais velho do que o meu pai. 

Procurava eu demonstrar-lhe, com argumentário da época, que era necessário assumirmos uma postura anti-colonial no discurso oposicionista da nossa candidatura local. O tema era polémico entre os oposicionistas do distrito e eu fazia parte da ala mais radical. O meu interlocutor, contudo, era da “velha guarda” republicana, defendia o “colonialismo” de Norton de Matos e, para ele, a preservação do “império” era ainda sagrada: “foi para defender as colónias que a República quis que entrássemos na Grande Guerra”, proclamava (e era verdade). E, claro, tinha expressões como “os pretos não sabem governar-se” e coisas assim.

A certo ponto, com grande respeito mútuo, “acordámos em discordar” no tema, como se diz na gíria das negociações internacionais. Foi então que o homem, para selar um terreno comum de entendimento, me disse esta frase que nunca mais esqueci: “Há uma coisa em que concordamos, não é? É preciso tirar esta gajada do poleiro. Já é tempo de irmos nós para lá. Não acha, ó Costa?”

Até hoje, interrogo-me sobre qual terá sido a minha resposta. Mas, naquele instante, fixei para sempre o sentido concreto do “reviralhismo”.

quarta-feira, maio 23, 2018

Honestidade

Acho, com toda a franqueza, que a questão da notificação atrasada do primeiro-ministro ao Tribunal Constitucional, por uma pequena aquisição imobiliária, é um “fait-divers” burocrático, de quase nula importância.

Já o “lapso” do ministro Siza Vieira é talvez um pouco mais grave, mas, ainda assim, é também uma “technicality” formal.

Dito isto, o PS e o governo - que, note-se, apoio e defendo - deveriam coibir-se de atacar a oposição por estar a explorar politicamente estes casos. 

Porquê? Porque ninguém tem a mais leve dúvida de que, fosse a atual oposição governo e estivesse o PS a lutar pelo poder, o PS estaria a fazer uma enorme “barulheira” política sobre o assunto. Com o PCP e o BE por arrasto.

Sejamos honestos, pois...

Wall Street

Pela primeira vez, uma mulher assume a função de líder da poderosa Bolsa de Nova Iorque. 

Ao ler a notícia, não pude deixar de ter um pensamento para Benjamin Mendez Seixas, filho de um português ido de Lisboa, fundador daquela ”catedral” financeira. 

Infelizmente, os factos provam que os genes de genialidade naquele domínio não se adquirem por via familiar.

terça-feira, maio 22, 2018

Pomar


Morreu Júlio Pomar. Tinha 92 anos. Conheci-o tarde na vida, em S. Paulo, um pouco antes de ter trabalhado, com sucesso, para a recuperação de um seu painel de azulejos que está hoje numa parede da biblioteca de Brasília, graças ao entusiasmo de Silvestre Gorgulho, então secretário da Cultura.

Em Paris, numa noite do ano estranho que foi 2011, jantei com Pomar e a sua mulher, numa galeria onde era feita a apresentação, para venda a investidores, de várias obras de pintura portuguesa, do espólio de Jorge de Brito. 

A mim, o momento entristeceu-me bastante. Ver fantásticos óleos de vários e renomados autores portugueses prestes a serem passados a patacos, para as mãos de estrangeiros, colocou-me a interrogação sobre o que estava por ali a fazer o embaixador de Portugal. 

Disse-o a Júlio Pomar, que me respondeu, com aquele seu amplo sorriso: “Deixe lá! Faça como eu. Aquilo que está ali a ser vendido já não tem nada a ver comigo. É do mercado!”. Como o país.

Encontrei-o, uma última vez, a jantar com Carlos do Carmo, seu grande amigo. Despedimo-nos sem saber que era para sempre.

(*) Reproduzo um quadro de Pomar que estava à venda na galeria, que faz parte do meu “top” de pintura portuguesa. É o “Mai 68 (CRS-SS II)”. Nem arruinando-me alguma vez o conseguiria comprar...

Do Porto? (2)

A propósito da referência que aqui fiz a Carvalho Araújo como “vila-realense”, alguém fez notar que ele nasceu no Porto.

É verdade. Os seu pais viviam em Vila Real. De visita casual ao Porto, a mãe teve a criança, regressando depois à cidade onde residia e onde Carvalho Araújo foi educado.

Assim, o caráter “portuense” de Carvalho Araújo é em tudo idêntico à ligação que uma figura como Medeiros Ferreira tinha com o Funchal, onde nasceu, precisamente nas mesmas circunstâncias. E ninguém se lembra de chamar-lhe “madeirense”, não é?

Do Porto? (1)



A designação de “vinho do Porto” nem sempre foi consensual para as gentes da região. 

Tempos houve em que os lavradores sentiam necessidade de marcar distância face à cidade em que os exportadores tudo controlavam. 

O meu amigo Manuel Cardona, à mesa de um almoço este domingo, recordou uma quadra que ouvia na família:

Vinho “velho” para os antigos,
“tratado” para os lavradores,
“generoso” para os amigos,
“do Porto” para os doutores

segunda-feira, maio 21, 2018

Um magnífico gesto

O presidente da República subscreveu a decisão do governo de decretar luto nacional pela morte do “pai” do Serviço Nacional de Saúde, António Arnaut. 

Um magnífico gesto de Marcelo Rebelo de Sousa, que muito o honra.

António Cabral



António Cabral morreu há mais de uma década. A recolha e divulgação da cultura popular ocupou muito tempo da sua vida, após o 25 de abril. Dirigiu estruturas dedicadas à cultura e editou interessantes livros sobre jogos populares transmontanos. E escreveu muito - poesia, teatro, variada ficção. 

Era padre, quando eu o conheci. Era professor e explicador de literatura, um pedagogo notável, como atestam os que com ele aprenderam. A literatura estava-lhe nas veias e, nela, era à poesia que mais se dedicava e seria o género em que mais se destacou, com obra publicada desde muito cedo. 

Foi o grande animador, na primeira metade dos anos 60, do movimento “Setentrião”, que editou uma revista cultural que foi uma lufada de ar fresco na cidade abafada que Vila Real então era. Com ele estiveram António Barreto, Eurico de Figueiredo, Carlos Loures, Eduardo Guerra Carneiro, Gonçalinho de Oliveira e alguns outros. 

Um dia, em 1969, conheci-o melhor. Coincidimos na aventura política que foi a Comissão Democrática Eleitoral (CDE) de Vila Real, o movimento oposicionista que concorreu às “eleições” legislativas desse ano, liderado no distrito por Otílio de Figueiredo. António Cabral esteve envolvido na CDE até que o bispo de Vila Real lhe deu instruções para se afastar dessa “perigosa” atividade cívica. Discretamente, continuou sempre a acompanhar-nos. 

Desde então, mantive com ele uma relação amiga. Recordo-me que, a seu convite, comigo já há muito a viver em Lisboa, escrevi vários artigos sobre Sociologia do Desporto para o jornal do Sport Clube de Vila Real, que dirigiu.

António Cabral viria a abandonar a vida religiosa. Casou, continuando a viver em Vila Real, onde se consagrou como uma prestigiada figura do mundo da cultura. Era um homem do Douro, região que esteve no cenário de fundo de muita da sua poesia. 

No passado sábado, no Espaço Miguel Torga, em São Martinho de Anta, estivemos a homenageá-lo através da reedição dos seus “Poemas Durienses”, com capa de uma obra de Nuno Barreto, bem como de uma excelente e comovida evocação feita por Vitor Nogueira.

domingo, maio 20, 2018

O Sporting é isto?

Nas últimas semanas, tenho ouvido e lido vários adeptos do (meu) Sporting afirmarem, com esforçada convicção que “o Sporting não é isto!”.

Com isso, essas pessoas querem afirmar que uma instituição centenária e com um historial como o do Sporting é algo de muito distinto de um clube que hoje é formalmente tutelado por um evidente perturbado mental que apoia a sua alegada “liderança” num bando de arruaceiros e energúmenos, oriundos de uma claque que, tal como ocorreu noutro tempo no Reino Unido, deveria ser de imediato interditada por decisão judicial.

Voltamos à questão: o Sporting é isto? Na realidade, goste-se ou não, o Sporting, infelizmente, será hoje isto se os seus associados não forem capazes de afastar e substituir de imediato o bando que, com a cumplicidade do seu voto, o tomou de assalto. Tão simples como isto!

Como adepto, deixo uma saudação grata a Jorge Jesus e aos jogadores. Compreendo perfeitamente a impossibilidade de um melhor resultado no ambiente miserável que a direção do clube lhes proporcionou.

Haja saúde!

"Até que idade faz sentido que o Estado garanta cuidados de saúde caríssimos que prolongam vidas já com pouca qualidade?", pergunta o jornalista José Manuel Fernande, a quem, com sinceridade, desejo uma ótima e longa saúde, até para dela poder exonerar o Estado que tanto detesta.

Carvalho Araújo


José Botelho de Carvalho Araújo é a figura representada numa estátua que domina a avenida principal de Vila Real, que leva o seu nome.

Foi o oficial da Marinha que comandou o caça-minas “Augusto de Castilho”, um débil navio da Armada portuguesa que, em 14 de outubro de 1918, durante mais de duas horas, defrontou um poderoso submarino alemão, dando tempo a que o navio mercante “São Miguel”, que lhe competia escoltar, com mais de duas centenas de pessoas, no seu trajeto da Madeira para os Açores, pudesse pôr-se a salvo. O “Augusto de Castilho” acabou afundado pelos alemães, Carvalho Araújo morreu no combate, parte dos seus companheiros conseguiu aportar, em botes, nas costas açoreanas. Foi um ato heróico que a nossa história naval regista com orgulho.

Carvalho Araújo era vila-realense. Ontem, a convite da Câmara Municipal de Vila Real, no seu salão nobre, no início de um programa de celebrações nacionais em sua memória, na presença de representantes da Marinha portuguesa e de familiares do homenageado, falei dessa interessante figura da cidade. Conspirador contra a monarquia, membro da Assembleia Constituinte que redigiu a Constituição de 1911, Carvalho Araújo foi também uma interessante personalidade republicana, que teve uma distinta passagem pela administração colonial. 

Nasci e vivi perto da estátua de Carvalho Araújo. Em 1958, pela mão do meu pai, vi nela ser depositada uma coroa de flores pelo general Humberto Delgado. Nos anos da minha infância e juventude, todos os dias 9 de abril, data da batalha de La Lys, observei por ali cerimónias com antigos participantes transmontanos na batalha, entre os quais o célebre soldado Milhões, o qual, tal como Carvalho Araújo, era possuidor da mais alta condecoração militar portuguesa, a Torre Espada de Valor, Lealdade e Mérito.

Tive muito gosto em participar na evocação desta personalidade, política e militar, que diz muito à minha cidade. Por vezes, o facto das estátuas fazerem parte da paisagem urbana contribui para uma certa banalização histórica das figuras nelas representadas. Por essa razão, parar para as lembrar com alguma atenção é um gesto que ajuda a relegitimar a respetiva implantação e a justificar, histórica e afetivamente, a sua permanência nessa mesma paisagem.

sábado, maio 19, 2018

Datas e nomes


Há pouco, numa estante na minha casa em Vila Real, descobri, alinhados, lado a lado, os quatro livros que publiquei. 

Por curiosidade, fui ver as datas das introduções que para eles escrevi : 25 de abril, 31 de janeiro, 1° de dezembro e 5 de outubro.  Com toda a franqueza, não me recordo de ter planeado estas datas, mas a verdade é que elas correspondem àquelas que me são mais caras.

Tratando-se embora de livros de natureza política, ligados às relações internacionais, os “clássicos” de quem faço uma citação, a abrir cada uma dessas mesmas notas iniciais, podem não ser muito comuns, mas também não corresponderam a nada de deliberado: Sérgio Godinho, Jorge Palma, Fausto (Bordalo Dias) e dom Luiz da Cunha (o primeiro “MNE” português).

Qual é a pressa?


Emmanuel Macron alertou em Sófia para o risco de um novo alargamento apressado da União Europeia, desta vez envolvendo seis países dos Balcãs, depois da Croácia e da Eslovénia. O presidente francês diz ser imprudente fazê-lo antes de uma reforma interna da União. E tem razão.

No termo da Guerra Fria, as estruturas comunitárias alargaram-se de modo inédito. Para além de 10 países do centro e leste da Europa - três decorrente da implosão da União Soviética e sete Estados do antigo “socialismo real” -, entraram também Malta e Chipre, neste caso com a esperança (que se revelou vã) de tal poder contribuir para a reconciliação na ilha. 

Quem viveu de perto o processo lembra-se bem da cumulação de lóbis que deu origem a este imenso alargamento, que mudou profundamente a natureza da União Europeia. Ele foi feito correspondendo ao que foi então visto como um imperativo ético-político - oferecer a partilha de uma associação de democracias de sucesso a países que procuravam acolher-se a esse modelo - e com o objetivo estratégico de aproveitar a janela de oportunidade, criada pela fragilidade de Moscovo, para trazer para o campo ocidental novos aliados a leste (o alargamento da NATO completaria o processo), deslocando a fronteira de defesa da Europa ocidental, que antes passava pelo meio de Berlim. 

Como resultado, veio a ser criada uma espécie de “buffer zone” entre a Alemanha e a Rússia, que deu algum conforto de segurança à grande potência da União. A França “comprou” isso com o euro, o Reino Unido apostou na diluição do projeto e cavalgou, em conjugação com os EUA, a aposta estratégica na “nova Europa”, com o êxito que se viu na invasão do Iraque. Esse imenso alargamento, pelo envolvimento dos grandes poderes europeus, acabou por tornar-se inevitável para todos os Estados da União a 15, mesmo nos moldes em que se processou. Ele foi fruto de uma específica conjuntura e não vale a pena hoje “estar a chover no molhado” sobre os seus efeitos, parte deles amplamente negativos, no atual tecido da UE. Mas podemos e devemos aprender com o que se passou.

É que um novo alargamento aos Balcãs não tem os mesmos pressupostos. Não há nenhuma “pressa” estratégica que o justifique, não existe um evidente imperativo político que obrigue a dar desde já esse passo. Recordo que, por altura do anterior alargamento, e quando se falava então da sua possível extensão à Turquia, algumas vozes preconizavam a criação de um modelo de associação faseada e progressiva, a anteceder o “full membership”. Pergunto-me se não seria possível, em lugar de ceder à pressão da Comissão Europeia, que parece querer incluir os Balcãs a todo o preço, ponderar devidamente sobre se não deveríamos revisitar essa ideia. Tal não deveria significar o frustrar definitivo das aspirações europeias desses Estados, mas seria um ato de mera responsabilidade, num tempo em que ainda temos de digerir as consequências não medidas do Brexit, os inúmeros desafios criados pela nova administração americana e as roturas evidentes que estão criadas no tecido político-social europeu, da dimensão financeira às clivagens perante os migrantes e refugiados, entre outras.

Macron tem razão. Os tempos de euro-entusiasmo são uma coisa do passado nas opiniões públicas. Embora a atual União não deva dar de si a imagem de um clube exclusivista e fechado, é irrealista adotar linhas para a sua evolução imediata que possam mostrar-se menos compatíveis com a maturação responsável de um projeto que está longe de viver as suas horas mais brilhantes.

sexta-feira, maio 18, 2018

Justiças

Há uma regra nas redes sociais que quase nunca falha: quando uma decisão da justiça agrada ao consenso mediático criado, proclama-se: “deve-se deixar funcionar livremente a justiça!”; se a decisão não agrada à “vox populi” que o escriba ecoa: “o sistema de justiça está corrompido”.

Destruição

Sem querer pôr em causa a perfídia estratégica potencial dos adversários do Sporting, devo dizer que acho que nunca teriam suficiente arte para montar uma operação de destruição do clube com a eficácia conseguida pela sua alegada “direção”.

Rescisão

Sendo muito evidente que o que ainda resta dos corpos “sociais” do Sporting, a começar pelo seu presidente, está agarrado aos lugares por razões dos cifrões mensais recebidos, não seria de encarar pagar-lhes para se irem embora? Seria talvez mais barato do que suportar os estragos que estão a causar ao clube.

Caráter

As reações à crise no Sporting têm sido uma excelente montra, nas redes sociais, sobre o caráter de algumas pessoas. Tenho lido comentários de adeptos de clubes adversários que, com grande dignidade, se têm solidarizado com a difícil situação do clube. E também tenho lido o resto, isto é, o lixo sectário e oportunista. Repito: um excelente barómetro de caráter.

Elogio das batatas


Há dias, no Porto, durante um debate a propósito daquele que é o setor produtivo mais relevante nas nossas exportações – não, não é o calçado, os têxteis, o azeite ou o vinho; é a metalurgia e a metalomecânica, sabiam ? – fui interrogado sobre se a nossa diplomacia económica estava a funcionar convenientemente.

Comecei por responder que aquilo a que vulgarmente se chama diplomacia económica é apenas a diplomacia de negócios, isto é, o trabalho dos agentes diplomáticos na facilitação da ação dos nossos empresários – da promoção comercial e turística aos esforços de captação de investimento externo. 

Ora é sabido que a dimensão económica da diplomacia não se esgota nisso. Todo o universo de negociação e fixação de instrumentos de regulação económica na ordem externa, nos planos bilateral e multilateral, constituiu, desde sempre, uma tarefa central da diplomacia. Sem esse enquadramento a funcionar de forma otimizada, por exemplo, o regime das trocas comerciais seria hoje muito menos fluído e eficaz, os sistemas de ajudas europeias de diversa natureza muito menos generoso.

Faço parte de uma escola diplomática que sempre entendeu que a expressão “diplomacia económica” acarreta algo de redundante. Uma diplomacia que não tenha no centro das suas prioridades a dimensão económica não é digna desse nome. 

Mas temos de ser rigorosos. A diplomacia não se esgota no apoio direto à projeção económica externa do país. A atenção à imagem de Portugal na ordem internacional, o cultivo das redes de interesses políticos e culturais que o nosso bilateralismo histórico justifica, a promoção da língua e a proteção da diáspora são outros, entre tantos, pontos importantes que importa salvaguardar, como decisivo é sabermos potenciar o nosso valor acrescentado nacional de natureza política, como país construtor de pontes e entendimentos, à escala global. E, acreditem, tudo isso acaba por ter inescapáveis decorrências positivas no terreno da economia.

Quando, há bem mais de quatro décadas, entrei para a carreira diplomática, fi-lo pelo setor económico do ministério. Com uma diplomacia que tinha tido décadas de concentração obsessiva na política colonial, a então Direção-Geral dos Negócios Económicos era designada depreciativamente como “as batatas”. Anos depois, quando a alta política europeia passou a dominar a nossa agenda externa, lembro-me de ter chocado alguns nas Necessidades porque, enquanto embaixador, afirmei numa entrevista, o que me deu um polémico título de jornal, que, no MNE, o nosso lema deveria ser “menos Kosovo e mais batatas”. Continuo hoje a pensar exatamente o mesmo.

quinta-feira, maio 17, 2018

Al Quochete ?

Parece que vão acusar os energúmenos que estiveram em Alcochete de “terrorismo”. Já não há sentido do ridículo, no Ministério Público? 

Encore Pivot