Emmanuel Macron alertou em Sófia para o risco de um novo alargamento apressado da União Europeia, desta vez envolvendo seis países dos Balcãs, depois da Croácia e da Eslovénia. O presidente francês diz ser imprudente fazê-lo antes de uma reforma interna da União. E tem razão.
No termo da Guerra Fria, as estruturas comunitárias alargaram-se de modo inédito. Para além de 10 países do centro e leste da Europa - três decorrente da implosão da União Soviética e sete Estados do antigo “socialismo real” -, entraram também Malta e Chipre, neste caso com a esperança (que se revelou vã) de tal poder contribuir para a reconciliação na ilha.
Quem viveu de perto o processo lembra-se bem da cumulação de lóbis que deu origem a este imenso alargamento, que mudou profundamente a natureza da União Europeia. Ele foi feito correspondendo ao que foi então visto como um imperativo ético-político - oferecer a partilha de uma associação de democracias de sucesso a países que procuravam acolher-se a esse modelo - e com o objetivo estratégico de aproveitar a janela de oportunidade, criada pela fragilidade de Moscovo, para trazer para o campo ocidental novos aliados a leste (o alargamento da NATO completaria o processo), deslocando a fronteira de defesa da Europa ocidental, que antes passava pelo meio de Berlim.
Como resultado, veio a ser criada uma espécie de “buffer zone” entre a Alemanha e a Rússia, que deu algum conforto de segurança à grande potência da União. A França “comprou” isso com o euro, o Reino Unido apostou na diluição do projeto e cavalgou, em conjugação com os EUA, a aposta estratégica na “nova Europa”, com o êxito que se viu na invasão do Iraque. Esse imenso alargamento, pelo envolvimento dos grandes poderes europeus, acabou por tornar-se inevitável para todos os Estados da União a 15, mesmo nos moldes em que se processou. Ele foi fruto de uma específica conjuntura e não vale a pena hoje “estar a chover no molhado” sobre os seus efeitos, parte deles amplamente negativos, no atual tecido da UE. Mas podemos e devemos aprender com o que se passou.
É que um novo alargamento aos Balcãs não tem os mesmos pressupostos. Não há nenhuma “pressa” estratégica que o justifique, não existe um evidente imperativo político que obrigue a dar desde já esse passo. Recordo que, por altura do anterior alargamento, e quando se falava então da sua possível extensão à Turquia, algumas vozes preconizavam a criação de um modelo de associação faseada e progressiva, a anteceder o “full membership”. Pergunto-me se não seria possível, em lugar de ceder à pressão da Comissão Europeia, que parece querer incluir os Balcãs a todo o preço, ponderar devidamente sobre se não deveríamos revisitar essa ideia. Tal não deveria significar o frustrar definitivo das aspirações europeias desses Estados, mas seria um ato de mera responsabilidade, num tempo em que ainda temos de digerir as consequências não medidas do Brexit, os inúmeros desafios criados pela nova administração americana e as roturas evidentes que estão criadas no tecido político-social europeu, da dimensão financeira às clivagens perante os migrantes e refugiados, entre outras.
Macron tem razão. Os tempos de euro-entusiasmo são uma coisa do passado nas opiniões públicas. Embora a atual União não deva dar de si a imagem de um clube exclusivista e fechado, é irrealista adotar linhas para a sua evolução imediata que possam mostrar-se menos compatíveis com a maturação responsável de um projeto que está longe de viver as suas horas mais brilhantes.