domingo, agosto 14, 2011

Figuras

Sou dum tempo em que se "emigrava", cedo na vida, da província para Lisboa ou para o Porto, às vezes para estudar, muitas outras simplesmente para aproveitar a macrocefalia económica das grandes cidades.

Porque tínhamos saído adolescentes da terra de origem, era-nos necessário, nos tempos das visitas em férias, começar a adquirir localmente um estatuto de adultos, em cidades ou vilas que, à partida, nos não reconheciam como tal, porque, no imaginário local, não passávamos do "filho de" fulano.

Foi assim comigo em Vila Real e, anos mais tarde, estou certo que o mesmo aconteceu, por exemplo, ao dr. Pedro Passos Coelho, que, embora bastante mais novo, teve um circuito de vida comum a muitos vilarealenses.

Mais no caso da minha geração, durante esses regressos episódicos à cidade, pelas festas ou pelas férias, um dos ritos iniciáticos de reconhecimento desse "upgrading" passava pela partilha das mesas nos cafés mais tradicionais, com pessoas mais velhas - sempre homens, claro! Levavam-nos amigos que nos ajudavam a fazer essa transição e, a pouco e pouco, íamos tendo direito de assento nesses grupos de pessoas.

Alguns eram homens de personalidade marcante, verdadeiros "opinion-makers", quase sempre com ideias bem definidas, respeitados, por vezes temidos, acolitados por amigos que se apagavam sob o seu brilho e davam deixas para as suas "saídas". Muitos eram incontestáveis chefes de tertúlias, que contavam histórias deliciosas sobre gente local desaparecida.

(Não resisto a contar uma das mais clássicas, a imorredoura frase do Dr. Sampaio e Melo, o qual, do alto da sua bigodaça e voz forte, uma tarde dos anos 50 anunciou, perante um dúzia de amigos: "Tenho a comunicar-vos que acabo de dormir com a mulher de um dos presentes!". O embaraçoso silêncio que se abateu sobre o grupo, por penosos segundos, só se diluiu com o esclarecimento subsequente: "Com a minha, claro!")

Nesses encontros de gerações, que, com o decorrer dos anos, atenuam décadas de diferenças de idade e colocam todos numa espécie de camaradagem atemporal, os mais novos iam criando lentamente o seu estatuto, sendo-lhes dada uma atenção progressiva, à medida da própria maturidade que iam demonstrando. Mas o papel das grandes figuras, desses marcos humanos que fazem a identidade das pequenas cidades, esse mantinha-se intocado e intocável. Eram advogados, médicos, engenheiros ou empresários que, com o prestígio e os cabedais ganhos, a que muitas vezes se somava um tecido familiar conhecido e reconhecido, se haviam alcandorado ao pequeno grupo de "grandes senhores" locais - e uso a expressão com todo o sincero respeito que o conceito me merece.

Uma tarde, no final dos anos 60, numa dessas mesas a que eu tivera acesso numas férias da universidade, a discussão derivou para a caça e para a pesca. Como estes eram temas que nada me diziam, fiquei calado, a ouvir os "experts". A certo passo, vieram à baila as imperativas alvoradas a que aquelas atividades obrigam. Nesse particular, o meu silêncio já traduzia algo de embaraçado: nessas férias escolares, os meus pequenos almoços raramente tinham lugar antes do meio-dia, na obediência ao sacrossanto princípio de que "se esta vida são dois dias, há que aproveitar bem as noites...".

Liderava tal conversa o dr. Manuel Vaz de Carvalho.

Tratava-se de um advogado literato, poeta de mérito, muito culto, de qualidade intelectual reconhecida desde os tempos de Coimbra, figura prestigiada da barra da Justiça, cujo verbo argumentatório se dizia ser temido por magistrados e colegas, muito para além dos limites da comarca. Vivia numa moradia na Timpeira, então um arrabalde da cidade, com um rancho de filhos, educados com rigor, onde a minha e as subsequentes gerações ancoraram sólidas amizades. Com uns cabelos revoltos, tinha voz forte e um fácies grave, que escondia uma finíssima ironia e uma imensa capacidade de ser amigo do seu amigo.

O dr. Vaz de Carvalho, num dos momentos da conversa, sentenciou, para a mesa: "Eu nunca percebi como pode haver por aí uns maduros que não sabem apreciar um nascer-do-sol, a clareza de uma manhã de primavera na saída para uma pescaria, o fresco desafiante das primeiras horas de um dia de outono, para partir por esses montes à caça! Há por aí uma malta que se levanta sempre tarde, que perde as noites e que não sabe apreciar o sol das manhãs". E a diatribe prosseguiu, com o fuzilamento verbal desses madraços.

Embora a tirada me não fosse dirigida, eu sentia-me potencialmente esmagado, porque a "carapuça" servia-me à medida. Em busca de apoio solidário, olhava para dois ou três camaradas de noitada sentados em volta, que miravam os espelhos da "Pompeia", disfarçando, brincando com as colheres do café, num tempo em que não havia ainda telemóveis para fingir ocupação. E, sei lá!, para dar-me ares de à-vontade, devo ter pedido ao Neves mais um "fino"... 

E lembro-me de ter tido a tentação de dizer: que também eu gostava imenso do nascer-do-sol e do fresco do início da manhã. Só que, imediatamente a seguir, costumava ir deitar-me... A prudência aconselhou-me, e bem, a não lançar essa graçola para a mesa, pela impertinência que o meu estatuto ainda não permitia. Nem quero imaginar o que o dr. Vaz de Carvalho me responderia!

Poucas vezes havia contado esta historieta. Na semana passada, ri-me, com ela, com o Paulo, o genial guitarrista e professor universitário, filho do dr. Vaz de Carvalho, num simpático almoço a dois, no sossego do Lameirão.

Ao princípio desta tarde, soube que o dr. Manuel Vaz de Carvalho tinha falecido, precisamente ontem. Ainda fui a tempo de dar um abraço sentido à sua família. E de aqui deixar esta despretenciosa historieta, em memória de uma das grandes figuras que marcou a Vila Real do meu tempo.   

sábado, agosto 13, 2011

Brincar com o fogo

Os "jongleurs" com fogo, para efeitos lúdicos, são excelentes fautores de espetáculos. Divertem-nos, correm riscos limitados e têm uma técnica que produz efeitos, como esta bela imagem de José Miguel retrata, numa das noites mágicas do cruzeiro da "Douro Azul" que hoje acabou.

Estes são também momentos que têm a virtualidade de nos ajudar a refletir. Um amigo, habituado a aplicar a inteligência à vida, deixou-me cair, no decurso do "show": "Ora aqui está quem pode e sabe lidar profissionalmente com as chamas. Pena é que outros, que não sabem, brinquem tantas vezes com o fogo". 

Grande verdade! Cada vez mais... e mais não digo.

sexta-feira, agosto 12, 2011

Águas passadas no DOC

Ontem, no rio Douro, ao passar em frente ao restaurante DOC (como registo na foto), na Folgosa, entre a Régua e o Pinhão, recordei-me de ter escrito, já há quase três anos, um texto num blogue ("paralelo") que não tenho alimentado muito e que se chama Ponto Come. Tratou-se de uma "estranha" experiência ocorrida nesse mesmo DOC. Nestes tempos de assumida preguiça, e com uma ainda mais assumida publicidade a essa bela mesa gastronómica, aqui fica o texto (ainda antes do AO, para os saudosos):

O entusiasmo com que partira a caminho do DOC foi de tal forma afectado pelo choque da informação recebida que abrandei a velocidade e quase parei o carro. Um jantar no DOC, sem vinho?!

Pois era essa a proposta, nem mais nem menos: uma refeição de degustação, só com águas e total ausência de alcoóis. Confesso que a hipótese de desistir chegou a passar-me pela cabeça e que só o facto de haver um compromisso fixado com antecedência, e não querendo ofender o autor do alvitre – um arquitecto de “primeira água” –, fez com que a minha relutância fosse atenuada.

A imagem que eu mantinha do DOC era muito positiva, pela boa memória de uma visita passada. Críticas lidas ao longo do ano haviam-me alimentado o desejo de regressar e rever a cozinha de Rui Paula, que me diziam estar cada vez mais imaginativa, com uma rara sustentação de qualidade. Mas, tenho de confessar, desse desejo também fazia parte integrante a possibilidade de acompanhar a comida com algum ou alguns dos excelentes Douros que integram a magnífica lista de vinhos que o restaurante sempre apresenta.

O DOC tem uma situação privilegiada, na margem esquerda do Rio Douro, a meio desse percurso mágico que é a sinuosa estrada entre a Régua e o Pinhão, bordejada de vinhas e nomes de quintas, algumas a fazerem-nos recordar rótulos de belas produções vinícolas. O local é magnífico, em dia ameno pode-se utilizar o deck exterior. Dentro, telas de plasma na sala permitem seguir os trabalhos na cozinha, um exercício de transparência que nos aumenta a confiança. Uma área para amenizar a espera foi entretanto criada, com um piano a sugerir interessantes potencialidades e a assegurar que nunca o espaço virá a ser perturbado por uma qualquer “musak” ambiental. E, sobre tudo isso, a certeza de podermos beneficiar de um cenário deslumbrante, no centro de uma paisagem de uma serenidade única.

Tudo bem, tudo isso era verdade, mas a minha perplexidade mantinha-se. A ideia continuava a ser verdadeiramente bizarra: um jantar degustação, sem vinhos, só com águas?! Não sou fundamentalista, não sou um ansioso de vinho, passo imensos dias sem provar uma gota de álcool. Mas no DOC, no coração do Douro, um jantar sem vinho soava-me como que ofensivo a esses “montes pintados” que Araújo Correia nos descreveu.

Foi num misto de perplexidade e curiosidade, com a primeira a superar em muito a segunda, que entrei no restaurante. Ainda lancei, sem sucesso, a ideia de, pelo menos, “abrir” com um gin tónico, como que a criar lastro etílico para sustentar o que aí viria. Fui logo desiludido por vozes suavemente reprovadoras, que me alertaram para os riscos de afectação da pureza gustativa, a qual deveria ser mantida numa espécie de virgindade profiláctica, indispensável ao acolhimento dos gozos que se seguiriam.

E, pronto, lá fomos para a mesa, uma dúzia de convivas, a maioria desconhecidos, uns aparentemente mais convictos das virtualidades do exercício que outros – comigo, francamente, bem ancorado no campo dos últimos.

Tudo começou por um período inicial de carência psicológica, em que um ou outro lá ia recordando a falta do vinho à mesa. A sólida constatação de que o único líquido permitido seria a água provocou então graçolas nervosas, com os mais imaginativos a aventarem o recurso limite a uma “aguardente” ou a uma “água-pé”.

É que, de facto, eram as águas as rainhas da noite. Águas diferentes, umas lisas outras gasosas, umas mais “planas” outras mais “profundas”, algumas algo “agressivas”. Tivemos até o privilégio de provar umas nórdicas de belo design, mais frescas umas que outras. Sempre águas, claro! Apenas uma água era portuguesa e, para mim, totalmente desconhecida.

Durante o repasto, as águas sucediam-se, em copos diferentes, cada uma a acompanhar as (creio!) oito propostas gastronómicas, que não estavam sequer listadas à partida. Um simpático “expert” – reputado conhecedor de vinhos, imaginem! – procurava ajudar-nos a identificar, não apenas a singularidade de cada uma das águas experimentadas (sobre cujas qualidades comparadas alguns dos convivas já ousavam, a medo, “mandar bitaites”), mas igualmente a razão pela qual essa mesma água fora seleccionada para acompanhar tal prato, em função do seu potencial para combinar, por contraste ou complemento, o produto cozinhado.

E foi então que se foi passando essa coisa extraordinária que foi o facto de, sem disso termos real consciência, a ausência do vinho ter deixado praticamente de constituir tema da conversa, muito menos de qualquer angústia. A refeição, regada a águas, ia-se impondo naturalmente, perante o deslumbre dos sentidos, a variedade das escolhas propostas, a riqueza das combinações que nos eram oferecidas.

Duas evidências ficaram claras, na minha perspectiva.

A primeira foi o facto da ausência do vinho nos ter tornado, a todos, muito mais atentos aos sabores do que nos ia sendo apresentado, não nos “distraindo” da essência dos paladares, obrigando a que nos concentrássemos, de forma mais profunda, em cada componente do que nos era sugerido. Por mim, pude constatar que o vinho, em toda a sua imorredoura glória de factor criativo e de qualificador global do gosto, pode ter o “defeito” colateral de nos afastar do esforço de procura de construção/desconstrução do que estamos a saborear, da especificidade de um molho, da ténue diferença gustativa de um vegetal, da “nuance”, quase imperceptível, de um produto sujeito a um tratamento muito sofisticado. Digo isto porque, talvez pela primeira vez desde há muito, consegui descortinar e isolar, combinando-os depois muito melhor, os componentes que o Chefe ia indicando como constituintes das propostas gastronómicas que surgiam.

Quererei dizer, com isto, bem no coração deste nosso Douro, que o vinho passou a ser algo dispensável? Longe disso: o vinho é, cada vez mais, o grande “sublinhador” criativo dos paladares, o provocador de efeitos que se acrescentam aos alimentos e deles consegue extrair novos e decisivos matizes. E tem, além disso, uma importante carga eufórica, que excita as almas e alegra os tempos, particularmente se for de qualidade e se tomado com conta, peso e medida – e, claro, se as garrafas forem abertas com antecedência adequada e se servido à temperatura requerida.

Mas esta interessante experiência teve a virtualidade de nos mostrar que, numa refeição, há mais vida para além do vinho, se bem que a vida e a refeição sejam sempre muito boas com ele à frente.

Uma segunda constatação também se impõe: a virtualidade desta prova, sem o recurso ao complemento do vinho, só teve o sucesso que teve pelo facto de ter sido apoiada na qualidade excepcional de todos os pratos apresentados, que a ausência do álcool permitiu que ganhassem autonomia própria, deixando-os “brilhar” por si mesmos. E foi a circunstância dessa qualidade nunca ter decaído ao longo do jantar, de prato para prato, que conseguiu garantir um apego contínuo e sustentado do nosso paladar àquilo que íamos degustando, sem fazer ressaltar a “saudade” do travo adjectivo do vinho. Com uma refeição banal, por melhores que fossem as águas, tudo não teria passado de uma grande “seca”… E eu, tenho de admitir, fui menos capaz do que outros companheiros desta agradável jornada de ser sensível a algumas características específicas que eram atribuídas e identificadas em cada uma das águas provadas.

Dito isto, vamos ao principal: Rui Paula provou-me definitivamente, nesta memorável noite, que é hoje um dos chefes portugueses com maior criatividade, que consegue aliar a sofisticação de uma cozinha contemporânea de grande nível e excelente apresentação com algumas notas de rodapé gustativo, em que faz orgulhosa questão de trazer-nos à lembrança sabores regionais, na maioria dos casos tipicamente nortenhos, umas vezes de forma subliminar, outras de modo plenamente assumido. Rui Paula consegue assim demonstrar-nos – e entendo que outros deveriam aprender com isso – que o cosmopolitismo sofisticado de uma cozinha não é incompatível com o recurso a citações sensoriais ligadas às raízes geográficas de onde se opera. Pelo contrário, a originalidade do que nos propõe no DOC só ganha com a chamada à mesa desses mesmos elementos.

Num circo, trabalhar sem rede é um risco que enobrece a arte. Num restaurante, ousar um menu sem o recurso ao complemento de vinhos será talvez a prova mais provada de que a grande gastronomia também se constrói na autoconfiança e na certeza de que a qualidade se imporá sempre por si própria. Quando exista no trabalho de um grande Chefe, como é o caso de Rui Paula.

A boa disposição com que saí deste exercício – que, a bem dizer, deveria ter o “mecenato” da Brigada de Trânsito da GNR – leva-me a ecoar a já célebre frase de um velho oficial de Marinha, pouco navegado nas especificidades da gramática, que a nossa História acolheu como uma patética anedota política, quando um dia quis qualificar uma sua qualquer alegria pública: “só tenho um ‘adjectivo’ para expressar o que hoje aqui senti: gostei!”.

quinta-feira, agosto 11, 2011

terça-feira, agosto 09, 2011

Copianço

O país anda numa maré de copianço.

Há semanas, foram os aspirantes a magistrados a darem mostras dos seus princípios de ética, que lhes prenunciam um futuro profissional de sucesso, a serem apanhados a falsificar as suas provas. O meu amigo Marinho Pinto, bastonário das Ordem dos Advogados, publicitou então a sua legítima indignação. Semanas depois, foram os candidatos a advogados, no seu exame para entrada no estágio, a revelarem especiais "qualificações", ao serem apanhados em fraude idêntica.

Na página 7 do "Diário de Notícias" de ontem, um jornalista insurgia-se, com imensa razão, com o facto de uma televisão ter pirateado, de modo flagrante, uma notícia do seu jornal, a propósito de alegadas nomeações políticas. Entretanto, na sua página 18, o mesmo jornal ilustrava uma notícia sobre uma agressão doméstica com uma imagem retirada de um ecrã de televisão, fotografado durante um telejornal.

Conclusão: estão todos bem uns para os outros. Esta é também uma parte do nosso "outro" défice.

segunda-feira, agosto 08, 2011

Paulo Castilho

Paulo Castilho não é um escritor regular. Passam-se anos sem que apareça um romance seu. Contudo, nunca desilude. Esse é o caso de "Domínio Público", recentemente editado.

Trata-se de uma trama lisboeta, muito bem escrita, com uma linguagem que revela uma cuidada atenção ao discurso quotidiano contemporâneo. Tal como em anteriores obras, Castilho mostra que, em especial, lê muito bem o pensamento das personagens femininas, sem, no entanto, se deixar subordinar à tentação fácil da mera transcrição da oralidade "modernaça", como acontece em certas escritas de uma sub-literatura urbana que por aí anda, à procura desesperada de um novo realismo pintado de tons chocantes.  

Paulo Castilho é diplomata. Há hoje muito poucos diplomatas que se dedicam à escrita de ficção. Além dele, apenas Marcello Mathias e Luis Filipe Castro Mendes publicam obras com alguma regularidade. Mas todos, sem exceção, com elevada qualidade, como a crítica sempre reconhece. O que é, "corporativamente", uma constatação muito agradável. 

domingo, agosto 07, 2011

Falta de imaginação



Vá lá! Acho que tenho direito, depois de dois anos e meio de posts (algumas vezes, mais do que um) diários, a confessar que, no dia de hoje, não tenho a mais leve ideia para um texto. Não me ocorre nada que possa mobilizar o mais disponível dos leitores, mesmo os reformados que se dedicam, com nome emprestado e zelo telefónico, a entrar em direto no Fórum TSF ou nas tardes da SIC, comentando, com evidentes crises de vesícula, a atualidade, com uma abrangência temática digna do professor Marcelo. Nada! Hoje, não me sai rigorosamente nada!

Preguiçosamente, olhei para a imprensa, a ver se me pilhava alguma ideia. Ainda pensei abordar a questão da permissão excecional que, logo este ano, foi dada para a caça aos melros*. Seria uma exigência da "troika"? Mas não me recordo que o MoU tenha algo que permita disparar sobre as amáveis aves de bico laranja. E dei por mim a reler o poema que o Guerra Junqueiro lhes dedica, que o meu pai recitava como ninguém.

Lembrei-me também da questão da estátua de Caramuru na praça da República, em Viana do Castelo, um mostrengo que a saloiíce municipal permitiu que se implantasse naquele que é um dos espaços urbanos mais bonitos do país. Sempre seria um motivo acrescido para lembrar Viana, onde acaba de abrir agora um novo museu do Ouro (um abraço pela tua coragem, Manel!). Parece que há um movimento cívico para deitar abaixo o mamarracho. Se for precisa mais uma assinatura... Mas não é tema!

Ontem, foi dia de subida à senhora da Graça. Para quem não saiba, esta é a segunda mais importante etapa da Volta a Portugal em bicicleta, depois da "etapa-raínha" da Torre. De Mondim até lá acima, são imensos (embora poucos) quilómetros de esforço, que sempre impediram o "foguete da Rebordosa" (quem sabe de ciclismo sabe do que estou a falar) de ganhar a competição. Para post, contudo...

Ou, finalmente, ainda pensei que poderia aqui falar do meu Sporting e do modo 100% eficaz como, neste fim de semana, conseguiu assegurar, um honroso lugar no torneio "Ramón Carranza". O último lugar, claro. Tenho a sensação de que, uma vez mais nesta época, nós, os sportinguistas, vamos ter os nossos costumeiros problemas dermatológicos. Porquê? É que os "adeptos leoninos" (adoro esta linguagem de jornal desportivo), no início de cada época futebolística, esfregam de tal forma e com tal intensidade as mãos, repetindo "este ano é que é!", que acabam por ter sérios problemas de pele.   

Mas, não: decididamente, hoje, não tenho nenhuma ideia para um post. Até amanhã!

* Leitores atentos chamaram a atençãp para o lapso: não eram canários, eram melros. Aliás, o poema de Guerra Junqueiro sobre os canários ainda está por escrever.

sábado, agosto 06, 2011

Europa

O presidente da Comissão Europeia proferiu uma declaração sobre a necessidade de reforço das medidas de apoio europeu, para acorrer à conjuntura que o euro vive. Essas palavras terão caído mal em algumas chancelarias, por poderem ser interpretadas como uma implícita desconfiança na eficácia do pacote de medidas aprovado no último Conselho Europeu.

Aparentemente, o Dr. Barroso teve toda a razão em dizer o que disse e é muito bom sinal que se sinta cada vez mais motivado para interpretar, nas declarações e nas atitudes, essa coisa básica que é o interesse comum europeu - que muitas vezes não coincide com a média aritmética dos interesses dos países que mandam na União Europeia. Quanto mais as tomadas de posição do presidente da Comissão tiverem o condão de irritar certos Estados que se mostram relutantes perante a necessidade de adoção de políticas firmes que acalmem os mercados, mais isso significa que o comissário de nacionalidade portuguesa (as pessoas tendem a esquecer que Portugal é o único Estado da União que não teve a possibilidade de escolher um comissário) se aproxima do papel de garante dos Tratados e se afasta da imagem de representante dos "powers that be" que o cooptaram. E que, como ele bem sabe, já não terão ocasião de o fazer de novo.

sexta-feira, agosto 05, 2011

Marta Neves

Durante muitos anos, aquela publicidade volumosa, com chavinhas e medalhas plásticas, que nos anunciava sermos potenciais vencedores de sorteios com imensos zeros, chegada da "Reader's Digest", vinha assinada, em letra manuscrita, por uma tal Marta Neves.

Alguém, um dia, me esclareceu que essa "Marta Neves" era, afinal, uma figura virtual, um nome escolhido para dar ares de personalização da correspondência. Uma coisa assim a modos como o "OK! Teleseguro, fala a Marta".

Porém, olhando nestes dias para os jornais, verifico que a informação que me deram estava errada. Afinal, a Marta Neves existe, está bem e recomenda-se. Fica assim provado que há mais vida para além do mundo virtual.

quinta-feira, agosto 04, 2011

"Serviço público" (2) - restaurantes de Trás-os-Montes e Alto Douro (revisto)

E, a exemplo do Minho, aqui deixo a minha lista de restaurantes de Trás-os-Montes e Alto Douro.

João Gomes Cravinho

Há em Portugal poucas pessoas com uma formação académica e uma experiência prática, em matéria de relações internacionais e de políticas de desenvolvimento, que se possam equiparar às de João Gomes Cravinho. Por isso, não me surpreende que a União Europeia tenha reconhecido essas qualificações e, por exigente concurso público, o tenha escolhido para chefe da sua delegação em Nova Deli. Só prova que estão atentos...

Com esta nomeação, há agora portugueses à frente de delegações do Serviço Europeu de Ação Externa em três dos sete países com os quais a União Europeia desenvolve "parcerias estratégicas" (EUA, Canadá, Rússia, China, Japão, Índia e Brasil).

Há quem pense que estas coisas acontecem por acaso, que é apenas pela roda da sorte que um português chefia a Comissão Europeia, que outro é Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados ou que outro ainda dirige a Aliança das Civilizações. O mérito pessoal de todas estas pessoas impôs-se, mas isso só foi possível, tal como a nossa presença no Conselho de Segurança da ONU, porque a nossa expressão diplomática, à escala europeia e global, tem qualidade e prestígio, é respeitada e reconhecida. Por isso, tal como o Porter recomendava para os "clusters" da nossa economia, devemos fazer ainda melhor o que, manifestamente, já fazemos bastante bem.

E, nesta ocasião, um forte e amigo abraço de parabéns ao João! 

quarta-feira, agosto 03, 2011

Pedras sem rugas

Ao ler que a l'Oréal tinha sido proibida de publicar fotos publicitárias de Julia Roberts, das quais, com "photoshop", haviam sido eliminadas as rugas, não pude deixar de lembrar a similitude desse caso com o que se passa no parque (dito) termal das Pedras Salgadas: uma montagem retocada, pintada nas fachadas, a fingir que está tudo a funcionar, sem "rugas"...

Está mais do que feita a triste história da intervenção da empresa Unicer nas Pedras Salgadas, onde já sobrevivem saudades dos tempos das gestões Cintra e Jerónimo Martins. Ou mesmo da "outra" Unicer, da era Ferreira de Oliveira.

Este blogue deu oportunamente a conhecer (consulte o marcador "Pedras Salgadas"), de forma incontestável, as flagrantes faltas da empresa face aos compromissos que tinha assumido, em especial no tocante à construção de uma unidade hoteleira, que historicamente sempre se revelou a única forma de viabilizar economicamente uma vila que nasceu em torno do seu parque termal.

Pergunte-se ao arquiteto Siza Vieira, de quem a Unicer anunciou, com espavento, que encomendaria o projeto para um hotel, que levaria o seu nome, "o que é feito" dessa mirífica obra. E talvez não fosse desinteressante alguém inquirir também sobre o que aconteceu aos "termos de responsabilidade" desse prestigiado arquiteto, face ao pouco que foi feito nas Pedras Salgadas e ao modo como outras coisas acabaram por ser concluídas na vizinhança. Mas essa é uma história para ser contada um dia...

Vale também a pena registar as omissões cúmplices de poderes públicos centrais, o "assobiar para o ar" e as tergiversações de alguns eleitos (a nível nacional e local) ou nomeados, os tristes silêncios da AICEP e do Turismo de Portugal. Com maior ou menor responsabilidade, fazem todos parte do elenco desta grande farsa.

A população das Pedras Salgadas, cuja economia está a ser estrangulada, já teve ocasião de, sobre o assunto, se expressar de forma muito clara e pública, por diversas ocasiões. Fê-lo com civismo, sem partidarismos, com dignidade, demonstrativos de quem não se sente não é filho de boa gente. E de que não tem medo, claro. Como o irá provar, futuramente, em novas ações, por forma a alertar poderes públicos, desmascar poderes privados e testar a coerência dos eleitos.

Hoje, o que é que se passa por lá, conforme pude observar, há dias? Na prática, e apenas para a minúscula "saison", está aberta a pequena piscina com um bar, a clássica "Casa de chá" foi concessionada a uns inexperientes profissionais, que servem uma gastronomia atroz, e, numa das nascentes, aparece, em certas horas, uma menina de bata branca que oferece "água das Pedras", em pequenos e finitos copos de plástico. E dizem-me que há por lá um spa, com frequência quase clandestina. São rebuscados artifícios para iludir quem passa e dar ares de se estarem a cumprir "mínimos", em matéria de responsabilidade social. Depois, virá o outono, o parque fechará e o "circo" será arquivado até ao ano. Na vila, com o comércio a estiolar e o desemprego a aumentar, as pessoas tenderão a sair, como já o estão a fazer. Só a "água das Pedras" é que não deixará, nesse entretanto, de humedecer os bolsos dos acionistas na Unicer. 

Este é o Parque "devolvido" às Pedras Salgadas: um cenário de fachada, um monumental "trompe-l'oeil", que não faz esquecer os compromissos não cumpridos, não obstante os lucros fabulosos que a empresa exploradora continua a apresentar, muito por obra e graça da água que extrai daquela terra.

Numa recente passagem pela localidade, senti que começam a esgotar-se o tempo e a paciência nas Pedras Salgadas, a menos que surja no horizonte alguma mostra de "uniceriedade".

A última morte de Mao

A sugestão adiantada nos últimos dias por alguns analistas económicos internacionais, no sentido da República Popular da China poder "dar uma mão" à crise que o sistema capitalista internacional atravessa, configura uma imensa ironia, histórica e ideológica.

Como se sentiria Mao perante esta salvífica hipótese?

terça-feira, agosto 02, 2011

Título

- Tu sabias que ele é um aristocrata?

- Quem, aquele tipo? Não fazia ideia.

- É. Deve ser por isso que chegou atrasado.

- Porquê?

- O homem nunca utiliza auto-estradas, vem sempre por estradas antigas.

- Mas não utiliza auto-estradas para poupar dinheiro?

- Não. É que um dia assustou-se quando viu, na entrada de uma auto-estrada, "Retire o título"...

Inquéritos

Os "inquéritos de verão" são uma epidérmica manifestação jornalística da "silly season". Há-os agora em versão culta, a puxar para o "profundo".

Hoje, num jornal "de referência", a primeira pergunta do jornalista ao intelectual inquirido é: " É fácil ser intelectual nesta terra medíocre?".

O intelectual, que modesta e sabiamente recusa o qualificativo, responde que considera "muito irritante que as pessoas achem que o país não está à altura delas".

Uma interpretação benévola tomará a pergunta por uma subtil ironia. E que a resposta do inquirido não representa uma bofetada de luva branca. Opiniões.

segunda-feira, agosto 01, 2011

O novo uruguaio

Eu presidia, nesse ano de 2001, à 2ª comissão (questões económicas e financeiras) da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque. A certo passo de uma das sessões, dei-me conta que estava inscrito para falar o meu colega e amigo, o embaixador brasileiro Gelson Fonseca.

Provavelmente em inglês, dei-lhe a palavra. Qual não foi o meu espanto quando verifiquei que o diplomata brasileiro começou a falar... em espanhol!

As línguas oficiais da ONU são seis: o árabe, o chinês, o espanhol, o francês, o inglês e o russo. Os países de língua portuguesa têm como ambição colocar o português entre essas línguas oficiais, pelo que muitos de nós - mas esta é um regra não escrita, não formalizada, nem obrigatória para ninguém - optamos por não nos exprimir em espanhol, uma língua cuja similitude e aproximação com o português pode, de certo modo, enfraquecer aquele nosso objetivo.

Acabada a fala de Gelson Fonseca, saiu-me, no meu melhor espanhol: "Agradeço ao distinto delegado do Uruguai a sua intervenção e passo a palavra ao orador seguinte, ...". O Gelson saltou na cadeira e esclareceu, em inglês, para o microfone: "Perdão, senhor presidente, eu sou o representante do Brasil!". Ao que eu retorqui, também em inglês: "Sou eu quem peço perdão, mas a forma tão correta como o distinto delegado do Brasil se exprime em castelhano levou-me a confundi-lo com um falante de uma das antigas colónias espanholas". A parte do auditório que percebeu a graça deu umas discretas risadas.

O Gelson Fonseca "não se ficou", deu a volta à sala, subiu discretamente à tribuna e disse-me, com um ar divertido, esta coisa deliciosa: "Ó Francisco, você não percebeu! Na realidade, eu não falei espanhol, falei um "portuñol" com tantas expressões portuguesas "espanholizadas" que, no fundo, acabei quase por consagrar uma subliminar entrada do português como língua das Nações Unidas". O Gelson era e é um grande embaixador brasileiro. 

Registe-se que, por essa época, o Brasil não tinha, em relação à promoção da língua portuguesa à escala global, o empenhamento que hoje demonstra e, segundo julgo saber, os seus diplomatas eram mesmo estimulados a usar o espanhol. Nós não.

domingo, julho 31, 2011

Lídia Jorge

Já passava das três da manhã quando, num "zapping", surgiu na SIC Notícias uma conversa de Lídia Jorge com António José Teixeira. Fiquei a ver e ouvir até às quatro. Com grande proveito.

Lídia Jorge é uma intelectual atípica. Fala sobre as coisas com uma desarmante sinceridade, sem aqueles falsos improvisos, recheados de frases feitas (e testadas), que alguns dos seus colegas escritores utilizam, para se darem ares de grande originalidade, em especial quando são chamados a pronunciarem-se sobre temas do quotidiano. Há uma candura quase provocatória naquilo que diz, na forma simples, mas ao mesmo tempo profunda, como olha à sua volta, à nossa volta.

À inteligência das questões colocadas pelo António José Teixeira, a escritora não retorquiu com circunlóquios, mesmo quando os temas eram delicados e a curiosidade do entrevistador se mostrava intrusiva, como ´no da política interna da atualidade. Respondeu sempre, serena, genuína, revelando dúvidas, interrogando-se. E ajudando a interrogarmo-nos.

Há muito que gosto de ouvir e ler Lídia Jorge falando de nós, dos portugueses, com uma postura crítica sem auto-flagelação, com uma compreensão por onde perpassa a subliminar tristeza, que também nos é comum, de que tudo "tenha de ser assim". É a atitude de alguém que percebe o país, mas que não desiste dele, que não se refugia numa espécie de desespero cívico.

Posso estar enganado, mas tenho a sensação de que muitos de quantos possam assistir a esta entrevista sentir-se-ão identificados aquilo que Lídia Jorge nela diz.   

Em tempo: Lídia Jorge passou a colaborar, aos sábados e domingos, com umaa notas algarvias no "Público". A julgar pelas primeira, vale a pena não perdê-las. 

sábado, julho 30, 2011

Passos perdidos

Café de S. Bento. Fragmentos de um discurso ocioso.

- É incrível, o tipo lá conseguiu ser eleito outra vez deputado. Na legislatura anterior, não abriu o bico. Nem nas comissões! E põem-no outra vez nas listas. É um escândalo!

- É preciso dar tempo ao tempo. Consta até que já está a preparar um projeto de lei.

- Não acredito! É um calaceiro. Não é capaz de apresentar nada. Que lei é?

- A lei do menor esforço...

"Faturinha" ?

- Vai querer faturinha?

Irrita-me esta pergunta, frequente no final das refeições em restaurantes portugueses. Claro que quero sempre "faturinha", na ilusória esperança de que, assim procedendo, estarei a contribuir para evitar a evasão fiscal (depois, deito fora o papelinho, de imediato) e para que o Estado não seja lesado. Aliás, acho que deveria ser punível, por lei, fazer a pergunta e que a fatura, como acontece em muitos países decentes (e até em alguns que o são menos), deveria suceder-se, de forma automática, ao pagamento.

- Se quer faturinha vai ter de me dar um número fiscal e um nome completo.

Esta nunca me tinha acontecido! Mas surgiu-me hoje, depois de um almoço num restaurante. Essa agora! Se assim for, só alguns bem afortunados da economia privada, que podem descontar almoços e jantares no IRC ou no IRS, por deduções fiscais alfaiatadas à sua medida, é que passarão a dar-se ao trabalho de transmitir os seus dados pessoais (ou da empresa, o que é mais certo) para a emissão da fatura. Os restantes cidadãos, nomeadamente os trabalhadores por conta de outrém (como é o meu caso), que pedem fatura apenas para terem a certeza cívica de que os proprietários dessas casas comerciais pagam os impostos devidos, tenderão a não ter esse trabalho cumulativo, que implica uma tarefa extra aos restaurantes e a perda de tempo. E é assim que se estimula a evasão fiscal, que todos dizem condenar.

Entre a sábia legião de leitores deste blogue alguém pode esclarecer (1) se é obrigatório ou não emitir sempre fatura, mesmo sem pedido expresso, e (e) se somos ou não obrigados a dar um nome e número de contribuinte para a emissão da mesma?

sexta-feira, julho 29, 2011

A revisão da Constituição

A conversa estava solta e animada. Na sala daquela família burguesa da Foz portuense, discutia-se, entre amigos, a situação política decorrente das recentes eleições. Não havia grandes diferenças ideológicas entre os presentes, todos favoráveis aos "novos ventos". A certo passo, veio à baila o tema da revisão da Constituição. Revelavam-se divergentes as opiniões sobre o interesse de, nesta fase da vida política nacional, introduzir um debate que, segundo alguns, poderia abrir clivagens indesejáveis no seio novo espetro parlamentar. Outros, mais radicais, consideravam, precisamente, que era importante aproveitar a nova relação de forças para acabar com o que consideravam ser os "anacronismos" existentes no texto fundamental, ainda muito tributário dos tempos revolucionários dos anos 70.

O David era um dos membros da família a quem estas coisas da política pouco diziam. Com quase quarenta anos, sabia-se que o seu voto havia sido sempre no lado conservador, com variações de partido, mas raramente dava uma opinião sobre esses temas. As "guerras" em que se metia, como feroz portista que era, situavam-se, maioritariamente, no futebol. A mais recente tinha a ver com a "traição" do Villas Boas, que trocara o Dragão por Stamford Bridge. Aí sim, era um radical impenitente.

Por isso, todos estranharam que, ao passar da varanda para a sala, em busca de uma cervejas, tivesse lançado, para o grupo: "Pois eu, cá por mim, sou favorável a que se façam mudanças na Constituição". E logo saíu, em direção à cozinha, sem dar mais pormenores sobre as suas opções concretas na matéria. Todos se entreolharam, estranhando esta inesperada tomada de posição, tanto mais que o David não participara em nenhuma fase da conversa, onde se tinham abordado as questões laborais e de saúde. Ninguém ligou muito.

Minutos depois, o David reapareceu, sobraçando umas cervejas e alguém perguntou: "Ó David, diz lá então o que é que gostarias que mudasse na Constituição".

O David parou junto à saída para a varanda, refletiu um instante e adiantou: "Olhem! Para já, acho que deviam fazer uma rotunda no cruzamento com a Oliveira Monteiro. Assim como está é muito perigoso".

Esta história, com poucas semanas, foi-me contada por amigos do Porto, onde se situa a rua da Constituição. E quase só tem graça para eles. Mas ela aqui fica, nestas minha férias nortenhas. 

... e logo se vai ver!

Ver aqui .