A conversa estava solta e animada. Na sala daquela família burguesa da Foz portuense, discutia-se, entre amigos, a situação política decorrente das recentes eleições. Não havia grandes diferenças ideológicas entre os presentes, todos favoráveis aos "novos ventos". A certo passo, veio à baila o tema da revisão da Constituição. Revelavam-se divergentes as opiniões sobre o interesse de, nesta fase da vida política nacional, introduzir um debate que, segundo alguns, poderia abrir clivagens indesejáveis no seio novo espetro parlamentar. Outros, mais radicais, consideravam, precisamente, que era importante aproveitar a nova relação de forças para acabar com o que consideravam ser os "anacronismos" existentes no texto fundamental, ainda muito tributário dos tempos revolucionários dos anos 70.
O David era um dos membros da família a quem estas coisas da política pouco diziam. Com quase quarenta anos, sabia-se que o seu voto havia sido sempre no lado conservador, com variações de partido, mas raramente dava uma opinião sobre esses temas. As "guerras" em que se metia, como feroz portista que era, situavam-se, maioritariamente, no futebol. A mais recente tinha a ver com a "traição" do Villas Boas, que trocara o Dragão por Stamford Bridge. Aí sim, era um radical impenitente.
Por isso, todos estranharam que, ao passar da varanda para a sala, em busca de uma cervejas, tivesse lançado, para o grupo: "Pois eu, cá por mim, sou favorável a que se façam mudanças na Constituição". E logo saíu, em direção à cozinha, sem dar mais pormenores sobre as suas opções concretas na matéria. Todos se entreolharam, estranhando esta inesperada tomada de posição, tanto mais que o David não participara em nenhuma fase da conversa, onde se tinham abordado as questões laborais e de saúde. Ninguém ligou muito.
Minutos depois, o David reapareceu, sobraçando umas cervejas e alguém perguntou: "Ó David, diz lá então o que é que gostarias que mudasse na Constituição".
O David parou junto à saída para a varanda, refletiu um instante e adiantou: "Olhem! Para já, acho que deviam fazer uma rotunda no cruzamento com a Oliveira Monteiro. Assim como está é muito perigoso".
O David parou junto à saída para a varanda, refletiu um instante e adiantou: "Olhem! Para já, acho que deviam fazer uma rotunda no cruzamento com a Oliveira Monteiro. Assim como está é muito perigoso".
Esta história, com poucas semanas, foi-me contada por amigos do Porto, onde se situa a rua da Constituição. E quase só tem graça para eles. Mas ela aqui fica, nestas minha férias nortenhas.
7 comentários:
Concordo em absoluto com o David!
(visto dos lados da Eduardo Brazão... ;) )
Que feliz deve ser o David...cuja constituição se "melhora" com uma rotunda...
Com a quantidade de rotundas que temos no país, nem se dava conta de mais uma na “Constituição” portuense.
Isabel BP
Pois eu penso que a "proposta" do David não seria uma "Revisão" mas uma verdadeira "Revolução" na Rua da Constituição ...
Por momentos senti que estava a partilhar a conversa e esperei pelo David "Sem dúvida um Operacional" (...)
Claro na esperança que trouxesse tremoços e a cerveja fosse super bock
Agora Senhor Embaixador
O texto é divinal sei que o meu eu não é ninguém idóneo mas a forma como o Sr. dá movimento àos cenários é fascinante...Escreva, escreva...
Isabel Seixas
Quanto à Constituição, a actual, está bem e recomenda-se. Não se afigura ser prioridade qualquer revisão.
P.Rufino
Eu diria mais - uma rotunda na Oliveira Monteiro e uma passagem aérea sobre a Avenida de França
Um abraço
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