Trump baixou a bolinha. As fortes reações dentro dos EUA às insanas medidas aduaneiras obrigaram-no a recuar, salvo quanto à China, conhecida "bête noire" da América de todas as cores. Os trumpófilos, tomando-nos por parvos, vão dizer que foi "recuo programado". Pois, pois...
duas ou três coisas
notas pouco diárias de Francisco Seixas da Costa
quarta-feira, abril 09, 2025
terça-feira, abril 08, 2025
segunda-feira, abril 07, 2025
Saudades da solidão
Que saudades do tempo em que entrava num avião e me punha a ler um livro, em que não havia telefone nem internet. Agora, com estas modernices, estou para aqui a perder tempo convosco.
Soletrar banalidades
Já não há pachorra! Entra-se numa livraria e as estantes estão atulhadas de coisas de " lifestyle" e auto-ajuda. Há mesmo assim tanta gente que não consegue pensar pela sua própria cabeça?
Trumpotimistas
Eles estão à cata, ao virar da próxima esquina. Se e quando, alguma das insanas medidas de Trump tiver um efeito colateral que possa ser lido como positivo ou menos detrimental, os trumpotimistas saltarão de imediato a terreiro. Estejam atentos! Há malucos para todos os gostos.
Diplomacia afetiva
"Olha lá! Mas então tu tens amigos que são radicais de esquerda e tens outros situados bem à direita na política?! O que é que essa malta tem de comum, para serem todos teus amigos?" Respondi: "É muito simples! O que têm de comum sou eu".
O economista instantâneo
É extraordinária a quantidade de economistas instantâneos que as medidas aduaneiras de Trump criaram. Um taxista eleborava sobre os efeitos nas taxas de juro e no petróleo, com à vontade idêntico ao de um seu colega que, há anos, detalhava sobre a "saída limpa" depois da "troika".
... por aí além!
domingo, abril 06, 2025
José Neves
Ele, o meu vizinho de cadeira (do outro lado, tinha uma simpática "rapper"), era, em toda aquela mobilizada sala, a pessoa que mais direito teria de ali estar. E passava completamente desapercebido. Chama-se José Neves e há meio século que nos cumprimentamos com grande cordialidade, embora sem nos conhecermos bem.
Lembrei-lhe que ele seria ali o único membro que estivera presente na reunião fundadora do Partido Socialista, na Alemanha, a menos que o Alberto Arons de Carvalho andasse algures pela sala (o restante, Rui Mateus, há muito que "saiu" da História). "Tenho 94 anos, sabe?". Caramba! Eu não sabia.
Falei-lhe da famosa fotografia de 19 de abril de 1973, em Bad Münstereifel, na transformação da Ação Socialista Portuguesa em Partido Socialista, em que Mário Soares queria criar o partido e Maria Barroso se opunha e perdeu. "Eu apareço na parte de cima das fotografias, sou o mais baixo. Mas não estava em pé: estava sentado num banco..." E acrescentou: "Pensando bem, é muito estranho que tivesse havido fotografias: era uma reunião clandestina!" Assinalei que não surge, na imagem mais conhecida da reunião, Seruca Salgado, talvez por ter sido ele o fotógrafo. Mas José Neves notou: "Há outra fotografia em que ele aparece". Fui agora confirmar e assim é. E falou-me de uma outra reunião, em Paris, de que eu nunca tinha ouvido falar: "Foi num espaço arranjado pelos socialistas franceses. Dessa não há fotografias".
José Neves é uma figura histórica do socialismo português. Esteve exilado desde 1965 em Londres e só regressou a Portugal com a Revolução. Publicou, em 2023, "Partido Socialista: da Génese à Refundação (1875-1973). Muita saúde, foi o que lhe desejei com um abraço solidário, no fim da festa.
E vamos a isto!
Jerónimo Martins
Comigo saem outros cinco colegas, um português e quatro estrangeiros, num processo de rotação que se processa com toda a normalidade, similar a outros que testemunhei no passado. No meu caso, aliás, a saída estava definida e datada há três anos.
Passarão agora a integrar o conselho, além de figuras estrangeiras, três personalidades portuguesas extremamente qualificadas, que aliás conheço bem e que, tenho a certeza, carrearão novas perspetivas, fruto da sua muito diversa e rica experiência profissional, para os debates no seio da administração.
É esse, precisamente, o sentido da contribuição que se pretende seja dada pelos administradores não-executivos ao trabalho das empresas, facto que a opinião pública em regra desconhece. A grande maioria dos administradores não-executivos raramente é oriunda do ramo económico das companhias que integram.
Foi em dezembro de 2012, a semanas de sair de embaixador em Paris, por imposição legal, e de ir abandonar o serviço público que tinha exercido por mais de quatro décadas, que recebi um convite de Alexandre Soares dos Santos para me juntar à Jerónimo Martins. Tinhamo-nos encontrado brevemente ao tempo em que ambos presidíamos aos Conselhos Gerais de duas universidades públicas.
Foi para mim uma total surpresa: viviam-se os tempos da "troika" e do governo Passos Coelho, executivo que ninguém desconhecia estar muito longe da minha simpatia. Entendi dever dizer isso mesmo, com clareza, a quem me formulava o convite, não fosse dar-se o caso de poder haver algum equívoco. A resposta desarmou-me: "A política não é para aqui chamada. Precisamos de si para nos ajudar a pensar o futuro, à luz da sua considerável experiência internacional. Só isso!"
E foi exatamente assim, durante 12 anos. Os meus colegas de conselho, entre os quais fiz alguns amigos para a vida, testemunharam frequentemente a minha teimosa heterodoxia, e até algum isolamento, em face de outras perspetivas conjunturalmente dominantes nos debates. Mas sempre ali disse tudo o que quis dizer, às vezes coisas que sabia irem ser menos cómodas de ouvir. Honra muito a empresa o cultivo desse saudável ambiente de pluralismo e de tolerância.
Aliás, a prova provada da total liberdade que sempre vivi na Jerónimo Martins - também comum a outras empresas com que colaborei e a outras em que atualmente continuo a trabalhar - é que, como colunista de três jornais, que entretanto tinha passado a ser, eu zurzia regularmente, sem contemplações, as minhas "bêtes noires" políticas. Contudo, nem por isso alguma vez recebi a menor observação de desagrado, ou sequer uma recomendação de contenção, da parte de qualquer dos meus empregadores. Nem por uma só vez! E eu sabia, de certeza segura, que, muitas vezes, eles não concordavam minimamente com muito do que eu por ali escrevia.
Quando entrei para a Jerónimo Martins, fui à Colômbia, à inauguração da primeira loja que lá foi criada. No ano passado, abrimos ali a loja 1000! Nos quatro mercados onde hoje opera, a Jerónimo Martins tem cerca de 6000 lojas, dando emprego a mais de 140 mil pessoas. Há 12 países membros da ONU que têm menos habitantes...
Quero, assim, nesta ocasião, deixar claro que tive um imenso gosto e orgulho em ter colaborado, durante estes 12 anos, com a Jerónimo Martins, onde fui muito bem acolhido e que, afetivamente, me sentirei para sempre "lá de casa".
Aproveito para deixar um sincero abraço a Pedro Soares dos Santos, o líder da empresa, o principal responsável pelo imenso êxito que ela tem vindo a ter, nas quatro geografias onde hoje atua. É público e notório que Pedro Soares dos Santos é uma pessoa que, em certos setores, suscita alguma polémica, que tem motivado o surgimento de alguns detratores e até, posso imaginar, de alguns inimigos. Mas é bom que se saiba que também tem muitos amigos. Eu, por exemplo.
sábado, abril 05, 2025
Desculpa, Manuel!
O meu primeiro telegrama
Esses telegramas, nome que no MNE se dá às comunicações entre as embaixadas e Lisboa, são assinados pelos dois embaixadores com quem ali trabalhei sucessivamente e, em escassos casos, subscritos por mim próprio, como "encarregado de negócios", nas ausências dos titulares e no período em que assumi a chefia entre esses dois embsixadores.
Estava eu entretido a ler essas escassas centenas de textos quando, de repente, deparei com este telegrama. Tem a curiosidade de ser o primeiro texto dessa natureza que eu assinei, no dia 17 de julho de 1979. Há dias, curiosamente, deixei aqui cópia do último que subscrevi, em janeiro de 2013. Verdade seja que, se este último tem algum "sumo", o que hoje publico é um texto completamente vulgar, que constato que apenas cuidei que estivesse bem ao estilo MNE.
Se bem atentarem, nele sigo a regra sacrossanta da Casa de evitar artigos e preposições, uma prática já então sem o menor sentido, que ainda refletia os tempos em que os telegramas eram enviados pelo telégrafo e era preciso poupar nas letras e no custo do envio. Nesse ano de 1979 e muito depois, a regra só era mantida por mero seguidismo com a liturgia da casa. Recordo-me bem quando um dia, 25 anos mais tarde, como embaixador no Brasil, dei instruções escritas aos meus colaboradores para passarem a escrever textos corridos: houve quase um motim! A tradição deixa raízes.
A máquina em que grafávamos os textos não permitia colocar acentos nem cedilhas, o que, como notarão, obrigava à repetição da letra em sua substituição. Por exemplo, "não" é "naao", para utilizar algo (por ora ainda felizmente) em voga. No texto, repararão também que as nossas autoridades máximas eram (e continuam a ser) antecedidas por "Sexa". O ". /." no final era uma convenção nossa para dar sinal disso mesmo, de que o telegrama chegava ao fim.
Finalmente, uma nota sobre o conteúdo do texto. Era prática regular as embaixadas informarem Lisboa das notícias que saíam sobre Portugal e, ao fazê-lo, era interessante explicar qual era a orientação dos jornais que traziam essas notícias. É o que faço no texto.
Enfim, ao reler agora aquele meu primeiro telegrama, fiquei com alguma pena pelo facto de ele não ter sido mais "literário" e de substância. Mas, pensando bem, fui prudente: se há coisa que o Ministério detesta é ver os encarregados de negócios, conjunturais chefes de missão, porem-se "em bicos de pés".
sexta-feira, abril 04, 2025
Uns para os outros
E lá fui ao Cacém. Na sala de espera, sentei-me ao lado de uma senhora, passada dos oitenta de idade, que olhava com curiosidade o iPad em que eu lia notícias, para matar o tempo. A certa altura, não resistiu: "Isso tem as "coisinhas" iguais às do meu telemóvel. Deve ser bom poder ler com essas letras grandes. No meu telemóvel - veja! - são letras tão pequeninas!" Também não resisti: "Quer ter letras maiores no seu telemóvel? Dá-me licença que mude as letras que usa?" E lá fiz a alteração, aumentando-lhe num segundo as letras, com a senhora encantada com o resultado: "Nunca ninguém me tinha dito que isto era possível! Vejo muito melhor assim! O que a gente aprende!".
Entretanto, já ia passando bastante tempo sobre a hora para a qual tinha sido convocado, e a minha nervoseira ia aumentando. À minha parceira de espera não escapou o facto de eu olhar repetidamente para o quadro eletrónico. A certa altura, perguntou: "O que vem aqui fazer?" Disse-lhe e foi então a vez de ela me ser útil: "Ah! Mas isso não é aqui! É lá ao fundo, na outra sala. Ainda há dias fui lá com uma prima!"
Eu estava, como diz o Sérgio Godinho, "à espera do comboio na paragem do autocarro". O que a gente aprende! Temos de ser uns para os outros, não é?
Tarifaço
Os brasileiros são incomparáveis na sua capacidade imaginativa para descobrir palavras "gráficas", que crismem certas realidades. As medidas aduaneiras de Trump são, claro, um "tarifaço"!
China
A resposta chinesa às medidas aduaneiras de Trump não "desiludiu" as expetativas: olho por olho. Como estamos em mares nunca dantes navegados em termos de comércio internacional, só nos resta perceber o modo como os mercados vão reagir e, claro, sofrer as eventuais consequências.
Sem olhos em Gaza
Trump e a NATO
Burden
Os aliados europeus dos EUA deram por adquirido, durante décadas, que era do interesse estratégico americano garantir a defesa da Europa. Por essa razão, não iam levando muito a sério os sucessivos avisos para aceitarem o "burden sharing". Agora, Trump acordou-os.
quinta-feira, abril 03, 2025
China
A Rússia é um "fait divers". Para os EUA, o que realmente conta é a China. Com o "tiro no porta-aviões" do comércio, os EUA concretizam agora um ataque sem precedentes aos interesses de Pequim. Nunca sabemos bem o que está na cabeça dos chineses, salvo a questão de Taiwan. Terá graça ver como irão reagir.
Na hora do bitaite
É num dia como o de hoje que me congratulo com o facto de ter decidido suspender o meu comentário regular sobre temas internacionais. É que, estou certo, seria tentado a "dar bitaites" sobre as medidas protecionistas de Trump, tema em que os economistas se dividem.
Isto
terça-feira, abril 01, 2025
Militares
Tive ontem o gosto de ser convidado a falar sobre um tema internacional durante o almoço numa associação que reúne pessoas orgulhosas do seu passado militar profissional. Foram algumas largas dezenas que se deram ao cuidado de me ouvir, entre eles oficiais generais dos três ramos das Forças Armadas. As perguntas foram muitas e excelentes, em quase três horas muito bem passadas. No final, foi bonito ver respeitado um minuto de silêncio "em memória dos nossos camaradas que morreram em combate", seguido do canto do hino nacional.
Xenofobia
O diretor da PJ, Luís Neves, cometeu um lapso ao deixar-se ficar na imagem ao lado de Fernando Gomes. A extrema-direita, que nunca lhe perdoou as palavras corajosas com que denunciou o alarmismo xenófobo, caiu-lhe agora em cima. Estou certo que a senhora ministra da Justiça não é das pessoas que se deixam impressionar por estas manobras.
domingo, março 30, 2025
Do tempo do Dr. Kildare
Foi há muito tempo? Se foi! Se o Dr. Kildare ousasse mostrar-se, nos últimos anos, a fazer um gesto como o que a fotografia desse tempo aqui mostra caía o Carmo, a Trindade e o Lux.
Demagogia
sábado, março 29, 2025
Constantinopla
Um abraço ao Marcos, desde Lisótima
Neste tempo em que os amigos se vão como as cerejas, uns atrás dos outros, sei que arrisco converter este espaço num somatório de notas necrológicas. Mas não posso nem quero deixar de fazê-lo. O meu mundo, que por aqui anoto ao sabor do impulso, sem rotina de diarista*, é o que é e, por muito que procuremos agarrar o futuro, o passado e os seus mortos fazem parte integrante da nossa vida.
sexta-feira, março 28, 2025
quinta-feira, março 27, 2025
Dos lóbis
A escolha do cabeça de lista do PSD por Bragança, que só um cego não veria que iria suscitar polémica, é, em si mesma, bem reveladora de como o partido se encontra preso a lóbis e lógicas de aparelho dos quais não consegue desligar-se.
quarta-feira, março 26, 2025
O livro, a mesa e a solidariedade
Há dias, numa romagem com o meu amigo José Ferreira Fernandes à livraria Ulmeiro, na Avenida do Uruguai, que mudou ligeiramente de sítio e perdeu o gato à porta, não resisti: comprei, por bom preço, uma edição antiga do "Guia das Assembleias Gerais", de Mariano Roque Laia.
Coisas de outro tempo
Costumo dizer que, em regra, não guardo papéis. A regra tem, contudo, algumas raras exceções. Hoje, numa pasta que estava fechada há precisamente uma dúzia de anos, encontrei esta que foi a minha última comunicação para o Ministério, no meu último dia como embaixador em Paris, em finais de janeiro de 2013. Já não me recordava bem dos termos desse "telegrama" (é assim que chamamos às comunicações no MNE) que dirigi ao ministro Paulo Portas. Mas, confesso, continuo a achar adequado o que escrevi.
terça-feira, março 25, 2025
Uma coisa é uma coisa
O cartaz em que a cara de Montenegro surge ligada à palavra corrupção é uma forma miserável de fazer política. Até pode favorecer o primeiro-ministro, dado que as imputações de que é alvo nada têm a ver com corrupção, a contrário das acusações que visam o seu parceiro no cartaz. E as pessoas sabem isso.
segunda-feira, março 24, 2025
domingo, março 23, 2025
Guinness
O cabeça de lista do PS pela Madeira teve a sua 10ª derrota. Perder 10 vezes não é uma coisa por aí além; bem pior seria perder 20 vezes, não é? E assim até pode vir a entrar no Guinness! Mas ao PS nunca ocorreu tentar outro nome? É uma ideia "fora da caixa", eu sei!, mas pensem nela! Não é preciso pressa: daqui a uns anos e umas derrotas mais...
Old Joe
sábado, março 22, 2025
Friedman
Tom Friedman no NYT: "Trump and Netanyahu are brothers from different mothers, and there’s only one good thing about both of them, and that’s God only made one of each."
Por que será?
Os analistas nacionais que costumam dar mais credibilidade a fontes russas coincidem, nos últimos dias, num crescente ceticismo quanto às hipóteses de ser obtido a breve prazo um acordo na questão da Ucrânia.
sexta-feira, março 21, 2025
quinta-feira, março 20, 2025
A bolsa ou a vida diplomática
Naquela noite de dezembro de 2008, num belo jardim da casa de um casal amigo, sobre o lago Paranoá, em Brasília, o jantar reunido para a nossa despedida teve algumas dezenas de pessoas, distribuídas por várias e divertidas mesas. O dono da casa, uma pessoa de extrema simpatia de quem eu tinha ficado um bom amigo, era uma das figuras proeminentes da vida social da capital brasileira. Em sua casa, eu tinha conhecido o "tout Brasília", logo após a minha chegada. A sua mulher era uma anfitriã fantástica. Toda a noite correu extremamente bem... até um certo momento.
Já nos aproximávamos da meia-noite e alguns convidados iam abandonando o jantar. A certa altura, a mulher de um dos nossos amigos deu por falta da sua carteira Chanel. Depois de uma busca sem resultados, e com base em alguns indícios, deduziu-se que ela tivesse sido levada, eventualmente por engano, por uma outra convidada, que já tinha saído com o marido, uma figura então muito conhecida e com público destaque.
Entretanto, alguém do serviço da casa alertou para o facto de terem desaparecido vários talheres do faqueiro de prata, que estavam numa das mesas. E aí começaram a somar-se dois mais dois: alguns tinham notado que, no termo do jantar, a mulher dessa destacada figura tinha mantido embrulhado, junto de si, no que veio a apurar-se ser uma toalha de linho entretanto retirada da casa de banho, um volume que continha, manifestamente, os tais talheres desaparecidos.
O grupo dos convidados que restavam, onde havia políticos e outras personalidades de topo da vida brasileira, partilharam então as impressões de memória recente sobre o que tinham observado no comportamento, que a diversos outros títulos se mostrara bizarro, que a referida senhora tivera durante o jantar. E a conclusão foi unânime e inequívoca: fora ela a autora dos furtos. A nossa amiga que tinha ficado sem a caríssima bolsa, além de furiosa, estava inconsolável: com ela tinham ido também as chaves de sua casa...
Chamar a polícia estava fora de questão. Nas horas e dias seguintes, diligências particulares foram levadas a cabo junto da tal figura pública, que acabou por ter um comportamento curioso: nunca admitou expressamente a culpabilidade da sua mulher, nem sequer assumindo uma eventual cleptomania como justificação, mas acabou por compensar, com um cartão e a oferta de uma outra carteira, a nossa amiga a que a sua desaparecera. As pratas, contudo, foram levadas pelo vento...
Na ventanosa noite de ontem, durante um jantar, desta vez em nossa casa, em Lisboa, a simpática anfitriã de há 17 anos contou, com deliciosos pormenores, esse atípico jantar de despedida que ela e o marido nos tinham oferecido em Brasília. À distância, diga-se, tudo pareceu bem mais divertido.
Requiem
quarta-feira, março 19, 2025
"Nicely"
terça-feira, março 18, 2025
À Rádio Observador
Trump/Putin, financiamento europeu à Ucrânia, a Alemanha "va-t-en guerre" e a nova chacina israelita em Gaza.
Ver aqui.
Alemanha(s)
Notícias do défice
Há anos, por cá, quantos se mostraram relutantes em inserir na Constituição um valor-travão para a dívida foram considerados irresponsáveis. O rigor dos "frugais" e o quase "diktat" alemão fazia então escola entre nós. Agora que Berlim já flexibiliza, estão tão calados?
Israel (3)
Mais 300 e tal mortos em ataques israelitas em Gaza num só dia. Qual é a razão, qual é ela pela qual se deixou de falar no processo movido a Netanyahu, como um possível "criminoso de guerra", pelo Tribunal Penal Internacional? Ou lembrar isto transforma-nos logo em anti-semitas?
Israel (2)
Com mundo distraído com a Ucrânia, Israel "distrai-se" em Gaza e na Cisjordânia. Até as lágrimas da Europa secaram.
Voto
Já decidi: a menos que me anunciem que, num determinado dia, "caiu o Carmo e a Trindade", não tenciono ver a cobertura televisiva das eleições. Assim, desejo muito boa sorte àqueles em quem confio e, claro, menos sorte àqueles de quem desconfio. E seja o que o eleitor quiser!
segunda-feira, março 17, 2025
Maria Cachucha
Zelensky
Zelensky joga um jogo muito delicado. Ao colar-se aos europeus, que hoje são os seus mais fiéis amigos, acaba por rigidificar, até no discurso, a sua posição. Essa atitude pode vir a irritar Trump, no passo negocial seguinte, o que lhe seria fatal. Não é fácil estar no seu lugar.
Bolsonaro
Bolsonaro, que estará na iminência de ser detido, por implicação na tentativa de golpe para evitar a posse de Lula, continua a ser um fator polarizador de quase metade do Brasil. E é também um embaraço para a direita brasileira, que tem pouco tempo para encontrar um seu sucessor.
Uma coisa é uma coisa
Fica a ideia de que os europeus querem misturar a tarefa de fiscalização de um cessar-fogo na Ucrânia, que devia ser da responsabilidade de forças neutrais, com as garantias de segurança para o país, que podem ser dadas sem tropas no terreno.
Kursk
A incursão ucraniana em Kursk, em 2024, pretendia aliviar a pressão russa no Donbass, o que não veio a acontecer. Outro objetivo seria utilizar essa ocupação, agora falhada, como moeda de troca territorial numa futura negociação. A virtualidade militar da aventura em Kursk, com os custos humanos e materiais envolvidos, parece assim muito duvidosa.
Português
O professor Jorge Miranda, uma grande figura do Direito, que há dias disse que todos os imigrantes que cá chegam deveriam saber falar português, deveria refletir no facto de, ao longo dos séculos, aos muitos portugueses que emigraram pelo mundo, em busca de uma vida melhor do que aquela que o seu país lhes proporcionava, ninguém perguntou que língua falavam.
Um lapso
Tendo comentado com regularidade em televisões, durante anos, entendo perfeitamente que, durante uma intervenção, possa ocorrer um lapso, como há dias aconteceu com Maria Castello Branco, na CNN. É fácil, para quem nunca teve essa responsabilidade, condenar do sofá. Vir a público corrigir o erro, como ela fez, parece-me uma atitude de honestidade.
A questão
Uma questão bastante delicada no cessar-fogo na Ucrânia deverá ser a composição das forças fiscalizadoras. Parece implausível que a Rússia aceite que tropas oriundas de países que têm apoiado a Ucrânia surjam ali colocadas como observadores "neutros". Mas que fará Putin se Trump insistir nisto? No atual equilíbrio, Putin não pode arriscar-se a antagonizar Trump a um ponto que o possa fazer reverter da empatia estabelecida entre os dois. Isto vai ter graça.
domingo, março 16, 2025
O outro golpe de 16 de Março
O António era um conquistador nato ou, como ele dizia com graça, referindo-se às suas tendências políticas de então, um pouco menos Nato e quase Pacto de Varsóvia. Tinha um sucesso enorme junto do "pequename", uma qualificação machista então em voga no nosso meio.
sábado, março 15, 2025
O grande José Vilhena
Sou feliz possuidor da "opera omnia" de José Vilhena, mas apenas da publicada antes do 25 de Abril.
A razão
Há algo que não pode deixar de acompanhar toda a campanha eleitoral, porque não fazê-lo seria tomar os portugueses por parvos: a razão que provocou esta crise.
sexta-feira, março 14, 2025
Ad hominem
Parece claro que a tática de Luís Montenegro para as semanas que aí vêm, além de apresentar o saldo da sua ação governativa, é tentar criar um contraste de "figura de Estado" com Pedro Nuno Santos. Vamos assim ter uma campanha "ad hominem", coisa que não deve ser bonita de ver.
quinta-feira, março 13, 2025
Ontem
Miguel Macedo
Lamento muito a morte de Miguel Macedo. Sempre um senhor na política, um homem sério, vítima de uma inqualificável incompetência e de leviandade judicial, feita com cumplicidade mediática, num caso que lhe afetou a reputação, a vida pessoal e profissional e, quem sabe?, a saúde.
Branco
Aguiar Branco dava ares, no início do mandato, de querer assumir uma atitude de Estado, consonante com as responsabilidades inerentes ao lugar que ocupa. Com o decurso do tempo, foi perdendo equilíbrio e isenção. É pena. Usando termos de teatro italiano, sai pela direita baixa.
Maio
A mim, confesso, tanto se me dá que as eleições sejam a 11 como a 18 de maio. Só não gosto do 28 de Maio.
Trump e Putin. O jogo
Conversa entre Manuel Carvalho e Francisco Seixas da Costa, num podcast do jornal "Público".
Ver aqui.
quarta-feira, março 12, 2025
Encavacado
Cavaco Silva tem como objetivo de vida afirmar-se no olimpo social-democrata, numa espécie de competição virtual com a memória de Sá Carneiro e Passos Coelho. Num momento como este, com o líder do PSD envolvido numa trapalhada, o senhor professor está verdadeiramente encavacado.
Fasten seat belts!
M(AI)
Não dei conta que a senhora ministra da Administração Interna tivesse feito parte dos membros do governo escalados para irem às televisões defender a causa de Luís Montenegro. E, cá por coisas, tenho pena que isso não tenha acontecido.
Redil
Durante semanas, viu-se comentadores da área do governo criticarem Luís Montenegro, acompanhando o choque ético que atravessou o país. Isso foi ontem. Agora, com o cenário esquerda-direita de novo instalado no terreno, as ovelhas regressarão ao redil. Já se notou esta noite.
terça-feira, março 11, 2025
Samsonite
segunda-feira, março 10, 2025
11 de Março
O excelente documentário feito para a RTP por Jacinto Godinho abriu a ocasião. Depois, a historiadora Luísa Tiago de Oliveira fez um enquadramento da conjuntura.
A seguir vieram os testemunhos. O jornalista Adelino Gomes relatou o insólito encontro entre revoltosos e as forças do então RAL 1, cena que ele cobriu para a RTP. O comandante Costa Correia, uma prestigiada figura que meses antes ocupara a polícia política à frente de uma força da Marinha, relembrou a sua participação nesse frente-a-frente, que o filme registou para a História.
Seguiu-se a evocação da célebre Assembleia do Movimento daa Forças Armadas, por três pessoas que nela participaram e intervieram.
No que me toca, procurei explicar o que fazia o oficial miliciano que eu à época era no seio daquela história. Contei como integrei um grupo de oficiais, profissionais e milicianos, que, à hora de jantar desse dia, irrompeu pelo Palácio de Belém, suspendendo a reunião do "Conselho dos Vinte" e convenceu o presidente Costa Gomes a deslocar-se ao edifício do atual Instituto de Defesa Nacional, para uma sessão de debate com mais de 200 pessoas, entre os quais o primeiro-ministro Vasco Gonçalves e o almirante Pinheiro de Azevedo, que só terminaria cerca das sete da manhã. Tentei fazer uma leitura política do que ali se passou e, de caminho, falei também de uma outra reunião, muito mais tensa, com apenas cerca de 30 pessoas, que teve lugar 24 horas depois, onde se discutiu a composição do futuro Conselho da Revolução e em que também participei.
O coronel Nuno Santos Silva, da Força Aérea, que no 25 de Abril tinha sido um dos ocupantes do Rádio Clube Português, deu uma muito interessante visão das tensões políticas da época, chamando "os bois pelos nomes" no tocante às graves responsabilidades de António de Spínola, que, em 28 de Setembro de 1974 e naquele 11 de Março, ia levando o país para a guerra civil.
Vasco Lourenço, figura central do MFA, encerrou os testemunhos, relatando vários episódios, nomeadamente as tensões que protagonizou com o coronel Varela Gomes, que era a figura mais polémica da chamada "esquerda militar".
A sessão terminou com uma intervenção do anfitrião da sessão, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa, que falou em particular para os estudantes presentes. Também ele, à época com responsabilidades no jornal "Expresso", tinha algumas histórias para contar.
Foram umas belas horas. Fica uma foto da nossa audiência.
( Deixo a minha perspetiva sobre o 11 de Março de 1975, inserida num programa da RTP. Pode ver clicando aqui. )
domingo, março 09, 2025
Pois é!
Parece que vamos mesmo para eleições. Trata-se de uma fuga em frente de Luís Montenegro, que, pela relegitimação que julga ir conseguir através delas, espera poder escapar ao juízo negativo que grande parte do país faz do modo como geriu a triste trapalhada em que se envolveu. Montenegro, que se saiba, não cometeu nenhuma ilegalidade, mas o seu comportamento na questão dos seus interesses empresariais demonstra uma indesculpável leviandade, que se não esperava de um primeiro-ministro e de um político experiente. A paralela exposição de uma rede de conluios entre autarquias, escritórios de advogados e estruturas partidárias, que se soma a outros episódios recentes, conduz a opinião pública a um juízo cada vez mais negativo sobre a integridade do aparelho político, à conclusão de que o país está subjugado por uma inescapável rede quase mafiosa de troca de favores. É com estas e com outras que, daqui a uns meses, só um milagre nos livrará de ver em Belém um totem de cara esfíngica, uma espécie de justiceiro eleito "by default". Nessa altura, os políticos que agora por aí andam bem poderão limpar as mãos à parede pelo lindo serviço que irão fazer à imagem do país.
sábado, março 08, 2025
Mulheres
Tão simples...
O que faria se fosse eu a determinar o sentido de voto no PS na moção de confiança que o governo vai apresentar? Muito simples: decidia que o PS se abstinha, não caindo na esparrela de uma moção oportunista. De seguida, claro, avançava para a comissão parlamentar de inquérito.
Quem será?
A mini-crise política em que país se viu envolvido não parece ter tido origem, que se saiba, em nenhum imbróglio empresarial de algum dirigente da oposição. Estão de acordo? Se sim, fácil será identificar o nome de quem quer levar o país para eleições.
Viva o 8 de Março!
A frase não é minha, li-a há pouco e é uma verdade que, nem por ser lapalisseana, deixa de ser uma imensa verdade: metade do mundo são mulheres; a outra metade são os filhos delas. Viva o 8 de Março!
A denúncia da ditadura
Sou pouco dado a ir a filmes que estão na berra. Faço mesmo gala de não correr a ver os que tiveram Óscares, antes de passarem uns bons tempos sobre o início da sua exibição. Às vezes, acabo por só os ver na televisão.
sexta-feira, março 07, 2025
"A Arte da Guerra"
Pode ver e ouvir aqui.
Trump
Trump baixou a bolinha. As fortes reações dentro dos EUA às insanas medidas aduaneiras obrigaram-no a recuar, salvo quanto à China, conhecid...