domingo, novembro 23, 2025

Arábia Saudita - a chave do puzzle americano


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Ucrânia - o estado da arte


Programa gravado antes do surgimento do programa do 28 pontos.

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Reino Unido . Uma liderança em crise?


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Kerry


Na passada sexta-feira, no "Summit" da CNN Portugal, em Alcobaça, o jantar foi antecedido por uma entrevista a John Kerry, conduzida por Isa Soares, da CNN Internacional. 

O antigo candidato presidencial derrotado por Bush filho, e que mais tarde chefiou a diplomacia americana sob Obama, quando substituiu Hillary Clinton, deu um show de competência, sensatez e conhecimento dos grandes dossiês. 

Ao ouvi-lo, dei razão a Mónica Sintra: afinal havia outra ... América!

Eu já nem me zango ...


... pelo facto de algum ignorante poder achar que eu disse isto sem estar a ser profundamente irónico. Mas sei lá!  

Ucrânia


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sábado, novembro 22, 2025

Tresler

Um tweet tem um máximo de 280 carateres. Às vezes, é dificil, nesse espaço limitado, colocar as coisas de uma forma clara, sem ambiguidade. Escrevi um texto sobre as condições colocadas à Ucrânia no documento americano. A forma como o disse suscitou, no campo dos defensores da causa ucraniana, reações fortíssimas. Confesso que esse é para o lado para o qual durmo melhor. Mas decidi perguntar à Inteligência Artificial o que pensava. E, sem surpresas, ela foi inteligente...

Ukraine: notes as brief as possible

Essentially, the plan now reportedly presented by the United States for Ukraine does not stray from what was suspected from the outset to be the philosophy of the new American administration for the region: forcing the Ukrainians to cede part of their territory, which would fall under Russian administration, whether through a model of effective sovereignty recognition or a "lease" formula. Both possibilities had already been discussed.

It is now the latter formula that is being talked about. Under it, Russia would obtain a "de facto" occupation, internally able to claim the new republics as its own under its Constitution. Kiev’s Ukraine (let us call it that) would remain the holder of "de jure" sovereignty, which gives no indication it would ever recover in the future. The world, beginning with the U.S., would continue to recognize Ukraine’s 1991 borders under international law but would accept Russian occupation of that part of the territory. It would be a "make-believe" scenario intended to suspend the conflict.

From the perspective of Ukraine’s future limited sovereignty, amputated of a significant part of its territory, the plan envisions non-entry into NATO (something Washington never wanted), an inscription of this in the Ukrainian constitution (perhaps in the Austrian model, recalling 1945), and quantitative and qualitative limitations on Kiev’s future armed forces, including a ban on long-range missiles.

These neutralizing restrictions would mark the end of Kiev Ukraine’s dream of becoming a powerful military country. This dream, in fact, was not only Ukrainian: Europe to its West hoped Ukraine would function as a frontline of its own defense.

The truth is that both Europe and Ukraine were, in the past, led to nurture this illusion by the U.S. itself, which suggested Ukraine’s (and Georgia’s) vocation as future NATO members. The fact that the agreement could include a provision that NATO would not expand further east would be a huge Russian victory. Georgia would be left out of NATO. And what about Moldova? Moscow would not get the desired "reset" in the plan but would secure a freeze on future expansions. It would also see a resumption of arms control treaties (though much important detail is still missing).

One unclear aspect of this plan is the question of security guarantees for Ukraine. There will be no Western troops on its territory and apparently no "no-fly zone." How troop placements will be monitored on both sides of the future "buffer zone" remains uncertain. Will there be a kind of Article 5 offered by the U.S., with operational responsibility resting with Europeans?

Measures such as Russia’s return to the G8 or the lifting of sanctions that do not depend on Washington can only be implemented after a change in the attitude of U.S. allies, which remains far from secured. Similarly, it is at least strange that the agreement interferes with Ukraine’s relationship with the European Union. And what about ICC measures against Putin? Do they fall with a kind of "amnesty"?

The plan contains a business dimension, very interesting to the U.S., as part of the complex package Washington wants to put an end to the conflict. Whether in Arctic exploration or how Russia can mobilize significant frozen foreign funds, the advantages for the U.S. are well present.

It remains to be seen what Russia will "give" the U.S. economically in Donbass, adding to concessions Ukraine agreed to months ago. Ukraine would thus be, in a way, under American tutelage. The fact that elections are foreseen there within 100 days, with the return of the Russian language and prohibition of "Nazi ideology," could signify the political end of Zelensky is near. Recent corruption scandals surely did not help him.

The most revealing point in the plan, echoing the Gaza case, is: "This agreement will be legally binding. Its implementation will be monitored and guaranteed by the Peace Council, headed by President Donald J. Trump." One might say: "The Empire strikes back."

A aventura CNN Portugal


Ontem, em Alcobaça, estive na grande festa que foi o 4° aniversário da CNN Portugal. Desta vez, fui em representação de uma das empresas que "sponsorizavam" o evento, mas devo confessar que tive um imenso gosto em reencontrar por ali muita gente com quem partilhei, em novembro de 2021, o privilégio de integrar, como comentador internacional, o grupo inicial de colaboradores do novo canal.

Entre 2020 e 2021, por sugestão de Luís Tomé, tinha mantido com ele e com Carlos Gaspar, na TVI 24, um programa de debate semanal sobre temas internacionais chamado "Observare" - nome do centro de investigação sobre relações internacionais a que pertencíamos, existente na Universidade Autónoma de Lisboa, que os três continuamos a integrar. Por parte da TVI 24, os nossos interlocutores foram sucessivamente Pedro Pinto, Filipe Caetano e Pedro Bello Moraes. Deu-me muito prazer fazer esse programa. 

A certa altura de 2021, foi anunciado que a TVI 24 ia ser substituída pela CNN Portugal. Interrogámo-nos sobre se o nosso programa ia continuar no novo canal. Isso, contudo, não iria acontecer. Essa nossa aventura de um ano acabou, como não podia deixar de ser, com uma almoçarada conjunta em minha casa. O Pedro, o Filipe e o Pedro tiveram, depois, seu percurso profissional próprio, mas ficaram nossos amigos para sempre.

Um dia, o diretor da CNN Portugal, Nuno Santos, convidou-me para comentador internacional do novo canal. Seria uma tarefa bastante mais exigente, em termos de ocupação de tempo. Por essa época, o mundo já não estava muito "quieto", mas a Rússia ainda não tinha invadido a Ucrânia, o Médio Oriente estava a viver um dos seus ciclos de "paz podre". Comparados com os dias de hoje, eram tempos de "business as usual".

Fiz então as contas às minhas horas disponíveis e decidi aceitar. E por ali estive 33 meses consecutivos. Foi um período empolgante em que as guerras revelaram imensos novos comentadores, desde militares a especialistas de ciência política, alguns com uma excelente qualidade. 

Pude então constatar, por parte da CNN Portugal, duas coisas notórias: um imenso e rigoroso profissionalismo e uma atenção e delicadeza para quem, como eu, tinha de adaptar as aparições em antena às exigências de uma vida profissional complicada, que frequentemente me levavam fora de Lisboa. 

Um dia, até porque já "não vou para novo", cansei-me. Cansei- me das deslocações regulares a Queluz de Baixo, dos diretos dos estúdios do Porto, da intervenções à distância do Rio de Janeiro, do Algarve, de Varsóvia, do Gerês, de Bogotá, de Vila Real, de Luanda, de Viana do Castelo e sei lá bem de quantos quartos de hotel por aí fora. Apeteceu-me então, de forma irresistível, não ter de abandonar a meio jantares e concertos na Gulbenkian, poder passar fins de semana sem ter de ler sites e jornais, sem a obrigatoriedade de me atualizar a todo o instante. E saí.

Saí da CNN Portugal "a bem", deixei lá muitos amigos, excelentes profissionais, alguns que ontem voltei a encontrar em Alcobaça, na festa onde se comemoraram os quatro anos de uma casa que continuo a olhar como sendo ainda um pouco minha. E onde às vezes regresso, com grande gosto, como hoje à noite irá acontecer.

Debate entre quatro candidatos presidenciais em Alcobaça


 Nada de novo.

sexta-feira, novembro 21, 2025

A tragédia da História

A Ucrânia vai provavelmente ter de aceitar um acordo altamente desfavorável, pelo facto de, em 2022, não ter querido aceitar um compromisso menos gravoso, que lhe teria evitado a perda de centenas de milhares de pessoas e a destruição de parte do país. A História não se adivinha.

Ucrânia. Notas tão breves quanto possível

No essencial, o plano que agora terá sido apresentado pelos Estados Unidos para a Ucrânia não se afasta daquela que, desde o início, se suspeitava que era a filosofia da nova administração americana para a região: forçar os ucranianos a cederem parte do seu território, que ficaria sob administração russa, fosse isso num modelo de reconhecimento efetivo de soberania, fosse numa fórmula de "lease". De ambas as hipóteses já se tinha falado. 

É agora a última fórmula aquela de que se fala. Nela, a Rússia obteria uma ocupação "de facto", podendo internamente dizer que as novas repúblicas eram suas, à luz da sua própria Constituição. A Ucrânia de Kiev (chamemos-lhe assim) manter-se-ia como titular de uma soberania "de jure", que nada indica que alguma vez pudesse vir a recuperar no futuro. O mundo, a começar pelos EUA, continuariam a reconhecer as fronteiras ucranianas de 1991, nos termos do direito internacional, mas aceitariam a ocupação russa nessa parte do território. Seria um "faz-de-conta" destinado a suspender o conflito.

Sob o ponto de vista da futura soberania limitada da Ucrânia, amputada de uma parte significativa de território, o plano prevê a não entrada para a NATO (que sempre se soube ser algo que Washington não queria), a ficar inscrita na Constituição ucraniana (talvez no modelo austríaco, a relembrar 1945) e a limitação quantitativa e qualitativa das futuras forças armadas de Kiev, nomeadamente a proibição de posse de mísseis de longo alcance.

Essas restrições neutralizantes configurariam o fim do sonho da Ucrânia de Kiev de se constituir como um país poderoso, em termos militares. Esse sonho, aliás, não era apenas ucraniano: a Europa que está a seu ocidente contava poder ter a Ucrânia a funcionar como uma frente da sua própria defesa. 

Verdade seja que quer a Europa quer a Ucrânia foram, no passado, levadas a alimentar esta ilusão pelos próprios EUA, que foram quem sugeriu a vocação da Ucrânia (e da Geórgia) para ser futuro membro da NATO. O facto de poder ficar no acordo uma previsão de que a NATO não se alargará mais a Leste representaria uma imensa vitória russa. A Geórgia ficaria fora da NATO. E a Moldova? Moscovo não obteria no plano o desejado "reset", mas conseguiria o congelamento de futuros alargamentos. Obteria também um retomar dos tratados de controlo de armamento (embora falte ali muita coisa importante).

Um dos aspetos pouco claros deste plano é a questão das garantias de segurança para a Ucrânia. Não haverá tropas ocidentais no seu território e, aparentemente, não haverá "no fly zone". Como se processará a monitorização da colocação das tropas, para ambos os lados da futura "buffer zone", é ainda uma dúvida. Haverá uma espécie de Artigo 5° oferecido pelos EUA, com a responsabilidade operacional a cargo dos europeus? 

Medidas como o regresso da Rússia ao G8 ou o levantamento de sanções que não dependem de Washington só podem ser implementadas depois de uma mudança da atitude dos aliados dos EUA. Esta está longe de adquirida. Do mesmo modo, é no mínimo estranho que o acordo se imiscua na questão da relação da Ucrânia com a União Europeia. E as medidas do TPI face a Putin? Caem com uma espécie de "amnistia"?

Há no plano uma dimensão de negócios, muito interessante para os EUA, que faz parte do complexo pacote com que Washington quer pôr termo ao conflito. Quer na exploração do Ártico quer nas modalidades em que a Rússia pode mobilizar parte significativa dos fundos que estavam arrestados no estrangeiro, as vantagens para os EUA estão bem presentes. 

Resta saber ainda o que a Rússia "dará" aos EUA em termos de oportunidades económicas no Donbass, que se somarão às concessões ucranianas já há meses acordadas. A Ucrânia ficaria, assim, de certo modo, sob uma tutela americana. O facto de para ali se preverem eleições no prazo de 100 dias, com o regresso da língua russa e a proibição de "ideologia nazi", poderia significar que estaria próximo o fim político de Zelensky. Os fumos recentes de corrupção não devem tê-lo ajudado.

O mais revelador no plano é este ponto, que ecoa muito o caso de Gaza: "This agreement will be legally binding. Its implementation will be monitored and guaranteed by the Peace Council, headed by President Donald J. Trump". Apetece dizer: "The Empire strikes back". 

quinta-feira, novembro 20, 2025

O estado da arte

 


Que bela festa, Manel!


(roubei a fotografia da página do Facebook da Aldina Duarte)

Manuel Alberto Valente fez 80 anos. Uma vida cheia de imensas coisas. Desde logo, de êxitos profissionais daquele que é uma das grandes figuras do mundo editorial português. Ontem, teve uma sala também ela cheia de amigos, a comemorar essas suas oito décadas, com bom fado e muito boa disposição à mistura. Foi uma bela noite de festa para um excelente amigo, com a Rosário sempre ao seu lado, tanto nos bons como nos menos bons momentos que a todos nos calham em rifa. 

Que a vida tê dê muitas noites como esta, caro Manel! E connosco a partilhá-las, claro.

Ainda me pergunto ...


... como é que, no passado, conseguíamos viver sem o usufruto informativo de coisas tão essenciais como esta!

"By Jove!"


A Amazon acaba de me avisar que já expediu o novo "Blake et Mortimer", o nº 31 da série, agora feita "d'après Edgar P. Jacobs". E constato, com gosto, que nele aparece o magnífico Herr Doktor Grossgrabenstein.

O CDS

O CDS apoia Marques Mendes para as presidenciais. O CDS, nos dias de hoje, é um partido virtual, que faz uns "números" à volta do Ministério da Defesa, como no 25 de novembro, para fingir que ainda existe. E que, claro, resiste à clássica frase: "Stand up to be counted". 

Ainda o Ronaldo

Gosto (já gostei mais, claro) de ver jogar Ronaldo, um sobredotado profissional do desporto. Ao contrário de muitos, congratulo-me com os seus êxitos e fico triste com os seus insucessos. Mas era só o que faltava eu estar a preocupar-me sobre o que ele pensa ou não de Trump.

quarta-feira, novembro 19, 2025

"A Brasileira"


Lá estava ele, no S. Luiz, na bela festa dos 120 anos de " A Brasileira", organizada por "A Mensagem de Lisboa". Está-me a escapar o nome da personagem, mas ela tem tantos...

"Ronaldo à l'Amérique"

Cristiano Ronaldo marcou presença na receção oferecida por Trump na Casa Branca ao príncipe herdeiro da Arábia Saudita. Não é segredo para ninguém que Ronaldo é hoje um privilegiado funcionário do futebol saudita, detentor do estatuto de um dos mais conhecidos jogadores do planeta. Alguns já não se recordarão de que, há uns anos, quando Marcelo Rebelo de Sousa visitou a Sala Oval, Trump fez questão de mencionar Ronaldo — provavelmente das escassíssimas personalidades portuguesas de que o presidente americano alguma vez ouviu falar.

Convém também lembrar que os EUA vão sediar o próximo Mundial de futebol e, não por acaso, o presidente da FIFA também se juntou ao repasto. Naturalmente, o autocrata saudita tratou de levar consigo a Washington um dos seus mais preciosos ativos mediáticos — pago a peso de ouro negro — acompanhado por uma esposa "influencer" que fascina multidões online, especialmente quando o objetivo é impulsionar o consumo de artigos de luxo.

Confesso que não vejo nada de extraordinário em Ronaldo ter aceitado ilustrar este momento de proeminência política para o país que lhe garante salário e reconhecimento. E imagino que, como estrela global que é, tenha ficado especialmente satisfeito por, deste modo, reforçar ainda mais a sua aura internacional. Ronaldo não foi passear com um notório facínora à mansão de um personagem de extrema-direita que os azares da História catapultaram à dianteira do poder mundial. Não lhe exijamos mais do que se deve exigir a quem apenas cumpre o papel que lhe destina o palco onde atua. Como principal rosto do futebol mundial, Ronaldo limitou-se a acompanhar o líder do Estado que o acolhe ao coração do inigualável poder americano. Quem, no seu lugar, recusaria?

Por isso, parece-me no mínimo disparatado o frenesim de opiniões que, entre a fascinação e a condenação, sobre o assunto ocuparam horas de antena neste país. Decididamente, deve haver muito pouco que fazer em Portugal.

"Fritz"

Que Merz não goste de "países com moscas" é natural, atento o sucesso imperial da Alemanha nas Áfricas, para não falar em outras geografias que a piedade me impede de lembrar. 

Que o primeiro-ministro democrata-cristão tenha dito o que disse sobre o Brasil é apenas uma cretinice, indigna do representante um país.

Também


 

terça-feira, novembro 18, 2025

Este país



Há uns anos, chegado a Trás-os-Montes, um embaixador espanhol em Portugal saiu-se com esta frase: “Vocês são um país falsamente pequeno”. Já havia as autoestradas, mas, mesmo assim, o homem, que não ia para novo, chegou cansado.

Com o decorrer do tempo – e o tempo tem aqui um papel importante – fui-lhe dando cada vez mais razão. Mas não pelos motivos que ele imaginava.

Há pouco mais de uma semana, fui a conduzir de Lisboa a Vila Real e, no regresso, dias depois, senti o corpo a pedir descanso. No sábado, numa ida e volta a Aveiro, fiz mais de 500 quilómetros, quase sempre sob chuva; cheguei a casa stressado e com dificuldade de dormir. Ontem, fui de comboio ao Porto, estando agora a voltar no Alfa. Na sexta, tenho de ir e vir a Alcobaça. E, depois, talvez ao Algarve.

Portugal não ficou maior. As estradas até melhoraram. Nós é que encolhemos.

Mas continuamos a fingir que não. Continuamos a dizer “sim” a compromissos como se ainda tivéssemos trinta anos e um Fiat 128 que nos levava a qualquer lado sem queixa. Continuamos a achar que “ir e vir no mesmo dia” é razoável, que “são só duas horas” não conta, que o cansaço é fraqueza e não mensagem.

Quando o diplomata espanhol se queixou da distância, estava a dizer uma verdade sobre o país. Quando eu me queixo hoje, estou a mentir sobre mim próprio. Porque não é Portugal que ficou grande demais – sou eu que já não caibo na vida que continuo a viver como se coubesse.

Se ele me lesse agora, a relatar estes cansaços, perguntaria: “¿Por qué no te quedas en casa, hombre?!” E eu já sei a resposta, embora custe dizê-la: porque parar seria admitir que o tempo passou. E enquanto ainda conseguir chegar, finjo que não passou.

Ouvido

Ventura acusa Seguro de alimentar uma conversa de chacha. Seguro teve a elegância de não lhe responder que, com aquele seu estilo, Ventura se revela um exímio cultor da conversa de tasca.

segunda-feira, novembro 17, 2025

Diplomacia e segurança


Uma conversa com o coronel Mendes Dias, da empresa Protilis, sobre diplomacia, segurança e cultura de cidadania em questões de defesa.

Ver aqui.

O voto é mesmo secreto ?


Há dias, entre amigos, comentávamos que não há nada de mais secreto do que o nosso voto. No recato da cabine onde pomos a cruzinha tudo pode acontecer. Até podemos mudar de opinião no último segundo, fazer o contrário daquilo que dissémos, em família ou em grupo, que íríamos fazer. Ou não.

Nas organizações internacionais onde trabalhei, tive algumas vezes de votar em nome de Portugal. O voto que eu expressava era secreto: ninguém saberia se acaso o embaixador de Portugal decidisse não seguir a indicação de voto que tinha recebido de Lisboa. Mas posso confessar um segredo? Sem uma única exceção, e algumas vezes estando em íntimo desacordo, votei sempre da forma como tinha sido instruído para votar. Porquê? Porque estava em causa a minha seriedade profissional, aferida perante mim mesmo - pessoa cujo juízo prezo acima de tudo e perante a qual não gosto de ficar envergonhado. Como no poema de O'Neill, esta é uma "questão que eu tenho comigo mesmo". Já ouvi colegas diplomatas, e não apenas portugueses, gabarem-se: "Votei como achei melhor votar, contra as instruções". Nesse instante, senti pena dessa pessoa, da mediocridade de uma atitude que, na cobardia do segredo do voto, a levava desonestamente a pôr em causa a sua honorabilidade profissional, a ser desleal com o país que nele tinha confiado. Mas cada um é como é e, como se costuma dizer, as ações ficam com quem as pratica, mesmo que não sejam públicas!

Um dia, em Nova Iorque, nas Nações Unidas, como acontecia com uma imensa frequência, fui procurado pelo meu colega da Bósnia-Herzegovina. Pretendia que Portugal apoiasse uma determinada candidatura do seu país. Muitas vezes, mas nem sempre, era-nos oferecido em troca o apoio para uma candidatura nossa num outro contexto. Não sei se era esse o caso. Lembro-me que, nessa ocasião, tínhamos a possibilidade de votar em três países. Disse-lhe que, infelizmente, já tínhamos os nossos três votos comprometidos, pelo que ele não iria poder contar com o nosso apoio. Recordo muito bem a sua reação: "Muito obrigado pela frontalidade da tua atitude. Sabes que há muitos colegas que prometem o seu voto, embora sabendo, à partida, que vão decidir de outra maneira?" Eu sabia. E até conhecia a história célebre de um colega, de um país que não conta para o caso, que, numa determinada eleição, também em Nova Iorque, embora tendo um único voto, "ofereceu-o" a 13 colegas que o procuraram. Acontece que eles trocaram informações entre si e esse colega passou a ser conhecido como o autor do "milagre da multiplicação dos votos". E passou a merecer a consideração que merecia.

Mas o voto é mesmo secreto? Um vez, dessa feita em Paris, assisti a uma cena curiosa. Eu era, por inerência de funções, representante de Portugal junto do Bureau International des Expositions (BIE). Nessa altura, havia que escolher entre duas candidaturas à organização de uma Expo, já não recordo onde. A questão era muito importante: uma exposição universal é uma realização com uma dimensão económica que pode representar muito para os interesses de um país. Basta lembrar o que, para nós, acabou por ser o efeito da Expo 98. 

Lisboa tinha-me instruído para votar de uma certa maneira, e foi isso que fiz. A certo passo dessa Assembleia Geral, em que os países eram nominalmente chamados a votar, ouviu-se o nome da Bielorrússia. Do lugar desse país na mesa da Assembleia Geral saíram não um mas dois diplomatas, que se aproximaram da cabine de votação, onde só cabia uma pessoa. A cena caricata ficou-me na memória: enquanto um preenchia o boletim de voto, o outro olhava por cima do seu ombro, conferindo com cuidado a expressão do sentido de voto do colega. No final, se na Bielorrússia tivessem tido o privilégio de conhecer Toni de Matos, ambos poderiam cantar: "Só nós dois é que sabemos" ... em quem votámos.

No Alfa Pendular, a caminho do Porto, estou neste momento a passar por Aveiro. No sábado, vim cá falar, sobre política externa, no âmbito de uma Convenção organizada em torno da candidatura presidencial de António José Seguro. O voto é secreto, mas nada impede que possamos anunciar em quem tencionamos ir votar.

sábado, novembro 15, 2025

A idade nota-se


Ainda sou do tempo em que os TVDE não andavam na faixa BUS e as bicicletas tinham luz à noite.

sexta-feira, novembro 14, 2025

Talhinhas


Ontem, ao rever a lista dos "habitués" para a reunião do meu grupo da "tropa", com o qual aos vinte cinco dias do penúltimo mês de cada ano organizo um almoço exclusivamente dedicado a comemorar o dia 25 de Abril, reparei que ainda faltava a resposta do Talhinhas. No último almoço regular do nosso grupo, no mês passado, ele já tinha falhado. Soube agora, por uma mensagem, que também vai faltar a este. E aos próximos.

Terá sido nas primeiras semanas de outubro de 1974 que conheci o Casimiro Pacheco Talhinhas. Eu tinha sido transferido da assessoria da Junta de Salvação Nacional, na Cova da Moura, para a 2ª Divisão do Estado-Maior das Forças Armadas, no Palácio da Ajuda. Fui ocupar o mesmo gabinete e sob a autoridade do então capitão (hoje general) da Força Aérea Casimiro Pacheco Talhinhas. Creio que terá sido o coronel paraquedista Jorge Calheiros quem me recomendou junto do Talhinhas. 

Naquele que era então o único serviço de informações do novo regime, ao Talhinhas e a mim competia acompanhar a atividade dos então imensos partidos e forças políticas, alguns dos quais apareciam e desapareciam no prazo de semanas. Explicar, todos os dias, ao poder militar a evolução e orientação daquela proliferação de siglas constituia a nossa tarefa. Bem interessante, por sinal. Ambos estivemos na primeira Assembleia do MFA na apresentação da nossa leitura do espetro político pós-Abril.

O "28 de Setembro", a primeira tentativa sediciosa contra a Revolução (descontado o frustrado golpe palaciano de Palma Carlos), tinha tido lugar meses antes. Estava a ser criada uma comissão de inquérito "ad hoc" sobre o 28 de Setembro (as comissões "ad hoc" estavam na moda) e o então brigadeiro Pedro Cardoso, que chefiava a nossa Divisão, pediu ao também então major Gabriel Espírito Santo, diretor da Repartição de Informação Interna, para destacar dois oficiais para integrar a comissão. O Casimiro Talhinhas e eu, que ainda mal nos conhecíamos, fomos os escolhidos.

No dia seguinte, apresentámo-nos no Forte de Caxias. O ambiente era um tanto anárquico. A comissão não reunia e, desde logo, ficámos com a impressão de que a presença ali da 2ª Divisão, entidade sobre a qual pairava algum ambiente de suspeição, que nos meses seguintes só se iria adensar, não parecia ser muito bem aceite. Foi então ali, em Caxias, que o Talhinhas e eu nos confrontámos com os "powers that be" daquele estado de coisas. Numa certa altura, vi impedido o meu acesso a uma sala onde ia consultar uma derminada documentação. A pessoa que me barrou a entrada não era um militar, era quadro de um partido político que para ali fora destacado (não, não era o PCP, sabendo que ao escrever isto vou desiludir as pessoas a quem tal daria jeito para as teorias do costume). 

O Talhinhas e eu queixámo-nos do incidente a um responsável da Marinha, tendo-nos sido dito que as coisas ali eram mesmo assim. E, sendo assim as coisas e não nos agradando o modo como elas eram, decidimos suspender a nossa participação na comissão "ad hoc" e regressar a penates, isto é, à 2ª Divisão. Ficámos com a sensação de que ninguém ficou surpreendido com o desfecho. Esse incidente criou uma cumplicidade pessoal entre mim e o Talhinhas que durou até hoje.

De outubro de 1974 a agosto de 1975, trabalhei de muito perto com ele, primeiro na 2ª Divisão, depois, por alguns meses, no SDCI, para onde ambos fomos transferidos após o 11 de Março e a dissolução da 2ª Divisão. 

Entretanto, as nossas vidas mudaram: eu saí da tropa e entrei para o MNE; o Talhinhas fez o que militar e politicamente entendeu dever fazer. A nossa amizade só se reforçou desde então. Nunca mais perdemos contacto - e já lá vai mais de meio século. De grupo em grupo, comigo mais faltoso por via da minha vida itinerante, fomo-nos vendo em muitas jantaradas, cheias de fortes abraços, com a memória de Abril a ligar-nos para sempre.

Desde o meu regresso definitivo a Lisboa, há quase 13 anos, passei a integrar com regularidade uma tertúlia onde o Talhinhas era um impecável gestor logístico, muitas vezes na messe da Força Aérea em Monsanto, outras no Clube Militar Naval, umas muito poucas nuns sítios que eu me encarrego de inventar. Nesse nosso grupo, diga-se, predomina pessoal da Marinha. Ele pela Força Aérea e eu pelo Exército ajudávamos a criar uma, ainda assim escassa, diversidade entre os ramos militares representados nos ágapes. Agora, a Força Aérea deixou de "voar" por ali.

O Casimiro Talhinhas era um homem bom, um amigo certo, com o seu eterno sorriso e um look "boyish" que disfarçava bem a idade que afinal ia tendo. Aliás, que vamos tendo, até que o tempo se canse de nós. Como hoje aconteceu com ele.

quinta-feira, novembro 13, 2025

Dez anos


Faz esta noite dez anos. A sala estava bem cheia na Casa do Brasil, em Santarém, naquela noite de 13 de novembro de 2015, onde tinha sido convidado para falar sobre a conjuntura política internacional, por uma simpática associação local. 

A certo passo da minha intervenção, comecei a dizer algo sobre o terrorismo internacional, dando algumas notas genéricas sobre os riscos que a Europa corria nesse domínio, pelas metástases do Estado Islâmico. Nesse instante, sentado ao meu lado, o presidente da Câmara da cidade, em silêncio, colocou à minha frente, na mesa, o seu telemóvel. Li: "Ataque terrorista em Paris". 

Travei o que estava a dizer e, obviamente sem saber pormenores, anunciei que o tema da conversa tinha tido uma expressão prática na cidade onde eu vivera até dois anos antes. Toda a gente agarrou os seus telemóveis, apressei o fim da palestra e passou-se à discussão com a assistência, onde o tema terrorismo se tornou central. 

Paris é uma cidade que tem um considerável e triste histórico de atentados terroristas. Meses antes, tinha sido o Charlie Hebdo. Imagino que, nessa noite de Santarém, terei lembrado também as bombas no armazém Tati e na rue des Rosiers, para além da estação de metro de St. Michel, dos explosivos na rue Marbeuf e no drugstore Publicis - que são os que agora me vêm à memória, sem ir ao Google e sem conseguir pôr datas na maioria.

Nessa noite, foi o horror no Bataclan. Esse terrível atentado teve um impacto muito forte em França, onde viria a ter ainda outros ecos. Muito do que se tem passado na vida política francesa, na última década, em termos da subida da extrema-direita e da radicalização securitária da direita republicana tem o impacto público desse atentado como claro pano de fundo.

Bazar Diplomático


Já pensou nas ofertas para o Natal? Passe pela Junqueira e vá às compras pelo mundo, a bons preços e por boas causas.

quarta-feira, novembro 12, 2025

Mas não servia ...


... para governador do Banco de Portugal. 

Catarina de Albuquerque


Com outros colegas que chefiaram as missões portuguesas junto da ONU, tive o gosto - e a tristeza - de subscrever um justo tributo a Catarina de Albuquerque, uma qualificada especialista portuguesa, com grande relevo internacional, recentemente desaparecida.

Pode ler aqui.

terça-feira, novembro 11, 2025

Abaças


Há dias, na gestão temporal de uma conversa pública a muitas vozes, aqui por Vila Real, alertei quantos tinham a intenção de intervir de que dispunham de apenas cinco minutos cada. Avisei que, passado esse tempo, tinha na assistência "um amigo de Abaças", que se encarregaria de arrancar, "manu militari", o orador que se excedesse. Toda a gente riu e entendeu o meu recado. E foi remédio santo! Ninguém passou os cinco minutos e pude segurar a sessão dentro do tempo que tinha previsto para ela. A história do "amigo de Abaças" era falsa, claro.

Por esta altura, muitos estarão a perguntar-se: mas afinal o que é isso de Abaças?

Abaças é uma aldeia perto de Vila Real que é famosa, na voz do povo, por ser origem de gente com "pêlo na venta". Por aqui se diz: "Matar, só Deus e os de Abaças". Outras versões acrescentam "mas com licença dos de Guiães" ou "dos de Provezende". Arrisquei chamar a terreiro o dito popular clássico, na secreta esperança que não estivesse ninguém de Abaças, no seio das cento e tal pessoas que me ouviam. Enganei-me. 

Ia a sessão de intervenções a meio quando, de uma cadeira, se destacou uma pessoa que imediatamente reconheci como sendo uma respeitada figura que sabia oriunda de Abaças. Não vinha protestar pelo meu comentário. A sua intenção era mesmo intervir sobre o tema que ali nos reunia. Mas, antes, não deixou de fazer notar que a sua terra, Abaças, vive muito bem com o dito que há séculos marca a imagem da localidade. E contou que uma das explicações para aquela ideia que se formou sobre a sua aldeia pode ser o facto de um dos assassinos de Inês de Castro, Pêro Coelho, ser tido como originário de Abaças. 

Tenho um "trauma" antigo com Abaças, vou agora revelar. Em 1969, durante a campanha eleitoral para aproveitar a "primavera marcelista", andei, com um grupo de ativistas da Comissão Democrática Eleitoral de Vila Real, a percorrer aldeias da região, distribuindo panfletos e procurando entregar os boletins de voto (para quem não souber, esclareço que, nesse tempo, os boletins não tinham cruzinhas nem eram entregues ao eleitor na sala de voto: cada lista tinha os seus próprios boletins, que, nos dias anteriores ao voto, fazia chegar pessoalmente à casa de cada eleitor, que depois, no dia, os ia colocar na urna: o do regime ou o da oposição. Em 48 anos de ditadura, a oposição nunca elegeu ninguém, claro!) Chegados a Abaças, fomos cercados por um grupo de apoiantes da lista da União Nacional, que tinha como principal "argumento" uns cajados que ameaçavam a nossa segurança física, um dos quais fez ainda uma mossa no NSU em que nos deslocávamos. A situação demorou alguns minutos a descrispar-se, o que só ocorreu com a nossa retirada sem glória e sem poder distribuir o material que trazíamos. Eram assim, à época, as "amplas liberdades" da ditadura, que por estes dias parece seduzir quem nunca a viveu.

Ontem, por curiosidade, decidi passar por Abaças - 56 anos depois! E fui ali encontrar, na tarde esplêndida de sol, uma aldeia serena, com as folhas da imensas vinhas, queimadas já pelo Outono, a dar uma cor lindíssima à paisagem em volta da aldeia.

segunda-feira, novembro 10, 2025

À entrada ...


... do cemitério de S. Dinis, em Vila Real, esta frase de um poema de David Mourão Ferreira.

domingo, novembro 09, 2025

Homenagem a Elísio Neves


A Biblioteca Municipal de Vila Real transbordou de admiradores de Elísio Amaral Neves, ao final da tarde de ontem, para uma homenagem prestada por um grupo de amigos àquele que, durante décadas, foi o mais relevante animador cultural da cidade.

O arquiteto António Belém Lima, o cineasta João Botelho (na imagem, com Elísio Neves), o escritor e diretor da biblioteca, Vitor Nogueira, e eu próprio falámos sobre a obra e carreira do homenageado. A última intervenção no painel esteve a cargo do musicólogo Paulo Vaz de Carvalho, que reencenou, com humor e apontamentos de música antiga, uma histórica prestação do Elísio, há precisamente 60 anos, numa récita dos estudantes liceais de Vila Real. 

A sessão prolongou-se ainda com testemunhos breves sobre o Elísio, apresentados por várias figuras da cidade.

sexta-feira, novembro 07, 2025

Sabiam...


... que ainda há gente que não conhece Amarante? Que nunca foi às festas de São Gonçalo, ao museu de Amadeu Sousa Cardoso, à terra de Pascoaes e de Agustina, que nunca provou o quinteto maravilha dos doces da cidade: as lérias, os papos d'anjo, os São Gonçalos, os foguetes e as brisas do Tâmega? E a Casa da Calçada, agora renovada, onde hoje almocei muito bem com (quase) esta vista?

quinta-feira, novembro 06, 2025

Geografia sentimental


Falei ontem para um grupo de estudantes de mestrado de Geografia, na Universidade Nova de Lisboa. O tema que fui convidado a abordar era a Geografia Política. Foi muito interessante "passear" pelo mundo histórico das fronteiras, das naturais às mais absurdas, um pouco por todos os continentes, com um interessado diálogo no final. 

Na ocasião, lembrei-me do dr. Ladislau. Tinha sido nosso professor de Geografia, em Vila Real, durante os anos 60 do século passado. Graças ao seu empenhamento e ao entusiasmo do meu colega Sérgio Moutinho, foi possível criarmos nesse tempo, no liceu da cidade, um Centro de Estudos Geográficos, que até editou um boletim impresso que dava pelo nome de "Meridiano". Naquela estrutura, que até conseguiu garantir uma instalação própria, as tarefas estavam divididas: a mim competia-me o "pelouro" da ... Geografia Política - "et pour cause"!

Um dia, o professor Ladislau organizou uma visita de estudo ao posto que o então Serviço Meteorológico Nacional mantinha em Vila Real, creio que na zona da cadeia. Por ali havia alguns aparelhos que faziam os registos básicos, diariamente transmitidos telefonicamente a Lisboa. O encarregado do posto, com grande disponibilidade e simpatia, mostrou esses equipamentos e sintetizou as suas tarefas. O dr. Ladislau aproveitou então para nos dar ali mesmo uma breve aula. À conversa, trouxe a notícia de um furacão que, nas vésperas, tinha assolado as Caraíbas. Os jornais tinham sublinhado que o vento, nesse episódio, ultrapassara creio que os 130 km/hora.

O controlador meteorológico de Vila Real, que assistia interessado à explicação, quando o dr. Ladislau terminou, não se conteve, "puxou pelos galões" possíveis e saiu-se com uma tirada que gravei na minha memória interiormente sorridente: "Com essa velocidade nunca registei, mas já cá tivemos ventos muito bons, de mais de 80km/hora". Para todo o sempre registei a categoria de "ventos muito bons"...

À saída da aula de ontem, a pessoa que me tinha convidado teve a amabilidade de me levar a ver uma exposição, organizada naquela faculdade, pelo centenário da professora Raquel Soeiro de Brito, uma distinta e prestigiada geógrafa, pessoa com quem, no final dos anos 60, eu concluí uma cadeira de Geografia. Para minha agradável surpresa, constatei que, numa parede dessa exposição, figura um texto (na imagem, onde pode clicar para ler) que, neste meu blogue, eu tinha escrito há anos sobre aquela simpática senhora. O mundo é muito pequeno, como se constata por esta minha geografia sentimental.

quarta-feira, novembro 05, 2025

Um ano de Trump II


Ver aqui.

Um dia


Intervir logo de manhã num painel numa conferência internacional, gravar um podcast à hora de almoço, ir depois a uma rádio "comemorar", num debate, a passagem de um ano desde a eleição de Trump e, ao final da tarde, dar uma aula sobre Geografia política num mestrado de uma universidade, tudo isto não configura exatamente um dia típico na vida de um reformado. Mas é a vida que vou tendo e, até ver, dela não encontro razões para me queixar. 

Já agora, faz também hoje exatamente 30 anos que tirei esta fotografia. Foi em Gaza, na manhã de 5 de novembro de 1995. 

terça-feira, novembro 04, 2025

Cheney


Na hora da morte de alguém, é vulgar fugir-nos o pé para alguma piedade semântica. Não consigo fazê-lo, por muito que tente, com uma figura tão sinistra como foi Dick Cheney. O antigo vice-presidente desse líder de opereta que foi George W. Bush é culpado por algumas das maiores barbaridades cometidas por aquela celerada administração, tendo a invasão do Iraque no centro dessa nefasta ação. Quem, sob uma imensa e consciente mentira, ajudou a criar o vazio que deu origem ao Daesh, provocando centenas de milhares de mortos, quem foi um dos principais culpados pela vergonha que continua a ser Guantánamo, o máximo que pode esperar é que a nossa memória tenha a generosidade de tentar esquecer um pouco o seu "infamous" lugar na história americana.

segunda-feira, novembro 03, 2025

"The Diplomat"


Saiu há pouco na Netflix a terceira série, com oito episódios, de "The Diplomat". (Já os vi todos, claro!). Trata-se da história de uma embaixadora americana em Londres, num tempo complexo para a famosa, mas nem sempre linear, "special relationship" entre o Reino Unido e a sua ex-colónia.

Como é sabido, mais de um terço dos embaixadores americanos não são oriundos da carreira diplomática gerida pelo "State Department". Para a chefia de mais de seis dezenas de postos diplomáticos pelo mundo (há 174 embaixadas americanas nos 193 países membros das Nações Unidas), os presidentes indicam personalidades oriundas da sociedade civil - empresários, banqueiros, políticos, advogados, etc. - que politicamente lhes estão próximos, muitos tendo sido financiadores ou promotores da sua campanha eleitoral. Quando a administracão muda, esses embaixadores, em regra, são substituídos.

(A prática americana de "political appointees" é, cada vez mais, uma raridade em Portugal. Entre 1974 e o presente, houve um total 31 "embaixadores políticos" na diplomacia portuguesa, em especial nas primeiras décadas após o 25 de Abril. Atualmente, não há nenhum, embora haja rumores de que possa vir a haver em breve um novo "embaixador político". Quem quiser saber um pouco mais sobre este tema, pode consultar aqui um texto que escrevi para uma publicação universitária, depois de uma recolha de dados que fiz sobre o assunto.)

Como é óbvio, todos esses embaixadores americanos são apoiados pelo muito qualificado pessoal diplomático que é formado no "State Department", nome dado à casa-mãe da diplomacia americana. Imagino que deva ser um pouco frustrante para um diplomata americano saber, à partida, que nunca poderá vir a ascender à chefia das embaixadas do seu país em Paris, Berlim, Londres, na ONU e muitas outras, mas que, pelo contrário, pode ter de vir a ter escolher entre Kinshasa, Tegucigalpa, Katmandu ou coisas assim. Mas a regra da carreira diplomática americana é mesmo essa.

Em grande parte dos casos (embora nem sempre), a escolha dos embaixadores pelo presidente americano recai sobre gente qualificada, a qual, sempre muito bem enquadrada por profissionais de carreira, consegue garantir "performances" positivas. Quando às vezes observamos algum comportamento "desviante" por parte de embaixadores americanos, que ocorrem um pouco por todo o mundo (e em Portugal não é exceção), temos de ter em primeira conta que eles são recém-chegados à diplomacia, emanando de outros mundos profissionais. Mas temos, essencialmente, que ter em conta que um embaixador dos EUA - muito pela circunstância de se saber que foi escolhido pela confiança política que o seu presidente nele deposita - não é um embaixador como qualquer outro. 

Por representar a América, ao enviado americano todas as portas se abrem. Por todo o mundo, ele tem o telemóvel do chefe do Estado, do primeiro-ministro ou dos ministros, é recebido com prioridade por toda a gente, a qual muitas vezes até fica deslumbrada só por ter essa aproximação ou por dele receber um convite para jantar ou mesmo só para a festa do "Fourth of July". Contrariamente a um diplomata de um pequeno e modesto Estado, que tem de "subir à corda" para ir criando o seu círculo de relações no país onde está acreditado, o embaixador americano tem quase sempre tem todo o mundo oficial (e algum outro) a seus pés. Isso apenas acontece com ele? Nenhum se lhe compara, embora possamos dizer que os seus colegas britânico, francês, alemão e, às vezes, o italiano, podem dispor dessa facilidades. E, em Portugal, isso é também válido para os embaixadores de Espanha e do Brasil. 

Vi entretanto, no Youtube, curiosas análises destes episódios da série da Neflix, feitas por verdadeiros diplomatas, dando a sua opinião sobre se aquele tipo de cenas têm alguma aderência à realidade, ou se apenas relevam da mera fantasia ficcional. Também tenho a minha opinião, que não interessa para aqui. É que, tratando-se da América dos dias de hoje, toda e qualquer ficção - da comédia à tragédia e ao filme de terror - é uma realidade potencial. 

domingo, novembro 02, 2025

Unipessoal

O problema de figuras com modelos de decisão unipessoal, gerindo poderes com potencial devastador, como é o caso de Trump ou Putin, é que a corte de "yes-men" pode tender a não lhes contrariar os impulsos e a esconder-lhe os efeitos das más decisões. Foi assim com Stalin e Hitler.

Argélia

A relação entre a França e a Argélia bateu no fundo. Agora, na Assembleia Nacional, a direita e setores do macronismo aprovaram uma moção não vinculativa, apresentada pela extrema-direita, para suspender o acordo bilateral de 1968. Na sua tumba, o velho Le Pen deve exultar.

Pouca terra

Aqueles que gritam "vai para a tua terra!" são os herdeiros políticos de quantos achavam que essa terra era "nossa".

Brasil

... e quanto tudo indicava que Lula já tinha garantido uma posição confortável nas suas ambições de reeleição, fruto de um reflexo nacionalista perante a agressão irracional de Trump, o massacre no Rio baralha as contas e oferece à direita um inesperado trunfo. A política é isto!

Na derrota do Vitória

Na noite de hoje, o Benfica foi ganhar a Guimarães por 3-0. No futebol, não são apenas as nossas vitórias que contam, temos de esperar pelas derrotas dos outros. E hoje, não tivemos essa sorte, em Guimarães. O Benfica ganhou e, reconheça-se, bem.

Veio-me agora à memória um outro dia e um outro jogo, há quase 60 anos. 

Num domingo de março de 1966 - nesse tempo, o futebol de campeonato era sempre e só ao domingo - um animado grupo de sportinguistas de Vila Real, no automóvel do Chico Menezes, que a vida castrense haveria de alcandorar ao comando do RI13 muitos anos mais tarde, zarpou cedo pelo Marão, a caminho de Guimarães, para ir assistir ao jogo do Vitória com o Benfica. Antes, como era de regra, tínhamos partilhado o custo da gasolina, atestada na bomba do Platas, ao lado da Sé.

Uma derrota em Guimarães da agremiação lisboeta vestida de encarnado poderia facilitar, nesse ano, a conquista do campeonato pelo Sporting. Ora ambas as coisas, felizmente, viriam a acontecer.

Depois de uma almoçarada "das antigas" na antiga Pensão Vilas, nas Caldas das Taipas, lá estivemos nós - eu, o Chico e o Fernando Menezes, o Olívio de Carvalho, o Mourão, o Zé Macário e um outro amigo (o carro do Chico era imenso) que tinha um primo que nos arranjou os bilhetes - nas bancadas do recém construído "Dom Afonso Henriques". 

Ali nos iríamos mostrar, por hora e meia, mais vimaranenses do que os locais, todos deliciados a ver Costa Pereira encaixar três secos do Vitória, contra apenas dois do Benfica. 

Ainda recordo a animação no regresso, com pousio para uma jantarada regada a verde tinto, no "Príncipe", em Amarante, no clássico largo do Arquinho, criando lastro para as muitas curvas que nos esperavam, serra acima e abaixo, adiante do Alto de Espinho, até à vista de Parada de Cunhos. Nesse tempo, a Brigada de Trânsito, que por ali tinha uma daquelas casinhas amarelas, no cruzamento para a Régua, depois da Toca do Lobo, sem balões para medir os excessos, era bem mais complacente... 

Guardo ainda algures uma foto tirada pelo Zé Macário, desse grupo divertido, no alto da Penha, comigo, elegante e bem novo, de fato e gravata! O Zé e o Mourão ainda se lembrarão dessa gloriosa jornada.

Curiosamente, essa viria a ser a mesma equipa do Benfica, dirigida por Bela Guttmann, que iria emprestar a Portugal o quinteto avançado maravilha que, poucos meses mais tarde, nos iria emocionar, no Mundial de Inglaterra. 

Uma equipa que, curiosamente, tinha tido, dias antes, uma humilhante derrota por 5-1 na Luz, frente ao Manchester United. A mesma que eu também iria ter o ensejo de ver perder de novo, dessa vez para o Braga, a Taça de Portugal, duas semanas após a visita a Guimarães, na única vez que fui ao velho "28 de maio" (anos mais tarde crismado "1º de Maio"). 

É curioso constatar que, numa época que veio a consagrar a sua mítica linha ofensiva no quadro da seleção, o Benfica perdeu tudo quanto podia perder, no plano nacional e internacional. É assim o futebol.

Como será este ano? O verde é a cor da esperança.

sábado, novembro 01, 2025

"A Arte da Guerra" (3)


Trump no Oriente. 

Ver aqui.

"A Arte da Guerra" (2)


Timor no Asean. 

Ver aqui

"A Arte da Guerra" (1)


O sucesso de Milei na Argentina. 

Ver aqui.

Boa noite


Dizemos boa noite num reflexo mecânico de boa educação. E, às vezes, nem damos conta de que há, realmente, boas noites. Mesmo quando o tempo está péssimo, como era o caso da noite de ontem (e parece que vai ser o dia de hoje). Entrei na Gulbenkian, ido do estacionamento de fora (nem sempre temos sorte, é verdade), sob forte chuva. Duas horas depois, depois de ouvir o Pássaro de Fogo, seguido da 7ª de Chostakovitch, pela orquestra da casa, com um maestro uzebeque que era ele mesmo um espetáculo de coreografia, a noite acabou por ficar deslumbrante, chovesse ou não. E chovia. Estou longe de ser um melómano, conhecedor, como tenho amigos que são, pelo que, nesta como em muitas outras artes, julgo só saber destrinçar as coisas muito boas das que são visivelmente medianas. E aquilo foi muito bom! Ainda na ressaca eufórica do concerto, passei à pressa pela casa de um amigo, com quem tinha combinado trocar o meu último Astérix em francês pela versão portuguesa dele. Logo ali ao lado, havia um lugar para estacionar, um restaurante ainda aberto e, hélas!, também uma mesa vaga onde abancámos. Tive um sobressalto pessimista quando deparei com o écran em frente: estava a dar o Sporting-Alverca e, já na segunda parte, o resultado era zero-zero. Mau, Maria! Pedi rosbife. Quando o Papa Figos chegou, o Sporting marcou um golo. Se eu estivesse vestido de verde-e-branco não se teria notado mais, naquela sala, a que clube eu pertencia. O segundo golo já foi comemorado com calma, oferecendo-me a mim mesmo um Bushmills, para cortar o doce do pudim. Saí pela noite chuvosa muito bem disposto. É, afinal, a isto que se chama uma boa noite. É verdade que me contento com pouco, mas cada um é como é, não é?

sexta-feira, outubro 31, 2025

"Isto"


Nos idos de 2011, a direita radical dizia: "não somos a Grécia". Passos dados para o lado e agora mensagem é esta. 

É só Saúde!

Não faço ideia (tenho as minhas suspeitas, mas são só minhas) se a senhora ministra da Saúde é competente ou incompetente. Mas imagino o escarcéu que por aí iria se um governante do PS estivesse a fazer a figura que ela faz. É claro que, enquanto se falar da senhora, o PM passa ao largo...

A Badalhoca


Há uns anos, no Porto, ia num carro, com motorista, a falar ao telefone com alguém. A certo passo da conversa, referi o nome do meu interlocutor, que era bastante incomum. Acabada a chamada, o motorista comentou: "Ouvi o nome da pessoa com que estava a falar. Eu também tenho esse nome, que pouca gente tem". Concordei com a raridade do nome, comentei a coincidência e ele acrescentou: "A mim, quem me pôs o nome foi a badalhoca". 

Naquele instante, não soube como reagir. Estaria ele a querer ser desagradável para alguém, insultando-a dessa forma? O homem notou o meu silêncio e, para evitar dúvidas, esclareceu: "A Badalhoca, a Dona Lurdes, da tasca do presunto, lá em Ramalde. É amiga dos meus pais e foi a minha madrinha".

A Tasca da Badalhoca, nome que se colou à senhora que até agora era sua proprietária, sem que ela com isso se importasse minimamente, tem quase um século e é famosa por servir, além de muitas outras coisas, um presunto magnífico. Aquando da sua criação, as más condições de higiene dessa famosa tasca boavisteira terão justificado o nome por que popularmente a loja era conhecida. Na atualidade, é um local agradável, tal como a sua extensão na rua da Picaria. Ouvi também dizer que teria uma filial em Matosinhos, que ainda não conheço. 

Se estiver no Porto e quiser uma bela sanduiche de presunto, vá à Tasca da Badalhoca, na sua casa de origem, no bairro de Ramalde. Será uma homenagem à Dona Lurdes, tal como o "Jornal de Notícias" hoje faz, e muito bem, ao assinalar a morte da senhora na primeira página.

quinta-feira, outubro 30, 2025

Os amigos de Delors


Hoje, na sessão de apresentação de um seu livro, em que revisita as quase quatro décadas da nossa integração europeia, em cuja primeira linha ele próprio se situa, Vitor Martins notou a "liga dos antigos combatentes europeus" que estavam espalhados pela sala. É verdade, e também podia qualificar-nos como "os amigos de Delors", em lugar de Alex, tal é a saudade que o antigo presidente da Comissão Europeia deixou e o facto dessa sua memória federar ainda a nossa adesão ao projeto integrador do continente.

Almoço de trabalho

 


De caras


No inicio de um encontro diplomático sobre cujo desfecho há muitas incógnitas, a regra é manter as caras fechadas para a fotografia. Quando, no final, há resultados a anunciar, distender as caras também é de regra. A exceção é sempre Xi Ji-Ping, com aquele esgar giocôndico onde se pode ler tudo.


quarta-feira, outubro 29, 2025

Chegou


Chegou há pouco. Agora, leitura com calma. Só depois se passará para a tradução portuguesa, para avaliar se está à altura. Cada coisa a seu tempo, porque com os clássicos não se brinca.

Arábia Saudita - a chave do puzzle americano

Ver aqui .