duas ou três coisas
notas pouco diárias de Francisco Seixas da Costa
domingo, outubro 26, 2025
Again?!
Costas largas
Está a entrar na moda um substituto do estafado "A culpa é do Passos". Agora diz-se "A culpa é do Costa".
sábado, outubro 25, 2025
Encarnados
Goste-se ou não do Benfica - e eu não gosto -, há que convir que o número de votantes nas suas eleições é impressionante.
Digo eu, não sei!
Lendo o que por aí vai saindo sobre o elevador da Glória, com todas as dúvidas e interrogações técnicas que só tendem a crescer, a probabilidade daquele veículo de transporte entre os Restauradores e o Bairro Alto voltar a funcionar começa a ser bastante remota.
Mais rigor
É claro que é uma excelente notícia que uma gestora altamente qualificada vá assumir a presidência de um grande banco em Portugal. Mas releva do preconceito dizer que isso é um caso inédito, esquecendo a atividade bancária, com "governance" discutível, é certo, da Dona Branca.
A cunha na hora
O filósofo do olhar
Cheguei lá de mãos a abanar. Não há castanhas assim à mão de semear por essa Lisboa. Fomos falando, à medida que a máquina ia disparando. Depois, a surpresa. Já tive muitas fotografias de estúdio na vida, mas nunca ninguém me tinha dito, a certo passo, para ir dizendo mentalmente um poema, enquanto estava a ser fotografado. Não era preciso declamar, bastava "falá-lo" interiormente. Que poema escolhi? "As mãos". Ontem, mandou-me uma fotografia: "Escolheu Manuel Alegre e no instante certo o cabo disparador foi accionado. Eis o resultado!" É curioso: aquela imagem, que guardei, ficará sempre associada ao poema que então eu dizia para dentro. Passa a ser uma fotografia com moldura poética.
Horas depois enviou-me outra. Nessa, eu estou com um olhar estranho. Disse-lho. Retorquiu, por mensagem: "O retrato capta quem somos, quem podemos ser, quem estamos quase a ser e também o que poderíamos ser". Caramba! Retratos assim poucos se podem dar ao luxo de ter. Só os não reproduzo aqui, como fui autorizado a fazer, porque não.
O retratista chama-se Veríssimo Dias. Teve uma vida por mundos que já foram outros, nota-se que adora o que faz, embora a sua faina profissional de base fosse distante da fotografia. Talvez por isso, faz esta magnificamente, de forma leve, natural, com um rigor suave, por onde perpassa um sentido estético de exigência.
Às vezes, a vida ainda nos surpreende. Foi o caso.
sexta-feira, outubro 24, 2025
"A Arte da Guerra"
What seems to be new
Everyone knows Donald Trump’s opinions are like yogurt: they don’t keep long and can turn sour fast. We also know that facts have a way of quickly overturning expectations. That said, and without wanting to sound naive, it’s fair to admit that in all the spectacle around America’s renewed involvement in the Middle East, two genuinely new things have appeared.
Eu comemoro!
As Nações Unidas são uma reserva de autoridade moral no plano internacional que o mundo não pode dispensar. O papel extraordinário que a organização e as suas estruturas e agências desempenham hoje pelo mundo surge obscurecido pela impotência que lhe é imposta por quantos querem ter as mãos livres para atuar, não apenas à sua revelia mas, essencialmente, pondo de lado os seus princípios.
Neste dia - que eu comemoro! - deixo um abraço de amizade a essa figura de bem que é António Guterres, nele representando todos os portugueses que atuam no seio da ONU, com um destaque conjuntural para Jorge Moreira da Silva, pelo seu extraordinário empenhamento no minorar da tragédia de Gaza.
O que parece novo
Todos sabemos que as opiniões de Donald Trump são como os iogurtes: têm prazo curto de validade e podem acidular com facilidade. E também sabemos que a realidade dos factos pode, de um momento para o outro, infirmar qualquer esperança criada com ligeireza.
Dito isto, e sem querer correr o risco de ser ingénuo, há que convir que, em todo o espetáculo que envolve o novo empenhamento americano no Médio Oriente, surgiram duas coisas realmente novas.
A primeira, é o facto do plano para Gaza, que Trump vendeu a quem o vai pagar, não implicar a saída dos palestinos desse território. Andemos para trás uns meses e logo concluiremos que isto estava longe de adquirido.
A segunda, tem a ver com a Cisjordânia: a firmeza com que o J.D. Vance e Marco Rubio rejeitaram as ideias expansionistas que emergiram no Knesset pode ter fechado a porta ao "grande Israel", o que significa, desde já, uma implícita oposição aos novos colonatos - coisa verdadeiramente nova na atitude americana, bastando olhar para as votações na ONU sobre o tema nas últimas décadas.
Trump, por vaidade ou por tática, desenhou ou comprou um plano que, à primeira vista, pode tê-lo libertado de se colocar a reboque do comportamento de Israel. Com o massacre cometido em Gaza, Israel deve estar agora a perceber que avançou para "a bridge too far".
Por esta altura, tudo indica que a esperança de Netanyahu é que o Hamas, ou alguém em "falsa bandeira" por ele, lhe dê um pretexto para romper o cessar-fogo. Noutra dimensão, invocando razões geoestratégicas a que Washington possa ser sensível, até para manter o fluxo da ajuda militar, Israel pode vir a desencadear ações com alguma espetáculo nos seus mercados tradicionais de impunidade - Líbano, Síria, Iemen, quiçá Irão - que lhe possam servir como fator de diversão.
Por ora, este pode estar a ser um tempo algo desconfortável para a liderança israelita, menos à vontade para gerir, com a liberalidade habitual, aquilo que, lá no fundo, alimentava ser o sonho do "espaço vital" do Estado judaico - pedindo de empréstimo um conceito que, com total frieza, seria útil reavivar na sua memória.
Pim?
O Estado de que eles gostam
quinta-feira, outubro 23, 2025
Astérix
Muito cuidado!
Os serviços de informação portuguesa vão fazer um amplo recrutamento, tendo em conta o défice em matéria de recursos humanos que afeta aquela estrutura do Estado. Desejo muita sabedoria no processo: numa área tão sensível, o extremo rigor na seleção é essencial.
quarta-feira, outubro 22, 2025
Anti-colonialismo
Manuel Alegre vai receber uma distinção do governo angolano. Muito bem! Há décadas que clamo contra a falta de reconhecimento, da parte dos países africanos de expressão portuguesa, face a quantos, em Portugal, combateram o colonialismo, arriscando a sua própria liberdade.
Agora, na hora da morte
Há horas, depois de falar na SIC da figura de Francisco Balsemão, dei comigo a pensar que, na hora da morte de um político, contam menos as palmas de quem ideologicamente dele esteve próximo e, muito mais, as palavas de respeito de quem estava distante de algumas das suas ideias.
"Olhe que não, olhe que não!"
Pode ver aqui.
Balsemão
Não pretendo fazer aqui um obituário completo de Francisco Pinto Balsemão. Outros o farão bem melhor do que eu. Deixarei apenas algumas notas pessoais.
Com a morte de Balsemão, desaparece alguém que era a personalidade viva mais destacada de quantos fizeram a transição entre o período mais aberto da ditadura com os mais de cinquenta anos de democracia que lhe sucederam.
Desde que começou a ter atividade política, Balsemão mostrou sempre ser um democrata, pelo que a sua entrada no regime que saiu do 25 de Abril se fez com total e indiscutível naturalidade.
Deputado da União Nacional (mas não da sua sucessora, a Ação Nacional Popular), soube, com imensa dignidade, tal como Sá Carneiro, afastar-se de Marcelo Caetano, para não servir de alibi liberal (a palavra liberal tinha, por essa altura, bom nome e era usada na aceção anglo-saxónica) a um regime autoritário que recusava devolver a liberdade ao país. Balsemão bateu com a porta e isso dignificou para sempre a sua história pessoal.
Para mim, contudo, quase tão importante como o político, Francisco Pinto Balsemão acabou por ser o notável criador, ainda em 1973, dessa "pedrada no charco" no jornalismo português que foi o "Expresso". Balsemão nunca escondeu a sua costela de jornalista e acho que sempre considerou essa faceta como um dos aspetos centrais da sua vida. Devemos-lhe também a SIC e, com ela, um grupo de comunicação social, a Impresa, que, nos dias de hoje, estará, ao que se sabe, a atravessar tempos muito difíceis.
Ao longo da vida, cruzei-me muitas vezes com Francisco Pinto Balsemão, com quem criei uma excelente relação pessoal e a quem só devo simpáticas atenções. Quando passei pelo governo, conversámos muitas vezes sobre as implicações europeias do negócio mediático, tema que o apaixonava e em que se tornou um especialista. Em 2012, ambos fizemos parte do grupo de trabalho, nomeado pelo governo, que preparou o Conceito Estratégico de Defesa Nacional, para vigorar na década seguinte. Depois, ambos trabalhámos, por alguns anos, num conselho consultivo dentro da Universidade Nova de Lisboa, por ele presidido. Há tempos, quando lançou, na cidadela de Cascais, uns encontros anuais de reflexão estratégica, teve a simpatia de ser o moderador da sessão de abertura do primeiro desses debates, sobre a Europa e o mundo, entre Carlos Moedas e eu. A seu convite, tive o gosto de apresentar no ISCTE um livro de que foi co-autor com o político cabo-verdeano José Maria Neves. Salvo raras ocasiões sociais, vimo-nos pouco desde então.
A democracia portuguesa fica de luto, com a morte de Francisco Pinto Balsemão. Digo-o com a maior sinceridade e respeito. Quem me conhece sempre me ouviu afirmar, desde há muitos anos, que ele era das escassas personalidades da direita portuguesa em quem eu poderia ter votado para Presidente da República.
Deixo as minhas condolências à família de Francisco Pinto Balsemão.
terça-feira, outubro 21, 2025
Homenagem ao Elísio
Durante muitos anos, Elísio Amaral Neves ajudou a cidade de Vila Real a ter orgulho na sua cultura, conseguindo trazer ao de cima coisas que muitos nós nem suspeitávamos que podiam fazer parte da nossa identidade e história coletiva. Em todas as áreas onde interveio, o Elísio foi sempre um marco de empenhamento e de rigor.
segunda-feira, outubro 20, 2025
Olrik na terra dos coronéis
O meu amigo Fernando Pinto do Amaral suscitou no Facebook a pertinente possibilidade do assalto de ontem ao Louvre ter sido levado a cabo pela mão tenebrosa do coronel Olrik. Se o leitor não sabe quem foi Olrik - quem é e quem eternamente será - talvez não valha a pena continuar a ler este texto.
domingo, outubro 19, 2025
Começou a época!
Em dois dias, já cá cantam duas dúzias! (Já terá sido inventada uma maquineta para descascar as mais renitentes?)
Ukraine under pressure
"Cumué", Néné?!
Saiu da cena da vida, ao que acabo de saber pelo Armindo Quinteira, o Nené (Carlos Correia, de seu nome). Na imagem, numa festa do liceu, está entre o Quinteira e o Olívio, com o Coroliano a surgir por detrás.
O Néné era irmão gémeo do Jujú, filhos do senhor Carlos da sapataria. Entrámos juntos para as aulas do professor Pena, na Escola do Trem, nos idos de 1954. Juntos seguimos para o liceu. Anos mais tarde, a geografia das vidas separou-nos o quotidiano. O Jujú foi para o Porto. O Néné ficou em Vila Real, onde tinha a sapataria com o nome do pai. A amizade com ambos os irmãos manteve-se, para sempre.
Por muitos anos, quando regressava a Vila Real, mantive um agradável ritual de visita a lojas comerciais onde tinha pessoas amigas, alguns de infância e juventude, outros da idade adulta: o Tito Gomes da dita Gomes, o Neves da Pompeia, o João Nascimento oculista, o Bragança dos jornais, o Jorge Santoalha dos tecidos, o Euclides da funerária, o Eduardo dos eletrodomésticos, o Pires fotógrafo, o Salgueiro da relojoaria, o Alonso da Real, o Néné da sapataria, o Eduardo da papelaria, o Carvalho da drogaria, o Alfredo Branco da livraria, o Zé Macário fotógrafo, o Dr. Otlílio da Setentrião, a Rosa das castanhas, o Joaquim Mesquita da farmácia, o Zé Araújo das antiguidades, o Fernando Choco dos jornais, o Albertino Ribeiro das ferragens e alguns outros. Esse ritual foi variando e esmorecendo, quase sempre ao ritmo da desaparição das pessoas.
Na sapataria do Néné, ao pé da capela nova, eu entrava e atirava-lhe a mesma pergunta, uma expressão local que não era para ter nenhuma resposta: " 'Comué', Néné?!" Lá vinha um abraço, uns minutos breves de conversa - até ao outro Natal ou à Páscoa ou ao verão. Um dia, dei conta que as montras da sapataria do Nené passaram a estar fechadas com jornais. Perguntei por ele. Andaria doente.
E agora: "Comué, Néné?!"
sábado, outubro 18, 2025
Quando um palerma ...
Na minha terra, a quem vinha com argumentos deste calibre costumávamos dizer: "quem te atasse um arado!"
Se calhar é verdade...
Ouvido ontem: "Portugal é um paraíso para os estrangeiros ricos e um inferno para os portugueses pobres".
É tão simples!
A questão é de segurança coletiva e de transparência cidadã: quem circular no espaço público, salvo em tempos de emergência sanitária, tem de poder ser identificado através da visualização da sua cara. Levar a questão para o terreno religioso é uma cretinice.
A Ucrânia em sete pontos
sexta-feira, outubro 17, 2025
Raízes
Há muitos anos, constou nos cafés de Lisboa - onde as coisas constavam ... - que um livro de História tinha sido recolhido das livrarias pela Pide.
quinta-feira, outubro 16, 2025
Gozar ?
Trump vai encontrar Putin na terra de Orbán. Na véspera, o seu alucinado ministro da tropa tinha dado sinais aos atarantados colegas da NATO de que Washington ia endurecer a posição face à Rússia. Até parece que Trump anda a gozar com a malta.
"A Arte da Guerra"
Esta semana, em "A Arte da Guerra", com António Freitas de Sousa, analiso a situação política em França, as propostas de paz de Trump para Médio Oriente e os jogos tarifários entre os EUA e a China, quiçá com a Rússia como efeito colateral.
Pode ver aqui.
quarta-feira, outubro 15, 2025
Ação climática
Foi uma animada mesa-redonda aquela que, ao fim da tarde de hoje, o Clube de Lisboa / Global Challenges organizou no magnífico Museu de Lisboa, no Palácio Pimenta, sobre "A ação climática entre agendas nacionalistas e tensões geopolíticas".
Quem nunca ... ?
Um comboio da CP deixou ficar para trás uma carruagem! E logo houve quem se tivesse mostrado escandalizado. Há gente tão sectária! Perder um elevador na Glória ou uma carruagem no Alentejo não é sinal de incompetência nem de descuido com o material. Vendo bem, pode acontecer a qualquer um...
Chamar os bois...
Se a filosofia do trumpismo fosse expressa na Europa, a imprensa dar-lhe-ia o nome daquilo que ela é: extrema-direita. Em Portugal, tal como no caso do Chega, usam-se para ela prudentes circunlóquios semânticos: populismo, direita "radical" e coisas fofas assim. Será por medo?
terça-feira, outubro 14, 2025
"Olhe que não, olhe que não!"
Hoje, no "24 Horas", foi editado o primeiro programa "Olhe que não, olhe que não!", uma conversa sempre deliberadamente "caótica", entre mim e Jaime Nogueira Pinto. Falámos da geografia das Revoluções em Portugal e de alguns dos seus atores.
Só para lembrar
A quantos aplaudem que os EUA tenham imposto um cessar fogo em Gaza, lembraria que, desde há décadas, a América aceita que Israel incumpra as resoluções da ONU que tentavam proteger os direitos dos palestinos e alimenta a máquina militar que chacinou dezenas de milhares em Gaza.
Crimes de guerra
Uma figura acusada de crimes de guerra não deixa de o ser apenas pelo facto da guerra ter eventualmente acabado ou sido suspensa. Os acusados de Nuremberg não deixaram de ser condenados só porque o conflito terminou. Portugal, subscritor do TPI, deve lembrar isto na Europa.
segunda-feira, outubro 13, 2025
Uma vergonha nacional
Encostadas a uma parede, constato há meses que jazem por ali umas dezenas de máquinas de leitura dos passaportes eletrónicos, novinhas em folha, pelos vistos sem o menor préstimo. Não funcionam, vá-se lá saber porquê. Quanto custaram? Não me digam que foram pagas por fundos europeus...
Ao fundo daquelas imensas filas de gente, lá estão os insuficientes funcionários daquilo a que já se chamou SEF e agora deve ter outro nome qualquer. E, pessoa a pessoa, longos minutos decorrem, até que os tais turistas, ou gente que viaja muito simplesmente para aqui vir trabalhar, serem atendidos. Ou, já agora, nós, portugueses, que pagamos impostos, taxas e somos assim retribuídos no nosso contributo de cidadania.
Hoje foi assim. Depois de acabado o primeiro suplício, o dos passaportes (já tínhamos estado encafuados em autocarros, parados por longos minutos na placa), fomos obrigados, para receberem as malas, a atravessar um corredor longuíssimo, com um fluxo de gente em sentido contrário, o torna tudo muito incómodo. Nada de tapetes rolantes, de ser para ajudar à forma fîsica do pessoal! Depois de descer à sala de recolha de bagagens, tivemos que fazer um outro percurso, agora no sentido oposto. A nossa passadeira era a 13, logo por azar, lá no fundo da sala. Recebida a mala, volta-se outra vez para trás, até finalmente se sair. É a fase da busca de um taxi, na fila das chegadas. É o momento "siciliano" do dia, por razões que me abstenho de desenvolver.
Mas voltemos à questão do controlo dos passaportes. Um amigo, hoje como eu naquele ambiente de infuncionalidade, lembrava-me uma coisa simples: contrariamente a uma urgência hospitalar, que pode ter picos difíceis de prever, o número de pessoas e as horas a que os passageiros chegam a um aeroporto é a coisa mais previsível do mundo. Com antecedência, sabe-se os horários a que os aviões aterram, sabe-se, no essencial, quantas pessoas trazem, é possível conhecer, com forte aproximação, o número de passageiros que, numa determinada manhã ou tarde, se apresentarão às autoridades de fronteira. Então pir que não têm lá gente necessária para tornarem aquilo mais expedito? Desconfio, muito seriamente, que é por pura incompetência dos serviços "competentes". E, já agora, por falta de vergonha e de sentido de responsabilidade por parte quem que dirige aquilo.
domingo, outubro 12, 2025
Carmine
Amália no Carnegie Hall
Foi emocionante ouvir em fundo a voz de Amália Rodrigues a cantar, na memorável noite de ontem, no Carnegie Hall, em Nova Iorque. Parecia que ela estava ali, como há décadas esteve.
sábado, outubro 11, 2025
Diane Keaton
sexta-feira, outubro 10, 2025
Parabéns, Maduro!
Parabéns a Nicolás Maduro! A útilma pessoa que Trump ajudará a subir ao poder na Venezuela é Corina Machado. Que perfídia do Comité Norueguês!
Ó diabo!
Paz
Robert Badinter
quinta-feira, outubro 09, 2025
Nova Iorque, sempre
Desembarquei pela primeira vez em Nova Iorque em dezembro de 1972. Recordo uma cidade gélida, ventosa, com um sol sem calor. Mas tudo tinha então uma imensa graça: os esquilos do Central Park, que nos vinham comer à mão, os porteiros da Park e da 5ª Avenidas, fardados como generais soviéticos, as clássicas nuvens de vapor a sair do asfalto e aquele coro de ambulâncias e carros de bombeiros que ninguém me convence que não fazem parte de uma coreografia de som deliberadamente alimentada para animar o turismo.
França: o jogo presidencial das direitas
Durante meses, contudo, a luta foi intensa dentro do partido. Laurent Vauquiez, que continua a chefiar os deputados do Les Républicains, perdeu a luta interna para Retailleau, uma figura subitamente emergente no olimpo da direita republicana, que se agarra como uma lapa ao Ministério do Interior, uma posto que, em França, é sempre uma interessante rampa de lançamento político.
Oriundo do nacionalismo folclórico de Philippe de Villiers, agora promotor de uma tentativa de referendo sobre a imigração, Retailleau foi o principal "culpado" do falhanço do governo de Sébastien Lecornu, numa arriscada lógica de "destruição criativa", cujo efeito final na opinião pública ainda não é muito evidente.
Para já, deixa claro que o Les Républicains não apoiará uma nova solução governativa titulada por socialistas ou macronistas. Vistas as alternativas possíveis, quase se pode adivinhar que só um seu militante colocado em Matignon o satisfaria.
Para os analistas, isto tem graça. Desconfio que terá menos para os franceses.
Já agora...
Eu sei que é capaz de ser um pouco tarde, mas talvez valesse a pena tentar que o auto-proclamado promotor da paz mundial incluísse no seu currículo de estrondosos êxitos o caso do conflito de Olivença. Não custava nada fazer esse esforço...
quarta-feira, outubro 08, 2025
Catarina de Albuquerque
terça-feira, outubro 07, 2025
segunda-feira, outubro 06, 2025
La France
"Comment voulez-vous gouverner un pays où il existe 258 variétés de fromage ?" De Gaulle tinha razão. Hoje caiu mais um primeiro-ministro francês, este ainda antes de ter sido empossado. Assim se prova que a "genial" demissão da Assembleia Nacional, decidida por Macron em 2024, só juntou o caos à confusão.
Macron testará agora outro nome ou decide-se por fazer uma nova dissolução? Se optar pela primeira "solução", é quase certo que terá de ir buscar alguém mais à esquerda, com Cazeneuve com hipótese mais abrangente ou Faure para esgotar as hipóteses socialistas. Contudo, só por milagre qualquer deles teria hipótese de formar um governo que passe no parlamento.
No caso de uma dissolução parlamentar, parece afastada a possibilidade da esquerda se unir numa renovada "Nouveau Front Populaire". As ambições de Mélenchon quanto à presidenciais de 2027 ("il ne pense qu'à ça!") impedem uma nova união das esquerdas. A prazo, a clarificação política pode vir a favorecer o PSF.
Se acaso houver novas eleições, a possibilidade do Rassemblement National vir a reforçar a sua atual preeminência parlamentar é bastante grande. Nesse cenário, a hipótese de Macron ter de vir a chamar Jordan Bardella para primeiro-ministro é assim muito elevada. A hipótese de vir a recriar-se um "front républicain" para travar o Rassemblement National, que já só foi limitado nas eleições de 2024, já não é plausível nos dias de hoje.
Macron poderia também escolher sacrificar-se e resignar, por falta de soluções e com o estafado argumento de "dar a voz ao povo". Não parece ser esse o seu estilo, tanto mais que ele se considera um líder na Europa, onde de facto o apreciam mais do que no seu país, onde hoje naufraga nas sondagens. A sua autoridade europeia fragilizar-se-á à medida que o descalabro interno da França se acelerar.
Acaba por ser muito triste o percurso político de Macron! Em 2017, parecia ter conseguido fazer a impossível quadratura do círculo - "ni droite, ni gauche" - de quantos, sendo intimamente de direita, acham que o disfarce centrista iludirá eleitores de esquerda. Como sempre, até que um dia o "bluff" se desfaz!
domingo, outubro 05, 2025
Em Vila Real, há 115 anos...
... o rei não apareceu, o jantar não aconteceu mas o menu existiu e sou proprietário de um dos exemplares.
sábado, outubro 04, 2025
sexta-feira, outubro 03, 2025
O Carvalho e o Yom Kippur
Corria o ano de 1973. E nós, cadetes na Escola Prática de Infantaria, relutantes frequentadores do Curso de Oficiais Milicianos, corríamos duas vezes por semana um "cross" pela tapada de Mafra. Cada pelotão era uma trintena de pessoas arrancadas à vida civil, alguns com umas barrigas que, nos dias de hoje, seriam insultosas para o rigor apolíneo de Pete Hegseth. Em muitos casos, tinham curso superior e emprego interrompido, alguns eram casados e com filhos, Mafra era uma escala da vida que quase todos bem dispensariam. Mas por alguma razão é que o serviço militar era obrigatório.
O "cross", com G3 ao ombro, naquelas manhãs frias, era um esforço que, apesar de tudo, durava menos minutos do que aqueles que o nosso cansaço parecia indicar. Mas era um suplício, pelo menos para mim. Alguns "arreavam" e ficavam para trás, a maioria tentava seguir, estóica, o passo do Carvalho. É que se este desconfiasse que estávamos a fingir o cansaço, podia haver como castigo uma recusa de saída do quartel no fim de semana.
Quem era o Carvalho? Era um alferes de carreira, comandante do nosso pelotão. Bastante mais novo do que quase todos nós, tinha a autoridade que lhe era conferida pelos galões (na realidade, só um galão, o de alferes) e, fora disso, aquela que fosse conseguindo impor ao grupo que comandava. Era um tipo simples, algo rural, que foi tendo a inteligência de procurar uma aliança implícita connosco. No pelotão, eu irritava-o bastante, porque mandava muitas graças e, frequentemente, indisciplinava o resto do pessoal. Mas o Carvalho desde cedo que percebeu que era melhor não esticar a corda, não abusar da sua autoridade.
Um dia, contudo, o Carvalho acordou "chicalhão" e dedidiu prolongar o "cross" para além daquilo que era humanamente aceitável. Teve a consciência que estava a exagerar, ria-se e parecia gozar connosco. Não gostei e, sempre em passo de corrida, aproximei-me dele e, em voz baixa, disse-lhe: "Quer ser o meu alferes a acabar com o cross ou acabamos nós?" Não percebeu e perguntou-me o que queria dizer com aquilo. Com as palavras a saírem-me difíceis, pela exaustão, esclareci: "Estamos todos muito cansados. Ou dá ordens para voltarmos ao passo normal ou todos nós paramos, e lá se vai a sua autoridade". Ele entendeu e, segundos depois, deu voz de comando para acabar a corrida e começarmos a andar normalmente. Vi que ficou furioso comigo. Eu não tinha mandato dos meus colegas, mas arrisquei e ganhei. Até ao fim da recruta, o Carvalho nunca mais olhou para mim direito.
Mafra acabou em junho. Em outubro, eu estava no Lumiar a fazer o segundo ciclo de uma especialidade que já me não obrigava a fazer "cross": Ação Psicológica. Por essa altura, o governo de Marcelo Caetano tentou "puxar dos galões" e quis condicionar os americanos no uso da base das Lajes, para ajudarem militarmente Israel, que vivia dias de acosso pela guerra do Yom Kippur. Portugal tinha todo o direito a fazê-lo, à luz do acordo que regia a presença americana na base. Mas os americanos não estiveram com contemplações e, praticamente, disseram a Lisboa: ou o governo português dá autorização formal para o uso das Lajes com aquele propósito ou a força aérea americana utiliza de qualquer forma a base e Lisboa perde a face e a sua autoridade formal. Marcelo Caetano recuou.
Fugindo às malhas da censura e graças a informações oriundas das Necessidades, nessas semanas que foram muito mais tensas do que aquilo que o país soube, os diplomatas que estavam comigo na tropa - o António Franco e o Vasco Bramão Ramos - relataram-nos, nas pausas na parada da Escola Prática de Administração Militar, no Lumiar, os apuros em que o sucessor de Salazar estava, pela pressão de Washington. Confesso que me foi então difícil explicar o sentido de uma curta frase que meti no meio da conversa: "No fundo, o Marcelo Caetano ficou na posição do Carvalho". E lá tive eu de contar a história de Mafra, com apoio de um outro camarada que tinha testemunhado a cena.
Por que me lembrei agora disto? Ora essa! Não é óbvio?
Again?!
A edição de um livro que é um chorrilho de banalidades já fazia temer o pior! Agora veio o anúncio. O Partido Democrático americano está mes...








































