domingo, setembro 27, 2015

Sobre o papa

Nada me liga às crenças religiosas, salvo um batismo por que não fui responsável (e de onde, aliás, rezam as crónicas familiares, saí com uma pneumonia de que me salvei à justa). Mas, naturalmente, sou tributário de um "template" moral marcado pelos princípios católicos, como a esmagadora maioria dos portugueses. Grande parte das pessoas que me são próximas definem-se (mais ou menos) como católicas, respeito as suas convicções e reconheço, porque é uma evidência, o importante papel institucional da igreja católica na sociedade portuguesa. O automatismo da resposta de setores religiosos portugueses na questão dos refugiados demonstra um elevado sentido de responsabilidade social. Aliás, muitas das melhores pessoas que conheço são católicas. No entanto, isso não me impede de continuar a olhar, com escandalizada estupefação, para a circunstância da igreja católica acolher alegremente, sem os estigmatizar e denunciar, como me pareceria natural, quantos dos seus ditos "fiéis" que, no seu dia-a-dia, se comportam à persistente revelia dos seus princípios. E há imensos! A igreja pode, com isso, continuar a assegurar paletes de prosélitos, mas desqualifica-se como referente ético. Mas, na realidade, nada tenho a ver com isso, não são eu quem gere essas regras, sou e serei sempre "de outra freguesia"!

Aquando da eleição do papa que está em funções, dei por aqui nota de que o assunto me era quase indiferente. Na realidade, era e não era. Não gostei de Ratzinger, embora apreciasse a profundidade do seu pensamento, em especial em temáticas europeias, e nunca tive qualquer simpatia por Karol Wojtyla, não podendo nunca esquecer a sua imensa hipocrisia no caso de Timor-Leste. Aliás, a diplomacia "florentina" do Vaticano, que parece fascinar muitos, incluindo no nosso MNE, apenas me interessa como objeto de estudo. Sempre a considerei eivada de grande oportunismo e de um sentido complacente que releva basicamente de uma fria "realpolitik", que tem a maximização e preservação da influência como objetivo central. Faço parte de quantos têm suficiente memória para ainda recordar o cardeal Cerejeira, o destino do bispo do Porto e a medalha do Vaticano dada a Silva Pais pelo papa Montini. (Já sei! O mesmo que recebeu os líderes independentistas das colónias portuguesas).

Quero com isto dizer que a escolha do atual papa me surpreendeu. Um católico dirá que o conclave que o selecionou foi inspirado, como é de regra, por "pressões" exteriores à Roma terrena. Tudo bem. Mas, na leitura menos espiritual que é a minha, gostava de sublinhar, ao ver e ouvir o atual líder da religião católica, a profunda (e muito sincera) admiração que sinto pela sabedoria que, muitas vezes, tem prevalecido na seleção das figuras dirigentes do Vaticano. A igreja católica, pense-se dela o que se pensar, é uma máquina institucional inteligente e sábia. A escolha do atual papa, uma figura humana notável, com uma coragem e uma sensibilidade muito raras para interpretar o sentimento de muitos, foi um ato de grande inteligência estratégica. Às vezes, a sobrevivência da instituição tem levado a igreja católica a compromissos que eu quase ousaria dizer "com o diabo". Mas uma outra face desse mesmo instinto obriga-a a procurar a sintonia com a maioria dos crentes, o que conduz a escolhas tão interessantes como a que trouxe à ribalta o papa Francisco. Para um não crente, apetece dizer: "Chapeau!" Ou deveria dizer "Mitra"?

17 comentários:

Anónimo disse...

Embaixador, começo por dizer que sou ateu, ao contrário de muitas pessoas que se refugiam no meio termo do agnosticismo, eu sempre me afirmei como ateu o que me tem valido ao longo da minha vida alguma ignorância de algumas pessoas. Concordo plenamente consigo, devo dizer que todos os Papas são mais ou menos iguais. Esta visita aos Estados Unidos, apenas visa reforçar o catolicismo naquele País por via das grandes migrações latinas que para lá vão. As pessoas tem que de uma vez por todas entenderem que O Papa é um chefe de Estado que tem uma determinada agenda.

Anónimo disse...

Caro Chico

Costumo dizer e escrever que fui católico - mas curei-me... Por aqui, tenho dito.

Ainda que me reprovem a afirmação estou (mais do que) cem por cento de acordo com o teu texto. Já vejo os críticos do costume - e principalmente os "anônimos" das diferentes horas - a chamar-me lambe-botas: quando andava no Liceu Camões dizíamos manteigueiros o que não me faz bossa, estou habituado, tenho as costas largas.

Não gosto (na generalidade) de papas; na especialidade muito menos de papas de milho, de aveia e/ou de linhaça que aguentava quando estava constipado ou mesmo engripado. Um aparte ainda que nada tenha a ver com papas: odeio o óleo de fígado de bacalhau... Ponto assente ainda que dora da ordem dos trabalhos dou para a mesa uma petição.

Francisco é outro papa; não tem (quase) nada que o ligue aos antecessores. Teve a coragem de romper com muitas práticas de Roma; por isso, digo eu e muitos mais, tem a cabeça a prêmio ou até no cepo. Ainda recordo a morte misteriosa de Albino Luciani, por pouquíssimo tempo João Paulo I...

Na verdade, o Vaticano é uma cova de víboras; quem atenta contra a sua nomenklatura (não é só o Kremlin que a tem...) paga. De formas diversas - mas paga. E sem sequer confessar os seus pecados - que são muitos.

Confesso que ando preocupado com o papa Francisco que se lhe acontecer "qualquer coisa"; isso quereria dizer que terminava abruptamente a "Nova Igreja". Espero bem que tal não aconteça. Repito: não gosto de papas - mas deste Francisco gosto - e muito.

Abç do Leãozão (Bessa... esquece)

Abraham Chevrollet disse...

As organizações milenares,exércitos,igrejas,apuraram os métodos para escolher os seus chefes e conseguem um grau de sucesso razoável.

Jaime Santos disse...

Onde o Sr. Embaixador se foi meter! Como já não sou Católico, acho que os que o são é que devem decidir que Igreja é que querem ter. Francisco não enjeitou nenhum dogma religioso, mas a sua postura de pastor, a sua simplicidade e o seu passado (por oposição aos dois guerreiros anti-comunistas que o antecederam) representa uma lufada de ar fresco, muito necessária a uma Igreja que ainda recupera do escândalo dos abusos sexuais por parte de Padres Católicos e da protecção dada a estes pela Hierarquia. Mas convenhamos que por outro lado, Francisco se revela um profundo embaraço para o actual Centro Esquerda Europeu, preocupado em não se desviar do Tratado Orçamental e preocupado com a fuga de votos para a Extrema-Direita provocada pela perda das classes populares por via do seu alinhamento com a Direita em matérias económicas e pelas questões ligadas aos refugiados e à Imigração. Ele é hoje, com Obama, a principal referência em termos da defesa de valores que (espera-se) são ainda caros ao Centro-Esquerda: combate às desigualdades crescentes, à Xenofobia, à destruição ambiental e mesmo ao materialismo (com m pequeno, bem entendido) das Sociedades Contemporâneas...

Anónimo disse...

Rápido que ainda vou para o banho antes da missa das dez e meia:

- essa do baptismo devia ser lida por um padre meu conhecido que me dizia que o baptismo livrava o corpo de todas as enfermidades.

- a igreja de Roma é isso mesmo, romana, terra que não consta ser santa.

- há qualquer coisa da Cartuxa de Parma na forma como muita gente vive o catolicismo. Se bem me recordo a menina fez uma promessa de não voltar a ver o amante. Cumpriu: encontravam-se às escuras num anexo.

Gostei de Ratzinger. JP II foi como diz relativamente a Timor, foi grande no fim do comunismo, e foi uma miséria moral nos abusos sexuais, ele ou outros em nome dele.

Por cá confrange-me a hierarquia. Acho o Cardeal uma nulidade e desconfio que florentino, o do Porto é outra nulidade, outros são arrivistas e um sei que é uma belíssima pessoa, por sorte o da minha diocese, que não identifico.

O catolicismo genuíno está nas paróquias, no povão, na igreja de base, com as suas fraquezas. Padres finos e congregações de negócio são como aquela espuma que se forma no caldo que ferve e que é para ir limpando. Infelizmente têm poder a mais.

o que me preocupa é ver que os novos estão a perder a ligação mas há também indícios de que poderá mudar.

Quanto aos S. João Césares das Neves só digo: Deus Nosso Senhor nos livre dessa gente à porta. Se não fosse o púlpito laico da Católica não passaria de professor universitário num instituto do interior, nas terras do demo, como dizia alguém.

Anónimo disse...

Pois, por acaso o camarada (um socialista de 1ªágua!)Bruno Craxi, também estabeleceu um frutuosa ligação entre a "seita" maçonica P2 e um cardeal também amante dos $$$$$$$$...

Portugalredecouvertes disse...


Sr. Embaixador, não me leve a mal, só me veio à ideia perguntar se o seu batismo teria sido de imersão, do tipo que era usado por São João Batista?!!!

E venho acrescentar que também tenho muita simpatia pelo papa Francisco. Acho que é muito querido!
Penso que um estado tão pequenino como o Vaticano, teria pouca hipótese de sobrevivência se não alinhasse com ordens dos mais fortes...
A igreja terá a sua força no grande povo que se inspira da sua doutrina positiva; alguns serão mais complicados para respeitar! mas ainda existe:
• Não matarás
• Não roubarás
• Não levantarás falso testemunho
• Não cobiçarás as coisas do próximo...etc.

bom domingo
Angela




Anónimo disse...

Foi pena a pneumonia...

Helena Sacadura Cabral disse...

Caro Francisco
Deus me guarde - :-)) - de me envolver nesta polémica. Apenas lhe digo que os Papas do meu coração foram João XXIII e Ratzinger, por muito estranha que esta escolha possa parecer.
Francisco, o actual pastor, ainda não conseguiu tocar o meu duro coração. Mas acho simpático que ambos - ele e o meu amigo -, tenham o mesmo nome. E permita-me a ousadia de lhe dizer que, às vezes, muda-se de freguesia mesmo sem se ter mudado de morada...

Anónimo disse...

Escrevi um dia que Francisco foi o antitodo que Roma inteligentemente encontrou para travar o esmagamento definitivo da ética e da cultura católica pela ética da Reforma, que os católicos portugueses bem instalados apoiam com o entusiasmo de quem não percebe o que lhe está a suceder.
Fernando Neves
P.S. Admirável coragem de quem se atribui valentia por se declarar ateu e assina 'Anonimo'

alvaro silva disse...

Sempre que vejo ateus?(graças a Deus), mijo-me a rir. São como os futebolistas a discutir rugby Não vêm um chavo! Mas são ateus com sede, em particular se for de vinho de missa.

Anónimo disse...

Eu sou Católico mas não gosto desde Papa pois acho-o um tanto ou quanto Marxista...

Sérgio

Fada do bosque disse...

Boa noite Senhor Embaixador,

Realmente compreendo porque tudo está a virar de cabeça para baixo e costumo dizer que a culpa é dos mass media, como sempre controlados pelo poder instituído.
Mas quanto ao Papa, parece que a mentira vai ter que seguir em frente, pois haverá muito boa gente que irá dar em louca. Agora sim, compreendo os veteranos americanos tais como o Sargento Robert Dean e Philip Corso, que dizem que verdade será revelada, mas ainda irão correr rios de sangue e lágrimas.

O papa Francisco, tão querido dos ocidentais foi condenado pelo ITCCs Org e é procurado pela Interpol

http://itccs.org/2015/09/21/will-the-pope-face-arrest-by-interpol-this-week/


Os melhores cumprimentos.

Anónimo disse...

Ó Embaixador, está a ver porque é que lhe digo que nós os ateus assumidos somos vitimas da ignorância de pessoas que vivem na escuridão. Tem ai dois desses casos nos comentários

Anónimo disse...

Não é que não goste de ler os seus textos mas não era preciso um considerando tão prolixo para emitir a sua opinião sobre o Papa! Parece que tem receio de o considerarem crente... que, como sabe, é precisamente igual à adesão de forma incondicional a não crente... Porque humanista, cada um é mais que o outro... só "teriam" que cumprir com o que propalam...
Quanto a espiritualidades, S. A. já arranjou uma solução matemática para todos, crentes e não: Concluiu que se pode passar para outro universo através de um buraco negro. Portanto é simples, cada um tem que arranjar o seu buraquito negro... Pode ser que o Sr. consiga um buraco negro que o leve para um universo onde não haja pneumonia...

Jose Tomaz Mello Breyner disse...

Senhor Embaixador

Ao contrário da maioria dos seus leitores sou Católico, e acho que o Espirito Santo nos tem dado sempre o Papa certo na altura certa. Eu consegui ter a Graça de gostar de todos os Papas que conheci, e este não é excepção, é o Papa certo na altura certa, e no fundo é isso que o Senhor Embaixador nos está a dizer, embora não o queira admitir.

Um abraço

carlos cardoso disse...

Estamos a falar de um senhor que disse que dava um murro na cara de quem dissesse mal da mãe?

Por mim está tudo dito.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...