Um dia, no final de 1967, no bar do Centro Universitário do Porto,
ali perto da rua da Torrinha, onde então vivia nos meus primeiros anos
universitários, alguém me disse que o "Jornal de Notícias" andava à
procura de "recrutas" para cobertura de jogos dos campeonatos
distritais de futebol.
Eu andava então convencido que percebia de futebol: tinha feito, dois
anos antes, um curso de arbitragem promovido pela Associação de Futebol de Vila
Real e vivia fascinado pelas táticas, discutindo com afinco e (suposto) saber a
evolução do WM, as diferenças entre o "ferrolho" suíço e o
"catenaccio" italiano, a então magna questão sobre quando o 4-2-4
deveria, em face de certas circunstâncias, evoluir para um 4-3-3.
Leitor atento dessa "bíblia" que era "A Bola",
mandava bitaites com ar de iniciado, opinava mesmo sobre as opções táticas de
uma forma algo pretensiosa. (Nada, porém, que se compare com as cátedras que
agora por aí se veem nas televisões).
Sob a recomendação de alguém, fui então falar com Frederico
Martins Mendes ao "Jornal de Notícias". O jornal ainda não era conhecido
pela sigla JN, mas sim por “Notícias", da mesma forma que se dizia o "Janeiro"
para "O Primeiro de Janeiro" e o "Comércio" para "O
Comércio do Porto", os quais, com o “Diário do Norte”, faziam então o pleno
da imprensa diária portuense.
As minhas expetativas de potencial "grande repórter"
desportivo ficaram logo reduzidas à modéstia da realidade do que me era proposta:
o que se pretendia era que eu escrevesse umas escassíssimas linhas sobre cada
jogo, complementadas pela constituição das equipas, pelas substituições e pelos
marcadores dos golos. Tudo em muito poucas palavras, pouco mais do que uma
mensagem de "twitter" para cada partida.
O óbice, para quem vivia então num ambiente em que a noite era o
lugar onde passava os dias, é que os jogos eram aos domingos de manhã, em
campos às vezes recônditos na periferia da cidade, obrigando a levantar
"de madrugada" ou, em desespero, a fazer "diretas" das
noitadas na "Candeia" ou na "Japonezinha", às vezes culminadas
com uma ceata no “Ginjal” ou no “Transmontano”. Vida difícil!
Durante alguns meses, para arredondar a mesada e melhorar as doses
no “Zé dos Bragas”, para ir ao cinema ou comprar mais livros na Unicepe, lá fui
ganhando algum dinheiro na tarefa, em ensonadas e frias manhãs ao lado de “rivais”
do “Comércio” e do “Janeiro”.
O Frederico Martins Mendes desapareceu, há dias. Desde que numa divertida
noite, em Lamego, recordámos, entre risadas, esta nossa comum historieta, ele
passou a dizer que me tinha dado o meu primeiro emprego. E era verdade! Aqui deixo
um abraço saudoso ao meu primeiro “patrão”.
(Artigo que hoje publico no "Jornal de Notícias")
1 comentário:
caro embaixador
guardou alguns desses seus artigos historicos?
cumprimentos
Enviar um comentário