Durante vários anos, fui um ávido consumidor dos "balanços" que são feitos pela comunicação social, nos finais de ano. Partia do princípio que isso me ajudava a recuperar informação que, por uma qualquer razão, me havia escapado durante os doze meses precedentes. Lia assim com atenção os trabalhos de síntese dos jornais e revistas, e cuidava em não perder as compilações televisivas - sobre política, personalidades, cinema, arte, livros ou música. Nos "bons tempos", cheguei a guardar em pastas, como fanático da recolha informativa que sempre assumi ser, alguns desses sumários escritos de factos e eventos.
Não consigo datar o momento em que "deixei cair", por manifesta falta de interesse, esse tipo de informação. Só sei que, nos dias de hoje, nem sequer passo os olhos por esses apanhados de factos e notícias que a comunicação social anualmente ainda não dispensa, embora me pareça que com um entusiasmo cada vez mais reduzido. No meu caso, essas páginas e esses programas televisivos ignoro-os em absoluto. Nem sequer tenho curiosidade em tentar interpretar os critérios seguidos, quase sempre identificadores de opções editoriais subliminares, em que seria instrutivo reconhecer.
Dou-me conta que o mesmo me ocorre com os anuários. A partir de inícios dos anos 60, adquiria com regularidade o "World Almanac and Book of Facts", um calhamaço americano, vendido então a preço muito acessível (lembro-me que custava menos de dois dólares) onde constava tudo, desde fichas de países a todo o tipo de records, bem como listagens das coisas mais inconcebíveis. Com algumas pontuais "recaídas", deixei-me disso nos anos 80 mas, quase em sequência, passei a adquirir, sem falha, os magníficos "Yearbook" da "Encyclopaedia Britannica", volumes caros mas do melhor que já vi editado. Porém, também estes, a partir de certa altura, deixaram de me interessar e jazem hoje sem a menor consulta, ocupando largo espaço (tal como as dezenas de volumes da própria "Britannica", somados aos ainda mais numerosos livros da "Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira" e suas atualizações) nas minhas estantes.
A que se deverá este desinteresse por estes mananciais de informação? Pode haver outras explicações plausíveis, derivadas de qualquer alteração de prioridades, que me estejam a falhar. Porém, a simples conclusão pessoal a que cheguei é que a razão essencial dessa minha mudança de atitude só tem um nome: Google.
7 comentários:
normal, com os anos mudamos, estávamos a acumular algo inútil, no fundo era tralha que nos ocupava espaço e que pouco valia para o futuro. alem de que temos o nosso próprio juízo sobre os factos, os acontecimentos do ano, etc
Nem mais. Tenho/tinha uma colecção ligeiramente diferente da sua - estranho no francófilo assumido que é a ausência de títulos dessa origem como, por exemplo, «L'état du Monde» ou o «Quid» - mas subscrevo o alívio que foi para o peso das bibliotecas a dispensa desse género de "portentosos" volumes anuais.
A substituição de todos eles pelas consultas "on-line" terá sido um momento "seminal" - como agora se diz - para os detentores de grandes colecções de livros, que passaram a poder prescindir de todos aqueles necessários por causa dos "hard data" que continham.
Mas também não deixa de me preocupar a dependência com que se fica da Net. No caso dela ser atacada e perdermos o acesso a ela, deixamos de ter "memórias" para passarmos a ter apenas umas "vagas ideias". Enfim, e como diria Abraracourcix, esperemos que amanhã não seja a véspera desse dia.
Votos de Feliz Ano Novo!
Estava a pensar por associação de ideias, na prenda que recebi neste Natal e que adorei ,( pese embora o o olhar triste de saudosismo e a deceção de quem me ofereceu livros, que adorei na mesma),
um kindle com uma autêntica biblioteca dentro,de um livro de bolso, desde a poesia aos livros científicos desde os romances aos livros de história e histórias, fascinante...
Pois é! Também eu, durante várias décadas, colecionei dezenas de volumes de enciclopédias diversas, para um dia, quando reformado, pudesse ter um manancial para consultas. Perda de tempo e dinheiro! Tudo isso jaz em prateleiras ocupando espaço e pó... Quem imaginaria que um dia houvesse algo com a capacidade do Google?
MT
A fartura seja do que for(comestível ou do espírito) tem sempre o mesmo efeito:
redução da apetência.
Eu adiantaria que a informação dessas enciclopédias e/ou livros de autores tem a garantia de ter sido estudada, confirmada, etc
no Google, poderemos ter surpresas desagradáveis se repetimos o que lemos sem confirmar e comparar com o que se publica em vários sítios sobre o mesmo assunto,
google e infoxicação (excesso de informaçao de qualidade duvidosa)
Abraço e Bom Ano Sr. Embaixador
Enviar um comentário