A vaga de demissões que afetou o "Diário de Noticias", e que ameaça outras empresas do grupo, é uma notícia triste. Embora esperada. Custa ver o jornal entrar numa fase da sua vida cuja resultante final não sabemos qual será. Custa ver muita gente a perder o emprego, alguma que sei de grande qualidade. Custa pressentir que o DN pode nunca mais voltar a ser o que já foi, se bem que, nos últimos tempos, tivesse enveredado por um modelo que, para um leitor leigo mas atento, "não era carne nem peixe", misturando textos de grande qualidade com notícias simplificadas e pouco trabalhadas, numa espécie de "digest" de "takes" de agência.
Sou leitor do tempo do DN da "Moagem" (sabem lá as novas gerações o que isto significa...). Ainda li editoriais épicos de Augusto de Castro (embaixador em Paris, bem antes de mim), passei pela "evolução na continuidade" com Fernando Fragoso, aturei sem entusiasmo (e li muito menos) o seu oficiosismo radical no PREC, bem como a fase morna do controlo socialista. Só me voltei a reconciliar com o DN quando Mário Mesquita começou a pôr ordem, rigor e independência ("Deus não dorme!") no jornal. A partir de então, o DN, sem nunca ter passado a ser um jornal excecional, era para mim uma espécie de "Diário da República" informal: estava lá tudo, funcionava como um registo do essencial que se passava.
Em homenagem ao jornal, de que espero poder continuar a ser leitor, deixo aqui a clássica citação do Eça, em "A Cidade e as Serras", quando Jacinto, cansado de procurar na sua imensa biblioteca do 202, em Paris, algo para levar para a cama, para ler, fez uma derradeira opção: "Findou por voltar ao montão de jornais amarrotados, ergueu melancolicamente um velho "Diário de Notícias" e com ele debaixo do braço subiu ao seu quarto, para dormir, para esquecer".
8 comentários:
Junto-me ao elogio a Mário Mesquita que fez na altura um jornal de primeiríssima qualidade. E concordo com todas as outras opiniões sobre o percurso do DN.
João Vieira
uma dezena (!) de jornalistas do dn passaram para assessores (e outras cargos) do actual governo. isto depois de andarem a trabalhar para o merecerem, nos anos anteriores. se os jornais permitem que os jornalistas usem o jornal para fazer política activa (como foi manifestamente o caso, apesar das chamadas de atenção do provedor do jornal) o destino dos jornais será sempre este que agora vemos.
é pena, é um nome a preservar, faz parte da historia da imprensa e continua no presente, há que fazer algo, renovar, dar nova força.
quais as causas da situação e das deserções?
outros jornais que lamento são o século, jornal de grande qualidade, e alguns outros vespertinos, o lisboa, o popular, a republica
Concordo com a Dra. Helena Sacadura Cabral. O DN tem excelentes jornalistas, mas pelo que se tem visto nos últimos anos, ter alguns bons jornalistas não é suficiente para fazer um bom jornal. E, é triste dizê~lo, a maioria dos que lá escrevem não são bons.
Sou leitor/comprador do jornal há muitos anos; tenho por isso notado a degradação da sua qualidade. E, pelo rumo que está a trilhar, não creio que vá longe.
É uma pena! Ou não?
A direcção de Mário Mesquita marcou uma época e foi famosa a sua destemida bravata, de invulgar qualidade estilística, de um lado e de outro, com o então ministro Almeida Santos.
Pergunta do dia, mudando de assunto: qual é coisa qual é ela que passou hoje a Conselheiro Principal da UE e simultaneamente a Director do BERD em Londres? Ainda há alguém que vaticine que Juncker possa ser alguma coisa na vida depois de o director de campanha já ter sido hoje arrumado neste lugar? Resposta a este apartado.
Francisco
Repito o comentário que saíu uma salgalhada maior que a do PS. Se me permite corrijo:
"Fui opinar para o DN pela mão de Bethencourt Resendes e por lá fiquei gostosamente uns anos. Mantive-me mesmo com com novos dirigentes.
Mas saí com a a actual direcção. Felizmente!
Mantenho no jornal amigos de então, que muito estimo e, espero, não estejam abrangidos nesta voragem.
Pese embora a actual direcção do jornal não ser do meu gosto, o DN mantém excelentes jornalistas."
ENDOECONOMIA - ver no google esta palavra. - Fiz ao DN uma proposta de se realizar uma Grande Reportagem sobre este tema, a anos. - E, nem resposta tive. - Portanto, quem conhecer algum jornalista que quiser entrevistar Roberto Moreno, o autor, posso garantir que a GEOpress.org - "compra o DN" e ninguém será despedido, muito pelo contrário! - Agora, só falta localizar o jornalista curioso.
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