quarta-feira, junho 25, 2014

Anomia

Veio-me à ideia o triste conceito de anomia, ao ouvir, há pouco, alguns "populares" de Oeiras falarem do "seu" presidente, ontem libertado. É, de facto, típico de um país que já perdeu as suas referências aquele que apoia quem "rouba mas faz", na lógica de que "há outros bem piores". E é sintomático do estado da informação das nossas televisões a cobertura simpática feita a um delinquente, que lesou as finanças públicas e que abusou em seu proveito de bens públicos, cuja condenação não ofereceu a menor dúvida e que utilizou, de forma quase obscena, sucessivos recursos para deixar prescrever outros crimes, que o fariam repousar por muitos anos na prisão se onde agora conseguiu sair. E, se se ouvirem bem as declarações do prisioneiro agora em liberdade condicional, todos deveremos perguntar-nos sobre o grau do "arrependimento" que alegadamente motivou a decisão do juiz que o soltou. Isto está bonito, está!

20 comentários:

Anónimo disse...

Por esta vez estou de absoluto acordo relativamente ao "condicionado".
Não tem vergonha nenhuma; nem ele nem os mentecaptos lá da terra.

Anónimo disse...

O antigo ministro da Justiça Santos Pais comentou então, muito judiciosamente, que a fuga dos prisioneiros de Alcoentre era"normal dentro da anormalidade".

Anónimo disse...

Está do melhor!

O actual (ainda) presidente, foi eleito, porque iria dar continuidade à "obra feita".

E os festejos da vitória à porta da prisão?

Vistas curtas...

Anónimo disse...

Salazar:
Basta ver as reações do nosso povo diante dos grandes crimes a que os jornais dão proporções escusadas. O primeiro movimento é de violência, de rancor, quase de ódio contra o criminoso, contra os seus maus instintos, contra a fera etc. etc. mas o assassino é julgado e há sempre uma figura humana que aparece na teia ao seu lado: a companheira dedicada, a mãe velhinha, o filho abandonado. E logo se sente uma reviravolta, um movimento de compaixão na opinião pública. Coitado! Pobre homem! Bem basta já o que sofreu! E quando á lida a sentença, quando a pena é justa, mas grande, sente-se de novo nas entrelinhas dos jornais, nos rumores do público, um novo movimento de violência, de rancor, quase de ódio mas contra os juízes, contra a justiça.


Qual anomia, qual carapuça. É mas é o costume!

João Vieira

Anónimo disse...

O Isaltino foi para a “pilra” e bem, mas a escória da Banca (Banca de todos os regimes, antes e depois de Abril) fica de fora, isto apesar de trafulhar milhares de milhões para fora, a salvo de impostos, em off-shores da...UE! entre outros. Com um arguido como escolha para a chefiar e um deputado do governo para a integrar. Aqui a Justiça nada faz. Muito menos o Governo, que tem por missão salvar a Banca (à custa do zé-contribuinte. Pagaram alguns já, mas a que preço? A que juros? Com que benesses? E as empresas privadas, o motor económico de um país, que tipo de apoio e a que juros, têm? A não ser que sejam Grandes. Aí têm as encomendas dos governos para os negócios do Estado) e não os Isaltinos da vida. Noutro país, estes banqueiros trafulhas estavam era também na tal “pilra” a fazer companhia ao Isaltino, só que por muitos e mais anos. Não seja brando com o BES, como foi no outro Post. É fácil malhar no Isaltino, mas no Salgado e pilantras limtª é muito, mas muito, mais difícil. Exige mais t...
Nuno Fragoso

Anónimo disse...

Parece até que se precatam com mais algum prevendo abonar os juristas para praticarem os atos procrastinatórios. talvez seja visto como uma forma "moderna" de "negócio"!
Quem paga aquilo tudo é quem se entretém com a notícia e não dá conta.
Mas, se só fosse um...
antónio pa

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Nuno Fragoso: no caso vertente, os tribunais "falaram". Aguardemos o que aí vier sobre o BES. Eu não sou juíz. É culpado quem os tribunais assim o entenderem. Até lá, é "achismo"

josé ricardo disse...

Caro Francisco Seixas da Costa,

confesso que fiquei surpreendido pelo teor acidado do seu ponto de vista. Confesso também que me é muito difícil discordar dele. Com efeito, Isaltino simboliza, de certo modo, a baixa política, ou o que ainda consegue submergir a partir desse nível. Mas também serve para nos caraterizar. Somos todos um pouco Isaltinos. Andamos a ver se nos governamos. Não é o que fazem os políticos, questionar-se-á a vox populi? Olhe-se, por exemplo, para a tradicional promiscuidade público-privado, em que ex-políticos e ex-governantes aparecem em lugares de topo de fortes empresas privadas. Haverá grandes diferenças?
Andamos, de facto, um pouco perdidos. Infelizmente, seria a escola a dar a resposta adequada e natural a um povo - custa-me afirmá-lo - ainda atrasado. Mas não é com esta gente eu isto lá vai.

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro José Ricardo: não confunda as coisas. O caso vertente é um delinquente condenado por um tribunal. A tal "vox populi" não julga, manda "bocas". E "não somos todos um pouco Isaltinos". Essa agora!

Anónimo disse...



Subscrevo
Isabel seixas

Unknown disse...

Caro Francisco

Claro que não somos todos Isaltinos! Mas, pelos vistos, a tal vox populi (que anda muitas vezes associada à vox Dei) devia ter em conta as trafulhices criminosas de Isaltino Morais.

Porém, batem-se palmas de contentamento pela soltura condicional do individuo. Sempre que se fala nele recordo-me de, quando jovem, fui de automóvel Rio - São Paulo.

Aos lados da rodovia havia cartazes de Adhemar de Barros que diziam em letras graúdas Adhemar rouba mas faz. Os "bons" exemplos são sempre seguidos...

Abç

josé ricardo disse...

Sim, compreendo a separação das águas e concordo com ela. Na verdade não quis afirmar, objetivamente, que somos todos Isaltinos. Mas não tenho assim tanta certeza que a tal vox populi, a tal que manda bocas, condena estas personalidades.
Um exemplo, provavelmente despropositado: calhou ver a primeira parte do jogo Portugal-Alemanha na rua, no Porto. Como sabemos, houve um jogador português que agrediu um adversário, recebendo ordem de expulsão (pareço já um "comentadeiro"...). Pois bem, não ouvi uma única reação crítica por parte da assistência. Pelo contrário, bateram-lhe palmas. Há uns anos, o mesmo se passou com João Pinto, agora responsável federativo. Isaltino, mesmo na cadeia, ganhou as últimas eleições autárquicas, com jubilosas comemorações à porta do edifício.
Isaltino está já cá fora (o advérbio não é crítico, embora possa parecer...). Vamos ver o que o espera. Pelas primeiras impressões, temos homem, novamente. E também imprensa para o alimentar.

Anónimo disse...

Eu confio nos tribunais, do Constitucional à Relação. Se esta o soltou deve estar certa. Mas que há muitos que deviam estar lá dentro...Constâncio, Oliveira e Costa, Rendeiro, Dias Loureiro, Salgado, et ainsi de suite, devem ser devidamente julgados - alguns deste já o estão a ser. Carlos Costa também está a ver se se safa mas o BCP persegue-o. Espero que se faça justiça relativamente aos mencionados e a outros. Os que forem culpados devem ir dentro e os que não o forem que fiquem cá fora.

Defreitas disse...

Perfeitamente dito, sobretudo " É, de facto, típico de um país que já perdeu as suas referências aquele que apoia quem "rouba mas faz", na lógica de que "há outros bem piores".

Exactamente. E talvez esteja aqui o maior problema : a ignorância, dos cidadãos, do que não pode, de maneira nenhuma, ser aceite, sem pôr em perigo a democracia.

Quando se observa a historia dos escândalos políticos, chega-se facilmente à conclusão que a corrupção é tão velha como a política ela mesma. Nos reinos, o monarca, sendo proprietário dos seus sujeitos e de tudo o que lhes pertence, mobiliário e imobiliário, não tinha necessidade de roubar ou de cometer actos de corrupção para os obter.

Entretanto as coisas mudaram : os príncipes e princesas participam agora, também, nos negócios ilícitos.

Mas são os políticos eleitos pelo povo que em todos os países exploram a ignorância ou a estupidez popular para roubar aqueles mesmos que os elegeram!

Este tema da corrupção revolta-me. E se alguém tiver a pachorra de ler todos os relatórios publicados pelos tecnocratas de Bruxelas verá que, mesmo se a Europa definiu a corrupção como um delito, força é de constatar que Bruxelas é a capital mundial da corrupção assumida. Como a do Isaltino Morais. Assumida !

Copiada sobre o modelo americano dos grupos de pressão, chamados Lobby, existe oficialmente em Bruxelas 3500 empresas que se registaram como Lobbies cujo trabalho é de fazer pressão "à outrance" sobre o legislador para obter leis, directivas em seu favor e no seu interesse e não mais em favor do povo. Mas na realidade, existem mais de 15 000 grupos em Bruxelas cujo único motivo de presença é a corrupção activa dos funcionários da UE. Ninguém se esconde nem receia o que quer que seja da justiça.

E chegou-se assim ao paradoxo que são os corruptores que escrevem as leis nas suas empresas para as fazer simplesmente aprovar como princípios de progresso para toda a União Europeia.

Os dinheiros comunitários que afluíram a Portugal, e a outros países, despertaram a imaginação e o apetite de muitos autarcas, e não só.

Os políticos inventaram um sistema de corrupção branca que não diz o seu nome e se chama PPP, Partenariado - Público - Privado. Sob esta sigla se escondem as piores espoliações do povo pelo seus políticos. Privatizar, sem o dizer, os serviços públicos, que se oferecem a empresas privadas onde serão reciclados mais tarde todos os políticos quando não forem ministros , deputados ...ou autarcas!

No caso Isaltino Morais, o que me revolta é que os juízes , finalmente, tenham considerado que o crime não era realmente grave, visto a brandura da pena aplicada. Só lhes falta fazer uma lei para dizer que um acto de corrupção não o é . Foi o que fez Berlusconi na Itália, ao fazer votar pelo parlamento mês após mês, todas as leis que o impediam de ir para a cadeia, como a despenalização da falsificação dos balanços duma empresa.

Caso para perguntar até onde pode ir a imoralidade nestas brandas democracias apodrecidas pelo dinheiro.

Anónimo disse...

Enfim...
Aí está uma situação que precisa de criticas e indignação ao triste exemplo...

Isabel Seixas

patricio branco disse...

ora aí esá um termo que não conhecia, vou ver no dicionario, algo como anomalia mas sem o mal?
efectivamente há quem defenda a teoria que a corrupção, o roubo publico, as mafias, são impulsionadoras da economia, roubam mas fazem mexer as coisas.
pablo escobar dirigia o cartel da prisão luxuosa que tinha sido construida para ele. em nivel mais pequeno, pequenos politicos provincianos fazem algo no genero, dirigir com cordelinhos autarquias ou o que seja onde o titular é um testa de ferro que vai a despacho à cela.
mas a corrupção autarquica´não é um crime grave nesta terrinha, antes se fecha o olho e é olhada com simpatia, etc etc

Anónimo disse...

Pois, José Ricardo tem razão quando diz que somos todos um pouco isaltinos!
O grande problema é o conjunto de: a pequena corrupção, o compadrio, os afilhados, as primas etc (alguém que atire a 1ª pedra). Isto está completamente entranhado e torna a sociedade podre! Como dizia Hernâni Lopes: à nossa volta só se vê porcarias!
antonio pa

Anónimo disse...

O apodrecimento social português é muito notório e há muitos anos.
Eu apenas sou um não-politizado por isso todas estas coisas me doiem mais pois não lhes encontro as atenuantes partidárias.

Faro Algarve disse...

Estou de acordo!!

Defreitas disse...

Diz-se, desde sempre, que a Itália é o pais da"combinazioni" ! Isto é, a capacidade de "dar a volta" aos problemas aparentemente insolúveis, mesmo se os métodos são ilegais. O "jeitinho" português, em suma!
O problema é quando o jeitinho se transforma num "sistema" abrangente que , como uma metástase , sobe até ao nível mais elevado do Estado.

Quando estas "tolerâncias' complacentes, grandes ou pequenas, existem a não importa qual nível da sociedade, é a democracia ela mesmo que se encontra desacreditada.

Vamos lá explicar a tantos necessitados de "jeitinhos" para sobreviver, que a democracia é essencialmente um projecto ético, fundado sobre a virtude e sobre um sistema de nobres valores que dão um senso ao poder , quando vêm todos os dias as principais forças políticas, em plena harmonia mafiosa, porem-se de acordo para enganar os cidadãos !

Os borregos

Pierre Bourguignon foi, ao tempo em que eu era embaixador em França, um dos grandes amigos de Portugal. Deputado à Assembleia Nacional franc...