terça-feira, junho 24, 2014

BES

Nos dias que correm, os bancos não são empresas como quaisquer outras. A banca está definitivamente colocada no centro do processo económico-financeiro europeu e não é por acaso que, nos últimos anos, é em seu torno que se desenvolvem os grandes debates da União. Os contribuintes europeus já sofreram na pele o custo da irresponsabilidade de alguns operadores bancários e os efeitos detrimentais das suas ações na estabilidade global do sistema. Os bancos parece serem privados enquanto dão dinheiro, mas passam a problemas públicos quando entram em crise.

Por essa razão, não é legítimo que os agentes políticos portugueses olhem para a crise no BES como se isso significasse apenas um emergir de problemas conjunturais numa qualquer empresa privada. O governo sabe que as coisas não são assim e, em nome dos cidadãos - e dos contribuintes - que representa tem de dar mostras claras de estar atento a uma saga que não se esgota nos meandros da família Espírito Santo. Longe disso! O argumento da separação de interesses não é válido e não pode ser esgrimido com ligeireza. Ou alguém tem dúvidas de que, se as coisas acaso correrem mal, alguém nos virá cobrar ao bolso? Deixemo-nos, pois, de formalismos ridículos e assumamos a importância destas coisas.

Neste contexto e nos dias que correm, a família Espírito Santo pode não estar à altura da responsabilidade do nome que herdou. As explicações absolutamente incríveis dadas sobre o que ocorreu na gestão dos interesses da estrutura financeira no Luxemburgo, somadas à patética irresponsabilidade revelada em Angola, agravadas pelas dissidências e conflitos públicos entre os familiares, que deveriam mostrar solidez e determinação num momento desta delicadeza, provam que estamos perante um grupo em real crise de liderança e objetivos. E ao ter optado por uma solução de continuidade, titulada em alguém que está ainda sob suspeita, não revela bom-senso e faz temer o pior, agora para o banco.

Espera-se que o supervisor, o Banco de Portugal, seja capaz de tomar as decisões que possam acautelar o interesse público. Com firmeza, transparência e sentido de responsabilidade.

8 comentários:

Anónimo disse...

Ainda sou de um tempo em que o BES era uma instituição portuguesa de prestigio no mundo. Depois de 1975....enfim....Mas isto agora....I am speachless....

EGR disse...

Senhor Embaixador : certamente que, qualquer dia, mais alguém virá dizer que "vivemos acima das nossas possibildades" ou que não podemos voltar a "irresponsabilidade" dos ultimos governos.
Aliás hoje o PR já afirmou, dirigindo-se ao Presidente da República Federal Alemã, que este poderia estar certo que "os portugueses aprederam a lição dos três utimos anos".
Eis o PR em todo o seu esplendor político !

Um Jeito Manso disse...

Ai Embaixador, que tempos estes em que parece que não há uma que corra bem... Esta do GES/BES já foi longe demais e o Carlos Costa do BdP que anda a ser tão louvado actuou tarde e más horas e está a deixar isto prolongar-se para lá do razoável.

E esta de escolherem para chairman do BES um homem que é presidente do Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações da República Portuguesa e que sabe para além da conta...?

Tudo isto é preocupante e 'levemente' nauseabundo. E o pior é que é sabido que, quando a casa está suja, são os pobres coitados do costume que são chamados a limpá-la, não os 'senhores da casa'.

Uma tristeza tudo isto.

Defreitas disse...

Diz-se que nos anos 1930, Henry Ford teria dito que era finalmente uma boa coisa que os Americanos não saibam como funciona realmente o sistema bancário, porque se soubessem, "haveria uma revolução amanhã de manhã".

Ao ler o "post" do Senhor Embaixador, pensei em Henry Ford!

Muitos delitos foram cometidos estes últimos anos pelos bancos e os seus dirigentes - escroques, branqueamento de dinheiro, organização da fraude fiscal, delitos de iniciados ou manipulações, particularmente. Entretanto, nenhum banco perdeu a sua licença ou foi desmantelado por decisão da justiça. Excepto a Lehman Brothers! Excepto nalguns casos, poucos, ( o banco islandês Glitnir), , nenhum banqueiro foi condenado a uma pena de prisão. Os bancos seriam eles todos acima das leis? Os bancos seriam eles "demasiado grandes para ser condenados ?
"Too big to fail" ou "To big to jail" !

A justiça dos EUA e da Europa está confrontada a graves delitos cometidos pelos grandes bancos. A burla dos clientes, pequenos accionistas e accionistas públicos, branqueamento de dinheiro do crime organizado, fraude fiscal sistemática a grande escala, manipulação das taxas de juros (Libor, Euribor,...) manipulação em bando organizado dos mercados de câmbio, destruição de provas, delitos de iniciados, enriquecimento abusivo, manipulação dos Credit Default Swap, manipulação do mercado das matérias primas, cumplicidade em crimes de guerra.. E a lista não é exaustiva!


O que dizem os grandes manitus da finança, e conseguem amedrontar os governantes com este discurso, é que , em substância, estas instituições são tão grandes que é difícil de persegui-los , e que se fossem inculpados por actos criminosos isso poderia ter repercussões negativas para a economia nacional e mesmo mundial.

Assim tudo é claro : A especulação e os crimes financeiros têm causado a pior crise financeira desde o século passado, mas isso pesa pouco na balança da justiça. Apesar de se saber que tais excessos estão associados a uma epidemia de fraudes, a todos os níveis das operações bancárias, estas instituições estão autorizadas a continuar as suas operações. Basta-lhes fazer um acordo com a justiça afim de pagar uma multa para evitar uma condenação.

Quando penso que nos EUA, por exemplo, 14 milhões de famílias foram expulsas do seus domicílios, que milhões de pessoas perderam os seus empregos, que uma parte delas passaram para baixo do nível de pobreza, que o numero de suicídios aumentou exponencialmente no grupo das pessoas afectadas, que a divida pública explodiu e os fundos de pensão dos países desenvolvidos perderam cerca de 5 400 biliões de dólares, pode-se perguntar o que é preciso fazer para merecer a cadeia neste mundo da finança selvagem criminosa.

E cá estamos de novo naquela situação que já denunciei aqui : A imbricação estreita , o incesto, entre as direcções dos Bancos, os seus grandes accionistas, os governantes e os diferentes órgãos vitais do Estado. Veremos o que dará o seu apelo ao Banco de Portugal !

Ou então, temos de dar algum "crédito" àquele indivíduo da Goldman Sachs ( Lloyd Blankfein,) que disse: " Não vamos lá condenar na justiça um dirigente bancário que "não fez nada mais que o trabalho de Deus" !

No BES, alguém também fez " o trabalho de Deus" !

E alguém num "post" precedente me falou de Democracia !!!

Anónimo disse...

Eu acho que o Senhor Embaixador deveria ir para Presidente do BES. Veja-se o excelente trabalho que antigos governantes no MNE têm feito no BCP e no BANIF (e no BES Açores). As Necessidades são uma excelente escola para a banca.

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro anónimo das 11.27: com a mesma ironia com que escreveu o comentário, eu poderia dizer que o MNE é una excelente escola para gerir "Necessidades"...

patricio branco disse...

necessitamos desse velho e tradicional banco que faz parte do nosso dia a dia e paisagem, saber que as coisas não iam bem por lá dá inquietação.
mas saneado e o bdp neste caso tem de actuar com criterio e segurança, não como fez com o bpn.

Anónimo disse...

Em pouco tempo é a terceira vez que escreve "uNa" em vez de "uMa"...

Os borregos

Pierre Bourguignon foi, ao tempo em que eu era embaixador em França, um dos grandes amigos de Portugal. Deputado à Assembleia Nacional franc...