Vi há dias uma fotografia do dr. Fernando Nogueira, presidente da fundação BCP. E recordei alguém que, depois de saído da liderança do PSD, vai para vinte anos, se remeteu a uma discreta vida profissional, abandonando por completo a vida política.
Conheci-o pessoalmente em Londres, no início dos anos 90, ao tempo em que desempenhava as funções de ministro da Defesa e era uma das figuras mais marcantes do universo social-democrata. Numa das suas passagens pela capital britânica, coube-me acompanhá-lo ao aeroporto, onde havíamos reservado, como era da praxe, uma sala na respetiva área VIP, destinada a passageiros ilustres. Lá chegados, e após termos ultrapassado as barreiras de segurança, sempre invocando o nome da embaixada, dirigimo-nos ao balcão de atendimento.
Com o ministro ao meu lado, informei quem eu era, indicando que estava a acompanhar o ministro português da Defesa. A funcionária inquiriu qual era o nome do ministro. Foi nesse instante que tive una "branca" e o nome de Fernando Nogueira se me varreu por completo da memória. Fosse o cansaço ou a noite mal dormida, a verdade é que o nome não me ocorria. O meu embaraço era total. O ministro já olhava para mim, intrigado, e a funcionária aguardava a minha resposta.
- Desculpe! A reserva da assistência foi feita pela embaixada de Portugal, já lhe disse que se trata do ministro da Defesa, por que diabo precisa também do nome?
A senhora mirava-me, surpreendida com a duvidosa racionalidade da minha reação. E o ministro também:
- Porque lhe não diz o meu nome?
Tentando ganhar tempo, avancei então com uma "criativa" justificação, completamente tonta e até pesporrente:
- Senhor ministro: esta gente tem de perceber que deve funcionar com base na informação que é essencial. Imagine que era um nome chinês! Que interesse é que ela tinha em ouvir uns sons estranhos numa língua ainda mais estranha? Basta-lhes a embaixada e o título da pessoa!
O peso deste meu imaginativo argumentário de ocasião estava a começar a esgotar-se. E, na crescente atrapalhação, fui-me inclinando sobre o balcão, tentando ler, ao contrário, a folha que a funcionária tinha diante de si, com todas as reservas dos compartimentos da zona VIP. Por sorte, consegui descortinar a palavra "Portugal" numa das linhas. Então, com grande "autoridade", estendi o indicador e apontei-lhe a linha:
- Look! It's there!
- Mr. "Nóguêra"?
- That's right!
Ao meu lado, o ministro Fernando Nogueira, um homem cordialíssimo e de sereno sorriso, devia estar intimamente a pensar como é bizarra essa espécie profissional que são os diplomatas.
Nunca tive oportunidade de lhe revelar este episódio. Quando isso acontecer, acho que vai achar graça.
13 comentários:
Bons tempos esses, em que havia gente educada no Governo. Se fosse agora... Valha a verdade, o Dr. Fernando Nogueira tinha alguns colegas que primavam pela prepotência e pela má-educação, a começar nas Necessidades, além de esbanjarem dinheiros públicos, por exemplo levando namoradas em missões oficiais, ficando em hotéis excessivamente caros ou frequentando restaurantes do mesmo quilate, tudo "por conta do lavrador" ou, melhor, do dinheiro que então jorrava de Bruxelas sem juros.
digamos que essas brancas sucedem às melhores familias, misterios da memória e do cérebro, mas por vezes pouco oportunas...
Viva Sr. Embaixador,
Torno público a minha simpatia pelo Sr. Dr. Fernando Nogueira. Sempre achei muito digno o comportamento que teve logo a seguir á sua candidatura a prim. ministro seguida da "rasteira" do então chefe Silva. Retirou-se com uma dignidade que deveria fazer escola. Depois saiu fora dos parâmetros da maioria dos ajudantes de Cavaco. São conhecidos pelas piores razões.
Bastaria querer falar e todas as televisões e rádios lhe colocariam os microfones na frente. Nem sempre concordei com as suas ideias, mas que tenho muito respeito pelo senhor é verdade.
Fica o meu testemunho.
Bom fim-de-semana senhor embaixador, eu vou ver a preparação das corridas para o circuito.
Cumprimentos cá da Bila
O Dr. Fernando Nogueira saiu da politica por ter sido muito injustiçado pelo atual PR. No entanto, a prateleira em que o colocaram era muito, muito dourada. Por isso, a sua postura tão discreta...
Não foi só o Vara que aproveitou do BCP.
tamém eu recordo com sódades esses velhos das vivendas, o fernando nogueira geminado com marques mendes e o cavaco a solo com a mariani. isso é qu'era pugresso.
Essa das vivendas... vem mesmo em tempo oportuno. Sair discretamente é uma habilidade. Pena que outros não a usem!...
Muito obrigado pelas gargalhadas que me proporcionou. vErdadeirament hilariante. Tem que publicar um livro de "short stories". Comprarei de certeza. Gonçalo Figueira
Francisco
O que me deliciam estas suas "lembranças" de carreira!
Há três pessoas que singraram em Comissões de Coordenação Regional e que têm muito valor: Valente de Oliveira, Fernando Nogueira, Silva Peneda.
Caro Francisco
Conhecendo como conheço o Fernando Nogueira vai achar muitíssima graça.
Mas aqui para nós que ninguém nos ouve essa "branca" não teve nada a ver com a senhora que tinha o mesmo nome, mas sem aspas...
Abç
Gostei mesmo foi da assertividade da funcionária sem deslumbramentos...
Presumo que pensou, lá por serem Embaixador e Ministro... Têm a mania...Deixou-se foi vencer pelo cansaço, pudera...
MAS TEVE PIADA.
Oh Senhor Embaixador Seixas da Costa!
Temos de inventar um hábito para os Ministros. Como se fez para o papa que com o seu hábito Branco não precisa de apresentações. Ou uma outra referencia como se fez para Deus que não tem nome. Isso resolveria de uma vez para todas o problema dos "brancos"...
É claro que um Ministro não precisa de apresentações. "Pardi!"
José Barros.
Tive o privilégio de conhecer o Dr. Fernando Nogueira quer nos anos do cavaquismo quer nos anos pós-cavaquismo... sempre com a mesma postura ... sempre com a mesma dignidade ... sempre a trabalhar.
Não sei se Portugal perdeu um politico ou se foi o politico que perdeu Porugal, algures alguém perdeu algo e isso eu tenho a certeza.
N381111
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