Hoje e amanhã haverá Conselho Europeu. Os chefes de Estado e governo da União Europeia encontrar-se-ão em Bruxelas. Se notarem bem, verão que, para sua identificação e circulação através dos controlos de segurança, essas 27 figuras, bem como o presidente da Comissão europeia e o presidente do Conselho europeu, usarão na lapela um "pin", igual para todos. Os "pin" são sempre diferentes, de reunião para reunião. Os restantes membros das delegações usam, pendurados por um fio, cartões não nominativos de identificação, de duas cores diferentes, correspondentes às zonas a que têm acesso.
Todo os chefes de Estado e governo da UE usam "pin"? Não. A chanceler alemã e o presidente francês (era assim com Sarkozy, assim é com Hollande) parece considerarem que não necessitam de serem "identificados". No caso francês, aparentemente para "disfarçarem", os presidentes exibem as insígnias da grã-cruz da Légion d'Honneur. No caso alemão, nem isso. Enfim, há sempre alguns mais iguais do que outros.
No que toca ao uso de pins entre nós, e já com este governo, foi instituída uma espécie de patrioteirismo de lapela, com uma bandeirinha nacional a servir de elemento identificador dos ministros e secretários de Estado. Um amigo meu, muito maldoso, costuma dizer que as bandeirinhas têm duas vantagens. Nos casos de evidente "anonimato político" que afeta alguns governantes de segunda linha, elas servem para revelar o facto dessas figuras integrarem o "governo de Portugal" (uma bizarra formulação com consequência gráfica que tem infestado a correspondência oficial, desde 2011, substituindo subliminarmente o "S.R." de "Serviço da República"). Noutros casos, diz ele, a utilização do mini-símbolo nacional na lapela - que é um hábito americano, pouco comum deste lado do Atlântico - destina-se a recordar a alguns membros do governo o país que verdadeiramente representam. Para logo acrescentar: "como se vê, nalguns casos não dá resultado..."
Mas será que todos os membros do governo português usam a bandeirinha patrioteira! Não. Há um ministro a quem nunca ninguém viu o adereço alapelado. Quem será? E por que será?
16 comentários:
Talvez por nunca ir ás reuniões, em Bruxelas? Como já era hábito antes de ocupar o actual cargo?
Incomodam-no, essas lapelares bandeiras, Sr. Embaixador ?
A mim não, nem acho que sejam "patrioteiras", aliás, pergunto-lhe, acha que a bandeira nacional é "patrioteira" ?
Um bom Natal
JC
Eventualmente para não dar bandeira...
Caro JC. Gosto muito da bandeira da nossa República. Por essa razão, não gosto de a ver banalizada e instrumentalizada.
Não gosto de ver chamar "a bandeira da nossa República" à bandeira de Portugal. Desde que ela foi oficializada, representa o País e toda a sua história centenária, não apenas a partir de 1910.
Como sabe, a escolha da actual bandeira pelos responsáveis da recém-criada República foi muito polémica, havendo quem defendesse a continuação da bandeira azul e branca, obviamente sem a coroa, não só por motivos estéticos como porque aquela bandeira estava intimamente associada à implantação do Liberalismo em Portugal.
Na verdade, numa visão retrospectiva da nossa História, o regime liberal representou muito mais uma ruptura com o nosso passado político do que a transição do regime monárquico para o republicano em que, independentemente de muitas mudanças, persistiram muitos dos vícios e defeitos que inquinaram a sociedade portuguesa ao longo de décadas , antes e depois de 1910.
Safa!
Olhem se alguns Generais de certos países tivessem de ir àquelas reuniões e acrescentarem mais um Pints na lapela àquelas dúzias que já carregam...
José Barros
Essa referência ao seu amigo muito maldoso, se bem que ao mesmo tempo muito bom observador, fez-me lembrar o papa Bento XVI a citar um imperador bizantino a propósito de Maomé. Sugiro que passadas 24 horas nos dê a resposta à sua interessante pergunta, revelando o nome desse governante mistério.
O Paulinho?
antonio pa
No meu tempo nas botoeiras colocavam-se emblemas e não "pins".
Actualmente adoptou-se o termo "badge".
Do meu ponto de vista seria mais coerente apresentarem-se com um emblema representado só o escudo (quinas) de Portugal.
Alexandre
À senhora (ou cavalheiro) que escreveu às 17:18 de 19 de Dezembro que a bandeira republicana "representa o País e toda a sua História centenária", gostava de deixar algumas palavras.
Em primeiro lugar, foi a própria república que procurou fazer o corte com o passado, adoptando novos símbolos e uma nova estética.
Em segundo lugar, não posso concordar com a sua visão. A república, através da sua bandeira e dos seus representantes, não tem qualquer legitimidade para representar Portugal, os portugueses ou a sua longa história. Foi um regime implantando pela força e que nada teve de democrático. Ademais, a pedra angular foi o homicídio de Sua Majestade o Rei Dom Carlos e a deposição forçada (e sem apoio do povo) do seu sucessor, o Senhor Dom Manuel II.
De facto, nem a primeira nem a actual república representam nada do que aconteceu entre 1143 e 1910. E tenho dúvidas que representem o que daí em diante se passou...o que talvez seja um ponto a favor da própria república.
Com os melhores cumprimentos,
Henrique Souza de Azevedo
Senhor Embaixador: já tenho pensado muitas vezes que gostaria de saber quanto custou a operação gráfica para inserir nos documentos oficiais essa expressão "Governo de Portugal" que, a meu ver, é mais uma daquelas manifestações em que este governantes são férteis que me apetece classificar como pacóvias.
Já terá, por acaso, V. Exa reparado que até nos impressos das receitas do SNS, aparece a dita expressão?
caro Henrique
nao sei se a Mumadona estará de acordo...
cumprimentos
Senhor Henrique Souza de Azevedo
O que eu quis dizer é que Portugal é um só país, nascido vai a caminho de nove séculos, e que tem, neste momento, determinados símbolos que o identificam, goste-se ou não. É por isso que eu não aceito que se partidarizem esses símbolos, diminuindo o seu significado. Eu não respeitaria boamente a bandeira verde-rubra se a entendesse como um flâmula que representa um momento histórico nascido em 1910, porque lamento profundamente o facto, os antecedentes e as circunstâncias da implantação em Portugal do regime republicano, bem como muitas das suas consequências. Mas respeito-a,como respeito "A Portuguesa", sem qualquer objecção de consciência, ao entendê-la e senti-la como símbolo actual que é do meu País, um mais na sucessão das diversas bandeiras representativas de Portugal desde o século XII até aos nossos dias.
De outro modo, cada um de nós escolheria como símbolo nacional o que mais lha agradaria: a bandeira de D. Afonso Henriques,a de D. Sancho I, a de D. Afonso III, a de D. João I, a de D. João II, a de D. João IV, a de D. João VI, a de 1830 a 1910 ou a actual, o que me parece não fazer sentido.
Anónimo das 17.18
http://politica.elpais.com/politica/2013/12/19/actualidad/1387474373_585686.html
Ao Senhor
Henrique Souza de Azevedo
A democracia, são os direitos indissociavelmente ligados ao indivíduo. A republica, são estes mesmos direitos indissociavelmente ligados à comunidade. Mais prosaicamente, a democracia é a liberdade, a republica é o elo social. Liberdade e elo social são os dois pilares de toda sociedade equilibrada, isto é livre, responsável, respeitosa dos seus membros, solidária e tolerante.
Sem liberdade, o individuo não se pode realizar e não pode fazer aproveitar a sociedade de todos os seus talentos. Sem elo social, a sociedade não se pode desenvolver harmoniosamente e de maneira humanista. Sem a conjunção dos dois, a sociedade não pode ser equilibrada no interior e forte em relação ao exterior.
Na realidade, os dois são complementares. A democracia deve ser republicana e a republica deve ser democrática para ser equilibrada.
A republica, quando democrática, é um sistema em constante evolução. O cidadão que não é um sujeito de ninguém, pode, pelo voto, controlar e conduzir esta evolução. Um cidadão esclarecido é capaz de tomar a responsabilidade dos destinos da sociedade se as urnas lhe dão a legitimidade para o fazer.
Na republica é o chefe de estado que governa depois de ter sido eleito ( e não de pai em filho) e a democracia é um regime politico que dá o poder ao povo.
A monarquia, quando é absoluta, e a republica quando não é democrática são a negação de todos os direitos.
Quanto à bandeira e ao hino nacional, são legítimos na medida em que representam o único Portugal que existe: o Portugal republicano.
De 1580 a 1640, a monarquia deixou cair Portugal nas mãos estrangeiras , mas os Portugueses nunca deixaram de ser ...Portugueses. Da mesma maneira, Portugal nunca deixou de ser a Pátria daqueles que criam na sua imortalidade.
Entre o cidadão e o sujeito, escolho o primeiro.
Não estarão 28 figuras no Conselho?
Želimir Brala, Croácia
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