segunda-feira, dezembro 23, 2013

MacShane ou McShade?

Fiquei preocupado ao ler, há minutos, que havia sido condenado a pena de prisão Denis MacShane, antigo secretário de Estado britânico dos Negócios estrangeiros (a nossa imprensa cai na esparrela de traduzir "minister" por "ministro" e "secretary of State" por "secretário de Estado", como pareceria lógico, sendo que significam exatamente o contrário), acusado de falsificação de despesas de viagens. A preocupação deveu-se ao facto da notícia (talvez por um subliminar deslize cultural do autor) começar por chamar-lhe "MacShade" (com D). Só depois passa a designá-lo por "MacShane" (com N). O que me sossegou mais. 

Mas que importância tem isso, perguntará o leitor? Essa agora! Tem toda a importância! É que "Dennis McShade" é, acreditem ou não, um nome bem português e as trapalhadas em que ao longo da sua existência esteve envolvido tiveram sempre outra dignidade criminal. Trata-se do nome do autor de livros policiais tão importantes como "Mão direita do diabo" ou "Mulher e arma com guitarra espanhola".

Mas então, perguntarão os céticos e menos iniciados nestas artes, é português e chama-se "Dennis McShade"? Bom, na realidade, assinava às vezes assim (como Roussado Pinto subscrevia como "Ross Pynn"), mas o seu verdadeiro nome era Dinis Machado - um excelente, embora pouco prolífico, escritor em língua portuguesa, que, entre outros textos, deixou essa obra maior que é "O que diz Molero".

Nada de confusões! Ofereçam um verdadeiro Dennis Mcshade neste Natal!

9 comentários:

Portugalredecouvertes disse...


My God
estava a ficar realmente confusa com essa alegada acusação a algum compatriota de "falsificação de despesas de viagens".
Também fiquei mais sossegada, são só livros meu senhor!

JM Correia Pinto disse...

Essa malta nova de literatura policial já não sabe nada e da outra ainda menos. Estão completamente colonizados pelo pensamento económico de "meia-tijela". Já agora, para concluir, dizer que Dinis Machado aprendeu inglês a ver filmes ininterruptamente num cinema que havia no Bairo Alto (como se chamava?). Daí as muitas traduções que fez de livros policiais ingleses e americanos. Creio que nunca estudou inglês na escola...
Para concluir, sem economia e sem política: Boas Festas e Bom Ano Novo!
Grande abraço
Em tempo: em meados Dezembro estive estive 5 dias em Brasília...Passei pelo nosso amigo Palhares (no Gilberto Salomão) que lhe manda cumprimentos. Quanto ao resto...Muito trânsito.

Anónimo disse...

Bem, ficamos sem saber o que aconteceu ao Sr. MacShane com a sua falsificação das despesas de viagem.
Também não terá muita importância. Desconfio que em Portugal ninguém deve compreender porque é que os ingleses se preocupam com aquelas minudencias. Então o homem não era um Secretário de Estado?
José Barros

Anónimo disse...

Que saudade do Denis Macshade Molero,Leão.O cinema Chiado Terrace...

O Natal tem destas coisas...

Respeitosos cumprimentos e aquele abraço.

Guilherme.

Anónimo disse...

Senhor Embaixador, tem notícias de meu tio Feliciano da Mata? Ele andava muito agitado nos últimos tempos e saiu do Golungo sem dizer nada a Senhora Engenheira, que esta muito aborrecida com ele. Tememos pela sua vida (a dele, Senhor Embaixador, nao a sua, descanse). Pode dar alguma noticia que nos alivie desta imensa angustia?

a) Marcolino da Mata, Golungo Alto

patricio branco disse...

curioso porque dum romance de diniz machado se tratava, e alem diosso policial, comprei e tentei ler um dos 3 livros deste d mcshade, cada um tem a sua cor, se não me engano, comprei o da capa vermelha, trabalho bem dificil foi ler 10 ou 12 pgs, não encontrei ambiente lisboeta como esperava, nem humor resistente, apenas um humilde pastiche de alguns autores policiais americanos em ambiente não português e com policias e assassinos de nome americano inglês, geografia eua, diálogos artificiais e sensaborões, etc...
bem, devolvi o livro na livraria e fiquei com um vale no valor para outro livro.
bem diferente foi a leitura do que dizia molero, uns anos antes, entusiasmante, divertida, mas tambem responsavel depois pela compra e desilusão do dennis mcshade.
está visto, eu não recomendaria o livro que tentei ler...
o escritor dinis machado morreu há uns anos, escreveu pouco e é pena.

Gonçalo Pereira disse...

Não resisto a dizer que houve um precursor de Dinis Machado: o jornalista cabo-verdiano Mário Domingues que, entre as décadas de 1940 e 1960, escreveu vários policiais sob pseudónimo anglófono, como bem lembra o blogue Policiário de Bolso: http://policiariodebolso.blogspot.pt/2012/07/caleidoscopio-185.html
Domingues protagonizou também uma das mais curiosas reportagens sob disfarce do nosso jornalismo: http://ecosferaportuguesa.blogspot.pt/2013/04/oito-dias-na-vida-do-jornalista.html.

Votos de boas festas para todos os frequentadores deste blogue!

patricio branco disse...

interessante isso do mario domingues, divulgava história, biografias de personagens históricas, tradutor, edições romano torres ali ao rato, fim da alexandre herculano, autor do romance autobiografico singular "menino entre gigantes" (prelo, abordava mesmo a diferença de ser de cor numa sociedade de brancos nas 1ras decadas do sec 20)mas como autor policial ignorava.
a romano torres tinha uma interessante colecção de policiais traduzidos.

a vampiro da lb incluiu alguns policiais portugueses antigos como leite bastos.

Anónimo disse...

Meu prezado primo, Marcolino da Mata:incumbe-me comunicar-lhe que seu tio, Feliciano da Mata, meu pai, nos deixou e foi viver para o Golungo Baixo, levado pelos dezoito aninhos de uma escurinha escultural. Dada a sua provecta idade e estando tão apanhado do "cio", deixámo-lo partir, para curtir os poucos anos de viver que lhe restam.Para surpresa nossa, ele fez aumentar a prole familiar, agora mais virada para o escurinho, saída na beleza e na cor à venturosa mãe.Quer, um dia destes, ir visitá-lo? Terei o maior gosto em acompanhá-lo e desfrutar consigo as alegrias do reencontro.E constou-me que, por razões similares, não desdenhará ir ao Golungo Baixo. Os segredos, às vezes, não estão tão bem guardados como parece. Eu que o diga que, recentemente, deambulei por Vidago e Pedras Salgadas. Nem o Siza Vieira me valeu. Fui refugiar-me junto da figura de Camilo, em Ribeira de Pena. Mais não posso contar-lhe desta feita, para não trair alguns segredos familiares. Talvez um dia lhe conte numa merenda no Parque do Alvão, entrando pela Campeã.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...