quarta-feira, dezembro 18, 2013

Ronnie Biggs

Morreu hoje Ronald Biggs. Muito pouca gente já se lembrará do impacto que teve o assalto, comandado por Biggs, ao comboio-correio britânico, em 1963. A ousadia e engenhosidade do roubo como que "absolveu" o crime perante muitos setores da opinião pública, britânica e não só. O seu percurso posterior, com fuga da prisão, saída para a Bélgica e Austrália, seguida de um exílio no Brasil, com uma imagem de vida folgada e marcada por uma espécie de ostensiva felicidade tropical, acabou por dar-lhe uma aura quase lendária. Ronnie Biggs passou a ser, aos olhos de muitos, uma espécie de "bom ladrão", quase acarinhado, salvo pela polícia britânica, que sempre o manteve sob observação. Quando, acabados que foram os recursos financeiros, Biggs "gave up" e regressou ao Reino Unido, esteve preso por vários anos e caiu quase no esquecimento. Como registo, ficou o filme "The Great Train Robbery", uma obra cinematográfica menor.

Há cerca de duas décadas, num impulso de curiosidade que frequentemente me leva a locais ligados a factos com algum significado marcante na memória pública, decidi ir visitar o cenário onde Biggs e o seu "team" cometeram a sua proeza, perto de Cheddington, em Buckinghamshire. Recordo-me que era um relativo descampado, com uma estrada secundária que passava sob a linha de caminho de ferro. As imagens do filme e as conhecidas fotos a-preto-e-branco ajudaram-me a reconstituir esse tempo de "bobbies" de capacete preto, num país que tem com o crime e com a respetiva literatura uma relação de atração única. 

Com o fim de Ronnie Biggs, acaba-se o tempo de um ladrão quase romântico. Aqueles que conhecemos não têm esse encanto.

8 comentários:

Anónimo disse...

Era um daqueles tipos cujo rosto denunciava logo a sua natureza. Um tipinho repelente...

Anónimo disse...

Lembro-me bem dos jornais portugueses, publicarem noticias sobre este assalto. De vez em quando, através dos jornais brasileiros, ia sabendo noticias dele no Rio de Janeiro, onde teve uma namorada e um filho. Finalmente chegou o dia em que vai prestar contas das suas aventuras. Que agora descanse em paz!

Anónimo disse...

Se ainda por cá andasse, Júlio Dantas bem poderia dizer "como é diferente ser ladrão em Portugal"!

patricio branco disse...

uma boa historia de aventuras nessa inglaterra de profumos, kristines keelers, mac millans etc

Anónimo disse...

Mudaram os tempos.

Os actuais aliviam as carteiras, oficialmente pela respeitáveis instituições democráticas, vendendo depois ilusões de betão ou castelos-de-areia-de-benesses.

Outros, em segundos, através das maravilhosas redes, aliviam o "peso" das contas bancárias.

A profissionalização da carreira, apesar de não estar sujeita a avaliações periódicas e "numerus clausus" , teve um sucesso enorme originando óptimos especialistas, que colocaram Portugal entre os 10 melhores na agência de notação "Ali Babá" !

Alexandre

Anónimo disse...

Eu continuo a preferir o nosso Zé do Telhado. Não sei se mais como sargento do regimento de cavalaria na guerra da patuleia contra os Cabrais, onde foi distinguido; se como chefe de quadrilha onde sempre guardou os principios de cavalheirismo.
José Barros

Anónimo disse...

Penso que chegou a estar escondido na Vila do Luso.

Jose Martins disse...

O Ronnie Biggs,
Divagou pelo Brasil onde realizou festarolas de arromba. O Biggs não se livrou do destino... entesou, regressou às raizes e acomodou-se na cadeia de sua majestade. Um ladrão audaz e não daqueles que "pifam" que se fartam e seguem por aí sem as autoridades lhe deitarem a unha.
José Martins

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...