domingo, dezembro 01, 2013

A vez da Ucrânia

Ver muitos milhares de pessoas nas ruas de Kiev, lutando contra a "finlandização" da Ucrânia, apelando por uma maior ligação à Europa comunitária, não nos deve iludir. Não é o atual projeto baço, titulado pelas "entusiasmantes" figuras de Van Rompuy e Barroso, que necessariamente seduz essas pessoas. É a perspetiva de procurar um caminho de fuga à tutela moscovita que anima parte de um país hoje prisioneiro da guerra "morna" que se estabeleceu nas margens da Rússia.

Com a queda da União Soviética, o ocidente deixou-se seduzir pela possibilidade de fazer chegar tão perto de Moscovo quanto possível as fronteiras da sua segurança e da sua liberdade democrática. Para isso, alargou a NATO e a UE até aos bálticos, utilizou oportunisticamente o alibi da luta anti-terrorista para pescar em "águas" estratégicas russas, com uma aberta influência na Geórgia, com a utilização de bases aéreas no Usebequistão e no Quirguistão. 

Bruxelas, mobilizada pelo zelo anti-moscovita dos recém-convertidos, aproveitou a porta aberta pelos EUA e agravou o seu discurso face à Rússia, na ilusão de que assim reverteria a relação de forças. A liderança russa, já de si propensa a derivas autoritárias, viu nisso uma ocasião para impor soluções de proteção geopolítica. E aconteceu o que aconteceu na Geórgia. Na Bielorússia as coisas são já hoje o que são. Agora, noutro modelo, parece ser a vez da Ucrânia. Haveria outra solução ou outra política possível por parte da Europa? Talvez houvesse. Mas, para isso, a UE não deveria ter sido cúmplice das provocações anti-russas que alguns dos seus parceiros insistiram (e insistem) em tentar. Não é por acaso que estes acontecimentos coincidem com uma cimeira europeia que tem lugar precisamente em Riga (como poderia ser em Tallin ou Vilnius). Aí está o resultado da estratégia enviezada de um ator secundário na cena internacional, que dá pelo nome de União Europeia.

6 comentários:

Defreitas disse...

O imperialismo americano trabalha nos bastidores! Nestes últimos quinze anos a política estrangeira americana em relação à Rússia foi constante: Conter o Estado que sucedeu à União Soviética, esta última tendo sido, sempre, o obstáculo a uma dominação sem restrição do mundo pelo imperialismo americano, era vital impedir que a Rússia desempenhe um papel mesmo aproximativo daquele que foi desempenhado pela União Soviética.

Li hà uns anos o livro de Zbiezinsky, antigo conselheiro nacional da segurança dos E.U, sob o titulo " Le grand échiquier", sobre a estratégia americana da supremacia. Por échiquier" ele entendia a Eurásia, esta imensa massa terrestre que inclui dois continentes e que abriga a maior parte da população do globo.
A tese fundamental do livro é esta : " Como prevenir a emergência duma potência eurasiana dominante que viria opor-se a eles? Tais são hoje os problemas essenciais que se põem aos EU se quiserem conservar a sua primazia sobre o mundo.

"Inquietar os Russos, prejudicar os seus interesses, não necessita uma guerra, uma mudança de orientação geopolítica na Ucrânia basta. Uma Ucrânia voltada para o ocidente seria como um punhal no coração da Rússia.

Os EU são mestres na arte de desagregar os blocos que os preocupam. Ver como conseguiram desagregar a Jugoslávia, exacerbando as tensões e os ódios étnicos duráveis que explodem com violência e de maneira repetida, trazendo apoio à independência da Eslovénia, da Croácia e da Bósnia e sem duvida do Kosovo, onde têm agora uma grande base militar.
Estes estados não são viáveis do ponto de vista político nem económico, mas deixam-se manipular facilmente e dominar pelas grandes potências. A Alemanha meteu no bolso a Eslovénia!

Isto é o que os EU querem fazer com a Ucrânia; só que o leste industrial deste pais depende da Rússia e o oeste , mais próximo do ocidente não pode viver sem a outra parte. E a Ucrânia sendo o ponto de transito das energias gás e petróleo, vejo mal como poderá "sacudir" a Rússia.

Alcipe disse...

A Ucrânia tinha a escolha entre uma intervenção do FMI, sem apoio financeiro que se visse desta União Europeia poupadinha que temos, e só a partir desse magro apoio (e ainda certamente com a ajuda de uns génios da troika para os obrigarem a baixar salários e diminuir prestações sociais - os salários ucranianos são altíssimos e o nível de apoio social de que disfrutam claramente acima das suas possibilidades) disporem-se então, nessa base, a enfrentar as duríssimas e implacáveis sanções económicas da Rússia, nomeadamente o corte do gás natural. que os russos à Alemanha continuam a fornecer, naturalmente. O que faríamos nós no lugar deles? Em que pese ao meus queridos amigos, a Europa deixou de ser um espaço de liberdade, passou a ser um espaço de "destruição criativa" do capitalismo produtivo em exclusivo benefício dos mercados financeiros, o que muito vai beneficiar as duas únicas hegemonias em conflito no mundo, a China e os Estados Unidos e ajudar a fazer crescer, e muito, a Rússia. As autocracias são horríveis, porque nos matam com um tiro na nuca, mas esta ditadura dos mercados que está a asfixiar as nossas democracias, essa vai matar-nos de fome, a prazo.Ou conduzir-nos para aquilo a que conduziu a prudente política de redução da dívida para respoder à crise de 1929, prosseguida pelo clarividente chanceler Bruning antes de 1933 na Alemanha...
a) Alcipe

Anónimo disse...

finlandizacao?

a finlandia tinha o mannerheim...

cumprimentos

Defreitas disse...

Posso-me enganar, mas esta atracção exercida pela UE na inteligentsia Ucraniana, clãs de empresários, instituições financeiras e burguesia, é justificada pelo maná que todos esperam duma ligação económica com a Europa. Na sua imaginação, eles vêm rios de dinheiro afluir da Europa, como aconteceu noutros países europeus na fase de alinhamento ou de tentativa de alinhamento das economias europeias.
O acesso à NATO parece subsidiário, mas os Ucranianos ainda não estão persuadidos que a independência foi definitivamente adquirida. E a ancoragem à UE e à NATO seria uma garantia contra a volta atrás !
Este era o maior receio dos Ucranianos, e foi por esta razão que procuraram pôr no poder o Ioutchenko, mais pro-ocidental que o adversário Ianoukovitch.
Mas quando se conhece um bocadinho da organização deste pais após as reformas mercantis e as privatizações operadas depois da independência, como nos outros países saídos da ex-Urss, podemos ter suores frios se eles entrarem na Europa.
A Ucrânia é certamente a economia mais corrupta e mais ligada à máfia dos países de leste.
Mas o dilema resta o petróleo e o gás fornecido baratinho pelo Putine para os manter na dependência!
E também não devemos esquecer as encomendas industriais importantes da Rússia à Ucrânia de Leste, na qual vive uma maioria russofone, que suporta muito mal a posição subordinada da língua e da cultura russa na Ucrânia do Oeste.
E como estes Russos Ucranianos se recordam do destino das minorias russas nos países bálticos, onde os direitos cívicos dos Russos foram severamente reduzidos, não é amanhã que vão aceitar um simpatizante da NATO e da Europa em Kiev.

Defreitas disse...

A maneira como a sociedade é actualmente dirigida vai levar fatalmente à esclerose generalizada, por razoes idênticas às que provocaram a esclerose do sistema comunista na União Soviética.
O encorajamento do conformismo e o embrutecimento organizado das populações vai levar a uma queda da inovação, da criatividade e da inteligência colectiva.

O sistema soviético tinha pontos comuns evidentes com o sistema actual do Ocidente:

ideologia totalitária (o liberalismo), pensamento único, ausência de escolha eleitoral real, produtivismo, materialismo, concentração industrial monopolística (conglomerados) ausência de subida da informação da base para o cume, conformismo, encorajamento da mediocridade, corrupção, passa-direitos e privilégios, sentimento de injustiça e ausência de futuro para a população, cupidez e egoísmo dos dirigentes, visão a curto prazo...

patricio branco disse...

deixá los estar aos ucranianos na orbita russa, qual o problema? uma zona de influencia russa estavel pode ser importante ou necessaria para o rquilibrio geoestratégico da europa, portanto para a paz. tambem havia antes o sector urss.
e que têm eles a ganhar com entrar na zona ue/otan, sim, o quê? mais democracia? não me venham com isso...
cada um pertence ao seu canto, a ucrania é de lá, não pôr a russia na defensiva irritada a rosnar é o mais sensato, os eua creio que o perceberam, e esse enorme e complicado país seria mais um peso para a ue...
a russia não deve ser cercada, encurralada, e uma potencia como ela tambem necessita da sua zona de influencia para satisfazer o seu ego, etc...

A Europa de que eles gostam

Ora aqui está um conselho do patusco do Musk que, se bem os conheço, vai encontrar apoio nuns maluquinhos raivosos que também temos por cá. ...