Estava à paisana. Cruzei-me com ele, há dois dias, na entrada de minha casa, cerca da hora de jantar. Identificou-se como agente da PSP. Muito educado, informou-me que tinha um mandado de detenção. Em meu nome. Por um instante, devo dizer, não "apreciei" excessivamente a ocasião. Por muita consciência tranquila que tenhamos, nunca nos sentimos muito à vontade numa situação destas.
Mandei-o entrar. Sentámo-nos e procurei analisar com calma o problema. O agente da PSP cumpria uma decisão. Um juíz havia decidido mandar deter-me, pelo facto de eu não ter comparecido a uma notificação sobre um processo. De facto, eu tinha faltado a essa intimação. Porquê? Porque, entretanto, havia recebido de um outro tribunal a informação de que o processo fora arquivado e, por uma presunção pateta, havia dado por adquirido que a presença à notificação já não era necessária, que teria havido um cruzamento da informação. Qual quê!? Cada uma dessas vias caminhava por si mesma, sem se ligar com a outra. E ali estava eu, prestes a passar uma noite numa esquadra, para ser presente na manhã seguinte a um juíz, que me notificaria sobre um processo que já estava arquivado. Perante a evidência do "misunderstanding", o agente policial tomou a sensata decisão de "desistir" da minha detenção.
Mas, afinal, que diabo fizera eu, para estar metido numa alhada dessas? Uhm! Não há fumo sem fogo, estarão a pensar alguns leitores. A coisa é, afinal, muito simples e, precisamente por essa simplicidade, bastante ridícula. Há meses, num terreno abandonado de que sou proprietário, no Norte, declarou-se um incêndio, provocado por um descuido de um vizinho. A GNR tomou conta da ocorrência, o Ministério Público instaurou um inquérito. Eu passei à qualidade de "lesado". Não mexi uma palha. Neste entretanto, ocorre o arquivamento do processo. E, agora, ali estava eu, o lesado, a contas com a Justiça. Ele há cada uma! (Julgo que o assunto se terá entretanto resolvido. Mas nunca fiando...)
16 comentários:
Em caso de necessidade, já conhece os cantos ao Brasil :)
Podia não haver fumo mas havia fogo
Calma, Senhor Embaixador, a bófia havia de perceber essa marosca de trazer do Sul futebolistas novos para o Sporting e do Norte suecas novas para os filmes do Manoel de Oliveira!... O Blatter estava de olho no Sul e o Comité Nobel da Paz de olho no Norte e denunciaram-no à polícia, por causa do Centro Norte-Sul! Calma, tenho um lugar para si à espera no Golungo Alto, que o Baixo já está sobrelotado. Essas coisas acabam por se saber...
Amigo indefectível
a) Feliciano da Mata
ohhhhhhhhhhh bonito sim senhor...
V.Exª. fez-me lembrar uma cena que tem alguns anos.Estava eu na Avenida da Igreja a tomar café com um amigo Juíz e nisto aparece um idoso escorrendo sangue da cara, este meu amigo Juíz por mais perguntas não descobriu a identificação do senhor nem este sabia onde estava.Chamou o INEM e não é que do lado de lá da linha chovia ameaças; Você é responsável não pode abandonar a vitima, chamo as autoridades, etc. O amigo passou-me o telefone e diz-me, que mal fiz eu a Deus para estar a ouvir isto? E disse, despache-se seu incompetente!
Não vá o diabo tecê-las ....
Como se diz em bom Francês : " La justice est comme les chiens : parfois elle se mord la queue!"
va-la que lhe aconteceu e nao à dona rosa, la de paradança...
cumprimentos
...ora bem, o agente não cumpriu exactamente a missão, pois não?
A modos que confraternizou com o cidadão que devia conduzir à esquadra, deixou-se enredar na argumentação hipnotizadora do prevaricador e cedeu ao encanto do ensemble que o rodeava. Bonito. Assim se confirma, mais uma vez, o fascínio que certos uns exercem sobre dados outros. Queria ver se fosse um borra-botas qualquer, se a coisa ficava nisso mesmo, se havia sorridente anuência ao 'misunderstanding' e tão pressuroso dar-de-frosques da autoridade.
Que escrevo eu? "Autoridade"?! Bah!...
Ai excelência, que se não foi no tempo da ditadura, não resisto a imaginá-lo atrás de umas grades, nem que seja no âmbito de um tal 'misunderstanding'. As tolices do nosso sistema judicial só podiam dar historietas destas. Deliciosas. E frustrantes, claro.
Ter terreno no norte e viver no sul, isso é contra as politicas de combate à interioridade. Bem feito.
Não seja queixinhas.
Silva.
Cara Margarida: creio que o "frustrante" se refere à sua deceção pelo facto de eu não ter "ido dentro".
Dentro?
Silva.
situações desagradáveis, mesmo para quem não deve nem teme.
a justiça é cega, esse policia portou se humanamente, não como uma máquina de cumprir ordens, possivellmente repreenderam no, etc
...'exactly!', excelência, afinal, onde fica o democrático "dura lex, sed lex"? Por absurda que seja a lei (ou a sua interpretação pelos homens), enquanto não for alterada (pelos absurdos dos homens), tem de ser cumprida, sobretudo se estivermos num país, digamos, democrático. Ou não? E, já agora, imagina o su-ru-ru que não seria o seu encarceramento por uma ridicularia destas?
Mas não é verdade que muitas vezes as vítimas acabam como réus? Ou, no mínimo, ficam vítimas para sempre?
Mas quedemo-nos pelo lado jocoso deste episódio: não seria uma delícia lermos a sua crónica de uma noite não dormida numa esquadra lisboeta.
Menos mal. Vá que fosse num desses outros países esquisitos por onde já passou...
Aqui, pelo menos, tinha boa imprensa. Por lá podia nem ter imprensa nenhuma.
;)
Claro, o juiz comunista (são todos...) foi logo contra o proprietário, o lesado, a vítima! A culpa, Senhor Embaixador, é evidentemente do 25 de Abril, mas se formos mais longe, a desgraça começou no desembarque do Mindelo... Abaixo o 24 de Julho! Abaixo a Monarquia Constitucional! Fora todas as Constituições! Fuzilamento imediato do Prof. Jorge Miranda! Prisão perpétua para todos os juízes do chamado Tribunal Constitucional! Viva a Monarquia Absoluta! Vivam as Cortes de Lamego! Viva o Senhor Dom Duarte!
a) Henrique de Menezes Vasconcellos (Vinhais)
Tudo por causa de um minifúndio.
ainda se fosse por um latifúndio...
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