quinta-feira, novembro 22, 2012

"Venham mais cinco!"

Nesta grande aldeia portuguesa que é Paris, no Théâtre de la Ville, na noite de ontem, foi homenageado José Afonso, neste ano em que se assinalam os 25 anos da sua morte.

Com uma sala entusiástica e a abarrotar, a música do "Zeca" foi interpretada por diversas vozes, femininas e masculinas, que lhe deram ritmos e entoações novas, assumidas como "herdeiras" de uma expressão musical e poética que diz muito a várias gerações - e já não apenas àquela que testemunhou o 25 de abril, como se evidenciava pela plateia, onde também me cruzei com a emoção de muitos franceses. 

Durante o espetáculo, dei comigo a tentar perceber como, de tributário da canção coimbrã, José Afonso partiu para a recuperação criativa de temas populares portugueses e, a certo passo, assumiu modulações africanas que hoje ressoam a uma imensa modernidade. Neste terreno, torna-se interessante verificar, nos seus poemas, um profundo sentimento anti-colonial, numa época em que poucos ainda enveredavam musicalmente por esses caminhos.

Um abraço de gratidão e parabéns ao Emmanuel Démarcy-Mota, diretor do Théâtre de la Ville, por esta sua magnífica iniciativa. 

11 comentários:

Anónimo disse...

Foi bonita a festa.

Anónimo disse...

A tristeza que senti quando já não pude comprar bilhete para o espetaculo foi imediatamente compensada pela alegria de saber que o Theãtre de Paris, 1.100 lugares, estava repleto na véspera...
Repleto e vivo. Com gente que não esquece Abril.
Em Paris como em Lisboa, as velhas e novas emoções, de pé, punho erguido, fecham espetáculo com G.V.M. O Povo é quem mais ordena.  
José Barros

Jose Tomaz Mello Breyner disse...

E "O Emigrante" também lá esteve?

Anónimo disse...

Desejo que daqui a 25 anos José Barros consiga entrada e que esteja muito povo!

Unknown disse...

Impressiona a atemporalidade dos poemas do José Afonso, tocavam o mais profundo recanto da alma dos que clamavam por liberdade outrora, e tocam ainda hoje, todos aqueles que anseiam por equidade e justiça social. Ele é o exemplo vivo, que uma revolução sempre começa com caneta e papel para depois se efetivar pelas armas, neste caso específico, com melodias... tão intensas como o perfume dos cravos! de uma delicadeza ímpar para revelar o simples, a terra... e valores universais como a liberdade, e a justiça... José Afonso deixou um precioso legado a todos os portugueses. Foi com imensa satisfação e porque não dizer, alegria! que vi uma sala lotada de gente que vibrou com cada canção... que aplaudiu de pé os artistas que tão bem interpretaram o nosso Zeca. Só me resta dizer... soube a pouco...

Gina Sanches

gherkin disse...

Num desejado Panteão sobre o 25 de Abril, José Afonso deveria ser um dos GRANDES pilares. Mas... quando?
Gilberto Ferraz

Anónimo disse...

E nao ha ninguem que se habilite a organisar um espectaculo em Londres?

Ja nao e sem tempo!


F. Crabtree

Portugalredecouvertes disse...


Arte e emoção de mãos dadas

arthur porto disse...

Como cantava o Zeca "o que faz falta é avisar a malta" e este concerto foi rico em emoçao e fraternidade!

http://blogs.mediapart.fr/blog/arthur-porto/151112/zeca-afonso-grandola-et-les-oeillets

Isabel Seixas disse...

Também nutro uma admiração incomensurável por Zeca Afonso, além do orgulho da Sua genialidade.

Aproveitei a ouvir as baladas onde a projeção da Sua voz reflete uma "amargura em escalada"...


Balada Do Outono
Zeca Afonso

Águas passadas do rio
Meu sono vazio
Não vão acordar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto a cantar

Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto A cantar

Águas do rio correndo
Poentes morrendo
P'ras bandas do mar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto A cantar





Anónimo disse...

Sem pôr em causa o interesse que o Emmanuel Démarcy-Mota dedica às manifestações de cultura portuguesa, não posso deixar de lembrar o papel que Jacques Erwan, consultor do Théâtre de la Ville, responsável pela programação musical, tem desempenhado neste domínio. Foi Jacques Erwan quem organizou no Théâtre de la Ville, há cerca de 30 anos a 1ª grande homenagem a Zeca Afonso. O mesmo Zeca Afonso que ele tinha conhecido e que tinha ficado a admirar, nos tempos idos de 75. Tenho bem presente esse grande espectáculo. Os cantores renunciaram ao cachet. Despesas = a zero. Toda a receita reverteu para o Zeca, no sentido de o ajudar a suportar as despesas enormes que a sua doença acarretava. E se houve público: 1 hora depois da abertura das bilheteiras já não havia lugares disponíveis. Fez-se até uma tentativa junto do Maire de Paris, Jacques Chirac, para se instalarem altifalantes para o exterior. Tentativa infrutífera porque as autoridades temeram perturbações numa zona de tão elevada circulação. E já agora, foi também Jacques Erwan quem trouxe ao Théâtre de la Ville os Madredeus, que, nessa sala, iniciaram o seu percurso internacional. E foi Jacques Erwan que organizou, ainda no Théâtre de la Ville,um espectáculo sobre o Fado, na altura em que se debatia a nomeação deste para Património Mundial da Humanidade. Foi, enfim, Jacques Erwan, na qualidade de programador do festival de Bourges, quem convidou para aí actuar tantos e tantos outros cantores e grupos musicais portugueses. Aproveito, por isso, a ocasião oferecida pela homenagem ao Zeca, para homenagear também alguém que, tão discretamente, tanto tem feito para divulgar a música e os músicos portugueses em França.
Com um abraço do
José Rebelo

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...