Não é apenas a circunstância de ser um leitor habitual de biografias políticas que me leva a ter uma grande curiosidade face ao livro sobre Marcelo Rebelo de Sousa, escrito por Vitor Matos, ontem lançado. Conheço o biografado há bastantes anos, tenho com ele algumas histórias pessoais, que um dia talvez contarei, e, confesso, sempre segui o seu percurso - político e mediático - com bastante interesse, embora da regularidade dos meus dias não faça parte ouvir os seus comentários.
Marcelo Rebelo de Sousa é um fenómeno nacional muito raro. O país trata-o, quase familiarmente, por "Marcelo", dando expressão a uma intimidade que com ele criou desde há muitos anos - nos jornais, na rádio ou na televisão. Sendo um dos "tutólogos" da pátria, a sua opinião é seguida ou, pelo menos, escutada, por mais de meio Portugal, o que lhe dá um elevado grau de influência nas ideias que se alimentam sobre a vida portuguesa.
Diria que, para além de uma biografia, Marcelo Rebelo de Sousa mereceria um estudo sociológico sobre a importância do seu papel na sociedade portuguesa, na qual é, ao mesmo tempo, um comentador e um protagonista. Sobre essa dualidade, que tem a curiosidade de ser renovada recorrentemente no tempo, nos cargos e nos lugares de expressão pública, recordo o que, um dia, ouvi a Eduardo Lourenço, na Fundação Gulbenkian, aqui em Paris, na apresentação de uma conferência sua: "O Marcelo é uma figura que, desde há vários anos, está como que numa janela a fazer comentários sobre o país que passa na rua, lá em baixo, E, por vezes, nessa mesma rua passa também o próprio Marcelo Rebelo de Sousa, sobre o qual, com naturalidade, ele também se pronuncia".
18 comentários:
vi ontem o livro na livraria, grosso volume, não folheei. mas interessantes serão as memórias, se decidir publicá-las, espero que sim.
homem de grande e fino humor o eduardo lourenço, está comiquissima essa contada aqui sobre o professor marcelo à janela.
bem vista, a caricatura.
Pena é que não perceba (ou não queira perceber) as mudanças em curso no País e na Europa.
Como estas não entende, limita-se a bater em tudo quanto é líder nacional e europeu (excepção apenas feita para o nosso PR seu amigo, que também vai batendo nos líderes europeus, esquecendo que ainda é um deles...)
Francisco Rangel
Marcelo Rebelo de Sousa só há um. Aquele que tenta ser um fazedor de opinião.
José Barros
MRS ganhou um lugar nas nossas vidas pelo seu estilo de comunicador e pelo mencionado estatuto de 'tutólogo'.
É como o tio que é vivido, viajado e culto, sabe um pouco de tudo, de tal forma que apreciamos imenso escutá-lo(por acaso tenho mesmo um tio assim, apenas não é figura pública).
Mas, como tudo na vida, às vezes fatiga um nadinha.
Há uns anos acelerava para chegar a tempo de o ouvir, largava tudo à entrada´para ligar o televisor.
Hoje em dia passam meses sem ligar a TV, mesmo esparramada frente ao comando.
Acaba por ser sempre mais do mesmo e a vida tem outros interesses e respeitáveis opiniões.
A nossa, por exemplo.
Como seria o país num tempo destes se não tivessemos o "Marcelo"? A nossa "Kátharsis" não é anunciada nem feita pelo "Coro" como na Tragédia Grega. Diria mesmo que Aristóteles espreita do outro mundo o "nosso Marcelo". Como se deve também a si mais uma vez um favor por nos trascrever o pensamento sempre "certeiro" do Prof. Eduardo Lourenço. Confesso que às vezes aos Domingos chego de Paris pelas 22.00h de cá. Depois da meia-noite espero a repetição das conversas dominicais do Professor. Quando alguém o critica lá estou a defendê-lo sem ver se com razão ou não. É um vício ouvi-lo. Um hábito que me liga a milhares de portugueses. Não fosse só por esse facto já vale a pena esperar por debaixo da "janela dele" e, como no teatro fazer aquela "Kátharsis" orientadora que nos ajuda a ver este ou aquele ponto de vista "dele" que nos "purifica" o ar que temos de respirar no país... O Senhor Embaixador quando estiver por cá mais tempo... há-de acabar por ouvi-lo com a mesma frequência que vai ter quando for assaltado pela vício de ir ver um filme; umas vezes muito bom, outras menos bom... Mas vai!
Gostei das duas ou três coisas, deste post, sobre "Marcelo"
O Marcelo já me cansa e deconfio sempre um bocadinho das pessoas que opinam sobre tudo e mais alguma coisa.
Mas é magnífico o modo como o define Eduardo Lourenço, esse sim, sempre brilhante!
Isabel Mouzinho
A "alegoria" do Professor Eduardo Lourenço é genial, fico a imaginar o dialogo do Prof. Marcelo com Glauco no alto do vigésimo andar, outros houve que o fizeram na "cave"....
Nuno 371111
A velha senhora está muito sentenciosa:
o marcelo é má criança
bem traquina
aturá-lo já nos cansa
desanima
ir-lhe atrás da velha dança
dá ruína
O Sr. Embaixador colocou o post e o COMENTÁRIO, desiludindo qualquer um a opinar.
Surge, entretanto a dúvida, se o comentário de Eduardo Lourenço não anulará, também, qualquer tentativa de estudo sociológico sobre a importância do papel da personalidade, na sociedade portuguesa.
Um manipulador político. Compra o que ele diz, quem quer. Assim como o livro. Uma biografia autorizada, o que diz tudo. Um livro que poderá ser uma promoção da figura a candidato a PR.
Aurélio Santos
Caro/a Anónimo/a das 18.32: Não percebo porque "desiludi" (ou será que qui dizer "desestimulei"?) alguém de comentar. Avance!
Senhor Embaixador
Não sei se terei paciência para lê-la. Mas ouvir o Professor, actor, comentador e criador de factos políticos, que tão bem define Eduardo Lourenço, isso não tenho, há já muito tempo.
Até para a paciência, há limites.
Mas o facto é que continua a senda das biografias de vivos. E recentes já vão três, que me lembre: Rocha Vieira, Sampaio e Marcelo. É um lifestyle como diria a nossa Karen Blixen... Só que upper...
Pois é... Para mim tem um senão: já é um antigo do regime e tenta por paninhos quentes em tudo para garantir-se um poiso. Já não o oiço há muito. Mas... eu não sei
Biografias de gente viva deixam-me de pé atrás. Mais tarde ou mais cedo vamos ter de fazer mais despesa...
Com um tema tão apetitoso para uns comentários deliciosos, a ilusão desvanece-se com o brilhantismo burlesco de E L. V. EXª não teve certamente intenção de desestimular o anónimo indefinido. (Aliás já se propôs, nestes comentários, que seria muito interessante que existisse a opção do género no anónimo).
Mas, face ao desafio do “avanço”, se me permite, posso fazer recordar, arriscando ser um tanto ou quanto buçal, o que se propunha chamar a Marcelo Rebelo de Sousa, caso se candidatasse à Câmara do Porto (ou de Gaia), atravessando o rio Douro a nado, em campanha eleitoral.
Demasiado comercial e previsivel, demasiado consensual mesmo nos discensos, é o preço de tanta aparição...
Marcelo?
Não há paciência para tanta "inteligência"
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