segunda-feira, novembro 19, 2012

Condecorações

Não faço parte de quantos desprezam as condecorações, assunto de que já aqui falei. Nunca pedi nenhuma e tenho apenas as que, ao longo da minha carreira, entenderam atribuír-me, pelo que, naturalmente, sou grato a quem mas concedeu. Embora, com uma única e honrosa exceção, que está na imagem, tenha a consciência de que quase sempre acabei por recebê-las por razões ex officio

Ontem à noite, numa cerimónia oficial no Mónaco, a que tive de assistir por motivos oficiais, hesitei no uso das condecorações, tendo-me, aliás, divertido nesse exercício, à luz de critérios de afetividade internacional que cada um de nós intimamente segue.

Por regra, não gosto de me exibir muito "medalhado", ao contrário de outros colegas que, com toda a legitimidade, seguem critérios distintos, talvez por considerarem que é seu dever dar público testemunho da simpatia com que outros Estados os distinguiram. Mas, por uma ou duas vezes, fiz uma exceção à minha parcimoniosa regra e "engalanei-me" a preceito.

Numa dessas vezes, há mais de uma década, num baile de gala em Viena, encontrei o comissário europeu para a agricultura, Franz Fischler, creio que no "foyer" do Musikverein. Ambos reluzíamos de placas (aquelas "chapolas" metálicas que, até ao limite de quatro, se usam nas "casacas"), cada um de nós com uma vistosa faixa da nossa melhor "grã-cruz" a atravessar o peito e, no meu caso, com uma bem recheada "barrette" com miniaturas de muitas outras condecorações atribuídas. Olhámos um para o outro, sorrimos da "nossa figura" e ele saiu-se com este belo comentário: "Você já reparou que parecemos dois ditadores em traje de gala, como aqueles que o Hergé desenhava nas aventuras do Tim Tim?". E rimo-nos, porque estas coisas são mais para nos divertirmos e, sempre, muito menos, para levar a sério.

Ontem, antes de colocar qualquer condecoração, lembrei-me da frase que o duque de Edimburgo uma noite disse, num jantar no palácio da Ajuda, ao nosso antigo chefe do protocolo do Estado, embaixador Helder de Mendonça e Cunha, que nesse dia ia ajoujado de placas: "I was afraid you had some in your back too!" 

20 comentários:

JoanMira disse...

Até nesse aspecto, o Senhor é um "honnête homme". Sabe que corre o feliz "boato" na nossa comunidade do Rio que eu seria um seu grande admirador? "Laissez dire, laissez faire"... O meu orgulho pelo o que o Senhor embaixador representa para Portugal não precisa de ostentacão.

Anónimo disse...

O Senhor Alcipe tinha uma condecoração da Roménia do Ceaucescu, onde ele foi em 1976 com o então Presidente Costa Gomes (o homem é mais velho do que a Sé de Braga!). Muitos anos mais tarde, em 1997, lá foi o Senhor Alcipe outra vez à Roménia, então com o PM Guterres. E lembrou-se a tempo de perguntar ao embaixador romeno se aquela condecoração que tinha recebido em Bucareste ainda era "usável" na nova democracia romena. O olhar de horror do colega da Roménia fê-lo entender que essa honra se tornara em desonra. "Sic transit...". E lá ficou a repousar a condecoração num caixote qualquer.

a) Feliciano da Mata, memorialista

ARD disse...

Há uns anos, a pedido de um amigo que se debatia com um problema semelhante ao de Alcipe, fiz, em Belgrado, uma discreta diligencia privada para saber se, na era post-Milosevic, ainda era "usa'vel" a insígnia da Ordem da Estrela de Ouro da Jugoslávia.
A pergunta desencadeou uma pequena cadeia de pedidos de informações que culminou no Chefe do Protocolo "himself" que foi peremptóri: a Ordem já não existe mas aqueles que a receberam podem usar as insígnias respectivas.
Salomão dos Balcans, o senhor...

Anónimo disse...

A história tem destas coisas como bem recorda o Sr. Feliciano da Mata. Também François Mitterrand, cuja juventude de Vichy foi depois suficientemente apagada pela sua ação politica de maior importância, não fazia muito alarido da "Francisque" que o Marechal Pétain lhe colocara na lapela.
E as frases proferidas quando se recebia aquele medalhão: "Je fais don de ma personne au maréchal Pétain comme il a fait don de la sienne à la France. 
Je m'engage à servir ses disciplines et à rester fidèle à sa personne et à son oeuvre" deixavam uns arrepios se fossem prenunciadas 38 anos depois.
José Barros
 

Anónimo disse...

Fiquei com a ideia de que escolheu a condecoração do país que rege os destinos do Mónaco... Na minha e sua geração vemos as coisas com o "espírito" que tão bem alvitrou a propósito das insígnias do nosso ou de outro país. Felizmente. Há qualquer coisa de caricato nisto tudo. Mas não faz ideia da vontade de rir que me causa ao observar as gerações mais velhas que a nossa na escolha desses artefactos. Fico sempre a rir por dentro. É sempre bom tê-los com vida e saúde para aqueles momentos de "velhas glórias". Felizmente para eles também! Tenho mesmo é receio de que me tenha rido demais de um tempo que pode voltar p'ra trás como na canção do António Mourão.

Francisco Seixas da Costa disse...

Caros Alcipe e ARD: alguém se preocupa em perguntar a Belém, hoje, se pode utilizar as condecorações atribuídas pela "nossa" ditadura?

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro Anónimo das 13.08: trata-se da portuguesa Ordem de Cristo

Alcipe disse...

As condecorações portuguesas só mudaram com a Republica, portanto julgo que temos as mesmas ordens que o Estado Novo. Estou enganado? E que nao tenho a mão o livro do Zé Bouza Serrano...

Francisco Seixas da Costa disse...

Alcipe! Alcipe! E a Liberdade?

Alcipe disse...

Tens razão! Liberdade, liberdade! É o Feliciano que me baralha!

a) Alcipe

Alcipe disse...

Tens razão! Liberdade, liberdade! É o Feliciano que me baralha!

a) Alcipe

Anónimo disse...

Pois é.... As condecorações aos chefes de missão dipolmática, que antes do Congresso de Viena tinham como equivalência as "Boites à Portrait" entregues pelo soberano recebedor, durante a audiência de despedida.
Não sei como reagiria o Governo português se alguém se apresentasse com condecorações e entre elas constasse a Ordem do Império ao lado da da Liberdade. Enfim.... mas... eu não sei

Isabel Seixas disse...

"Um diplomata incha"In FSC

Em reposta às necessidades de criar condições para comportar/plantar/pendurar as condecorações...

ARD disse...

Talvez algum alquebrado diplomata estrangeiro que tenha recebido, em tempos, a Ordem do Império possa ter incomodado a Chancelaria das Ordens ou o Protocolo sobre a "usabilidade" de tão cobiçado penduricalho.

Anónimo disse...

Pergunta inocente: o duque de Edimburgo, cheio de humor, é bruxo?

Helena Sacadura Cabral disse...

Caro Feliciano da Mata
A vida tem destas coisas e o seu patrão Alcipe fez bem em se acautelar. Tome Vexa o mesmo cuidado nessa novas funções que ocupa, ou ainda tem algum dissabor. Os patrões lá sabem o que fazem...

Caro José Barros
Deu-me um ataque de riso. É que ainda há bem pouco tempo lera sobre essa "ténue" passagem da história.
Ah! que oportuna é a memória, quando é boa e não selectiva!

Caro Alcipe
Por favor vá depressa esclarecer essa dúvida, porque o seu antigo mordomo anda a beliscar
a credibilidade das sua condecorações.
Deu-lhe muita liberdade...

Anónimo disse...

E depois ainda há o Zé das medalhas

Anónimo disse...

Caríssimos FSC e Alcipe
Além da Ordem da Liberdade, creio que há uma outra pós 25 de Abril: a Ordem do Mérito, que substituiu em 1986 a Ordem da Benemerência de 1929.
…Mas a velha senhora também se quis pronunciar sobre o assunto para lamentar a 'censura' de que já foi vítima, uma ou outra vez, nos dois blogues de que Vexas são responsáveis:

liberdade liberdade
essa condecoração
ai que grã felicidade
me traria ao coração

sei porém que nunca há de
sendo as coisas o que são
vir parar à minha mão
pois que atento à dignidade

destes blogues diplomáticos
muito finos sorumbáticos
que se crendo superiores
me censuram palavrão

perdoai-me a reinação
que eu vos amo meus amores

Isabel Seixas disse...

Ó cara velha amiga
a 1ª quadra é tão apelativa
que a essência faz suspirar
Mas essa liberdade anda cativa
da diplomacia protocolar...

Helena Sacadura Cabral disse...

Caro Feliciano da Mata
Nessa nova profissão que agora ocupa, viajando sempre na luxuosa Emirates, ainda não lhe deram nenhuma condecoração?!
Fiquei preocupada por não ter reagido à minha sugestão de cautela. Bem sei que agora pertence ao patronato, mas patrão sem medalha...hum, hum!

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...