sexta-feira, novembro 30, 2012

Saldos

Público on-line, lido há minutos: "quem se reformar em 2013 terá corte de 4,78% na pensão". É o meu caso.

Tenho genuína admiração por esta precisão, milimétrica, às centésimas, prova de que tudo foi feito com um rigor matemático imbatível. É assim mesmo.Tudo certinho.

Estou mesmo a imaginar o ambiente: sala antiga, rapaziada nova, cabelo "à Católica", monitor gigante, Apple (claro!), "spreadsheet" com corzinhas e a piscar:

- É! A mim deu-me 4,78%. A que número é que tu tinhas dito que chegaste?

- A mim deu-me menos duas décimas e picos. "Checkaste" bem?

- Sim, sim. E assim até dá uma folga, pá! Sabe-se lá...

- Pois, então se calhar é melhor ficar assim. Isto ainda vai à concertação?

- Tás parvo ou quê? Isto já não tem nada a ver!

- Pensei...

- Pensaste mal. E, se queres que te diga, até estou surpreendido.

- Porquê?

- Ó pá, porque eu achava que a coisa ia lá prós 6%. Os gajos de 2013 ainda vão com muita sorte...

- Tinha graça se tivesse dado 4,99. Era como nos saldos!

- Essa era o máximo! Mas nem me dês ideias! Bem, vou andando, tenho que passar pelo "Rosa e Teixeira", tenho lá um sobretudo para provar. Já foste ao novo Belcanto? Vou lá hoje jantar, a ver se o Avillez merece a estrela. Ó Rosinha!, peça ao Santos se me põe o Audi à porta, tá bem? Aquilo é sempre um inferno para o tirar do pátio...

36 comentários:

Anónimo disse...

Delicioso!

Anónimo disse...

Ao qu'isto chegou!
JCM

Fada do bosque disse...

ahahah!! Sr. Embaixador! :)
Essa é uma "caricatura" e pêras! :)

Demais!! :))

Muito melhor que a TV... :)

Helena Sacadura Cabral disse...

Margarida Rebelo Pinto?

Francisco Seixas da Costa disse...

Cara Dra. Helena Sacadura Cabral: não mwe obrigue a pagar "royalties"...

EGR disse...

Senhor Embaixador: inteiramente de acordo quanto ao facto de o post ser delicioso.
Mas para ser inteiramente sincero apetece-me dizer que me sinto uma especie de ratinho de laboratório com o qual alguns senhores andam a fazer experiencias a ver até onde resistimos.

Anónimo disse...

Pois é... já assisti a isto depois de 1974 quando os servidores do estado, do antigo regime, também tinham reformas reduzidas por via das funções que tinham desempenhado antes. A história não se repete mas o ser humano é sempre o mesmo. Mas... eu não sei

Julia Macias-Valet disse...

O teatro também nao lhe vai nada mal :)

Cara Helena, boa ! Ca se fazem ca se pagam. Até porque continuamos à espera de um comentario la p'ros lados do Tibet ;)

Alcipe disse...

Agora não vai haver pobres (no seu lugar) ricos (a mandar através do seu manhoso feitor) e remediados (consolados por não andarem de pé descalço), como no tempo do Salazar: agora vai haver ricos a sério e sem quaisquer complexos de ostentação e pobres seremos nós todos, classe média proletarizada, reformados à míngua, filhos no estrangeiro a fazer pela vida. Mas ao menos podiam poupar-nos as lições de moral dos senhores Soares dos Santos e Fernando Ulrich e os sermões da senhora Isabel Jonet... já era um alívio!

a) Alcipe

Alcipe disse...

Ao anónimo das 23.57: não o consola saber que os pides continuaram a receber reforma por inteiro?

Francisco Seixas da Costa disse...

Boa, Alcipe!

Helena Oneto disse...

Hilariante "saynète" lusa, representada por bouffons com MBAs e outros "signes extérieurs de richesse" qui polulam na cena politica e poluem o ar que se respira.

Coitados dos que teem o azar de se reformar em 2014, 2015 e depois...

Caro Mestre Alcipe,
O seu comentario é edificante!

Helena Sacadura Cabral disse...

Ó Alcipe essa informação dos reformados da Pide deixou-me gelada.

Senhor Embaixador não consigo chegar para si. Mas tento!

Helena Oneto disse...

Subscrevo os comentadores Alcipe e FSC!

Francisco Seixas da Costa disse...

Cara Helena Oneto: o que você foi dizer! O nosso Alcipe é capaz de se reformar lá para 2015...

Helena Oneto disse...

Carissimo Senhor Embaixador,

Eu não ousei dizer 2013 para não "enfoncer le couteau" na magra reforma que vai auferir depois de 40 anos de bons serviços prestados ao Estado.

O que nos espera, ao nosso estimado Senhor Alcipe, a mim (aqui) e a milhares doutros reformados em 2015, é fazer coro com o primeiro funcionario do Estado que se queixa da reforma que vai ter não chegar para as despezas.

Muita sorte tem o Senhor de levar, so um cortezinho de 4.78%!

Isabel Seixas disse...

O post vem mesmo a talho de foice e a ironia dos saldos é no minimo digna de Eça que é Eça...

Agora o senhor doutor Alcipe por mérito de lucidez sabe a raiz dos factos e a sua perspicácia e memória pregressa fazem um eco de justiça que me lava a alma.

Alcipe disse...

Cito um artigo de António Bagão Félix:

Estranhamente, os partidos e as forças sindicais secundarizaram ou omitiram esta situação de flagrante iniquidade. Por um lado, porque acham que lhes fica mal defender reformados ou pensionistas desde que as suas pensões (ainda que contributivas) ultrapassem o limiar da pobreza. Por outro, porque tem a ver com pessoas que já não fazem greves, não agitam os media, não têm lobbies organizados.
Pela mesma lógica, quando se fala em redução da despesa pública há uma concentração da discussão sempre em torno da sustentabilidade do Estado social (como se tudo o resto fosse auto-sustentável...). Porque, afinal, os seus beneficiários são os velhos, os desempregados, os doentes, os pobres, os inválidos, os deficientes... os que não têm voz nem fazem grandiosas manifestações. E porque aqui não há embaraços ou condicionantes como há com parcerias público-privadas, escritórios de advogados, banqueiros, grupos de pressão, estivadores. É fácil ser corajoso com quem não se pode defender.

(António Bagão Félix)

patricio branco disse...

as coisas são mais tristes do que parecem...bem gostaria de ter rido, pelo menos sorrido com o diálogo, mas isso não aconteceu...
ou não terei chegado à essencia e o problema é meu! abraço, pb.

Anónimo disse...

Parabéns por este post.
Se uma entidade patronal retiver os descontos dos trabalhadores feitos para a Segurança Social - é CRIME.
E é-o bem, porque se abotoa como que não lhe pertence.
Quando a Segurança Social se abotoa com esses mesmos descontos, que lhe são confiados e os gasta mal gastos, isso não é também crime, PORTQUÊ?
Mal é os governantes serem apenas gestores temporários, e pensarem que são donos deste quintal, que tudo lhes pertence e podem fazer o que lhes apetece, enquanto esperam a oportunidade de serem ex-ministros.
E o pior de tudo - nós deixamos...
A.R.

Ah! - é um detalhe menor, mas só não entendo o "apple (claro)". É misturar quem usa as suas imbatíveis funcionalidades plenas, com quem o faz por snobismo bacoco.

Anónimo disse...

A diplomacia Portuguesa bem que poderia dar a opção de permaneceres no cargo.
Faria uma boa economia, bem mais que os 4,78 dos proventos de um novo embaixador e a reforma do que vai.
Os blogeiros ficariam muito felizes de o embaixador permanecer no cargo.

ARD disse...

Quando se diz que "desconto para a reforma" diz-se que deduzo, DO MEU SALÁRIO, uma parte que entrego ao Estado para que este, como uma espécie de fiel depositário, o guarde para mo devolver mais tarde sob a forma de pensão.
O que o grupo de incompetentes e troca-tintas que nos (des)governa faz representa um abuso de confiança, uma burla e uma malfeitoria.
Não há que ter medo das palavras e, se os destinatários destas, se "ofenderem", em pose de virgem insultada, que se lembrem que "isto" não passa de uma ínfima parcela das mentiras, embustes e falhanços com que brindaram o povo que os elegeu, incauta e ingenuamente.

Anónimo disse...

Eu também estou no ir, "eu também quero ir" Não sei como vai ser... mas como se costuma dizer: seja o que Deus quiser! Mesmo havendo assunto sério no meio daquela pontuação irónica como a do Eça, o texto está de morte e, só por umas décimas!

Helena Sacadura Cabral disse...

Caro ARD concordo inteiramente consigo.
E ontem à noite na televisão disse-o.
Quem não deve não teme. Tudo o que tenho foi e é produto do meu trabalho. Nunca recebi prebendas de ninguém, nem nunca nenhum partido me apanhou, porque sempre considerei que não há almoços gratis...

Anónimo disse...

A velha senhora, por uma vez de acordo (e eu também) com Bagão Félix(!), não tem parado de rosnar e/ou gritar palavrão atrás de palavrão contra os responsáveis do prec (processo de roubalheira em curso) das NOSSAS pensões de reforma, por nós ganhas com tantos anos de trabalho e contribuições. (Até eu, confesso, me vejo a acompanhar em surdina os impropérios da senhora!)
É pena que a 'dignidade'(?) do blogue se deixe ofender com o vernáculo, porque, senão, muito teríamos todos a aprender com a cultura, clássica e popular, da velha senhora, minha amiga.

Anónimo disse...

No seu blogue 'fio de prumo' e em resposta a um comentário seu, publicou a cara Helena Sacadura Cabral um sonetilho e duas quadras da velha senhora, que poderão interessar, presume a senhora, a autores e leitores do 'duas ou três coisas' e do 'Tim Tim no Tibete' que se preocupam com questões de censura, dignidade e poesia. Por isso, manda-me que mande agora aquelas 'rimalhices' a ambos os blogues - até, diz rindo, para ver se passam…Executo-me:

1. "…nunca tive de a censurar, porque comigo sempre se portou bem" (HSC dixit)

minha helena preferida
nunca eu mal me comportei
com ninguém na minha vida
'nunca' é trop dire? não sei

sei que quando fui querida
mal portar-me era de lei
e a censura proibida
bem gozaram bem gozei

a censura essa é ridícula
num país em liberdade
muito mais que o palavrão

se ele ofende é só a aurícula
e ela ofende a dignidade
ele é digno e ela não

2. "A Velha Senhora… tem uma enorme capacidade de poetar" (HSC dixit)


eu tenho que lhe dizer

lá tenho que repetir

não é poeta quem quer

e eu nem quero - deixo-me ir



rimalho muito - que o posso
trabalho co'um certo afinco

na métrica assim por grosso

mas não poeto - só brinco

Francisco Seixas da Costa disse...

Ó Dra. Helena Sacadura Cabral! Foi pena eu não arquivar nada (tenho por hábito nada guardar), porque, com gosto, ter-lhe-ia feito um "compacto" do vernáculo da "velha senhora", que teria feito as delícias das edições de Fernando Ribeiro de Melo (lembra-se?)

Anónimo disse...

Começo a ficar intrigado: afinal os regimes em Portugal não se distinguem entre ditadura e democracia mas entre "antes do 25 de Abril e depois do 25 de Abril".

Isabel Seixas disse...

Gostei do Prec.

Helena Sacadura Cabral disse...

Meu caro Embaixador essa do Ribeiro de Melo fez-me soltar uma boa gargalhada.

Minha cara Velha Senhora
Já lhe deixei no Alcipe uma rimalheira tosca, que a inspiração tem-se ressentido com as medidas do (des)governo...

Isabel Seixas disse...

De saldo estão também
os burros do presépio,
sem sindicatos porém
sem reformas e sem crédito

regressam à corte sem dono
ostracizados pelo papa
mantendo o focinho de mono
comendo palha sem data

sem habilitação académica
aposentados da inteligência
por falta de sorte endêmica
trocam o passo com relutância

temem num futuro próximo
eternizar a burrice
pobre e burro bom negócio
mendigar por carolice...

Anónimo disse...

Creio que esta reforma, dita urgente em função da "sustentabilidade do sistema" tem um autor : Vieira da Silva que foi muito cumprimentado por ela e , a meu ver, com razão porque, realmente, é preciso sustentar o sistema.
É claro que eu falo de alto, porque não me atinge, visto que a 29 de Dezembro deste ano estarei reformado e com imensos (42anos anos de desconto). Mas penso:- que bela oportunidade para um diplomata que gosta da sua função para reenvindificar o prolongamento da sua função por mais uns meses!
João Vieira

Francisco Seixas da Costa disse...

Caros comentadores: independentemente da discussão, que acabará por vir um dia, sobre uma eventual extensão da idade limite para a permanência dos diplomatas no estrangeiro - hoje 65 anos -, não sou nem nunca fui um defensor de qualquer mudança na lei. Muito menos agora, em que há menos chefias de missão, menos lugares de chefia em Lisboa e um "entupimento" na carreira. Por mim, desde sempre soube a data do meu regresso definitivo a Portugal. E não me preocupo muito com isso. Outra coisa, bem diferente, é ver o produto dos descontos que fiz em quase 42 anos de serviço público reduzidos drásticamente - para sempre! - por uma decisão conjuntural inapelável.

Anónimo disse...

Senhor Embaixador, também estou a conjugar o verbo "aller". Bem bom. O que mais me tem dado enfado nos últimos três anos é a má vontade dos colegas mais novos que nos vêm como uma gente que leva e levou "boas reformas". Coitados. Dizem aquilo tão convencidos que até dá dó. Ninguém explica à malta que os descontos dos reformados e as reformas que vigoram deveriam ser "sagradas". Paciência. E, por exemplo os reformados que vieram de territórios que já enviaram todo o dinheirinho para Portugal e que agora levam um corte? Que dizer? Ninguém explica "preto no branco" o que verdadeiramente está a acontecer para ensaiarmos um modelo de vida contrário ao que a Europa escolheu para as últimas 30 décadas. Haja saúde!

Anónimo disse...

Senhor Embaixador,
Tenho um imenso repeito por si e espero por isso que não leve a mal o que lhe vou dizer, mas acho que o Senhor Embaixador ganhava em ouvir a última entrevista do Prof. Silva Lopes à Antena 1, que com enorme dignidade e sentido patriótico clarifica, sem meias palavras, a questão das pensões e respectivo impacto nas finanças públicas (esclarecendo, pelo caminho, a filosofia que lhes deve estar subjacente num estado economicamente viável, que me parece contrária à que V.Exa. defende).
José

Anónimo disse...

Quando acabei de ler, na minha mente pairava este comentário: "Delicioso!". Ao entrar na área de comentários vejo que, afinal, esse é mesmo o primeiro das mais de 3 dezenas deles. Mas mesmo assim, aqui fica.
Pena é que não seja mesmo uma caricatura...
Com a devida vénia, vou postar no meu Face.

JR

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...