sábado, novembro 17, 2012

Gaza na Europa

A União Europeia, a espaços, "faz peito" e, da sua trincheira verbal bruxelense, lança avisos graves ao mundo, aquando de conflitos que sabe que são mais ou menos remotos para os interesses e compromissos relevantes dos seus Estados membros.

Nos outros casos, como hoje ocorre a propósito dos acontecimentos em Gaza, quando têm a antecipada certeza de que cada um joga para o seu lado, os esforçados redatores do Justus Lipsius, ancorados na sólida cultura de ambiguidade estilística que, com mérito indiscutível, lhes vai construindo a profissão, elaboram habilidosos textos que disfarçam as divergências, feitos de palavras como "inquietação", "contenção", "proteção das populações civis", "apelo ao diálogo" e outras platitudes que mais não são do que um retrato da eterna impotência europeia no mercado político do Médio Oriente.

Há pouco mais de um ano, por ocasião da votação da adesão da Palestina à UNESCO, cinco Estados membros da União Europeia (onde se destaca a Alemanha) opuseram-se a essa entrada. Onze países da União (entre os quais a França e a Espanha) foram a favor dessa adesão. Na ocasião, nove outros (com relevo para o Reino Unido, a Itália e a Polónia, com Portugal no grupo) decidiram abster-se.

Perante este significativo panorama, alguém, de bom-senso, pode levar a sério uma qualquer tomada de posição em nome da União Europeia sobre o que hoje se passa em Gaza, a qual, nem pelo facto de poder ser coletiva, deixa tudo a desejar em termos do que significa poder ter uma natureza comum? Será que passa pela cabeça de alguém, em Bruxelas, que esse texto será lido em Tel-Aviv?   

11 comentários:

LUIS MIGUEL CORREIA disse...

Não deixa de ser uma tragédia, nossa - dos Europeus - e deles... São todos doidos, para não dizer outra coisa...

Anónimo disse...

Lido, de certeza que será, não propriamente em Tel Aviv, onde apenas figuram as representações diplomáticas estrangeiras, mas em Jerusalém, onde reside o poder político israelita. De certeza, também, que esse texto europeu será novamente mote do escárnio israelita, já habituado aos esforços da ambiguidade europeia, que não se exime em denunciar e explorar.

Anónimo disse...

Alguém se lembra o que o Teodorico, na Relíquia dizia de Jerusalém: pior que Braga...

Anónimo disse...

Pois é... Isto vai ter de partir por algum lado. Ontem ou hoje ou mesmo amanhã. Sente-se por toda a parte que se está num fim de regime e isso tem muita força. Mas...eu não sei quando isso irá acontecer. No entanto quanto mais tarde pior vai ser.

Helena Oneto disse...

O que o Senhor Embaixador diz, e muito bem, sobre a UE, que de união so tem o nome, é exactamente o que penso. A "união" e os seus representantes estão muito aquém do que seria de esperar a começar pelo presidente da Comissão passando pela ministra dos negocios estrangeiros (pergunto como foi possivel elegerem estas duas 'éminences grises'...). Não ha união nem consenso em politica economica nem social nem diplomatica. O drama da Palestina permanece e os dirigentes da UE também...

gherkin disse...

A tragédia, a GRANDE tragédia é a falta de uma voz ÚNICA sobre política estrangeira na União Europeia! A Palestina continua a ser uma das GRANDES TRAGÉDIAS INTERNACIONAIS. Se o Hamas deve ser criticado pelos seus ataques a Israel, este, como país dito democrático, embora tendo todo o direito em defender-se, o seu historial destrutivo e ocupacional põe em séria questão o uso DESPROPORCIONADO DA FORÇA! O que é triste, MUITO TRISTE e INACEITÁVEL SÃO OS MOTIVOS POLÍTICOS E ELEITORAIS que o levam a atuar da forma em como o faz. Mais lamentável ainda é a destruição que tem provocado, as pobres E INOCENTES vítimas que tem feito, tudo isto perante a INAÇÃO DOS CHAMADOS DEFENSORES DA RAZÃO E DO DIREITO INTERNACIONAL.
Tal como no seu caso, caro e distinto amigo, ESPERO QUE ESTE COMENTÁRIO SEJA LIDO POR QUEM DE DIREITO!
Gilberto Ferraz

Portugalredecouvertes disse...

pobres pessoas!

Anónimo disse...

E qual foi a razão dada por Portugal para se abster na entrada da Palestina para a Unesco? Ninguém melhor que o Senhor Embaixador para nos dizer isso.

Manuel Leonardo disse...

Excia
Achei interessante o titulo
ªª Gaza na Europa ªª
Politicamente correcto .
Ja ca estiveram e certamente voltarao .
Quem ganha com todo estes morticinios?

Coisas que gosto de partilhar
ªª A minha honestidade para mim tem um grande defeito, sou um dos mortais mais probrezinho ªª
Manuel Joaquim Leonardo

fielamigodepeniche.blogspot.com

Manuel Leonardo disse...

Excia
Achei interessante o titulo
ªª Gaza na Europa ªª
Politicamente correcto .
Ja ca estiveram e certamente voltarao .
Quem ganha com todo estes morticinios?

Coisas que gosto de partilhar
ªª A minha honestidade para mim tem um grande defeito, sou um dos mortais mais probrezinho ªª
Manuel Joaquim Leonardo

fielamigodepeniche.blogspot.com

Anónimo disse...

A capacidade de síntese do Senhor Embaixador pode ver-se nas linhas do primeiro parágrafo. Brilhante mesmo!

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...