quarta-feira, novembro 28, 2012

Eugénio Lisboa

Gostava muito de poder estar presente amanhã, em Lisboa, no Centro Nacional de Cultura (rua António Maria Cardoso, 68), pelas 18.00 horas, no lançamento do primeiro volume das memórias de Eugénio Lisboa, apresentadas por Guilherme de Oliveira Martins.

Na Londres da primeira metade dos anos 90, ao final da tarde, num tempo bem antigo em que ainda havia tempo nas embaixadas para conversas, recordo-me de algumas nos sofás azuis do meu gabinete em Belgrave Square, com o António Almeida Lima, o Jorge Torres Pereira e o Caldeira Guimarães, ouvindo histórias desse velho Moçambique colonial, contadas pelo Eugénio e pelo Rui Knopfli. Era a lembrança das polémicas literárias e da discussão em torno da poesia de Reinaldo Ferreira (filho), do mundo dos jornais locais e do recorte de figuras de jornalistas como o António de Figueiredo (que então vivia também em Londres), era a memória das artes de António Quadros (pintor) e Malangatana, era a política, desde Jorge Jardim às aventuras da oposição à ditadura, neste caso com saliência para Almeida Santos, os "democratas de Moçambique" e a igreja inquieta, bem como os prelúdios visíveis da Frelimo. Julgo que, num outro volume das suas memórias, o Eugénio vai-nos também conduzir por aí, pela certa.

Não faço ideia se o Jorge Torres Pereira, hoje embaixador em Bangkok, brevemente a caminho de Pequim, se recorda de um comentário que um dia fez, e que tenho na memória, depois de uma dessas charlas a duas vozes - distintas, polémicas, às vezes cáusticas e cruéis, mas ambas imensamente cultas e com imensa graça: "Você já reparou no privilégio que temos de poder, um dia, vir a evocar estas conversas com dois intelectuais que viveram experiências como o Lisboa e o Knopfli?". 

É verdade. Já não temos o Knopfli conosco, com o seu inseparável cigarro, às vezes com o cão debaixo do braço (até que eu proibi a entrada do bicho no escritório...). Mas o Eugénio Lisboa, a quem daqui envio um forte abraço, continua a dar testemunho da sua imensa e inesgotável vivacidade intelectual.

13 comentários:

patricio branco disse...

um livro a ler, tomo nota, boa noticia aqui leio.
portugal é um país parco de memórias, autobiografias, diarios, por qualquer razão não é muito do nosso gosto ou formação dedicarmos tempo a falar do nosso dia a dia ou vida ou episódios, de nós próprios.
o pendente inglês de e l deve ter ajudado na decisão de escrever as memórias, tambem o gosto de contar historias e conversar como referido no post.
tambem gostaria de estar no lançamento do livro, sem duvida, poiis g o m é um pensador sólido e bem interessantes e certeiras deverão ser as suas palavras.
o grupo de moçambique que se reuniu em londres continua pois a dar atenção e a falar da suas vidas, lá em baixo ou ali em cima.

margarida disse...

Proibiu a entrada do cão?!
"Proibiu"?!

Francisco Seixas da Costa disse...

Cara Margarida: claro que proibi! Andava por lá a sujar tudo e os bens do Estado são sagrados. E eu, com cães, em Londres, já tinha tido a minha conta: http://duas-ou-tres.blogspot.fr/2011/06/manifestacao.html

Anónimo disse...

Sem comentários, deixo este poema de Eugénio Lisboa in “a matéria intensa” – Peregrinação
José Barros.

“A pátria é triste. Sofro. Estou calmo.
Único honesto, entre deshonestos, clarividente,
entre os cegos, a indignação há muito acalmo.
Estou só. Sofro quando alguém sente.
A honestidade – que solidão! A coragem cansa.
Em breve, cadáver que a outros mortos fala,
penso em Atenas, plena de alegria mansa,
e no coração afogo palavras que o pudor cala.
Estou cansado de prever o negro acontecer.
Algo nasce. Algo morre. Com quem perde, estou.
Honestidade é pátria de quem outra não sabe ter.
Ao abismo das causas perdidas, quieto, vou.
Melhor do que ocupar-me da minha pobre vida,
agora que pos pássaros a cantar começam,
na espada pego, com mão há pouco ferida
– o vento rasgo. Percebo que meus pés tropeçam.

Lourenço Marques, 7.2.75

gherkin disse...


Também partilho dessa enorme saudade, do conhecimento de ambos - Eugénio Lisboa e Rui Knopfli. Bons tempos meu caro. Por isso,aguardarei as anunciadas Memórias a cujo autor desejo o maior sucesso.
Abraço,
Gilberto

margarida disse...

http://odestinomarcaahora.blogspot.pt/2012/11/a-um-gabinete-em-belgrave-square.html

Dogs rule! tenho a certeza que diria Mr. Crabtree.

Helena Sacadura Cabral disse...

Aqui está um que vou ler com gosto porque conheci gente desse tempo e conheci Moçambique!

Anónimo disse...

Senhor Embaixador, o que deveria ser proibido é esta inveja enorme que sinto, misturada com a saudade do tempo em que podia assistir às conversas "dos grandes" desde que não abrisse a boca e não me ficou nem 1/3 na memória! Devia ser proibido, sim.
Só me apetece dizer-lhe que assim eu também tinha um blog,que também escrevia livros e que também me divertiria imenso com algumas circunstâncias novas que são velhissímas. Vê como a inveja se manifesta em forma de comentário?
Espero que não proíba este bicho de entrar nesta sala :-)

Maria Helena

Anónimo disse...

Provavelmente o Rui ficou mais ofendido que o Ben.

Helena Oneto disse...

Meu carissimo Embaixador,
Dos citados neste post, so conheci (em Otubro de 1970) Antonio de Figueiredo (e a sua mulher): "Antonio de Figueiredo, who has died of cancer of the oesophagus aged 77, was an activist, journalist and broadcaster who campaigned tirelessly for the liberation of Portugal's African colonies. With the lone exception of his friend Basil Davidson, de Figueiredo did more than anyone to bring the issue of colonial oppression in Angola, Mozambique, Guinea and Cape Verde to the attention of the English-speaking world.

Writing in the Guardian, broadcasting on the BBC, and speaking at countless public meetings in London in the 1960s and 1970s, he ensured that those who worked for liberation in South Africa and Rhodesia did not forget the horrors of Lusophone Africa. Disabled as a young man by ankylosing spondylitis, a rare and incurable disease of the spine, de Figueiredo was an unmistakable figure, whose intensity of stare gained extra authority as it emanated from a stooping figure and upturned face. But he never took himself too seriously, lapsing into jokes and anecdotes, often at his own expense. His physical courage was as remarkable as his passionate determination to effect change.

Born in rural Portugal, de Figueiredo had a harsh childhood."...

A ele muito devo o que fui e sou hoje.

patricio branco disse...

interessantes e divertidas memórias de londres são londres e companhia e crónica dos dias tesos de luis amorim de sousa, tambem exerceu funções na embaixada em londres, ali, nos livros, passam personagens conhecidos, alberto de lacerda, paula rego, cesariny. o mesmo autor recorda tambem os tempos de africa no às 5 no sá tortuga.
valioso esse grupo de escritores, artistas, diplomatas, professores portugueses de origem africana, viveram a sua juventude em moçambique e angola, que foram depois para londres, inclui ainda helder macedo para alem do eugenio lisboa.
bonita a capa do livro de e l, que ideia seria pôr em latim parte dos titulos, ele explicará. será obra de folego pois este I volume abrange os primeiros 17 anos da vida.

Anónimo disse...

Vou deixá-lo satisfeito por ter contribuido para o António Figueiredo conhecer umas boas rascas de Lisboa quando cá vinha. O que lhe ouvia no início de qualquer conversa era dar conhecimento antes de mais do seu querido gato, grande companhia do António Figueiredo. Homem de uma boa memória e muito culto.

Margarida Machado disse...

Solicito-lhe se possível o contato de Eugénio Lisboa, para lhe transmitir uma informação sobre uma referência elogiosa que fez ao meu pai, no seu livro Memórias III.
Fico bastante grata pela atenção
Margarida Machado
mmsdmachado@gmail.com

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...