Era um jantar de gala no Palácio de Queluz. Um rei ou um presidente estrangeiro estava em visita de Estado a Portugal. O protocolo esmerou-se em ter a imensa mesa com grandioso aspecto, belos candelabros e talheres de prata, o serviço de pratos mais requintado, tudo sobre uma toalha magnífica, só usada nas grandes ocasiões. Demorou horas a colocar tudo em ordem, mas o cenário era deslumbrante.
Salazar chegou bem antes do presidente português e do convidado estrangeiro deste. Era, cumulativamente com o cargo de chefe do executivo, ministro dos Negócios Estrangeiros e tinha um cuidado pessoal com estas ocasiões solenes. Mesureiro e conhecedor do seu sentido de pormenor, o chefe do protocolo, cavalgando a oportunidade do bom trabalho feito, inquiriu se o senhor presidente do Conselho quereria dar uma vista de olhos à sala, antes de o jantar começar. Salazar disse que sim.
Lá chegados, o diplomata não resistiu e perguntou: "O senhor presidente do Conselho acha que está tudo bem? Gosta da toalha que escolhemos? Fomos buscá-la à Ajuda...". Salazar esboçou um sorriso, entre o cínico e o irritado, e respondeu: "Muito bem, está tudo muito bem. E a toalha é linda. Pena foi que a tivessem posto do avesso...".
Esta é uma história clássica no Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Salazar chegou bem antes do presidente português e do convidado estrangeiro deste. Era, cumulativamente com o cargo de chefe do executivo, ministro dos Negócios Estrangeiros e tinha um cuidado pessoal com estas ocasiões solenes. Mesureiro e conhecedor do seu sentido de pormenor, o chefe do protocolo, cavalgando a oportunidade do bom trabalho feito, inquiriu se o senhor presidente do Conselho quereria dar uma vista de olhos à sala, antes de o jantar começar. Salazar disse que sim.
Lá chegados, o diplomata não resistiu e perguntou: "O senhor presidente do Conselho acha que está tudo bem? Gosta da toalha que escolhemos? Fomos buscá-la à Ajuda...". Salazar esboçou um sorriso, entre o cínico e o irritado, e respondeu: "Muito bem, está tudo muito bem. E a toalha é linda. Pena foi que a tivessem posto do avesso...".
Esta é uma história clássica no Ministério dos Negócios Estrangeiros.
9 comentários:
Excelente história.
Mas sorri também com "presidente" do Conselho com minúscula...Subtilezas que divertem...quem partilha coisas e causas comuns...
P.Rufino
Além de clássica revela que para sua sobrevivência o poder precisa de um olho de lince. É a lei da vida...
O problema destas pequenas histórias do dia-a-dia é tornarem humano o pior dos ditadores. Todos terão a sua vida intíma tão banal quanto a nossa.
Pequenas preocupações, pequenos gestos sensíveis, pequenas graçolas,... tudo isto a conviver num ser capaz das decisões mais cruéis, bárbaras e injustas.
Pessoalmente prefiro o célebre humor Churchiliano. Ácido, corrosivo, inteligente, implacável e directo.
É célebre aquele em que belo dia, Churchill, levou um seu sobrinho à Câmara dos Comuns, para uma visita guiada. Ao mostrar-lhe a bancada Trabalhista, o sobrinho perguntou:
- Tio, é aqui que se sentam os seus inimigos?
Ao que Churchill respondeu:
- Não, aqui sentam-se os meus adversários. Os inimigos sentam-se atrás de mim, na minha bancada.
Na mouche!...
Nota aos dois comentários anteriores:
1. O uso das maiúsculas neste blogue segue as regras dos "livros de estilo" dos jornais.
2. Se contar uma historueta humaniza um ditador, que se há-de fazer? Não contar a história?
Caro Embaixador não interprete mal o meu comentário. Simplesmente constactei um facto.
Todos nós somos suficientemente abertos para compreender a realidade.
Venham mais histórias (historietas) deliciosas que povoam o seu baú de recordações.
Também elas dão uma outra abordagem da realidade histórica.
Pessoalmente, prefiro que se contem as histórias do que fiquem perdidas na memória do tempo.
Negar a realidade seria muito pior...
No meio de tudo isto será que, na altura, não terá virado moda pôr as toalhas do avesso?
Comentário perverso este meu. Mas ando traumatizada com o "politicamente correcto".
Quanto às maiúsculas, vitais, faz bem Senhor Embaixador em seguir os livros de estilo dos jornais. Mas nem todos obedecem aos mesmos critérios. O que escolheu é, seguramente, o melhor.
A minha curiosidade é seguramente face á toalha...
Partindo do pressuposto que seria bordada e á mão é necessário mais que olho de lince, também sensibilidade especifica ou alguma formação feminina obtida de num percurso formal ou informal.
Se o tecido da toalha era um tecido lavrado tipo damasco ou mesmo liso as bainhas não estavam perfeitas.
Acho que posso inferir que a ter sido uma Senhora a colocar a referida toalha a presença de Salazar Lhe gerava uma tal ansiedade que provocou redução da acuidade visual.
Só para dizer que também adorei a história.
Isabel Seixas
Não creio que tenha sido uma senhora.
Deve ter sido o Protocolo do Estado e o velho Manholas não admitia mulheres na carreira diplomática.
Calhou um dia folhear um livro de memórias de um ex-ministro de Oliveira Salazar. Num dado momento ele contava uma história: estando com dificuldade na redacção de uma lei, Salazar deu uma vista de olhos e rapidamente resolveu o imbróglio mudando meia-dúzia de palavras. O ministro ficou deslumbrado. Acho que a história humanista que contou se insere na mesma linha de bajulices do ditador português.
Como vê, Fábio, a crítica é livre por aqui...
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