Extracto de "A Cidade e as Serras", de Eça de Queirós
"Na biblioteca, o nosso retumbante mordomo anunciava: - Sua Alteza o Grão-Duque Casimiro!
(...)
E, imediatamente, batendo com carinhosa jovialidade no ombro de Jacinto:
- E o peixe?... Preparado pela receita que mandei, hem?
Um murmúrio de Jacinto tranquilizou Sua Alteza. - Ainda bem, ainda bem! - exclamou ele, no seu vozeirão de comando. - Que eu não jantei, absolutamente não jantei! É que se está jantando deploravelmente em casa do Joseph. Mas porque se vai jantar ainda ao Joseph? Sempre que chego a Paris, pergunto: "Onde se janta agora?". Em casa do Joseph!... Qual! Não se janta! Hoje, por exemplo, galinholas... Uma peste! Não tem, não tem a noção da galinhola!
Os seus olhos azulados, de um azul sujo, rebrilhavam, alargados pela indignação:
- Paris está perdendo todas as suas superioridades. Já se não janta, em Paris!
Então, em redor, aqueles senhores concordaram, desolados. O conde de Trèves defendeu o Bignon, onde se conservavam nobres tradições. E o director do Boulevard, que se empurrava todo para Sua Alteza, atribuía a decadência da cozinha, em França, à República, ao gosto democrático e torpe pelo barato.
- No Paillard, todavia... - começou o Efraim.
- No Paillard! - gritou logo o grão-duque. - Mas os Borgonhas são tão maus! Os Borgonhas são tão maus!..."
"Na biblioteca, o nosso retumbante mordomo anunciava: - Sua Alteza o Grão-Duque Casimiro!
(...)
E, imediatamente, batendo com carinhosa jovialidade no ombro de Jacinto:
- E o peixe?... Preparado pela receita que mandei, hem?
Um murmúrio de Jacinto tranquilizou Sua Alteza. - Ainda bem, ainda bem! - exclamou ele, no seu vozeirão de comando. - Que eu não jantei, absolutamente não jantei! É que se está jantando deploravelmente em casa do Joseph. Mas porque se vai jantar ainda ao Joseph? Sempre que chego a Paris, pergunto: "Onde se janta agora?". Em casa do Joseph!... Qual! Não se janta! Hoje, por exemplo, galinholas... Uma peste! Não tem, não tem a noção da galinhola!
Os seus olhos azulados, de um azul sujo, rebrilhavam, alargados pela indignação:
- Paris está perdendo todas as suas superioridades. Já se não janta, em Paris!
Então, em redor, aqueles senhores concordaram, desolados. O conde de Trèves defendeu o Bignon, onde se conservavam nobres tradições. E o director do Boulevard, que se empurrava todo para Sua Alteza, atribuía a decadência da cozinha, em França, à República, ao gosto democrático e torpe pelo barato.
- No Paillard, todavia... - começou o Efraim.
- No Paillard! - gritou logo o grão-duque. - Mas os Borgonhas são tão maus! Os Borgonhas são tão maus!..."
1 comentário:
A propósito deste Post, permiti-me retirar algumas observações que o autor de As Farpas faz no seu livro “Em Paris”. Um livro assaz curioso, que se lê com interesse:
A PARISIENSE
“Quem faz de Paris a capital do mundo civilizado é a parisiense…Quem dirige, quem contrasta, quem sanciona e autentica esta radiante apoteose dos espíritos, é a parisiense. A vontade dela é a vontade de Deus. «Ce que femme veut Dieu le veut» é um aforismo especialmente feito para definir a omnipotência da parisiense…Todas as parisienses adoram Paris, preferindo o seu «faubourg» ou o seu «boulevard» a tudo quanto possa haver de invejável no universo…”
JANTARES E JANTANTES
Quem nunca viveu em Paris ignora o que é comer; comer é a primeira das coisas que se aprende na capital da Europa; Paris domina o mundo pelo jantar; o jantar em Paris é o primeiro jantar do orbe. «Et c’est par des dîners qu’on gouverne les hommes»…”
EPÍLOGO…
Noutro passo do seu livro, pode ler-se ainda:
“Ela trajava um vestido de veludo cor de violeta…na mão um ramalhete de camélias encarnadas representando um valor de 40 francos. Trazia nessa noite os cabelos loiros de uma abundância impossível, levantados na nuca…Conhece aquilo? – perguntou-me um sujeito que estava a meu lado…Aquilo? – Sim. Não conheço. – É uma mulher que tem dissipado seis ou oito fortunas, que dariam a independência a duzentas famílias…É a Cecília Dermont…”
P.Rufino
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