terça-feira, abril 14, 2009

Autismo

"As expressões “autista” e “autismo” deixarão de ser usadas na retórica parlamentar, à luz de um acordo a que chegaram hoje os líderes parlamentares" da Assembleia da República portuguesa, informa o Público.

Percebe-se e saúda-se a preocupação de procurar colocar as palavras nos seus contextos específicos, particularmente quando se trata de temáticas de grande sensibilidade. Mas, com o devido respeito aos nossos eleitos, não estaremos a ir longe demais no "politicamente correcto"?

Expressões como "cegueira", "paralisia", “surdo” ou “doido” são utilizadas comummente sem qualquer intenção ofensiva ou desrespeitosa. Por esse mesmo critério, deveríamos começar a eliminá-las do nosso vocabulário corrente. E essas são palavras que me ocorrem no momento. Outras seguramente haverá em idênticas condições.

Mas concedo que possa ser eu que estou errado, pelo que estou aberto a ser convencido.

12 comentários:

Anónimo disse...

Não está errado não.
Dizer que uma pessoa é preta ... os meninos rabinos... fazer judiarias... marranos etc e tal.
Que tal mudar de língua? Já agora os ilustres preocuparem-se com a 'invasão' do inglês na linguagem portuguesa?

Anónimo disse...

Autistas são pessoas que não sabem/conseguem interagir socialmente, não conseguem expressar/reconhecer emoções da forma que a maioria das pessoas consegue, é uma designação clínica. Os deputados, felizmente ou infelizmente são capazes de ter essas competências...se estão alheados da realidade é porque tem algum interesse nisso. Os autistas têm dificuldades de relação e comunicação! Chamar outra pessoa de autista, é como chamá-la de diabético, cego, cardíaco...é uma pessoa com um défice em determinada área.
gfaria

Anónimo disse...

...o que eu quero dizer, é que considero depreciativo para as pessoas autistas serem comparadas com deputados que não querem ver a realidade porque não lhe interessa...não por incapacidade...
gfaria

Anónimo disse...

Confesso que estou simplesmente surpreendida, seria interessante que os sintomas de autismo não fossem forjados ou manifestos fora de contexto, de forma a não serem diagnosticados de forma depreciativa e severa quando persistem deliberadamente.

A não ser que se constitua um factor de risco predisponente a uma nova doença profissional, por contágio verbal.



Era uma vez
Um preciosismo fundamentalista
Um fundamentalismo preciosista
Com boas intenções...

Mas castrador, da liberdade de expressão.

Sem ganhos visiveis no respeito pelo respeito de quem tem transtorno autista.

Isabel Seixas

Anónimo disse...

O autismo é exatamente o viver, (ter comportamentos, como falar, discursar, orar, etc...), por conceitos próprios desfasados da realidade.Lembremo-nos dos poetas parnasianos nos quais a forma substituía o conteúdo.Neste contexto percebe-se a preocupação dos líderes parlamentares.

Paulo M. A. Martins disse...

Será que os líderes parlamentares da Assembleia da República portuguesa não têm mais nada de importante para se preocuparem?

Pobres cidadãos terem que aturar tamanha e paupérrima 'sociedade' par(a)lamentar...

Chamar 'autista' a um governante, deputado ou político constitui uma afronta, uma provocação, aos austistas reais. Tanto mais, porque existem outros adjectivos que melhor lhes assentam e correspondem à sua verdadeira estatura moral e dimensão política.

O que acaba por ser mais interessante, neste debate, é que, muitos deles, governantes, deputados e políticos, até julgam que ser 'autista' é, de facto, muito prestigiante...
E, graças ao autismo de muitos anda tudo equivocado, mas aguardemos mais alguns meses, não muitos, para serem todos equivacuados!

Tenhamos fé e esperança em dias melhores! Porque, para "deformação profissinal" já temos, a todos os níveis, quantidade que basta e sobra!...

Aguardemos por um novo "politicamente correcto", mais envernizado, mais polido, com folhos e punhos de renda... Talvez não fira tanto ouvidos tão sensíveis, se é que os têm!

A propósito, já alguém se lembrou de perguntar aos autênticos, aos legítimos autistas o que pensam destes que, por conveniência, até são autistas travestidos?

O que pensarão eles, a propósito?

Senhor Embaixador, no meu pobre entendimento, salvo melhor opinião, até consegue não estar errado!

É só uma questão de sensibilidade de alguns mas que se resolve por LEI: DURA LEX SED LEX! E, mais ou menos, fica tudo resolvido e todos mais felizes e contentes!

Assim vai a Democracia à Portuguesa
no Par(a)lamento Luso!


Paulo M. A. Martins
Fortaleza (CE)
Brasil

Anónimo disse...

Senhor Embaixador,
Concordo com o conteúdo do seu post.Apenas lamento que, como sempre acontece, qualquer crítica ao Parlamento, mesmo construtiva, desencadeie as habituais reacções populistas e anti-democráticas, com algum cheirinho à putrefacção dos velhos tempos.
Daí ao "eles (os políticos) são todos iguais" vai um passinho que muitos dão alegremente.

Anónimo disse...

Tudo depende como se insulta. Assim, se porventura a dita agressão verbal vier precedida de um Vossa Excelência, o seu efeito ficaria atenuado, o insultado não se incomodaria tanto e ninguém de boa fé poderia também vir dizer que tal constituiria uma provocação para os verdadeiros autistas.
Por exemplo: “Permita-me Vossa Excelência que lhe diga que sofre de autismo, ao não conseguir perceber o que se passa à sua volta”. A resposta poderia ser dada da seguinte forma: “Pois em minha opinião, Vossa Excelência sofre de cegueira aguda, ao não querer ver que foi feita obra!”
“Vossa Excelência insulta-me!”. “Com o devido respeito, Vossa Excelência não só é cego, mas surdo, pois não o insultei, limitei-me a chamar-lhe à atenção para uma evidência!”. E assim por aí fora, mais Vexas, menos Vexas.
E estou em crer que, terminado o debate parlamentar, aqueles dois distintos representantes da República, ao descer a escadaria do Parlamento até poderiam ter esta conversa: “Vossa Excelência vai almoçar por aqui?”
“Com efeito. Quererá Vossa Excelência fazer-me companhia?”
“Com todo o gosto! Se Vossa Excelência me permite uma sugestão, há ali, naquela ruazinha, um petit restaurant onde se comem umas favas, que Vossa Excelência, se as provasse, ficaria a chorar por mais!”.
“Vamos então degusta-las! Vossa Excelência conduza-me até lá! Já tenho o palato aos saltos!”
P.Rufino

Anónimo disse...

"é que considero depreciativo para as pessoas autistas serem comparadas com deputados "
Mas que bela salada aqui vai! Ou será ao contrário, isto é, os deputados, pelas caracterísitcas que apresentam, é que são comparados aos autistas?!
Esta demagógica decisão (...) seria hilariante senão fosse o prenúncio de mais outras proibições, a somar a umas tantas outras ultimamente, que não auguram nada de bom!
Passaremos agora a falar todos ad literam? Vão-se as conotoçãos, metáforas e toda a casta de figuras de estilo???
Em vez de dizer: este governo é cego, surdo e mudo, passarei a dizer: este governo é privado do sentido da visão, privado de audição e de aparelho fónico?
Aqui está um nó privado de visão (nó "cego")! Santa paciência! Respeitemos, por actos e obras, os que infelizmente são vítimas destas deficiências e deixemos solta a língua portuguesa! Insidiosamente se vai instalando uma censura absolutamente abominável num Tempo que já não tem tempo para esses outros "Tempos"!
(...)

Francisco Seixas da Costa disse...

O comentário anterior foi amputado de duas frases - num espaço marcado por (...) - que não se enquadravam no que considero ser o registo de linguagem adequado para este blogue. Assumo que isso possa ser visto como censura, mas foi o meu critério, num espaço pelo qual sou responsável. Achei preferível do que eliminar todo o comentário.

Anónimo disse...

para informação, relativamente a um dos comentários...Sim, as pessoas autistas ficam incomodadas quando lêem o tipo de comentários que surgem na imprensa...porque infelizmente muitas pessoas consideram que uma pessoa autista é uma pessoa mal educada, porque não consegue adaptar-se ás inúmeras situações sociais...Sim, porque algumas pessoas autistas, lêem, estudam, trabalham e esforçam-se por dar respostas sociais adequadas...
gfaria

Anónimo disse...

O "politicamente correcto" é, sem dúvida, de rejeitar. É quase sempre plástico, hipócrita, moralizador e totalitário... No caso latente, não creio que possamos reconduzir as expressões em causa ao dito conceito (à excepção de "doido", que ninguém é ou somos todos). Exemplificando: acusar alguém de autismo é uma forma de desvalorizar as respectivas capacidades intelectuais. É disso que se trata! Acontece que, na verdade, existem pessoas que - com sofrimento para si próprias e respectivas famílias - padecem realmente dessa deficiência. Ora, não é de estranhar que gostassem de ver dispensado o uso corrente e displicente desses termos (que evocam realidades que lhes são penosas) em outros contextos, só porque tem mais impacto e económico.
Lá porque há expressões que se enraízaram não significa que sejam aceitáveis do ponto de vista duma sociedade evoluída, humana e solidária.
Que sentido faz recorrermos a expressões como "conversa de surdos" no pressuposto preconceitoso - e estúpido - de que as pessoas com essa deficiência não são capazes de ter uma conversa?
É uma questão de mentalidades, que é preciso ir mudando...
Abraço,
Gb

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