Foi há 40 anos. Os estudantes de Coimbra entraram em luta e o ano de 1969, também por essa razão, iria transformar-se num tempo de grande tensão política em Portugal.
Marcello Caetano sucedera a Salazar, em Setembro do ano anterior. Nos primeiros tempos, a esperança de uma abertura na rigidez tradicional do regime estendeu-se a alguns sectores, seduzidos pela imagem mais liberal que Caetano cultivara, precisamente pelo seu apoio relativo à luta estudantil em 1962, que o distanciara de Salazar. Porém, muitos perceberam, desde cedo, que o novo chefe do Governo não tinha vontade e força anímica para forçar um sério movimento de liberalização política e que a sua indisponibilidade para enfrentar a questão colonial continuava a ser um insuperável factor bloqueante para qualquer evolução.
1969 será também o ano em que irão ter lugar eleições para a Assembleia Nacional, com listas oposicionistas a serem autorizadas a concorrer, embora em condições de manifesta desigualdade de oportunidades, com nenhum acesso à rádio e à televisão, com muito limitada divulgação de actividades e projectos nos jornais. Nem um só deputado da oposição conseguiu ser eleito, num escrutínio que a comunidade internacional rejeitou, por irregular.
Nas listas da União Nacional ingressará, contudo, uma "ala liberal" (com Pinto Leite, Sá Carneiro, Miller Guerra e alguns outros), com figuras que, na sua esmagadora maioria, o tempo viria a afastar de Marcello Caetano, com maior ou menor fragor político.
Para se dar ares de mudança, a "evolução na continuidade" de Marcello Caetano alterou alguns nomes: a União Nacional passou a "Acção Nacional Popular", a Censura Prévia passou a "Exame Prévio" e a sinistra PIDE passou a chamar-se "Direcção-Geral de Segurança". O regime dava mostras de só conseguir fazer uma "revolução" semântica. Teria, assim, de haver quem fizesse um outro tipo de revolução: por isso, cinco anos depois, aconteceu o 25 de Abril.
Marcello Caetano sucedera a Salazar, em Setembro do ano anterior. Nos primeiros tempos, a esperança de uma abertura na rigidez tradicional do regime estendeu-se a alguns sectores, seduzidos pela imagem mais liberal que Caetano cultivara, precisamente pelo seu apoio relativo à luta estudantil em 1962, que o distanciara de Salazar. Porém, muitos perceberam, desde cedo, que o novo chefe do Governo não tinha vontade e força anímica para forçar um sério movimento de liberalização política e que a sua indisponibilidade para enfrentar a questão colonial continuava a ser um insuperável factor bloqueante para qualquer evolução.
1969 será também o ano em que irão ter lugar eleições para a Assembleia Nacional, com listas oposicionistas a serem autorizadas a concorrer, embora em condições de manifesta desigualdade de oportunidades, com nenhum acesso à rádio e à televisão, com muito limitada divulgação de actividades e projectos nos jornais. Nem um só deputado da oposição conseguiu ser eleito, num escrutínio que a comunidade internacional rejeitou, por irregular.
Nas listas da União Nacional ingressará, contudo, uma "ala liberal" (com Pinto Leite, Sá Carneiro, Miller Guerra e alguns outros), com figuras que, na sua esmagadora maioria, o tempo viria a afastar de Marcello Caetano, com maior ou menor fragor político.
Para se dar ares de mudança, a "evolução na continuidade" de Marcello Caetano alterou alguns nomes: a União Nacional passou a "Acção Nacional Popular", a Censura Prévia passou a "Exame Prévio" e a sinistra PIDE passou a chamar-se "Direcção-Geral de Segurança". O regime dava mostras de só conseguir fazer uma "revolução" semântica. Teria, assim, de haver quem fizesse um outro tipo de revolução: por isso, cinco anos depois, aconteceu o 25 de Abril.
4 comentários:
Foi há 40 anos!
Coimbra foi uma festa, mas a academia de Lisboa também não esteve quieta, por esse tempo.
Estimado Embaixador,
Como tive ocasião de referir, a propósito do seu anterior Post “La Lys”, meu avô (materno) participou nessa “malfadada” expedição militar, que teve as consequências que sabemos. Como também disse, ele evitou sempre falar com grande detalhe dessa data. Apesar de lhe ter sido atribuído uma medalha de bravura. Uma das coisas que recordo, depois de um esforço mental, enfim, de procurar andar para trás, como nos filmes que alugamos, é o seu olhar e as suas, poucas, palavras, em tom magoado e revoltado (uma espécie de revolta surda).
Isto a propósito de a filha dele, minha mãe, ter tido ocasião de ler as suas palavras, deste seu discurso. Comoveu-se, o que só quer dizer que as agradece. Foi ela quem aliás colocou a tal medalha (que referi no meu anterior comentário) no peito de meu avô, antes de ir a enterrar.
Grato.
P.Rufino
E lá foram 49 estudantes "inssurrectos", metidos em Mafra em Outubro de 69.
Ao contrário do que o poder pensava, a "tropa" recebeu-nos com um respeito e uma admiração inesperada. Faziam-se reuniões clandestinas na messe, no quarto do oficial de dia, nenhum instrutor deu qualquer informação que nos podesse prejudicar e... muitos foram ganhos, naquela altura, para o que viria a ser o 25 de Abril.
Saudações académicas
Carlos Alberto falcão
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