quinta-feira, novembro 21, 2024

Um texto sobre a Rússia, já com 20 anos

Publiquei este texto, em agosto de 2004, há mais de 20 anos, em "O Mundo em Português", uma publicação do saudoso IEEI (Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais), dirigido por Álvaro Vasconcelos, com quem continuo nos dias de hoje a cooperar no Forum Demos. Não retiro uma linha ao que escrevi, tendo muitas a acrescentar, em especial sobre a Ucrânia, que não estava ainda no radar de prioridades. É um texto relativamente longo. Se não tiverem paciência, passem à frente. Não levarei a mal...


AS NOVAS FRONTEIRAS DA RÚSSIA


As mudanças políticas que ocorreram na Geórgia no final de 2003 vieram chamar, uma vez mais, a atenção para um mundo muito vasto, constituído pelos Estados que resultaram do desmantelamento da União Soviética. Dos países bálticos à Ásia Central, da Bielorússia ao Cáucaso, os últimos anos converteram a periferia da Rússia numa área política algo heterogénea, onde se cruzam interesses económicos e estratégicos, cuja evolução dá sinais de perturbar frequentemente o poder político em Moscovo.

Terá a Rússia razões fundamentadas para temer um surto induzido de instabilidade nas suas cercanias, com implicações efectivas na sua segurança futura? Ou estará Moscovo a reagir de forma desproporcionada à constatação da dificuldade de controlar os processos políticos gerados à sua volta? E que condições terá para promover uma reacção eficaz, em moldes que preservem a sua imagem e credenciais internacionais como poder democrático? 


A vizinhança imediata

O processo que levou Moscovo, no auge da implosão da URSS, a ter de conceder plena soberania a vários dos seus Estados integrantes, pondo fim a uma União que havia sido preservada em torno de um modelo político em colapso, acabou por dar origem a realidades nacionais diversas, mas, em grande parte, assentes em regimes de matriz algo autoritária, embora com fórmulas constitucionais teoricamente democráticas. Com excepção dos Estados bálticos, na maioria desses países sobreviveu uma cultura política que, curiosamente, passou a ter mais a ver com a herança dos tempos soviéticos do que com a situação entretanto instalada na própria Rússia contemporânea.

Aos primeiros tempos dessa fragmentação sucederam-se tentativas de retomada centrípeta de alguma coordenação de políticas, de que a CEI (Comunidade dos Estados Independentes) foi o exemplo mais patente. Mas a desconfiança histórica e os ciclos de instabilidade nos diversos Estados afectaram sempre os fundamentos de tais estruturas de cooperação intergovernamental, a que a crise económica quase generalizada afectou a eficácia funcional. Além disso, alguma flutuação na afirmação externa das novas lideranças russas, fruto de razões internas e da evolução da conjuntura internacional, deu origem a etapas também diversas no seu relacionamento com o near abroad, não obstante a permanência de algumas constantes.

Esta nova realidade circundante trouxe a Moscovo, talvez mais do que a nostalgia de um poder perdido, a necessidade de convivência com a proliferação de entidades políticas autónomas, com dinâmicas próprias, quase sempre marcadas pelo sinal de uma potencial instabilidade política, fruto das suas crises de legitimidade. Aquela que sempre foi a matriz da preocupação histórica de Moscovo – a segurança no seu cenário estratégico de proximidade – converteu-se numa crescente obsessão, em particular para um poder militar que cedo entendeu que tinha de se contentar com um futuro sofrível de afirmação tecnológica, com tudo o que isso implica em termos operacionais, além do mais num quadro constrangente de colocação de forças convencionais. A falta de meios económicos para apoiar qualquer actividade significativa sustentada fora da sua área geográfica continua hoje a limitar a possibilidade da Rússia servir como polo de atracção para os seus vizinhos, com excepção dos casos em que algum recurso a Moscovo se mostra como escapatória para afrontar crises internas ou a proteger tais regimes no quadro de pressões internacionais. Em qualquer dos casos, as limitações com que a Rússia se defronta são óbvias: a sua credibilidade internacional não lhe permite arriscar ultrapassar, sem custos sérios, a red line da ingerência interna e, por outro lado, algum nacionalismo estruturante da identidade dos Estados que se destacaram da URSS constitui-se quase sempre como uma limitação a uma excessiva promiscuidade política com Moscovo. Se a nostalgia da “doutrina Brejnev” subsiste ainda na mentalidade de alguns, o realismo político deve já ter interiorizado a noção de que as aventuras têm um preço internacional muito elevado.

Um caso interessante continua a ser a relação de Moscovo com os países da Ásia Central, onde o padrão autocrático assume modelos diversos, que nalguns casos reproduzem mimeticamente a liturgia soviética. Face às singularidades destes regimes, a Rússia assume uma atitude de compreensão, alegando o respectivo estádio de transição e procurando demonstrar, contra o seu próprio exemplo, que não é prudente queimar etapas, apenas para impor um modelo democrático. Tem vindo a ser interessante observar o modo como a Rússia procura explorar alguma “solidão” internacional de alguns desses Estados, estendendo-lhes sempre a mão política, num esforço que deve ser também lido como de recuperação de alguma influência. Uma influência que tem como limite as próprias condições económicas da Rússia, que lhe não permitem assumir-se como sólida alternativa no plano da ajuda internacional.


O fim da buffer zone

O precipitar dos antigos países socialistas do Centro e Leste do continente para os braços da União Europeia não foi uma surpresa para a Rússia. A Europa comunitária garantia um modelo de estabilização democrática e uma promessa de ajuda ao desenvolvimento económico-social que ia na linha óbvia do projecto das classes políticas emergentes naqueles Estados, quase sempre tributária de uma cultura marcada por forte desconfiança face a Moscovo. A adesão representava, além disso, uma rede subliminar de segurança. Com efeito, esses países entenderam que a simples entrada no clube dos potenciais candidatos à adesão os punha praticamente ao abrigo de uma qualquer, embora improvável, atitude adversa por parte da Rússia, situação bem patente no caso dos três Estados bálticos. Moscovo cedo entendeu que tal movimento era inevitável, tendo talvez contado, erradamente, com a ausência de vontade e de capacidade da União Europeia em avançar com determinação para um processo de tal amplitude. 

Com reticências iniciais, em especial ligadas à crescente vocação para uma política de segurança colectiva da União Europeia e à sensível questão báltica, Moscovo conformou-se assim com o alargamento, embora preserve ainda claras reservas à sua extensão sem limites, como haverá oportunidades para confirmar no futuro. Além disso, não deixa de recear, não sem alguma razão, que a estabilidade da relação criada com Bruxelas venha ser posta em causa por eventuais tensões induzidas na PESC pelos novos aderentes, muitas vezes com evidente apetência para explorarem traumas ou contenciosos históricos, ou ainda pendentes, com Moscovo – dado que a nova Rússia continua a ser vista por muitos como um mero sucedâneo da URSS. Neste caso, apenas pode confiar em que a densidade dos interesses da União Europeia sobre si projectados, económicos e de outra natureza, venham a ser um factor de peso para limitar tal deriva.

Mas as objecções essenciais da Rússia quanto ao posicionamento internacional desses países situavam-se noutra dimensão: o alargamento da NATO. Não obstante a Aliança Atlântica ter entretanto elaborado um apreciável quadro formal de cooperação com a Rússia, tendente a gerar confiança e a atenuar tensões, a entrada na NATO de um número significativo de países da Europa Central e Oriental é vista como uma dulcificada “provocação”, que coloca as fronteiras da organização a escassas centenas de quilómetros de Moscovo. A alegada mudança de natureza da organização é um argumento interessante mas demasiado sofisticado para uma cultura político-militar pouco dada a nuances de conjuntura. A circunstância do Ocidente continuar a ligar a ratificação do Tratado CFE Adaptado (que regula a dimensão e colocação das forças convencionais na Europa), bem como a adesão a este Tratado dos países bálticos, à observância pela Rússia dos “Compromissos” firmados em 1999, na cimeira da OSCE em Istambul (retirada de forças e material da Moldova e Geórgia), contribui para potenciar os receios de Moscovo. As fundadas esperanças colocadas pelos EUA no papel da “nova Europa” são um factor acrescido nesta perturbação instalada.


Um alibi de oportunidade

As ondas de choque do 11 de Setembro transportaram a Rússia para uma nova realidade, feita de oportunidades acompanhadas de receios. Por um lado, o seu alinhamento na luta anti-terrorista lançada pelos EUA, com o consequente fechar de olhos circunstancial às suas práticas de imposição político-militar na Chechénia, deram a Moscovo um ensejo para fazer, sem grandes sobressaltos internacionais, aquilo que em circunstâncias normais teria gerado, no mínimo, clamores de condenação. Se a movimentação do nacionalismo checheno não tivesse enveredado pelo desespero como arma política, talvez Moscovo tivesse mesmo conseguido uma solução, neste tempo que lhe foi concedido pela realpolitik

Mas a queda das Twin Towers trouxe também uma nova – e, aos olhos russos, preocupante – situação na sua fronteira sul. Com a bênção internacional e com um alibi irrecusável, os EUA avançaram pelas Ásias Meridional e Central com uma displicência que a Rússia não pôde disputar, por se tratar do combate a um inimigo que Moscovo definira como comum. Mas entre o Afeganistão e o Iraque alguma água passou sob a ponte. Embora os EUA mantenham a Rússia como parceiro formal de um diálogo ao mais alto nível, vão apresentando como factos consumados aquilo que Moscovo apreciaria fosse produto de uma regulação negociada. 

A actividade dos EUA no Cáucaso era, de há muito, um dado adquirido nos equilíbrios da região. Com um pouco discreto apoio à liderança familiar do Azerbaijão e um compromisso com a política de equilíbrio de sobrevivência de Chevardnadze, Washington tinha já conseguido assegurar, sem preocupações de maior, a sustentação do seu projecto petro-político na região. O pouco discreto apoio de Washington à eclosão vitoriosa da nova liderança geórgia obrigou Moscovo a mostrar as últimas cartas de desagrado: reforço da determinação secessionista da Abcásia e da Ossétia do Sul, com a Ajária como jogada intermédia, e uma inesperada recusa, na reunião ministerial da OSCE, em Dezembro de 2003, em Maastricht, de renovar, embora em moldes que o Ocidente queria novos, os “Compromissos” que havia feito em Istanbul. Recorde-se que parte desses mesmos compromissos se prendem precisamente com a manutenção de três bases russas na Geórgia, contra vontade do governo local.

Mas os restantes compromissos, desta vez relativos à Moldova, originaram também uma outra crise. Quase em simultâneo com o eclodir da revolta geórgia, a Rússia apresenta um hábil plano federal para a Moldova, assente no reconhecimento explícito da autonomia da Transnístria, a região secessionista em que Moscovo mantém tropas e material, que se comprometeu, em 1999, respectivamente a retirar e a destruir. A principal “habilidade” deste plano, rejeitado pelo governo moldavo sob o que a Rússia considera ter sido uma pressão ocidental, previa a continuação por um longo tempo das tropas russas, que mudariam o seu estatuto para “forças de manutenção de paz”, desta vez legitimadas pela comunidade internacional. O fracasso desta iniciativa constituiu um golpe humilhante para Vladimir Putin.

Os próximos anos dar-nos-ão resposta a questões que só agora têm condições para ser postas, até porque os respectivos termos de referência estão em constante mudança. Os EUA começam a dar mostras de não ter pejo em forçar alguma tensão com Moscovo, sempre que tal seja compatível com um universo de cumplicidade objectiva de onde continuam a retirar evidentes vantagens. Por outro lado, a renovada legitimidade interna do Presidente Putin permite-lhe, quando oportuno, afirmar agendas de prestígio nacionalista, com o tema da segurança a servir de alavanca instrumental. Estaremos a caminho de um novo, embora diferente, modelo de Guerra Fria?

Migrantes digitais

Em 24 horas, ganhei no Bluesky 37 seguidores. Foram um pouco mais dos que tinha perdido nos últimos dias no Twitter, sem nenhuma causa lógica.

Será malta em migração? Ponham-se a pau! O Trump não gosta de migrantes!

Brasil

O Brasil vive um momento de verdade. Se o "complot" criminoso para impedir o regresso democrático ao poder de Lula vier a confirmar-se, com implicação provada de militares, vai ser precisa grande sabedoria para reconstruir a confiança entre estes e o poder civil.

França

Era óbvia a fragilidade da solução governativa francesa, com Michel Barnier a depender de Le Pen para não cair. Algo mudou: Le Pen surge agora sob fogo da justiça e o seu grupo político nada tem ganho com a proteção ao governo. Ganhará mais juntando-se à esquerda para derrubar Barnier? A ver vamos.

Preço

A Ucrânia terá usado, na noite de 19 para 20 de novembro, 12 mísseis britânicos Storm Shadow, para uma única operação, apenas no "oblast" de Kursk, que ocupa. Cada míssil custa dois milhões de euros: assim, €24 milhões. É uma guerra muito cara. E um belo negócio. Resta saber o preço da paz.

Mistério

O mundo de Trump tem diversos mistérios. Um deles é a racionalidade subjacente à indigitação para o governo de várias figuras com "telhados de vidro" bem conhecidos. Trump sabia que isso viria à tona. Por que arriscou? Para testar cedo a lealdade da sua base no Congresso?

Médio Oriente


Numa iniciativa do Observatório do Mundo Islâmico e do Núcleo de Estudantes de Estudos Europeus da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, terá lugar no próximo dia 28 de novembro (quinta-feira), na Faculdade de Letras, um Seminário intitulado "O Grande Médio Oriente e a nova configuração geopolítica regional e global"

O seminário decorrerá durante a tarde, a partir das 15.30, e contará com cerca de uma dezena de intervenientes nos vários painéis. Competir-me-á, a convite da organização, proferir a palestra de encerramento, às 18.45. 

quarta-feira, novembro 20, 2024

Já não me conheço!


Ao cheiro de um solzinho pelo meio de tarde, deu-me para flanar pela rua da Escola Politécnica. Entrei na magnífica livraria da "Almedina", que não conhecia. Uáu! Tem uma secção jurídica que podia fazer um jeitaço aos vizinhos do outro lado da rua, se por um milagre o tema da justiça os motivasse. Mais adiante, parei na "Livraria da Travessa". O deslumbre de sempre! Em ambas não comprei rigorosamente nada, à lembrança dos livros em atraso que tenho por casa. Já não me conheço como comprador de livros! No regresso, na mesma rua, num pequeno alfarrabista, por cinco euros, descortinei, em muito bom estado (mais) um livro de Alain Duhamel sobre Mitterrand, este de 1997, numa elegante edição da Flammarion. Foi a minha única compra da tarde, antes de uma dúzia de castanhas e de um lanche num lugar de esquina para o largo do Rato, que anotei chamar-se "Pastelaria 1800" e que eu ia jurar ter conhecido como uma velha tasca, com serrim no chão, como foi de regra nos tempos que alguns desmemoriados agora acham bons. Mas admito poder estar enganado sobre o lugar. Deixo fotos das livrarias, onde entrei guloso e saí famélico.


Pois!

 


Kiev sob fogo?


Resposta breve a perguntas da Rádio Observador. Aqui

Ucrânia

Não há sinais de que a luz verde dos EUA à utilização dos mísseis de longo alcance pela Ucrânia leve a uma resposta nuclear russa. Moscovo está à espera de Trump, pelo que optará por agravar a sua ação militar convencional. Não deve ser confortável viver em Kiev por estas horas.

Dia 25 deste mês


Helena Pereira, no editorial do "Público" de hoje, a dizer o que precisa de ser dito sem meias palavras. 

Já agora: à atenção do PS, que parece andar estranhamente distraído quanto à gravidade disto. 

José Mário Branco


Há cinco anos partiu José Mário Branco, um grande criador musical e um cidadão de espinha erguida face à ditadura e a tudo quanto afetasse a sua liberdade. Era um "enragé", no melhor sentido. Fez-me companhia por todo mundo por onde vivi. Tenho toda a sua obra (como tenho as completas de Sérgio Godinho, Fausto, Jorge Palma, José Afonso, Luís Cília e alguns mais). No auge da "troika" que nos saiu em rifa, recordei várias vezes o seu "FMI". Andei pela gare de Austerlitz, em Paris, à procura dos sons do seu tema homónimo. Vi-o cantar com Fausto e Godinho, numa noite belíssima no Campo Pequeno. Nunca o conheci, mas sei-o de cor. Deixo o link para um tema divertido, mas muito sério, com a toponímia de Lisboa nas palavras. Aqui.

terça-feira, novembro 19, 2024

Ainda a Ucrânia


Na RTP 3, Carolina Freitas moderou uma conversa entre Paulo Sande e eu, a propósito da subida de tensão na guerra entre a Ucrânia e a Rússia.

Pode ver, depois do minuto 20, neste link.

Jogos de guerra ou brincar com o fogo


(Vai para 10 anos (3.2.2015), publiquei aqui este texto, sob o título em epígrafe. Nos dias de hoje, imagino que a sua leitura possa chocar muita gente, embora, à época, e curiosamente, não tivesse sido muito controverso. A guerra civil a aludo no início do texto é a que estava a ter lugar entre Kiev e os autonomista russófonos do Donbass. A guerra entre Moscovo e Kiev só surgiu sete anos mais tarde).

" Há uma guerra civil em curso na Ucrânia, que está a agravar-se de forma perigosa. As perdas humanas são já muitas e a barbaridade de certas ações, que não poupam civis, tornam o diálogo e a capacidade de compromisso cada vez mais difíceis, a menos que um dos lados venha a desequilibrar as coisas em seu favor. 

Porque não acredito que seja possível unificar toda a Ucrânia (e já dou por adquirido que a secessão da Crimeia é um ponto assente) sob a autoridade de um governo de Kiev que não conceda um estatuto particular às minorias russas ou russófilas, acho desastrosa a aventura - porque é de uma perigosa aventura que se trata - de rearmamento desse mesmo governo, a que o mundo ocidental se tem dedicado, de forma mais ou menos velada. Os "amigos" da Ucrânia que entusiasmaram os revoltosos da praça Maidan a derrubar um presidente eleito democraticamente e a desencadear uma pulsão anti-russa que conduziu ao estado de coisas atual foram irresponsáveis, têm nome: chamam-se NATO e União Europeia. Em lugar de perceberem que a especificidade geopolítica do país impunha um sentido de compromisso, injetaram em Kiev sonhos de adesão àquelas duas instituições e a ilusão de que, pela força, poderiam vir a impor esse "salto" geopolítico, explorando a fragilidade conjuntural de Moscovo. Derrotado pela Rússia na Geórgia, o "Ocidente" quis tirar desforço na Ucrânia. O resultado está à vista, com a Rússia a financiar e municiar os revoltosos, havendo fortes suspeitas de que haja mesma russos a lutar ao seu lado.

A Rússia perdeu a Guerra Fria mas permanece no seu lugar geográfico de sempre. Não perceber isto, à luz de proselitismos de oportunidade, é brincar com o fogo. O poder vigente em Moscovo, não sendo uma ditadura, está já longe de ser democrático. Putin é um quase autocrata que, tal como aconteceu no passado, se alimenta do nacionalismo para se impor internamente. Tem hoje taxas elevadíssimas de popularidade e a crise económica em que o país entrou, por via da quebra do preço do petróleo, cria um sentimento de insegurança na população russa que facilita a sua entrega a um "guia". Porque não há um verdadeiro sistema de "checks and balances" no país, o poder está hoje muito concentrado em Putin. Ora a História já provou que as assimetrias entre o processo de decisão das democracias e dos regimes mais ou menos autoritários provoca facilmente os conflitos, porque tem mecanismos diferenciados de formatação.

Os países ocidentais devem entender, de uma vez por todas, que os russos não vão deixar esmagar os seus "irmãos" do lado de fora da sua fronteira (e que viveram sob a mesma bandeira até há escassas décadas atrás) e que cada dia em que estimulem o governo ucraniano a reprimir as revoltas de Donetsk e Lugansk é um dia a menos para uma possível intervenção militar direta de Moscovo. Nesse dia, o que fará a NATO? Vai para a guerra? Não haverá consenso ocidental para uma operação NATO na Ucrânia, porque não estamos perante uma situação de invocação do artigo 5° do Tratado de Washington (agressão a um Estado membro). Haverá uma "coalition of the willing" dentre os Estados NATO para enviar tropas para a Ucrânia? Se alguns ensandecessem por esta via, aí sim, estaríamos a caminho de um novo conflito global. 

Torna-se urgente uma mediação internacional que ponha cobro a esta situação e - tenho pena em constatar isto - duvido que os países da União Europeia tenham hoje um estatuto reconhecido de independência que lhes permita executar esse papel. Esse compromisso poderia passar pelo reconhecimento por Kiev de um estatuto especial das zonas russas da Ucrânia no âmbito do seu país, pelo abandono das pretensões de "independência" ou de integração na Rússia por parte dessas regiões, pelo reforço de garantias de Moscovo do respeito pelas fronteiras ucranianas, por uma substancial ajuda financeira ocidental para fins não militares ao governo de Kiev, ligado a um programa de reconstrução nacional que incluiria as zonas pró-russas (para as quais Moscovo poderia contribuir com ajuda não letal). 

Para tal, impunha-se um prévio cessar-fogo na base de um "stand-still" de posições no terreno, fiscalizado por uma operação de separação de forças decidida pelo Conselho de Segurança da ONU. Por muito que me custe ter de admitir, a OSCE, organização a que dei alguns anos de trabalho, parece ter esgotado a sua capacidade de intervenção neste conflito e a Europa terá de aceitar que um instrumento criado para pilotar o fim da Guerra Fria tem poucas condições de operacionalidade quando um novo modelo de tensão Leste-Oeste se consagra paulatinamente.

Alguns dirão que o que acima escrevi não tem qualquer sentido, que assim se abriria a porta a mais um "frozen conflict" na área e que, no fundo, isso representaria uma abdicação de princípios e interesses estratégicos. A esses apenas perguntaria se estarão dispostos a ver os filhos morrer na estrada para Donetsk."

(Passaram quase dez anos sobre este meu texto. No entretanto, houve uma guerra muito mortífera para os dois lados. Não me parece, contudo, que os pressupostos básicos tenham mudado.)

segunda-feira, novembro 18, 2024

Olhar os dias em quinze notas

1. As palavras têm um peso, mas as mesmas palavras não querem dizer exatamente o mesmo. Biden defendeu hoje a independência da Ucrânia. Putin também podia dizer isso, mas querendo significar que gostaria de transformar a Ucrânia num país tão "independente" como é a Bielorrússia.

2. A Ucrânia, nos dias de hoje, só formalmente é um país independente. Um Estado que necessita da ajuda de outros para existir, é um país altamente dependente, qualquer que seja a razão por que isso acontece - neste caso, porque está a ser invadido por outro.

3. Não há uma forma apenas da Ucrânia ser independente. Aquela que o governo de Kiev desejaria é, muito provavelmente, inviável: ser simultaneamente membro da NATO e da UE. Mas não está provado que seja impossível, por exemplo, preservar a independência de uma Ucrânia neutral.

4. Uma Ucrânia neutral seria uma solução injusta, na perspetiva de Kiev. De facto, a neutralidade não faria jus à luta de quem, desde há mais de uma década, perdeu muita gente na batalha por outro modelo. E teria o "defeito" de agradar a Moscovo. Só que, às vezes, a vida é o que é.

5. Se a Ucrânia, em 1991, tivesse mostrado vontade constitucional para acomodar a minoria russa, tudo teria sido diferente? Ou se, mais tarde, tivesse aceitado Minsk II? Ou a tentação de Moscovo, em 2014, já com a Crimeia "no bolso" e a humilhação de Maiden, seria intravável?

6. Quem não deseja uma Ucrânia neutral é também a Europa. A Ucrânia, para além dos sentimentos e da retórica, é vista por muitos na UE/NATO como uma conveniente "almofada" de proteção face aos humores futuros da Rússia autocrática de Putin ou de quem lhe suceder no mesmo registo.

7. Para essa Europa, alguma russófoba, uma Ucrânia sob a proteção do "artigo 5°" seria o cenário ideal, na presunção de que os "donos" da NATO, isto é, os EUA, mantivessem as suas garantias, o que hoje está longe de estar assegurado. Trump não durará sempre, mas ainda pode vir pior.

8. A Europa evita falar do assunto, mas talvez não seja por acaso que não se ouve uma única palavra sobre a hipótese da Áustria entrar para a NATO. É que, ao contrário da Suécia e Finlândia, a neutralidade de Viena ficou gravada na sua constituição. É oportuno agora recordar isto.

9. Os dias estão e, por algum tempo, vão continuar tensos entre Moscovo e o lado de cá. Mas lembraria o óbvio: a Rússia vai ficar sempre por ali e, como se sabe, com os vizinhos, por mais desagradáveis que eles sejam, há que saber encontrar um "modus vivendi".

10. Se um poder "absoluto" como o de Trump tivesse alguma racionalidade, para além da desbragada afirmação egoísta dos interesses americanos, esta seria uma oportunidade de ouro para pilotar uma nova arquitetura de segurança europeia - com UE, NATO, Ucrânia e Rússia. Mas não tem.

11. Não sendo expectável que sejam os EUA a empenharem-se numa nova "détente", neste caso no (eventual) termo de uma Guerra Quente, restará à Europa fazer pela vida, se, como tudo o indica, Trump lhe impuser uma solução desagradável, à custa da soberania ucraniana.

12. Mas, na narrativa eufórica e jingoísta, a Europa "va-t-en guerre". Pois isso! A Europa não é um país, são 27 vontades, umas raivosas, outras cansadas, outras declaratórias, como a senhora Von der Lyen, armada de balas de papel e de papel para comprar balas para outros dispararem.

13. Quando o telefone toca no Kremlin e é de Berlim, Putin deve ter achado graça. Scholz telefonou para dizer nada. Macron atrasou-se e vai agora inventar qualquer coisa para lembrar a sua "force de frappe". Até na coreografia díspar a Europa mostra que não sabe o que há-de fazer.

14. Surgem as armas de longo alcance. O estertor das presidências americanas é mau conselheiro. Em 2008, Saakashvili caiu num engodo saído de Washington e foi o que se viu na Geórgia. Veremos se Zelensky tem uma noção minimamente realista das coisas. O seu país tem já muitos mortos.

15. Há muito que os dias não estavam tão perigosos. Este é o tempo dos líderes serem responsáveis, talvez mais do que as suas opiniões públicas, prenhes de emoções e de "dever ser". Recorda-se por aí o início da Segunda Guerra. Tenham juízo! Nessa altura ainda não havia bomba atómica.

Gastronomia


O que é a Academia Portuguesa de Gastronomia? É uma associação privada, com estatuto de "utilidade pública", composta por um núcleo de 30 pessoas - um imutável "numerus clausus", que o tempo vai renovando. 

A Academia existe há mais de um quarto de século e tem como finalidade essencial trabalhar os temas da gastronomia, promovendo a qualidade da culinária e da restauração portuguesas, distinguindo os melhores profissionais da arte, autores e jornalistas do setor. Trabalha em estreita colaboração com a Academia Internacional de Gastronomia e em ligação com entidades congéneres de muitos países.

Teve na sua origem a figura de Jorge Gonçalves Pereira. Foi depois "alimentada" e estimulada, ao longo de anos, por aquela que é, sem sombra de dúvida, a personalidade mais marcante da cultura gastronómica portuguesa contemporânea, José Bento dos Santos. 

A Academia tem atualmente uma direção presidida por Carlos Fontão de Carvalho, da qual tenho o gosto de ser vice-presidente, desde 2017, juntamente com Alberto Laplaine Guimarães. Não temos uma sede física, mantemos uma estrutura leve, sustentada pela boa-vontade e pelo trabalho e voluntarismo de uns tantos.

À luz dos hábitos portugueses, temos a consciência de que a Academia é uma estrutura "sui generis": não vive "à mesa do orçamento", nem de fundos europeus (é verdade!), todos os membros pagam as suas quotas e as suas refeições. Sempre.

Nas "peregrinações" que faz pelas mesas do país, que procura avaliar com justiça e equilíbrio, a Academia não vai comer "de borla", não faz fretes de amiguismo, não solicita rigorosamente nada a ninguém. Tenta apenas ser útil à preservação do património gastronómico português, sublinhando o papel essencial que a nossa restauração hoje representa para o turismo e a economia nacional.

Hoja à noite, a Academia Portuguesa de Gastronomia vai organizar a sua Gala Anual, em Lisboa. Aí estarão algumas dezenas de pessoas, entre os quais alguns convidados estrangeiros. Lá teremos também a presença de Jorge Gonçalves Pereira e de José Bento dos Santos. Na ocasião, vamos atribuir galardões a quem tem trabalhado bem em prol da nossa gastronomia.

domingo, novembro 17, 2024

Roménia e Irlanda - o futuro no boletim de voto.

 


Ver aqui.

Trump é a extrema-direita

 


Ver aqui.

A lei da bala


A família Trump tem as idiossincrasias que todos nós conhecemos. Mas, às vezes, involuntariamente, daquele caos "nasce a luz". Este tweet é uma valiosíssima achega para nos ajudar a entender melhor as lutas que se travam numa certa América.

O Clima e o mundo


Ouvir aqui.

Foi assim...

 


Mistério

É para mim incompreensível que continue a ser dado destaque aos bitaites políticos dos cônjuges - mulheres ou homens - de figuras eleitas. Essas pessoas não têm qualquer mandato democrático, sem prejuízo do pleno direito a terem as suas opiniões, mas só para uso privado.

sábado, novembro 16, 2024

Queijos


Parabéns ao nosso excelente queijo! 

Confesso que estou muito curioso sobre o que dirá a imprensa francesa nos próximos dias.

Novembro

Rodrigo de Sousa e Castro, subscritor do Documento dos Nove, foi um dos "vencedores" do 25 de novembro, tal como Vasco Lourenço, presidente da "Associação 25 de Abril", organização que não vai estar presente na cerimónia que a Assembleia da República vai fazer no próximo dia 25.

Com a indiscutível autoridade que a sua posição em 1975 lhe concede, escreveu no Twitter esta síntese brilhante, que vale a pena ler :

"O VI governo, que vigorou antes (desde setembro de 1975) e após o 25 de novembro até ao I governo constitucional (julho de 1976), tinha elementos do PS, PPD/PSD e PCP e ainda militares e independentes. 

A Constituinte manteve-se exactamente na mesma, antes e depois do 25N. 

O Conselho da Revolução assistiu à saída do Otelo do Conselho da Revolução e do COPCON, e do Fabião do Estado Maior do Exército, mas basicamente manteve a mesma composição 

As regiões militares continuaram comandadas pelo Pires Veloso, Vasco Lourenço, Pezarat Correia e Franco Charais. Ramalho Eanes foi escolhido pelo "Grupo dos Nove" para Chefe do Estado-Maior do Exército;

Os órgãos judiciais permaneceram intocáveis.

A mudança efectiva de Poder tinha-se verificado no Pronunciamento de Tancos, em Setembro de 1975, com o fim do V governo provisório e o afastamento de Vasco Gonçalves e de membros do Conselho da Revolução "próximos" do PCP.

O Presidente da República, general Costa Gomes, permaneceu no cargo de 1974 a 1976. 

Não há, a 25 de novembro, nem mudança de Poder nem de Regime. Houve sim, após o 25 de novembro, um saneamento extensivo dos OCS com uma espécie de caça aos jornalistas e comentadores comunistas e, claro, tinha havida um recontro entre forças militares após a insubordinação dos páras de Tancos. que o grupo dos Nove, e o seus apoiantes militares, aproveitou para mudar comandos de alguns regimentos do Exército.

Todos, incluindo os palermas e ignorantes, têm direito a comemorar o "seu" 25 de Novembro. Foi para isso que se fez o 25  de Abril."

O ridículo de tudo isto é que parece que, nos dias de hoje, há quem "saiba mais" sobre o 25 de novembro do que aqueles que estiveram no seu centro. Curioso, não é?

Comentários


Vão regressar os comentários a este blogue. Infelizmente, dada a recorrente natureza de alguns, visivelmente estimulados pelo fenómeno Trump e por uma agenda autoritária lusitana, vou ser bastante seletivo na autorização da sua publicação. E - desculpem lá! - aqueles comentadores que andam por cá só para chatear, para contrariar, em registo sistematicamente negativo, têm de ir comentar para outras freguesias. Aconselho-os mesmo a criarem os seus próprios blogues, onde poderão dar livres asas às suas obsessões próprias.

Giuliani

 



A América é uma terra de oportunidades. Mas, quando elas escapam das mãos, transforma-se num país cruel.

Rudy Giuliani, como mostra este tweet de há dias, vive um tempo de desespero. Advogado de Trump aquando da contestação das eleições presidenciais de 2020, Giuliani deixou-se enredar, ele próprio, em conflitos judiciais que o arruinaram. Trump afastou-se dele. Foi expulso da Ordem dos Advogados e, a acreditar naquele texto, a sua vida é hoje muito difícil.

Há minutos, a CNN americana apresentou uma reportagem sobre a "descida aos infernos" de Giuliani.

Quando fui viver para Nova Iorque, em 2001, eu apenas sabia que Rudy Giuliani era o presidente da Câmara da cidade. A sua política de "tolerância zero" com o crime tinham-no tornado popular em muitos setores, mas também convocava fortes críticas por ter aberto as portas a ações repressivas da polícia, algumas à margem da legalidade. Era essa imagem dual que eu tinha dele.

Numa das minhas primeiras noites em Nova Iorque, fui passear com a minha mulher pela vizinhança da nossa residência e, a certa altura, deparei com um ambiente estilo Hollywood: focos luminosos sobre uma moradia no meio de um jardim, carros da polícia a "flashar", cordões de segurança, imensas câmaras a filmar. 

A casa à volta da qual estava montado todo aquele aparato era a Gracie Mansion, a residência oficial do presidente do Município de Nova Iorque. Onde vivia Giuliani? Não, onde vivia a mulher de Giuliani e os filhos. O autarca tinha-se tranferido para outro lugar com uma namorada e a mulher recusava-se a deixá-lo reentrar na casa, onde ele queria levar a sua nova companheira e visitar os filhos. 

Nessa noite, ao que apurei, Giuliani teria feito uma nova incursão, apoiado numa decisão judicial, mas fora mantido fora de casa. À distância, embora sem ver a figura de Giuliani, eu apreciava toda aquela movimentação, muito cinematográfica, muito nova-iorquina.

A sorte de Giuliani ia mudar. Com a ocorrência dos atentados em 11 de setembro de 2001, Rudy Giuliani surgiu publicamente como um verdadeiro herói. A sua extraordinária capacidade de decisão, no centro de uma cidade em estado de choque, fez toda a diferença. Conheci-o pessoalmente por essa altura, em ocasiões oficiais e sociais em que era uma vedeta. Giuliani era um bom comunicador e tinha um trato amável.

Rudy Giuliani ganhou então uma notoriedade, não apenas local, mas também de dimensão nacional e mesmo internacional, sendo por alguns anos um orador requestado pelo mundo. Voltei a estar com ele numa sessão em Viena, dois anos depois. 

O seu prestígio não parou de crescer e, a certa altura, o seu nome começou a surgir como um forte candidato à eleição presidencial de 2008, pelo Partido Republicano. Não obteve essa designação, mas manteve-se por bastante tempo na crista da onda política, mediática e judicial americana.

Terá sido a sua associação a Donald Trump, de cujo governo, em 2016, chegou a dizer-se que iria fazer parte, que terá sido o início do seu fim. A sua intervenção mediática, embora um tanto caricata e polémica, como advogado de Trump, na contestação dos resultados eleitorais que deram a vitória a Jo Biden, terão contribuído para a sua queda em desgraça, condenado que foi em diversos processos. Tendo mais tarde declarado falência, vive por estas horas sob o processo de arresto dos seus bens, mesmo os mais pessoais, em condições financeiras quase limite. 

Nos interventores na peça da CNN americana em que, há horas, foi abordada a tragédia de Giuliani, observei sorrisos e até graçolas, como se o seu comportamento ao longo destes últimos anos autorizasse essa expressão de alguma crueldade. Foi triste ver isto, mas isto é verdadeiramente a América.

Falando de Scholz e Trump


Aceitei um simpático convite da CNN Portugal para conversar com o João Póvoa Marinheiro sobre o significado do telefonema de Scholz a Putin e as decisões de Trump no caminho de regresso à Casa Branca.

Pode ver aqui.

sexta-feira, novembro 15, 2024

Dê-lhe o arroz!


"O Arroz Português - um Mundo Gastronómico" é o mais recente livro de Fortunato da Câmara, estudioso da gastronomia e magnífico crítico semanal na revista do "Expresso", onde preenche, com grande competência, o lugar que já foi de José Quitério. 

Trata-se de um livro belíssimo editado pelos CTT, em cujos balcões se pode comprar. Traz receitas de gente sabedora. Se não tem ideia do que há-de oferecer no Natal a quem gosta de cozinhar, dê-lhe "O Arroz..."!

25 só há um!

A Associação 25 de Abril (de que sou associado) decidiu não participar na sessão que a Assembleia da República decidiu organizar no dia 25 deste mês. Acho uma decisão muito sensata. Está de parabéns por ela Vasco Lourenço. Viva o 25 de Abril, sempre!

Trump

Percebo bem que não se goste de Trump. É uma imensa ameaça mundial à prevalência de um mundo gerido por regras - e não por quem tem força. Dito isto, estou muito curioso para ver quais são os órgãos de informação que têm a lata de não lhe atribuir o título de "homem do ano".

Twitter

Nada percebo de algoritmos, mas, ao contrário do que ouço dizer, ainda não me dei conta de que o Twitter esteja pior e a "propagar ódio". 

Façam como eu: não autorizem comentários diretos nos vossos posts, obriguem quem deseja comentar a difundir simultaneamente aquilo que antes escrevemos e que o façam apenas para os seus seguidores, bloqueiem os chatos e os " tóxicos" e logo verão como a vida se torna bela por ali.

(Imagino que isto possa ser "chinês" para os leitores que não frequentam o Twitter.)

Está lá? É do Kremlin?


Olav Sholz falou hoje com Putin. Terá mudado alguma coisa, na atitude de Moscovo, que possa justificar que o líder do maior país europeu tenha alterado um comportamento que mantinha desde há dois anos, no sentido de não falar com Moscovo? 

Macron e Von der Leyen concordaram com a iniciativa deste auto-proclamado porta-voz da Europa (com eleições à porta e à cata de protagonismo)?

Há duas pessoas que se estão agora a rir: Orbán e Trump.

A alegria dos tontos

Com a chegada de Trump e do seu "nightmare team", eles andam contentinhos da silva: os maluquinhos das teorias da conspiracão, os negacionistas climáticos, os anti-vacinas. À coca estão putinistas, estadofóbicos e furiosos anti-ocidente, todos à espera que Trump os ajude. Isto pode ter graça!

Pensar nisto

Curioso, não é? "In 2024, Kamala Harris did worse among Black voters than Joe Biden did in 2020. She did worse among female voters. She did much worse among Latino voters. She did much worse among young voters".

Bernardo Pires de Lima


Leio no "Expresso" que Bernardo Pires de Lima vai para Bruxelas, reforçar a equipa de António Costa. É uma excelente notícia. O presidente da República, lá por Belém, vai perder um valioso conselheiro. E, uma vez mais, a direção do Clube de Lisboa fica desfalcada. Já estamos habituados a sacrificarmo-nos pela pátria...

Bernardo Pires de Lima é uma das pessoas que, em Portugal, pensa melhor a Europa e o mundo, tendo publicado, há pouco tempo, o excelente "O Ano Zero da Nova Europa", que António Costa apresentou no CCB. Os seus escritos e a clareza das suas intervenções televisivas provam, à saciedade, a sua fina qualidade de analista. Estou certo que vai ser um excelente apoio para António Costa.

Conheci o Bernardo quando, vai para 12 anos, regressei definitivamente a Portugal. Ainda chegámos a gizar em conjunto a criação de uma empresa de consultoria estratégica, mas a vida pressionou-nos para outros rumos de trabalho. O Bernardo publicou entretanto vários livros, sobre os quais escrevi e que cheguei a apresentar. Estivemos juntos em diversas iniciativas públicas, tentando desfazer o novelo das complexidades internacionais. Ficámos amigos.

Um forte abraço, caro Bernardo, com votos de muito sucesso nesta nova etapa. Ver-nos-emos por aí.

quinta-feira, novembro 14, 2024

Sai um Kennedy!

Kennedy na equipa de Trump! Ouviram-no durante a campanha? Tudo isto pode vir a ser dramático, mas lá que vai ter piada de observar, lá isso vai!

De luas


Posso estar enganado, e nem decidi intimamente se me apetece estar ou não, mas tenho cá um "feeling" que a lua-de-mel da relação de Trump com Musk não vai durar muito.

Belém

Mudou - claramente - o discurso do presidente da República sobre o escândalo do INEM. Agora, vai passar-se à fase seguinte, isto é, veremos a capacidade (ou não) de Luís Montenegro de resistir à pressão para tirar "consequências políticas", sabendo nós o que isso quer dizer.

Albion

A vida não está fácil para o governo britânico. A administração Trump deve ir tratá-lo com uma imensa frieza - vá lá!, em resposta à hostilidade com que os trabalhistas destrataram Trump. Assim, com a "special relationship" em crise, estender a mão à Europa pode ser a solução. 

Pensem bem!

Quem está chocado com algumas escolhas para o novo governo de Trump deve refletir no facto de que, ao contrário de 2016, esses 75 milhões de americanos sabiam muito bem quem estavam a escolher e dão-lhe um evidente benefício da dúvida. Trump só vai responder perante os resultados das suas políticas no plano interno.

Le Pen

O esforço para conseguir a inelegibilidade de Marine le Pen em 2027, por moscambilhas do seu partido com dinheiros do Parlamento Europeu, vai inevitavelmente ser visto como uma perseguição política, levando a uma vitimização que só a favorecerá. Isto é tão óbvio! 

Viva o Estado!


Sabem quem não discrimina entre sexos em matéria de salários? O Estado. Por isso, também no dia de hoje, viva o Estado!

Petróleo


Para melhor se entenderem algumas decisões tomadas pelo mundo. A fonte é insuspeita.

Estados de alma

Há uns anos, tivemos por cá uma amostra paroquial de um governo que detestava o Estado a dirigir esse mesmo Estado. Era a lógica de "menos Estado, melhor Estado", esquecendo-se de acrescentar em público "e o que sobrar fica para nós". Depois, foi o que se viu: a necessidade de confortar a clientela tê-los-á coibido de ir demasiado longe. A América vai agora levar esse sonho à glória. "Fasten seat belts!" 

Ai Brasil

O Brasil fervilha sob uma forte tensão político-social. Os acontecimentos das últimas horas revelam que a fratura do país continua profunda e com condições para afloramentos cíclicos violentos. Este tipo de "lobos solitários" não nascem no vazio.

Digam ao que vêm

A guerra na Ucrânia não é uma situação de "business as usual". A cada hora morre ali muita gente. Cada vez se torna mais urgente que a futura administração americana esclareça, com clareza, as bases daquilo que se propõe fazer ou deixar de fazer. E, se tiverem tempo, informem Kiev e Bruxelas.

A "morte" da América

Nunca dei grande crédito a quantos, há muito, teorizam o declínio inexorável do poder americano. O seu sistema político-institucional pode estar a atravessar uma grave crise de funcionalidade, mas acho que as ideias sobre a "morte" económica e militar da América são um mero "wishful thinking" de quantos sempre a detestaram.

25 de Abril


A Academia Portuguesa de História premiou agora este livro de Irene Pimentel, sobre o 25 de Abril e tempos subsequentes. 

Talvez porque andei muito próximo de alguns dos acontecimentos desses dias e porque, depois disso, julgava ter lido praticamente tudo quanto sobre esse período foi publicado, tinha criado intimamente a ideia de que já "sabia tudo" e de que não iria ter mais surpresas. 

Há meses, li este livro e afinal nele vim a aprender algumas coisas novas. E ainda há dias, num almoço de gente que andou fardada por aquele tempo, obtive outros dados sobre certas questões que já considerava fechadas. A História, afinal, nunca encerra portas.

Um forte e amigo abraço à Irene pelo merecido reconhecimento que este seu interessante trabalho acaba de obter. 

E, já agora, porque se aproxima uma outra data, aqui deixo o meu "25 de Abril sempre!"

quarta-feira, novembro 13, 2024

Línguas

São uma imensa saloiíce os comentários sobre o modo como Luís Montenegro fala inglês. Falar bem línguas estrangeiras pode trazer vantagens, mas não é essencial. Houve mesmo um poliglota político lusitano de quem se dizia na Europa que conseguia não dizer nada em várias línguas.

Geografias


Quantos portugueses conhecem as extraordinárias instalações da Sociedade de Geografia de Lisboa? 

Parceria

O novo governo americano parece uma parceria público-privada.

A pergunta na "Visão"

Não consigo responder a uma pergunta na "Visão" desta semana. A única coisa que tenho por certa é que estávamos a ter uma conversa bem divertida, porque é o que acontece sempre que nos encontramos. Quer estejamos a subir ou a descer.

Body language


 

RTP


Tive o gosto de integrar o Conselho Geral Independente (CGI) da RTP, entre 2018 e 2021. Trata-se de um órgão de supervisão da RTP - Rádio e Televisão de Portugal, que entrou em funções em 2015, resultante de uma reforma introduzida pelo ministro Poiares Maduro. 

Composto desde então por personalidades com origens ou ligações políticas muito diversas. pude constatar, nos mais de três anos que ali me mantive (interrompi o meu mandato de seis anos, por motivos pessoais), como foi sempre fácil criar e preservar no seu seio um ambiente de sã cooperação, em prol do serviço público de rádio e de televisão. 

As pessoas são escolhidas para o CGI porque têm uma carreira anterior que as fez distinguir, pelo que seria impensável, até para a preservação desse seu prestígio pessoal, que viessem a funcionar como "correias de transmissão" de quem quer que fosse. E, com lisura e honestidade na ação, é perfeitamente possível manter independência, não obstante qualquer eventual ligação partidária.

Ao tempo em que estive no CGI, este passou, a partir de certa altura, a integrar os nomes de Leonor Beleza e de Alberto Arons de Carvalho. Tratando-se de duas figuras com um passado político ativo notório, posso testemunhar que nunca, na sua ação, detetei o menor viés político-ideológico, a vontade de "fazer fretes" às suas origens partidárias. 

Leonor Beleza assumiu recentemente responsabilidades políticas e entendeu dever afastar-se da presidência do CGI, o qual, no seu seio, elegeu, para substituí-la, Arons de Carvalho, um conhecido jornalista e professor universitário. 

Trata-se, à evidência, de uma das personalidades portuguesas com maior conhecimento da área da comunicação social, com obra publicada sobre o tema, tendo, no passado, sido titular dessa pasta em governos e tendo também ocupado funções na ERC (Entidade Reguladora da Comunicação Social). 

Alberto Arons de Carvalho é a escolha óbvia como novo presidente do CGI, lugar que, lembro, foi também já ocupado por António Feijó (atual presidente da Fundação Calouste Gulbenkian e antigo vice-reitor da Universidade de Lisboa) e por José Vieira de Andrade, catedrático da Universidade de Coimbra.

Desejo ao Alberto Arons de Carvalho um excelente trabalho à frente daquele importante órgão de supervisão - noto que é o CGI, nomeadamente, que escolhe e nomeia as administrações da RTP. 

A RTP não é uma típica empresa do Estado, um órgão tutelado pelo governo. É uma singular empresa pública, de que todos os cidadãos portugueses são "acionistas", pelo que pagam como "contribuição audio-visual" (CAV), na sua conta da luz. O atual estatuto da RTP permite-lhe resistir às eventuais tentações de pressão dos governos de turno, e isso foi uma imensa conquista que compete ao CGI tentar preservar. Contra todos os ventos e todas as marés que já por aí se estão a levantar.

terça-feira, novembro 12, 2024

Ainda a América


"Eleições nos Estados Unidos: que impacto para o Mundo" é o título de uma conferência que, às 17 horas de hoje, profiro na Sociedade de Geografia, na rua das Portas de Santo Antão, em Lisboa, a convite da Academia Internacional de Cultura Portuguesa. A entrada é livre.

segunda-feira, novembro 11, 2024

Clube de Lisboa


Tivemos hoje uma reunião da equipa dirigente do Clube de Lisboa / Global Challenges. 

O que é esta organização? Trata-se de uma estrutura criada em 2016, por um pequeno grupo de pessoas, oriundas de áreas políticas muito diferentes, que tiveram a ideia de promover uma reflexão constante sobre os grandes temas globais, procurando tornar Lisboa (e Portugal) num espaço para debates de muito bom nível, nisso envolvendo personalidades exteriores, que ao longo destes anos cá se deslocaram, vindas de dezenas de países. 

O Clube tem mais de uma centena de associados, que pagam as suas quotas. É apoiado, desde o seu início, pela Câmara Municipal de Lisboa e pela ONG Instituto Marquês de Valle Flôr. O Clube não trata da política externa portuguesa ou de temas nacionais. Cuidamos em manter e alargar a forte diversidade política que teimamos em cultivar.

O que faz o Clube? Desde o seu início, temos levado a cabo a organização de "Lisbon Talks", que são debates presenciais com algumas dezenas de pessoas, em torno de oradores convidados. Exclusivamente através de meios digitais, temos vindo também a organizar o que já foram largas dezenas de "Lisbon Speed Talks", conversas de pouco mais de meia hora sobre temas relevantes, com larga visualização, beneficiando da intervenção do público.

De dois em dois anos, o Clube organiza as Conferências de Lisboa, que trazem à Gulbenkian, durante dois dias, algumas dezenas de oradores e centenas de pessoas a assistir, sem o menor custo de entrada ou participação. Acabámos há precisamente um mês a 6ª Conferência de Lisboa. Mas envolvemo-nos também na organização de outras iniciativas, como as Conferências sobre os Estados Frágeis, sobre a Segurança do Indo-Pacífico e outras.

O Clube, que não tem sede física e tem como regra não escrita procurar fazer bem as coisas com muito pouco dinheiro, é dirigido por uma estrutura diretiva, a que presido desde 2019, eleita em Assembleia Geral de associados. Naturalmente, toda a nossa colaboração e tempo gasto são feitos "pro bono". 

A estrutura permanente de pessoal do Clube de Lisboa é minúscula. Trabalhamos na lógica de uma espécie de "sopa da pedra", apenas contando, para as Conferências, com um limitado apoio complementar de alguns "sponsors", institucionais ou privados. Uma nota curiosa: nenhum orador nas iniciativas do Clube, português ou estrangeiro, recebeu alguma vez qualquer pagamento. Como conseguimos isso? O segredo é a alma deste negócio onde não há o mínimo negócio.

A reunião que hoje fizemos foi para avaliar as "lessons learned" na 6ª Conferência de Lisboa e lançar um programa de ação para 2025. Ambicioso, porque é assim que gostamos de trabalhar. 

Por aqui e pelas diversas redes sociais anunciamos as nossas iniciativas. Por que não vai ao site do Clube de Lisboa e fica a saber um pouco mais sobre o que fazemos? Até pode dar-se o caso de vir a estar interessado em participar nas nossas realizações, que são abertas a toda a gente, sob inscrição, tendo como única limitação a disponibilidade dos espaços.

domingo, novembro 10, 2024

A Rúben Amorim


Imagino o "frisson" do meu advogado ao descobrir-me a escrever a um treinador de futebol. "Here he goes again!" Descansa, Manel! 

Quem escreve este post é um sportinguista, sócio com as quotas pagas, que há anos não vai a Alvalade nem vê em direto pela televisão o Sporting jogar, não porque tenha qualquer deficiência cardíaca, mas porque sofreu, ao longo da vida mais recente, tantas e tantas desilusões que, pura e simplesmente, não está para correr o risco de se chatear. Quando sei que o Sporting ganhou, revejo os jogos. Quando a coisa correu mal, tenho muito para ler na minha biblioteca. 

Dizem-me que o Rúben Amorim tem uma linguagem educada nas conferências de imprensa e no modo de falar dos árbitros. Só posso imaginar que assim seja, porque apenas de raspão me recordo de ter ouvido uma ou outra vez a sua voz, num zapping casual. Por deliberada opção televisiva, não ouço treinadores, jogadores, dirigentes e comentadores de futebol, vendo os jogos em "mute", quase sempre com música ao lado. 

Sei que o Rúben Amorim se vai embora, tentado por uma proposta simpática do Manchester United. Eu preferiria que continuasse por cá, como é evidente, mas faz o meu amigo muito bem! Ninguém pode exigir sacrifícios no IBAN a um profissional, que tem o direito legítimo a ser feliz e a ter uma ambição maior, à medida dos seus desejos e méritos. 

Queria assim dizer-lhe, com imensa sinceridade, que espero que venha a ter os maiores êxitos, muito embora, neste ano, na Premier League, nem com um milagre lhe vá ser possível levar os "red devils" ao alto na tabela. 

Por mim, por cá, ficarei a puxar por si. As alegrias que me trouxe, ainda que sempre em diferido, merecem isso. "Good luck!", caro Rúben Amorim. 

E agora vou ver o jogo do Sporting com o Braga. Depois do jogo ter terminado, claro!

Boas e más notícias


Não é todos os dias que recebemos boas notícias, como esta, sobre o afastamento das chances de gente insalubre. Mas, ao fim do dia, ninguém sabe ainda se não virão por aí piores notícias, com a escolha de gente que acabará por tornar Haley e Pompeo escolhas aceitáveis. 

À mesa com Carlos Mathias


Há poucos dias, tive o gosto de intervir na homenagem que foi prestada na embaixada do Brasil em Lisboa ao magistrado brasileiro Carlos Fernando Mathias, por ocasião da publicação do livro "História do Direito Luso-Brasileiro", de que é co-autor. Mathias morreu em maio deste ano, com 85 anos.

Carlos Mathias foi um excelente amigo com quem pude contar durante os anos que vivi em Brasília. Com uma dedicação imensa a Portugal, país que visitava com frequência, nomeadamente para participar em iniciativas da Universidade de Coimbra, empenhou-se muito numa estrutura de cooperação na área do Direito, envolvendo juristas italianos, espanhóis, portugueses e brasileiros. 

No âmbito de uma dessas iniciativas, pediu-me um dia para eu acolher, num almoço na embaixada, cerca de duas dezenas desses juristas, alguns dos quais portugueses, nessa altura congregados em Brasília. Disponibilizei-me a fazê-lo, explicando contudo que a mesa da nossa residência não podia comportar, sentados, mais do que (creio) 24 pessoas. 

Mathias enviou-me a lista de quantos iriam estar presentes e lá organizei o almoço, com lugares marcados. O grupo foi chegando em várias levas. Carlos Mathias, viria um pouco mais tarde. Eu ia recebendo os convidados à porta, reconhecendo-os na lista que antes tinha recebido. 

A certa altura, apresenta-se-me um cavalheiro, que diz o nome e o título: reitor da universidade de Cuiabá. Cuiabá é a capital do estado de Mato Grosso. Fiquei perplexo. O nome não constava da lista e, mesmo com esforço, não cabia mais ninguém na mesa. Que fazer? Via-me com o problema de ter de deixar o inesperado académico matogrossense de fora do repasto.

A certo momento, com a alegria e a boa disposição que era sempre a sua, irrompe Carlos Mathias. Durante o abraço que demos, disse-lhe ao ouvido: "Carlos, temos um problema. Está aqui uma pessoa que não estava prevista". E arrastei-o até à sala de jantar, para lhe explicar, à evidência física, que não cabia mais ninguém.

Mathias olhou a mesa e disse: "Você tem razão. Eu precipitei-me ao convidar, no último momento, o professor de Cuiabá, que estava ali connosco e que achei ser possível acomodar". Sob pressão, retorqui: "E agora, como fazemos?". O Carlos abriu um sorriso e, tirando o telemóvel do bolso, respondeu: "Não tem problema. Adoece o Norberto". Havia, de facto, um Norberto na lista dos convidados. Carlos Mathias explicou: "O Norberto disse-me que está ligeiramente atrasado. Assim, já não vem: adoece... Tenho suficiente confiança com ele para lhe pedir o sacrifício". E lá almoçámos sem o "doente" Norberto, que nunca conheci, mas com o simpático reitor de Cuiabá, que tive muito gosto em conhecer.

Coisas das Necessidades

De um dia para o outro, vi-me apresentado em duas televisões como "embaixador jubilado". Não pedi o estatuto profissional de jubilado, sou simplesmente aposentado, como qualquer funcionário público. Há diferenças? Há. Um jubilado ganha um pouco mais, mas tem limitações no tocante ao exercício de outras atividades profissionais. "Just for the record".

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Jorge Coelho


A Academia Jorge Coelho é uma iniciativa dos jovens socialistas de Mangualde, um lugar de debate de grandes temas, que já vai na sua terceira edição. Pretende homenagear alguém que foi uma figura de relevo da cidade, que muito se dedicou à sua terra, à qual se manteve sentimentalmente ligado ao longo de toda a sua vida.

Ontem, Pedro Siza Vieira e eu fomos convidados para duas estimulantes conversas, tendo jovens como interlocutores, antes do alargamento do debate à assistência. O antigo ministro falou sobre Coesão Territorial, cabendo-me a mim os temas contemporâneos da Geopolítica. 

Foi um interessante e estimulante exercício. No final, dei-me conta de que não consegui ser muito otimista. Sendo esse um luxo a que me posso dar, por não ter responsabilidades políticas, arrependi-me de não ter feito um esforço maior para tentar dar alguma esperança àqueles que são os donos do futuro. Ou talvez haja vantagens em deixar as novas gerações preocupadas. Não sei.

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sábado, novembro 09, 2024

Um belo museu


Fui hoje à recuperada Casa do Passal, em Cabanas de Viriato, perto de Carregal do Sal, onde está instalado o Museu Aristides Sousa Mendes. É excelente e merece uma visita.

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António Guterres a dizer, bem, o óbvio

 


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Lembrar

 


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Um texto sobre a Rússia, já com 20 anos

Publiquei este texto, em agosto de 2004, há mais de 20 anos, em "O Mundo em Português", uma publicação do saudoso IEEI (Instituto ...