terça-feira, fevereiro 18, 2025

Fezadas

A sério que percebo a dimensão emocional da despedida de Pinto da Costa. Mas não percebi aquela cena de um bispo rodeado de taças no meio do relvado. Um pouco mais de contenção não faria mal à nossa igreja. Embora eu saiba que o mercado da fé não anda fácil...

"La Negra"


Vinha meio adormecido no banco de trás do Uber, de regresso a casa, ao final da tarde de ontem, depois de um dia intenso, com um sismo pelo meio. A voz que saía, límpida, da aparelhagem do Tesla, era-me familiar. O motorista, cuidadoso, talvez tendo notado o meu cansaço, tinha posto o som baixo. 

Perguntei-lhe: "Quem está a cantar?" Pelo retrovisor vi surgir-lhe um sorriso, ao dizer: "Es la Negra". O sorriso aumentou de expressão quando retorqui: "Mercedes Sosa?" O homem quase ia largando o volante, ao perguntar: "Conoce usted a Mercedes Sosa?" 

Era um chileno e devo ter subido logo uns pontos na sua consideração quando lhe disse: "Eu vi cantar Mercedes Sosa, "la Negra", há bem mais de trinta anos. Mas não me lembrava dessa canção".

Entretanto, com um pouco de conversa à mistura, cheguei a casa, com o motorista a despedir-se, visivelmente encantado por se ter cruzado com alguém que conhecia e gostava de "La Negra". 

Lembrei-me então do "meu" Chile.

O golpe militar que derrubou o governo de Allende, no Chile, em 11 de setembro de 1973, teve um forte impacto emocional na geração política portuguesa que, por cá, expressava então a sua revolta contra a ditadura. À época, eu fazia serviço militar e recordo bem acesas discussões por ali tidas com colegas conservadores, que se regozijaram com o êxito de Pinochet e dos seus esbirros. Acreditam se lhes disser que um deles me telefonou na manhã de ontem?

O 25 de Abril como que nos vingou e foi com um sentimento de forte solidariedade que, em Lisboa, a partir de 1974, viemos a conhecer alguns chilenos que haviam sido forçados ao exílio. Com eles, partilhámos o sucesso da nossa Revolução. Recordo-me de gente do MIR (Movimiento de Izquierda Revolucionaria), com quem passei horas à conversa nas instalações do MES (Movimento de Esquerda Socialista), na avenida dom Carlos.

Seis anos mais tarde, no meu primeiro posto no estrangeiro, na Noruega, vim a cruzar outros chilenos, expatriados nas mesmas condições. Os países nórdicos acolhiam então com generosidade essas pessoas, a quem facilitavam meios para a sua sustentação. A vida dessa gente era muito simples: empregos em fábricas ou serviços, habitações sem o menor luxo e, como pano de fundo de tudo isso, um ambiente de imensa saudade do seu país.

Um dia, em Oslo, fomos assistir a um espetáculo musical da argentina Mercedes Sosa, conhecida por "La Negra", uma cantora que, ao longo da vida, seria uma das vozes mais críticas das ditaduras militares latino-americanas. O seu "Gracias a la vida" marcava-nos então bastante.

Fui ao espetáculo num grupo de diplomatas, que, além de espanhóis e de um brasileiro, integrava um chileno, casado com uma paraguaia, e um casal colombiano. As questões políticas não atravessavam, por regra e por prudência, a conversa de todas aquelas pessoas, jovens profissionais da diplomacia, todos no seu primeiro posto no exterior, que se iam encontrando em agradáveis convívios ao final do dia de trabalho. 

Lembro-me que, à época, eu era, com toda a certeza, a pessoa mais à esquerda de todo aquele grupo, sendo que o chileno, que se chamava Enrique, representava ali o governo de Pinochet. Curiosamente, ambos ficámos amigos para a vida, sem termos tocado alguma vez em temas que pudessem trazer à tona as nossas óbvias divergências. Nas décadas profissionais que se seguiram, vim a apurar esta forma de estar na vida. Ainda hoje tento funcionar assim.

No final do espetáculo, vi os meus amigos latino-americanos a falarem com outras pessoas com a mesma origem geográfica, que ali tinham acabado de conhecer, todos unidos pela voz e pela música de "La Negra". Com o meu "portuñol", meti-me na conversa. E, numa dessas sintonias caídas do acaso, vi-me a trocar impressões com um chileno, que, no passo da conversa, me referiu ser um exilado. 

Era um homem magro, alto, de cabelo comprido, com maneiras suaves. O nome de Allende veio com naturalidade à baila, e ele revelou-me ser irmão da mítica "Payita", secretária de Salvador Allende. Num instante, alguma sintonia ideológica se estabeleceu entre nós. Trocámos telefones e, dias depois, o Fermin, era esse o nome do meu novo amigo chileno, convidou-me, a mim e à minha mulher, para uma almoço simples, num domingo, em sua casa. 

Vivia num modesto apartamento, numa zona menos nobre de Oslo, a que se acedia por uma escada esconsa. Lembro-me bem do aviso que me fez, logo que entrei na casa: "Daqui a pouco, vai chegar, para o almoço, o Enrique, o teu colega da embaixada do Chile. Não te espantes!" Eu espantei-me um pouco, confesso, mas ele logo explicou: "Ele é um chileno como eu e nem imaginas como me fará bem conversar com alguém que também vem do meu país. Temos de adiar a conversa política entre nós os dois para "unas copas", numa outra ocasião". 

E assim aconteceu. Minutos depois, chegaram o Enrique e a Monse. A política, quiçá estranhamente, não passou por aquelas horas em que a saudade dos dois foi atenuada por algumas garrafas de "Casillero del Diablo", um vinho assim-assim trazido pelo Enrique, o único álcool chileno que havia à venda no monopólio estatal de venda de bebidas alcoólicas, Vinmonipolet.

Se hoje tenho uma invejável colecção dos "Rolling Stones", em vinil, devo isso ao Fermin, um amigo magnífico, um revolucionário romântico, cujo partido esqueci, que trabalhava numa fábrica de discos e insistia em me municiar regularmente com exemplares do que ia saindo. Até rock norueguês tenho! Em algumas noites em minha casa, para as quais cuidávamos em não juntar à festa o diplomata chileno, para podermos conversar sobre as nossas afinidades políticas, ouvimos deliciados Violeta Parra e Victor Jara. E, para sempre, guardei a imagem de vê-lo chorar a escutar Zeca Afonso...

Pela vida, com grande pena minha, fui perdendo contacto com imensas pessoas que conheci. Uma delas foi esse meu amigo chileno Fermin, que conheci na Noruega, no final de um concerto de Mercedes Sosa, cuja voz acabei de ouvir, há pouco, num Uber conduzido por um chileno a quem nem sequer tive tempo de perguntar o que pensava do atual presidente Boric. Nem de Allende, claro. Se calhar, foi melhor assim!

Descubra as diferenças

É de facto chocante ver os EUA e a Rússia decidirem o futuro da Ucrânia, na sua ausência. Mas já pensaram bem no modo como o futuro do mundo foi decidido em Ialta, ou nos acordos sobre os outros que América de Reagan negociou com a União Soviética? Foi mesmo muito diferente?

segunda-feira, fevereiro 17, 2025

Papa

Agora, só faltava que nos viesse a faltar o papa Francisco e, numa daquelas rotatividades em que o Vaticano é useiro, saísse na sair na rifa um papa "reaça", mais ou menos a rimar com o poder na América. Já vi esse filme no passado e não gostei.

Ucrânia

É de um mínimo de bom senso que as tropas que possam vir a ser colocadas na Ucrânia, num cenário de pós-conflito, como forças de interposição, sejam oriundas de países que não tenham estado abertamente envolvidos no apoio militar a uma das partes.

Contudo, numa circunstância em que tiver sido acordada a necessidade de dar garantias de segurança ao governo de Kiev, é lógico que essa responsabilidade compita aos países que têm apoiado a Ucrânia. Mas isso não justifica ter tropas de Estados NATO com "boots on the ground".

A uma eventual Ucrânia neutral (como o é a Áustria, que não se fala que tenha ambições de entrar para a NATO) deveria, como garantia do respeito de terceiros por esse seu estatuto, ser fornecida uma proteção militar dissuasória de potenciais agressões externas. 

Aviso aos chatos

Bloquearei qualquer chato que ouse tentar dizer onde estava à hora do sismozito de hoje, como se aquilo fosse o atentado às torres gémeas, o incêndio do Chiado, a morte de Sá Carneiro ou, para os avós, o tiro no Kennedy.

Alguns

A cimeira europeia "de alguns", hoje promovida por Macron para reagir a Trump, vai contar com a extrema-direita de Georgia Meloni, que já foi ao beija-mão a Mar-a-Lago, e com o trabalhismo "ma non troppo" de Keir Starmer, que saltita de lealdades entre ambos os lados do Atlântico.

Lenin revisitado

Ontem, o presidente da Finlândia, Alexander Stubb, um país com uma geografia trágica mas muito sábia, a propósito dos frenéticos dias que o mundo vive, abalado pelas "novidades" que Trump não cessa de nos trazer, relembrou uma frase clássica de Lenin: "Há décadas em que nada acontece e há semanas em que acontecem décadas".

As balas de Tchaikovsky

Ontem, enquanto assistia a uma interpretação de uma obra de Tchaikovsky, lembrei-me da estupidez sectária que, em alguns países, proibiu (e não sei se ainda proibe) a exibição da obra deste e de outros compositores clássicos russos, na sequência da guerra na Ucrânia. Caso idêntico seria se, depois da carnificina ocorrida em Gaza, se viesse a gerar um movimento censório em torno das inúmeras manifestações de genialidade - artísticas, científicas ou outras - com que muitos cidadãos judeus têm contribuido para a cultura universal. O concerto de ontem, com a obra de Tchaikovsky como um prato forte, foi executado pelo pianista Yefim Bronfman, judeu, cidadão israelita e americano, nascido na antiga União Soviética. O bom senso deve acompanhar sempre o bom gosto.

domingo, fevereiro 16, 2025

O tempo dos reféns


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Os difíceis dias da Ucrânia


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Trump, a Europa e a Inteligência Artificial


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O outro concerto


Há interessantes sonoridades repetitivas, quase minimalistas, às vezes com dissonâncias bem imaginativas, roçando um inesperado concretismo, na resultante do trabalho do afinador de pianos, no intervalo do concerto. Sem aplausos, perante um público distraído. Nunca perco.

A União e os "principais"

Macron vai reunir amanhã em Paris "os principais países europeus", para discutir o futuro da segurança europeia, em face das iniciativas de Trump sobre a Ucrânia. Repito: "os principais países europeus". Depois queixem-se que a Europa está pouco unida! Uns decidem pelos outros.

Ainda

Duas mulheres, "late forties", ar cansado do trabalho, a jantar tarde no dia dos namorados, sentindo-se obrigadas, sei lá bem porquê, a dizer ao empregado do restaurante assim-assim: "Nós não somos namoradas!" Já não falta muito, mas este Portugal ainda vai existindo por aí.

Juízo

Se a Europa tivesse juízo estratégico, sugeria que a iniciativa americana se integrasse numa nova arquitetura europeia de segurança, comprometendo a Rússia, dando garantias para a preservação da independência de uma Ucrânia neutral, dotada de um estatuto especial com a UE.

Vistas bem as coisas...

Ao escolher a Rússia como seu único interlocutor no caso ucraniano, a América de Trump parece dar razão ao argumentário de Moscovo de que foram os gestos ocidentais de reforço e aproximação da NATO das suas fronteiras que, em última instância, justificaram a sua ação militar.

Há dez anos...

Há dez anos, escrevi por aqui isto. Descontado aquilo que a conjuntura tornou datado, no essencial concordo com o que à época disse. Sei que isto não me torna mais popular, lado para o qual durmo melhor, mas sossega-me perante mim mesmo, e isso não tem preço, acreditem. Aí fica, este texto de 2014:

A Europa e a Crimeia

Teresa de Sousa é, de há muito, uma sagaz observadora das coisas internacionais. Tenho por ela um grande respeito e leio-a sempre com atenção e proveito. Hoje, no seu habitual artigo no "Público", suscita uma ideia interessante, resumida no próprio título do texto: "A Europa joga o seu destino na Crimeia". A tese central é a de que, face à atual tensão, e perante o grau de implicação que os americanos parece estarem dispostos a assumir, a Europa tem, na crise ucraniana, a oportunidade "da sua vida" para recuperar a sua relevância, a ser feita através de uma atitude comum, em consonância tática com Washington. O tom das conclusões do último Conselho Europeu anima a articulista, que delas também retira virtualidades para a sobrevivência e/ou reanimação da relação transatlântica,

Muitas vezes estou de acordo com Teresa de Sousa, mas não é este o caso. Acho que a avaliação feita daquilo que resultou da reunião dos chefes de Estado e governo da UE peca por "wishful thinking". A retórica unificada que saiu dessa reunião irá - não tenho disso a menor dúvida - esboroar-se a partir do momento em que a passagem a um estádio superior de medidas "punitivas" a Moscovo (que deverão ser propostas, porque tudo indica que a Rússia não vai ceder no essencial) venha a defrontar-se com as previsíveis reações retaliatórias do "outro lado". Nesse momento, os Estados europeus constatarão que, dentre eles, alguns sentirão mais do que outros o preço de uma quebra dos mecanismos de relação político-económica com a Federação Russa. E isso não deixará de ter consequências imediatas na sua unidade decisória, muito para além da conversa bruxelense, à qual Putin colocará a questão posta por Estaline face à condenação da sua política pela Santa Sé: "Quantas divisões tem o Papa?"

Posso estar enganado, mas tenho a sensação de que a Europa comunitária, com a sombra da NATO a ajudar, acabou por meter a Ucrânia numa "grande alhada". Fê-lo por alguma irresponsabilidade induzida essencialmente pelos Estados bálticos e alguns outros países da antiga "cortina de ferro" - a "nova Europa" de Donald Rumsfeld -, como reconhece Teresa de Sousa, ao falar da "obsessão desses países em continuarem a olhar a Rússia como uma ameaça".

Sei que me arrisco a ser visto como um perigoso "realista", mas nunca tive a menor ilusão sobre a possibilidade da Ucrânia poder exercer o seu pleno direito de opção estratégica. Há "soberanias limitadas"? Claro que há, porque a geografia não se improvisa. Que o diga Cuba.

Tenho hoje a firme convicção de que a Europa perdeu um ensejo precioso de desenhar um modelo de relacionamento "possível" com Kiev, porventura menos ambicioso mas bastante mais pragmático. Um modelo à medida do país muito particular, geopoliticamente falando, que a Ucrânia é e continuará a ser. A União Europeia não percebeu, ou não quis perceber, as lições que deveria ter retirado da atitude russa na crise da Geórgia - e, em especial, da "liberdade" então recuperada por Moscovo para reatuar com maior liberdade nas suas próprias "águas territoriais", em face da então mitigada reação de Washington, secundada pelo já então ineficaz gesticular europeu. Se o tivesse feito, não se deixando seduzir por uma agenda marcadamente anti-Moscovo, talvez tivesse ajudado Putin a reconhecer as vantagens de algum reconhecimento de "respeitabilidade" no plano internacional e apostado na sua adesão, pelo menos formal, a uma ordem global mais dialogada. Não o fez, "armou" em potência e agora resta-lhe "bombardear" Moscovo com comunicados e engrossar a voz. 

Com a presente crise, que ameaça alguns dos seus interesses estratégicos essenciais - a alguém passou pela cabeça que Moscovo iria permitir a indução de riscos no seu acesso naval ao Mar Negro? -, a Rússia já mostrou que está disposta a pagar um preço forte na sua imagem. Nada que um poder essencialmente autoritário não possa comportar. Quem pode vir ainda a sofrer, no rescaldo desta crise, são os opositores internos a Putin, que cada vez mais se sentirá desobrigado de ter de fazer "de democrata". Perdido por cem...

Uma nota final. Se Bruxelas conta com a permanência da intransigência de Washington, no início de um tempo presidencial de fim de ciclo, pode muito bem vir a estar enganada: sem a ajuda prática da Rússia, os EUA não conseguirão retirar as suas tropas do Afeganistão no calendário previsto. E esse é um compromisso que Obama não pode falhar, porque é feito perante o único país que os Estados Unidos verdadeiramente respeitam: a América.

Cavaco, a segurança e outras coisas divertidas


Num dia de 1992, a nossa embaixada no Reino Unido foi informada de que Cavaco Silva iria deslocar-se a Londres, para um encontro com o então primeiro-ministro britânico, John Major, sobre temas daquela que era a primeira presidência portuguesa das instituições europeias. Chegaria numa tarde, teria a reunião com Major no dia seguinte e, ainda na mesma data, regressaria a Portugal. 

A embaixada em Londres era então chefiada por António Vaz Pereira, de quem eu era ministro-conselheiro e seu "número dois". Vaz Pereira estava no seu último posto de uma carreira diplomática relevante. Ali chegara ido de embaixador junto da NATO, após ter exercido idênticas funções em Moçambique e na Dinamarca. Fora também diretor político nas Necessidades, o lugar de topo da decisão diplomática. Como personalidade, era um "character", um conhecido "gourmet" e cozinheiro, um reputado pescador. Homem culto e lido, pensava pela sua própria cabeça e tinha opiniões fortes, que não escondia e fazia gala de afirmar. Bastante conservador, mas sem alinhamentos políticos, tinha plena confiança em mim e dava uma grande liberdade ao meu trabalho. Durante quatro anos, tivemos uma relação excelente e ficámos amigos, até à sua morte.

Voltemos à visita. De Lisboa, foi-me transmitido pelo telefone que estavam em contacto direto com Downing Street. Não estava prevista a presença de Vaz Pereira no encontro de Cavaco Silva com Major, por vontade portuguesa.

Cavaco Silva era useiro e vezeiro na atitude de, frequentemente, afastar os embaixadores portugueses de encontros que tinha com os seus homólogos. E, como é óbvio, um chefe de governo que constata que um primeiro-ministro que o visita não leva consigo o embaixador parte do princípio de que este não lhe merece confiança. Daí retirará as necessárias consequências, na importância futura a conceder ao diplomata.

Cavaco Silva foi primeiro-ministro durante uma década. A doutrina dividia-se sobre se era ele próprio quem promovia essa atitude, que colava com o seu temperamento fechado e distante, ou se era instigado a tal por algumas "eminências pardas" (no MNE, alterava-se com frequência a penúltima consoante do adjetivo...) à sua volta. No fundo, era irrelevante: o resultado seria sempre o desprestígio dos embaixadores portugueses.

Na conversa com a pessoa que, de Lisboa, me informou da coreografia da visita, não tive o menor sucesso quando objetei contra a ausência do embaixador no encontro com Major. Nada que me surpreendesse.

Informei de tudo Vaz Pereira que se limitou a comentar, com um sorriso e uma gargalhada galhofeira que era muito sua: "Albarda-se o burro à vontade do freguês." E, como "bofetada de luva branca", pediu-me que informasse o gabinete do primeiro-ministro de que tinha "o maior dos gostos" em convidar Cavaco Silva e a comitiva a irem jantar à residência da embaixada, a cerca de três centenas de metros do hotel onde se instalavam, na noite da chegada. Nova recusa: todos jantariam no próprio hotel. Claro que a Cavaco Silva, bem como à sua corte, não passou pela cabeça ter a delicadeza de convidar o embaixador português no Reino Unido a juntar-se-lhes.

Vaz Pereira era um homem superior. Sentiu o toque, mas decidiu não reagir. Disse-me para eu tratar do que fosse necessário, para que a visita, de que ele fora deliberadamente afastado, corresse pelo melhor. Falei com o "Foreign Office" sobre alguns pormenores, reservei o hotel e tratei dos carros.

Cavaco chegou de Falcon a um aeroporto militar perto de Londres. Vaz Pereira e eu esperávamo-lo. Cumprimentou-nos, recusou o convite que o embaixador lhe fez para ir no belo e histórico Daimler oficial da embaixada, entrou com alguém num dos carros alugados e zarpou para o hotel. Só voltámos a vê-lo à partida, no dia seguinte.

Nessa noite, porém, eu ainda iria ter um divertido episódio com um membro da comitiva de Cavaco. Estava a jantar em casa quando recebi um telefonema do chefe da segurança do primeiro-ministro. 

O anedotário político está cheio de historietas caricatas passadas com essa pequena figura, de que a mais célebre é a desconfiança que, um dia, lhe tinha causado ver uma pomba pousar junto a uma janela, numa sala do edifício da União Europeia, em Bruxelas, em que estava Cavaco Silva. O homem entrou em stresse, desconfiando que a pomba pudesse transportar um engenho explosivo e lançou um alerta, provocando risota e caindo no ridículo dos circunstantes. De todos? Não ficou para a pequena história qualquer reação de Cavaco Silva sobre a pomba.

E chegou o tal telefonema, pelo meu telefone fixo, num tempo em que não tínhamos telemóveis. O homem vinha queixar-se-me de que, na sua perspetiva, a segurança britânica estava a descurar gravemente a proteção a Cavaco Silva, dentro do hotel. Segundo ele, não se viam agentes e isso era uma falha muito grave. Perguntou-me se eu podia intervir, com urgência. 

Comecei por lembrar-lhe, com algum gozo escondido, que à embaixada não fora pedida a menor diligência sobre questões de segurança. Adiantei que estava em absoluto convicto de que os britânicos, que à época tinham uma experiência ímpar em matéria de terrorismo, por virtude das frequentes ações do IRA, teriam feito uma criteriosa avaliação dos riscos potenciais que Cavaco Silva corria, desenhando o dispositivo adequado para esse nível de risco.

O homem, contudo, não se calava - e não me deixava jantar... Prometi-lhe que ligaria ao "liaison officer" britânico, transmitindo a sua preocupação. Não era suficiente: queria um forte "reforço do dispositivo", com agentes em permanência, durante toda a noite, no andar do hotel onde Cavaco Silva iria dormir. Disse-lhe que faria essa sugestão aos britânicos. "E teremos resposta?", atirou-me, ansioso. "A resposta que vai ter será a chegada, ou não, dos agentes. Por isso, logo verá!" 

O chefe da segurança dramatizou: "O senhor doutor parece não entender que o primeiro-ministro Cavaco Silva é, neste momento, o mais importante líder da Europa. É ele quem preside ao Conselho Europeu! Se acaso sofresse um atentado, quem poderia substituí-lo?" Ri-me intimamente.

E foi então que a minha veia irónica não resistiu e, num registo "by the book", me saiu isto: "Se o primeiro-ministro português fosse vítima de um atentado, creio que quem iria presidir ao Conselho Europeu seria o Dr. Fernando Nogueira, na ordem protocolar do governo, não lhe parece?"

Senti, do outro lado da linha, o homem a "trepar pelas paredes". Retorquiu num tom ofendido e, com um "isto não fica assim!", desligou o telefone. Informei o embaixador Vaz Pereira do episódio, o que nos mereceu uns divertidos adjetivos sobre o caráter dos nossos episódicos visitantes, e transmiti ao meu contacto no "Foreign Office" a angústia securitária que atravessava a comitiva cavaquista. E fui jantar, que já se fazia tarde.

Mas não tinha ainda chegado à sobremesa quando recebi nova chamada, agora de uma outra figura, alguém da ala diplomática da comitiva, junto de quem o obcecado chefe da segurança se tinha ido queixar da "impertinência" da minha resposta. Detalhei, com medida paciência, a minha intervenção no assunto, ficando com a sensação de que o meu interlocutor, lá no fundo, entendia bem o que tinha passado. Nunca cheguei a saber se os britânicos tinham ou não "reforçado o dispositivo". A única certeza que o mundo pôde ter foi que Cavaco Silva sobreviveu incólume, depois dessa angustiada noite londrina da sua paranóica segurança.

No dia seguinte, à partida, no aeroporto, ainda me diverti imenso, ao constatar que o tal chefe da segurança, por uma qualquer razão, foi o único membro da comitiva a quem veio a ser feita uma revista pessoal completa e com algum pormenor. Enquanto se descalçava e esvaziava os bolsos, o nosso homem fuzilava-me com a vista, à distância, como se estivesse convencido de que eu fora o culpado desse tratamento discriminatório, aos olhos (que, em alguns casos, me pareceram divertidos) dos seus colegas da delegação. Não, não tive nada a ver com o que lhe aconteceu, mas, posso agora confessar, talvez gostasse de ter tido...

Porque é que conto isto hoje? Porque, há horas, à saída de um espetáculo, pareceu-me vislumbrar o homem. Seria ele? Já pouco importa. Ou melhor, importa: fico a dever-lhe o pretexto para escrevinhar o que acabam de ler.

sábado, fevereiro 15, 2025

Pinto da Costa

Há uns anos, escrevi por aqui isto.

"O FC do Porto deve tudo a Pinto da Costa, desde a dedicação de uma vida até à capacidade de gestão do futebol que fica a anos luz de qualquer outro clube português e só igualada ou superada por poucos outros clubes pelo mundo. Claro que para isso contribuiu o "desequilibrar" do poder da arbitragem para o Norte. Mas o que é que faziam, até então, o Benfica e o Sporting? O Porto não ganhou o que ganhou pelas qualidades nutricionais da "fruta" servida no Pérola Negra ou pelo facto de apitos mais ou menos dourados terem mostrado amarelos intimidatórios no início de muitos jogos ou livres à entrada da área nos últimos minutos. Ganhou-os também por isso mas, essencialmente, porque os "andrades" foram, a uma distância imensa, o clube mais bem dirigido do nosso país."

Relendo isto, e ocorrendo-me muitas outras coisas, desde logo as memórias pessoais que com ele tenho - do Porto a Londres, de Lisboa a Viena -, apetece-me ficar por aqui, na hora da morte de Pinto da Costa.

O dia dos namorados


Levantei-me tarde, privilégio dos reformados. Tinha estado a ler, até às quatro da manhã, umas memórias que tinha encomendado na Wook. Havia recebido o livro pelo correio, ao meio-dia de quinta. Acabei-o nessa madrugada. À uma hora da tarde de sexta, estava a almoçar com um amigo, no Círculo Eça de Queiroz. Pouca gente, comida caseira, vinho da casa, preço módico. Verdade seja que já paguei a quota do clube para 2025, e foi uma boa nota! Acabámos a refeição a beber um Bushmills novo. Há uns tempos, convenci o Francisco, o amável chefe de sala da casa, a ter sempre este "irlandês" para me pontuar o final das sobremesas. Quase parece que ali "tenho garrafa", como antes se dizia nos bares. A minha mulher juntou-se-me no fim da refeição e desafiei-a a aproveitar o sol da tarde. Começamos por reforçar a glicémia com uns doces na Alcoa. Tínhamos lanchado, há uns meses, na "sede", em Alcobaça, e agora apreciámos esta "filial". E uma vez não são vezes! Entrámos depois na FNAC e saí com quatro livros. Aliás, já levava outro debaixo do braço, oferecido pelo amigo com quem almoçara: um livro que eu já tinha pensado comprar e que ele teve a ideia de oferecer-me. É raro haver este feliz "matching". Descemos o resto do Chiado muito devagar. Fotografei a Ulisses, mas já não uso luvas, como às vezes julgo que se nota. Resolvi depois engraxar os sapatos, com um raro engraxador "filósofo", no passeio do Nicola. Vários estrangeiros tiraram fotografias à cena que, para eles, devia ser um pouco insólita, para os tempos que correm. Entre outras coisas, eu e o homem, que já tínhamos idade para isso, recordámos os muitos retornados por ali havia, precisamente há meio século. Ele deu-me conta de que se dividiam em espaços diferentes, consoante as "províncias" de origem. A minha mulher, sentada à minha espera num banco em frente, desesperava com a larguesa da nossa conversa e foi lá dizer-nos isso, para nos apressar. No final, foram quatro euros (em Nova Iorque, há um quarto de século, pagava dois dólares, recordo-me). Dei um pouco mais, grato pela conversa. Zarpámos de seguida para uma ginginha no Eduardino. É que na Ginginha havia gente a mais e filas não é comigo. Do Largo de São Domingos à Praça da Figueira, fomos comendo uma dúzia de castanhas assadas. Por estranhos e pouco conhecidos elevadores (o de Santa Justa é inutilizável, dado o turistame) e escadas rolantes, dentro de lojas, para tentar evitar subidas a pé, regressámos ao Carmo, onde o Smart tinha ficado a lavar. No parque que há por ali, esse serviço é o melhor de Lisboa, anotem. Pensámos que dava tempo, e pensámos bem, porque deu, para ir ver a exposição do Surrealismo, na Sociedade Nacional de Belas Artes. Excelente! Acaba em março, aviso também. De nada! Partimos depois para a Gulbenkian, onde, durante mais de duas horas, nos deliciámos a ouvir "A Criação", de Haydn, pelo coro e orquestra, com solistas admiráveis. O nosso Dia de São Valentim acabou de uma forma muito pouco imaginativa. De manhã, ao acordar, eu tinha à minha espera a simpática oferta de uns chocolates. Depois do espetáculo, nada tendo planeado, só me lembrou retribuir com a ida a uma churrasqueira, à Valenciana, ali em Campolide, comer alguma coisa, com umas cervejolas à ilharga. Reconheço, sem dificuldades, que o meu romantismo anda um pouco pelas ruas da amargura. Chegado a casa, peguei no livro de Helena Vasconcelos, onde conta a vida que teve com Julião Sarmento, um dos volumes que tinha comprado na FNAC. Não me arrependi. O livro é magnífico, está muito bem escrito. Já li quase metade das trezentas e tal páginas. Acabá-lo-ei pela madrugada. Agora, é quase meia noite. E estou a contar-lhes isto. Foi um dia simpático. Como será o dia de amanhã? Prometo não os aborrecer com ele.

sexta-feira, fevereiro 14, 2025

Porque não

Pergunta de um amigo: "Então não escreves nem dizes nada sobre a iniciativa de Trump sobre a Ucrânia, logo tu que andas há anos a escrever e a falar do assunto?" É verdade, e não foi por falta de convites de televisões. Foi porque não.

Confissão

Não sou dado a invejas, mas tenho de confessar: tenho imensa pena de não estar hoje na Conferência de Munique sobre Segurança.

quinta-feira, fevereiro 13, 2025

Ainda Crabtree



Uma das regras de ouro a ser seguida pelos membros da Crabtree Foundation, entidade a que aludi no texto anterior, é procurar sempre citar Crabtree nos livros que acaso publique. 

Assim fiz no meu "Diplomacia Europeia", em 2002, e, mais recentemente, voltei a cumprir essa regra no "Antes que me esqueça", em 2003.

Aqui fica a referência a Crabtree no índice onomástico deste último livro, bem como a clara página correspondente, para a qual o leitor é remetido.

quarta-feira, fevereiro 12, 2025

Crabtree


Seria hoje à noite, no University College, em Londres, que iria ter lugar o jantar anual da Crabtree Foundation. Mas não será este ano.

Joseph Crabtree terá nascido em 1754 e a sua morte terá ocorrido em 1854. Desde 1954, uma centena de anos depois, um grupo de 200 personalidades, democraticamente cooptadas, reune-se, uma vez em cada ano, no University College, em Londres, na quarta-feira mais próxima do "Valentine's day", para ouvir uma de entre elas pronunciar-se, durante uma boa meia hora, sobre um aspeto da vida, da obra e dos feitos dessa figura única da história polįtico-cultural e sócio-económica britânica que deu pelo nome de Joseph William Crabtree. 

Juntam-se aos membros da Crabtree Foundation mais de uma centena de convidados, rigorosamente selecionados. Por ali está a nata da sociedade britânica, professores universitários, artistas, membros do parlamento, banqueiros da City, diplomatas, militares, advogados, empresários e outros profissionais de relevo. 

O nome do orador seguinte é anunciado no jantar de cada ano, pelo que o indigitado tem suficiente tempo para se documentar com a informação necessária ao fabrico da sua palestra, até porque esta pode vir a ser contraditada (quase sempre é) por outros presentes, nomeadamente por uma figura central da sessão, "The Living Memory and Keeper of the Archives and the Seals", personalidade que vela pela compatibilidade e não contradição entre as "orations" ao longo dos anos. E convenhamos que 70 textos dedicados à vida e obra de Crabtree é algo cuja coerência é difícil de preservar!

Os temas escolhidos para estas intervenções são totalmente livres, desde que traduzam estudo aturado, investigação aprofundada e reflexão intelectual adequada, com amor à parte da verdade a que temos direito e à imaginação tida por necessária. Até hoje, foram já publicados três belos volumes (edições "hard cover", com ilustrações) que recolhem as "orations" anuais sobre Crabtree, numa tarefa que incumbe ao "Keeper of the Scholars and the Colllected Orations". 

Note-se que, no jantar, cujos vinhos são selecionados, com elevado critério, pelo "Vinter of the Foundation", o uso de "smoking" para os homens é obrigatório (é admitido, como exceção, o traje escocês), sendo que algum formalismo elegante (e conservador) é também exigido às senhoras. 

Estas começaram a ser admitidas como convidadas a partir de 1995 (foi uma noite de discussão atribulada, lembro-me bem) e, posteriomente (numa decisão também muito contestada, mas hoje já digerida, embora por alguns ainda com visível resignação), passaram a poder integrar a Crabtree Foundation como membros plenos, naturalmente dentro do estrito "numerus clausus", que nunca foi abandonado. 

Convidado anteriormente durante dois anos, pela mão do saudoso e grande "scholar" crabtreeano que foi Bartolomeu Cid dos Santos, desde 1992 que tive a felicidade de ser chamado a integrar este distinto cenáculo, para o qual, diga-se, continua a haver listas de espera bem longas. 

Somos muito poucos os estrangeiros que foram até hoje admitidos, pelo que registo com grande honra o facto de já me ter cabido a presidência da Crabtree Foundation, no ano de 2012, responsabilidade que implicou a direção do rígido protocolo do jantar e a livre escolha do orador e do presidente meu sucessor, para ano seguinte. Escolhi uma mulher, o que não foi muito consensual. 

Convém sublinhar que não é só em Londres que a Crabtree Foundation se reúne. Há vários "chapters" distribuídos pelo mundo, de Harare a Glasgow, de Florença a Sidney, entre outras cidades. Em Lisboa estuda-se, desde há vários anos, a possibilidade de ser criado um "chapter", tanto mais que há fundada evidência das relações de Crabtree com o nosso país. Aliás, o espírito de Crabtree é cada vez mais universal, a sua mensagem espalha-se rapidamente à escala global e o passado desta personagem de perfil ímpar tem hoje assegurado um futuro radiante à sua frente. 

Este ano, problemas logísticos insuperáveis impedem que nos reunamos. Não haverá "oration", cujo título seria anunciado antes no jantar dos "Elder and Awful Guardians" -  sete figuras centrais na direção da Foundation, cuja indicação e representatividade democrática, se bem que desconhecida, nunca é contestada. Talvez por isso!

Algum leitor menos atento e menos habilitado é capaz de estar, a esta hora, a perguntar-se: "mas afinal quem foi Crabtree, o que é que essa figura fez de tão relevante que justifique que centenas de pessoas se reunam anualmente para saudar a sua memória?". Vá ao Google, às apps de Inteligência Artificial e será esmagado pela sua própria ignorância. Pode parecer presunçoso responder desta forma, mas apetece-me dizer que, se não sabe, talvez não mereça saber, o que me dispensa de ir muito mais longe. 

Deixo, porém, umas últimas notas. 

Não excluo, em absoluto, que a alguns leitores possa ter chegado, ou vir a chegar, a malévola indicação de que Joseph William Crabtree é afinal uma figura ficcional, com a sua vida inventada exclusivamente pelas "orations" que, ao longo destes 70 anos, foram produzidas a seu respeito (na imagem, deixo a listagem das últimas, por onde se pode avaliar a rara riqueza das temáticas). Eu próprio já ouvi dizer que "Crabtree nunca existiu" e outras barbaridades similares. Neste tempo de verdades alternativas, tudo é possível, até nada!

Outros poderão chegar a suspeitar, imagine-se!, que o retrato a óleo aqui reproduzido, que nos acompanha num cavalete durante os jantares e ao qual faremos a certo passo a reverente saudação, copos erguidos bem ao alto, com toda a sala a ecoar "To the Great Man!", teria, afinal, sido comprado em Portobello ou num mercado de rua similar. Às calúnias responde-se com o silêncio do desprezo. Eu respondo com a orgulhosa fotografia ao lado desse magnífico óleo.

Quem sabe se outros ainda pensarão, na pobre tristeza dos iludidos, que o cajado que, desde há décadas, figura sobre a mesa da presidência do jantar (e cuja guarda cabe ao "Keeper of the Cudgel"), e que se sabe à saciedade ter sido usado por Crabtree na sua histórica travessia dos montes Apeninos, teria sido adquirido, afinal, num qualquer "car boot sale". 

Finalmente, sabemos que chega a dizer-se que a romagem anual ao histórico local que a tradição oral indica como sendo de nascimento de Crabtree, Chipping Sodbury - infelizmente, a doutrina nunca foi pacífica sobre o local onde está a tumba de Crabtree - é apenas um pretexto para uma "cottage pie" e algumas "pints" no The Horseshoe, um pub local. 

O leitor pode acreditar no que quiser. Nós fazemos exatamente o mesmo. Por mim, convertido em definitivo ao espírito de Crabtree, tentarei voltar no próximo ano, como fiz no passado, por diversas vezes, ido de Lisboa, de Nova Iorque, de Viena, de Brasília ou de Paris. 

Por Crabtree, tudo! Até este longo texto cujos leitores, se tiverem conseguido chegar até ao fim, eu saúdo, pela sua paciência.




Falta pouco, Musk!

 



Fevereiro Negro


Não deve ser fácil, nos dias que correm, ser chefe do Estado da Jordânia e mostrar boa cara na Casa Branca.

terça-feira, fevereiro 11, 2025

RTP




Memória


Por que diabo este excelente prato com apfelstrudel, que ontem comi num restaurante, me fez lembrar tanto as imagens dos livros de religião e moral, ao tempo dos padres Moura e Montes, no liceu de Vila Real? 

Ele há cada coisa!

segunda-feira, fevereiro 10, 2025

Fados e guitarristas


No passado sábado, fui ao "Fama de Alfama" ouvir fado, com um grupo de amigos. Foi uma bela noite, com boas vozes e excelente música, numa "casa de fados" muito pouco "típica": é que lá come-se bastante bem, a preços muito confortáveis. Convenhamos que não é normal! Quase protestei! 

A meio do espetáculo, o guitarrista Micael Gomes, que vim a saber ser conhecido como Mike 11 no "hip-hop", que a imagem mostra, executou um magnífico improviso, um "blend" de sonoridades, no meio do qual me pareceu detetar algumas notas de Carlos Paredes. Como sou inseguro nas minhas perceções musicais, mas tendo o raro privilégio de estar sentado em frente da pessoa que, em Portugal, mais sabe dessas coisas, o meu amigo Rui Vieira Nery, vi a minha ideia confirmada.

E lembrei-me então do dia em que conheci Carlos Paredes. 

(Este blogue, em rigor, devia chamar-se "Isto é como as cerejas!"

Foi há precisamente 50 anos, nos primeiros meses de 1975, em casa de Carlos Eurico da Costa, poeta e administrador da empresa de publicidade Ciesa-NCK, onde eu então trabalhava como colaborador externo. 

Paredes ia apresentar sugestões que lhe haviam sido pedidas para a banda sonora de um "spot" televisivo e radiofónico, destinado a mobilizar as pessoas a votarem nas "primeiras eleições livres". A encomenda era do STAPE (Secretariado Técnico para o Assuntos Político-Eleitorais), ali então representado pelo seu diretor, comandante Luís Costa Correia (o Luís, estou certo, deve lembrar-se bem desta cena). 

O compositor e músico chegou, com o ar muito modesto que era o seu, um andar desengonçado, quase a pedir desculpa pela intrusividade da sua presença. Eu sentia-me fascinado pelo ensejo de poder conhecer pessoalmente o autor dos "Verdes Anos". Recordo ter-me sentado, reverencialmente, em frente do guitarrista, quando este começou a apresentar algumas hipóteses que tinha preparado para o fundo musical do anúncio. 

Dedilhou sucessivamente quatro ou cinco temas e, nas pausas entre cada um, dizia coisas como esta: "Não sei o que acharam. Esta parece-me fraquita..." ou "Só me saiu isto..." ou "Se calhar, isto precisa de ser melhor trabalhado!" A mim, cada uma parecia melhor do que a anterior!

Deslumbrado, creio que hesitei até ao fim em dar qualquer opinião sobre as peças, tal a sua qualidade. O Luís Costa Correia e o Carlos Eurico da Costa pareceram-me partilhar "l'embarras du choix", mas lá acabaram por eleger o tema que, durante semanas, viria a fazer parte do quotidiano televisivo e radiofónico de todos os portugueses.

Só voltei cruzar-me com Carlos Paredes quando, em 1993, acompanhado por Luísa Amaro, fez, em Londres, a convite de Mário Soares, no quadro da sua visita de Estado, um memorável concerto para a rainha Isabel II, no Guildhall. No final, a rainha fez questão de o conhecer pessoalmente e - recordo - quis ver as mãos de Paredes. Quando o felicitei, emocionado como estava pela sua magnífica apresentação, Paredes perguntou-me, modesto: "O amigo acha que eu estive bem? É que hoje não estava nos meus dias..."

Duvido que alguém possa ser verdadeiramente português se não gostar da música de Carlos Paredes. E, para quem gosta de Abril, a música de Paredes foi a banda sonora da nossa Revolução.

Ao sair, já bem tarde na noite, do "Fama de Alfama", dei comigo a pensar que Carlos Paredes, se acaso ainda fosse vivo, teria apreciado muito a prestação de Micael Gomes. Seria um outro Portugal a vir ao seu encontro. É que Paredes gostava muito do futuro.

domingo, fevereiro 09, 2025

Sarkozy e Sócrates


Vai ter início em breve, ao que se vai sabendo, o julgamento de José Sócrates, o culminar do famoso "processo Marquês". Em França, Nicolas Sarkozy começou a cumprir pena em casa, com pulseira eletrónica, tendo ainda vários outros processos pendentes. A tragédia tolhe a vida de ambos.

Como embaixador em França, tive o ensejo de testemunhar, por diversas ocasiões, durante mais de dois anos, a boa relação que se tinha criado entre esses dois homens. Passava por ali uma corrente que sempre me pareceu ser de mútua e franca simpatia, talvez porque também houvesse alguma similitude nos respetivos estilos. Ambos assumiam uma atitude fazedora, concretizadora, uma vontade de romper com as peias que, à partida, sempre dificultam a ação política.

Sarkozy era mais agreste, crispado, com sorrisos que eram quase esgares, mesmo desdenhosos. Sócrates, que tinha um feitio igualmente irascível, assumia nos contactos pessoais uma postura mais aberta e amável para o interlocutor, a qual, contudo, de um momento para o outro, ao que se dizia à menor contrariedade, podia transformá-lo no "animal feroz" que ele publicamente um dia assumiu ter dentro de si.

Hoje, ao pensar nos dois e nas suas mútuas atribulações com juízes e tribunais, lembrei-me do episódio de um encontro entre ambos, em Paris, que um dia testemunhei.

Estávamos em maio de 2010. Sócrates, como primeiro-ministro, tinha ido à capital francesa para um encontro de trabalho com aquele que era o seu verdadeiro homólogo, o chefe do governo, François Fillon. A embaixada havia preparado cuidadosamente essa reunião, que tinha uma agenda essencialmente bilateral, muito técnica, e só escassamente europeia. Essa seria depois a dimensão política que Sócrates iria tratar pessoalmente com Sarkozy.

A presidência da República francesa indicou-nos que, ao contrário da reunião com Fillon, que tinha bastante gente dos dois lados, o que se justificava pelo caráter específico de vários dossiês, na reunião com o presidente só poderia haver sete pessoas do lado do visitante. Essa era a regra, como vi depois confirmado em reuniões de Sarkozy com Passos Coelho e deste com François Hollande.

Como é da prática protocolar, após a chegada dos carros ao pátio do Eliseu, a delegação portuguesa subiu rapidamente para a "Sala Verde", onde já se encontrava a equipa de Sarkozy. Para trás, para as fotos sorridentes e para o aperto de mão na escada do palácio, ficaram o próprio Sarkozy e Sócrates, comigo e o embaixador francês em Lisboa em plano recolhido. Depois, no passo nervoso que Sarkozy impunha, subimos a escadaria para o primeiro andar e entrámos na "Sala Verde", onde deveria ter lugar a reunião e onde estavam já as delegações.

Sarkozy olhou o ambiente e, claramente, não lhe apeteceu o exercício com toda aquela gente. Saudou as pessoas com um seco "Bonjour à tous", atravessou e, abrindo a porta para o seu gabinete, que ficava adjacente, convidou Sócrates a entrar. E fez a sua escolha: "Tu viens", disse para Jean-David Levitte, seu conselheiro diplomático. E, esquecendo o seu embaixador em Lisboa, disse-me: "Vous aussi, M. l'Ambassadeur". E fechou a porta atrás de si. Na "Sala Verde", entre toda a gente, ficavam "apenas" dois membros do governo português...

Eu conhecia bem aquele gabinete, o mesmo em que Jacques Chirac recebera várias vezes António Guterres. Mas, dessa vez, Sarkozy queria, claramente, ter um encontro quase a sós com Sócrates. E logo se percebeu porquê.

Eu e Levitte seríamos as únicas testemunhas. Conhecia muito bem Levitte, desde os tempos de Chirac até ao período em que ambos tínhamos coincidido em Nova Iorque, como representantes dos nossos países junto da ONU. Éramos amigos.

"Está calor! José, não queres tirar o casaco?", propôs Sarkozy, com Sócrates a aceitar. Nem a mim nem a Levitte passou pela cabeça, por um segundo, fazer o mesmo, embora o calor fosse idêntico para nós. Os diplomatas sabem as regras implícitas destas coisas.

Os mais de três quartos de hora seguintes foram épicos. Sarkozy fez a sua radiografia da União Europeia, mas não só. Falou de alguns líderes que eram colegas de ambos à mesa do Conselho Europeu, sob uma perspetiva crítica que ultrapassou tudo quanto eu achava possível poder vir a ouvir. Mas também analisou, de forma acerada, outros líderes mundiais, integrantes do então G8, bem como alguns do G20. Raros tiveram uma sua "nota positiva". Um a um foram escalpelizados de forma, quase e muitas vezes, cruel. "Imbecil", "burro", "incompetente" e outros epítetos, com caraterizações físicas de permeio, foram sendo distribuídos por primeiros-ministros e figuras cimeiras do mundo. Poucos se salvaram...

José Sócrates não acompanhava o tom de Sarkozy, ainda tentou atenuar uma ou outra crítica, apenas sorrindo perante o imparável colorido semântico do presidente francês. Eu, que ali estava de Moleskine em punho, escusei-me intimamente a tomar a menor nota do que era dito. Levitte, como é do seu estilo, mantinha-se seráfico, às vezes com um esgar giocôndico, no que podia ser lido, ou não, como estando em sintonia com a análise do chefe.

Acabada a reunião, atravessámos de novo a "Sala Verde", de onde as frustradas delegações tinham entretanto saído, com a nossa gente já instalada nos carros que nos levariam ao aeroporto. Por isso, não tive ocasião de observar a cara dos nossos dois governantes socialistas, que Sarkozy deixara especados à porta do gabinete. Nem a do meu colega francês em Lisboa, mas essa era o menos importante: os embaixadores, como ouvi um dia a um diplomata que foi meu chefe, são "expendable" - descartáveis, sacrificáveis.

Quando, feitas as despedidas e ditas por Sócrates as rituais palavras à nossa imprensa, no "perron" do Eliseu, ele e eu entrámos no carro, exclamou: "Viste aquilo? O homem é intravável!" E riu-se imenso. Eu, burocrático, rindo também, limitei-me a dizer: "Optei por não tomar notas dos 'retratos" que ele fez. Seria uma imensa bronca se, algum dia, aquilo se viesse a saber em pormenor!" Com Sócrates a concluir, divertido: "Fizeste bem. Aliás, dificilmente alguém acreditaria..."

sábado, fevereiro 08, 2025

Hamas

Raptar civis inocentes, como fez o Hamas, é um ato obsceno. Pô-los a falar num palco, antes de os libertar, é um gesto ignóbil. 

A legitimidade da resistência palestina contra a ocupação israelita das terras que o Direito Internacional reconhece como suas é muito mal servida desta forma. 

As angústias de Zelensky


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As guerras económicas


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O imobiliário americano em Gaza


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Diário de um otimista


Há uns anos, numa rua de Paris, passeando com um grande amigo que o tempo já me levou, ao olhar um cartaz de um espetáculo do Tony Bennett, vi-o reagir assim: "Ora ali está um tipo otimista!". 

Pensei que fosse pelo sorriso clássico do "crooner", de tacha arreganhada no imenso placard. 

Não, não era por isso: é que estávamos em fevereiro e o espetáculo era só em novembro. E Bennett, por essa altura, rondava já os 90 anos. Esperar estar vivo e em condições de poder cantar, a tantos meses de distância, relevava de algum otimismo, pensava ele.

Pensava ele, digo bem. Mas pensava mal: Bennett haveria de sobreviver por ainda mais uma década e esse meu amigo acabaria por ir-se-nos embora praticamente ao mesmo tempo que o cantor.

Mas onde é que este tipo quer chegar?, perguntará o leitor. 

É muito simples: acabo de receber um convite para fazer uma palestra ... em abril de 2026. Ora eu sei lá "como" é que vou estar daqui a um ano e tal! Mas, pronto, faço como o Bennett e vou aceitar. Depois, logo se verá!

sexta-feira, fevereiro 07, 2025

Aviso à navegação


Atenção! Esta é uma conta falsa que foi criada com o meu nome no Instagram. Já foi denunciada e esperemos que seja eliminada.

Teste do algodão

O PSD tem agora uma oportunidade de ouro de se mostrar à altura da clássica atitude de Marques Mendes, quando um dia afastou os autarcas infrequentáveis. Se, por tibieza ou oportunismo, Montenegro ficar "a meio da ponte", confirmará o que muitos pensam dos partidos do sistema.

Mendes - take one

Marques  Mendes, no seu competente discurso de candidatura, mostrou maturidade política e que sabe bem ao que vai. Da parte dele, e espero não estar enganado, o país poderá contar com uma campanha limpa e substantiva, a qual, contudo, só irá verdadeiramente arrancar depois das autárquicas de outubro.

Welcome back!

Parabéns à Polícia Judiciária, e à ministra da Justiça de quem ela depende, pela eficácia na detenção dos fugitivos de Vale de Judeus. Espero que já haja "trancas à porta", que evitem ter de novo a "casa roubada".

Já agora...

Ou muito me engano ou, daqui a dias, os EUA vão descobrir uma fórmula que permita a Israel atuar sem limitações na Cisjordânia, como se esse fosse um território seu. Será a lei da Bíblia imposta à lei da bala - o sonho sionista da extrema-direita judaica, em Israel e nos EUA.

Bayrou

François Bayrou conseguiu fazer sobreviver o seu governo. Mostrou a Macron que tinha razão quando o forçou a nomeá-lo PM. Partiu a coligação das esquerdas, isolou Mélenchon e deu ao PSF oportunidade de se mostrar responsável. Faltam dois anos para as presidenciais. E se...?

No sítio

É nestes dias sombrios que vai ser posta à prova a coragem dos jornalistas americanos, pelo menos dos meios de comunicação social cujos donos não tenham conseguido domar a liberdade dos seus profissionais.

quinta-feira, fevereiro 06, 2025

Periscópio

O militante do PS que propôs um referendo interno sobre o candidato que o partido deve apoiar nas presidenciais já tinha anunciado que iria apoiar o oficial da Armada na reserva Passaláqua de Gouveia e Melo. É o que se chama um socialista com o periscópio de fora.

Gaza

É muito óbvio que a sistemática destruição urbana de Gaza foi uma ação deliberada, com vista a tornar praticamente inviável o regresso dos cerca de dois milhões de palestinos às suas casas, abrindo assim caminho a "soluções" como aquela que Trump ousou propor.

quarta-feira, fevereiro 05, 2025

Seguro

António José Seguro tem todo o direito a querer ser candidato presidencial. E as pessoas da sua área política têm igual direito de achar que as suas possibilidades de ser eleito são próximas de zero e que a persistência nessa candidatura favorece os adversários do partido que lhe deu o palco de que hoje dispõe.

Periscópio

Há críticas ao atual ocupante de Belém, assentes na leitura negativa sobre o seu excessivo uso da palavra. Mas, pelo menos, conhecemos bem o que pensa. Preocupa-me muito haver um candidato presidencial cuja principal "qualidade" é esconder as ideias que eventualmente possa ter.

Oh diabo!


Será que devo anunciar que não ando à procura de emprego?

Tudo sobre rodas


A minha paciência na escolha de um novo carro estava a esgotar-se. Fui a um stand e voltei para casa meio convencido. Na madrugada, andei pela net. Fui a outro stand, "desconvenci-me" do anterior e acabei por comprar outro carro. Desta vez, gastei meia hora na compra. Vá lá!

Gaza, SARL

Cada minuto que passa sem que a União Europeia reaja, com firmeza, à abstrusa ideia de Trump de colocar os Estados Unidos a tomar conta do território de Gaza, forçando a saída dos palestinos da sua terra, é um atestado do estado da sua saúde moral. 

Maria Teresa Horta


A melhor homenagem que se pode fazer a um escritor é ler a sua obra. No caso Maria Teresa Horta, que agora desaparece, de cujos poemas tinha apenas uma já distante memória, decidi lê-la, há meses, estimulado pela magnífica biografia escrita por Patrícia Reis - "A desobediente".

terça-feira, fevereiro 04, 2025

Aga Khan



Morreu hoje, em Lisboa, com 88 anos, o príncipe Aga Khan, figura tutelar do mundo ismaelita, uma prestigiada orientação muçulmana.

A comunidade ismaelita no nosso país tem fortes raízes em Moçambique e constituiu-se, em especial após 1974, como um setor muito respeitado, dotado de um profundo sentido de responsabilidade social.

Durante o tempo em que dirigi o Centro Norte-Sul, do Conselho da Europa, tive o gosto de conduzir o processo de atribuição ao príncipe Aga Khan do Prémio Norte-Sul 2013, votado em Estrasburgo, pelos Estados membros do Centro.

Foi um galardão unanimemente decidido, em face da notável obra cultural e social, à escala internacional, que tinha vindo a ser realizada sob a orientação do príncipe.

Neste triste momento, quero deixar uma palavra solidária de muito pesar ao meu amigo Nazim Ahmad, personalidade ismaelita de grande relevo no nosso país, pessoa que há muito representa, de forma exemplar, a sua prestigiada comunidade, cujo percurso na sociedade portuguesa acompanho, há décadas, com sincera admiração.

Está perdoado...


Pronto! Vítor Gaspar está perdoado! 

Agora é que era...

Agora que começa a soar, dos lados de Washington, a sinistra expressão "Greater Israel", talvez valesse a pena alguém perguntar aos líderes da União Europeia se continuam fiéis à solução dos "dois Estados" e se estão dispostos a defendê-la face aos EUA.  

Não era tão bom...

... aquele tempo em que se vivia desta forma na Amadora, em que havia colónias, pides e coisas assim?

Não...


... não fui eu quem tirou esta fotografia.

Quatro rodas e dois pedais


Os carros são um tema que nunca me interessou. Nem para conversa. Desde que sejam confortáveis e rápidos, basta-me. Há 20 anos, lembro-me que perdi apenas 15 minutos para comprar um. 300 mil quilómetros depois, ele está a pedir reforma urgente. Por estes dias, muito a contragosto, já perdi mais do que um quarto de hora com o assunto. Deve ser da idade. Do carro, claro.

segunda-feira, fevereiro 03, 2025

Rapaziada

Pela experiência destes primeiros dias, já se percebeu que o lema da intervenção de Elon Musk na administração americana lembra uma rapaziada que também temos por cá: menos Estado, melhor Estado e o que sobrar fica para nós e para os amigalhaços.

Espaço vital

Sob a vergonhosa cumplicidade do mundo, os setores radicais de Israel estão agora a converter a Cisjordânia na "nova Gaza". Chamemos os bois pelos nomes: a "solução final" do "problema palestino" passa pela expulsão dos habitantes daquela terra.

Escolhas

Cheguei à conclusão de que, nas escolhas eleitorais que fui fazendo ao longo da vida, senti maior satisfação em poder contribuir para a derrota de algumas hipóteses sinistras que andavam no mercado político do que o gozo que tive nas várias vitórias que partilhei.

Até que enfim!

Lê-se que 175 portugueses, sorteados entre Vilar de Perdizes e o Pulo do Lobo, decidiram já o futuro resultado autárquico em Lisboa. Finalmente, a democracia funciona! Há que acabar com o velho centralismo de serem apenas os lisboetas a escolherem o seu presidente da câmara!

Assim começa o 17° ano deste blogue...


domingo, fevereiro 02, 2025

"Portugal diplomático"


O "Portugal Diplomático" é um site dedicado à política externa portuguesa, dirigido por Bruno Oliveira. 

Tive o gosto de ser convidado a dar uma entrevista para a sua última edição, cuja transcrição pode ser lida das páginas 17 a 33, através deste link.

Democracia e autoritarismo em África


Ver aqui.

16 anos deste blogue


Confesso que quase me ia escapando que este blogue comemora hoje 16 anos de existência. Uma existência que tem a curiosidade de ser teimosamente diária, a desmentir o "motto" cauteloso que, desde a primeira hora, entendi dar-lhe.

Recordo, na imagem, as primeiras palavras do primeiro "post". 

Em outros anos, neste dia, simpáticos comentadores tinham por hábito saudar aqui a efeméride. O facto de eu ter decidido, por razões que não vêm ao caso, prolongar a suspensão dos comentários no blogue impede hoje essas amáveis mensagens. Mas sei que os leitores deste espaço, com uma média que ronda os dois mil visitantes/dia, continuam comigo.

Naquele dia, eu acabava de assumir funções como embaixador em Paris, ido do Brasil. Em Belém estava Cavaco Silva, em São Bento permanecia José Sócrates, as Necessidades eram chefiadas por Luís Amado. Manuela Ferreira Leite liderava a oposição. Dias muito difíceis para Portugal estavam ao virar da esquina. Onde tudo isso vai, felizmente!

O mundo, com uma ONU onde permanecia Ban Ki-Moon, tinha líderes como Barack Obama, que acabara de tomar posse, mas também Angela Merkel e Nicolas Sarkozy. Em Londres, Gordon Brown fazia as despedidas de um longo período trabalhista. A ordem internacional estava a viver a crise económica mais grave desde a Grande Depressão dos anos 30 do século passado. Era um outro mundo.

... e Trump só agora chegou!


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A Sérvia em tensão


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Fezadas

A sério que percebo a dimensão emocional da despedida de Pinto da Costa. Mas não percebi aquela cena de um bispo rodeado de taças no meio do...