Há um escândalo - um imenso escândalo! - que ocorre todos os dias nas nossas estradas e auto-estradas, um pouco por todo o país, mas com uma incidência muito particular na zona de Lisboa. E desse escândalo ninguém fala, porque é um tema em que PS, PSD e CDS mantêm um entendimento perfeito, sobre o qual paira um “omertà” de que, estranhamente, a comunicação social é cobardemente cúmplice.
Esse escândalo, esse atentado à segurança de pessoas e bens, é praticado impunemente pelos motoristas dos presidentes da República, dos presidentes da Assembleia da República, dos primeiros-ministros e de quase todos os membros de todos os governos que, por uma qualquer “bula” legal, cuja racionalidade ninguém entende mas também ninguém questiona, se permitem andar pelo país a velocidades astronómicas, às vezes colando o ponteiro aos 200 km/h, pondo em risco a vida de cidadãos inocentes que não têm a menor culpa de que as equipas de “Suas Excelências” não saibam construir as respetivas agendas com tempo e horas. E atrás desses dignitários, lá vão, à mesma velocidade, os carros com chefes de gabinetes, assessores, adjuntos e “tutti quanti” figuras da corte do poder de turno.
No passado, certos membros do governo usavam mesmo, com regularidade, sirenes nos seus carros e há quem se recorde que alguns vinham de Cascais para Lisboa, todas as manhãs, a ultrapassar loucamente em risco contínuo, com um lampião amarelo colocado no tejadilho, qual ambulâncias a caminho das urgências. Hoje, parece que só se usam umas luzes azuis intermitentes, que sentimos no retrovisor quando esses loucos carros oficiais se nos aproximam nas estradas.
Não estou a falar de caravanas oficiais, em determinados momentos de Estado, ou de missões oficiais estrangeiras. Refiro-me a deslocações de rotina, no dia-a-dia, na ida e volta a uma iniciativa a Mortágua ou a Almodôvar ou a A-da-Gorda. Que necessidade há de conduzirem a alta velocidade?
Este é um escândalo de sempre, que tem décadas! Quando há batedores, o risco é menor. Quando não há, os cidadãos inocentes correm perigo (que é de morte!) com essas correrias insensatas e insanas. Há quem argumente que é por uma questão de segurança! Qual quê? Que risco de segurança sofre o Secretário de Estado a Que Isto Chegou? E a nossa segurança não conta?
Dir-se-á que esses condutores são hábeis e capazes. Ai é? Também eu entendo que posso conduzir com segurança a 160 km/h em imensas retas e, se o fizer, arrisco-me a apanhar pontos na minha carta. Ao cidadão comum, que paga os seus impostos e tem plenitude de direitos, é permitido ser submetido a testes que lhe permitam “acelerar”? Estou convencido que, fora desses motoristas, deve haver muita gente que sabe conduzir igual ou melhor do que eles.
Um dia disse alguém: “Qual é a pressa?” Por que será que ninguém quer falar disto?
(Já estou a presumir um comentário: “Nos cinco anos e tal que ele esteve no governo também devia andar por aí “a abrir” “. Pois enganam-se! Todos os motoristas que comigo trabalharam tinham estritas instruções para não excederem a velocidade legal.)