sexta-feira, junho 26, 2009

Circuitos

Num fim-de-semana, durante a reunião da UNCTAD, que teve lugar em Genebra no Verão de 1987, um grupo de delegados alugou um carro para um passeio fora da cidade. Íamos no caminho entre Genebra e Nyon, à borda do lago, quando a conversa derivou para o trajecto sinuoso da estrada em que rodávamos, através de localidades. Alguém referiu que certas partes do percurso eram mesmo bastante perigosas. Aí, um dos membros do grupo comentou: "E pensarmos nós que se faz aqui uma prova automobilística de tão grande importância...".

Nenhum dos outros comparsas de viagem fazia a menor ideia de que havia uma prova automobilística que passava por ali, pelo que pensámos que o nosso interlocutor se estaria a referir a algum rally. E, claro, pretendemos ser esclarecidos sobre o evento a que se referia.

O nosso homem - porque era um homem... - assumiu então um tom de connoisseur e, com ar de quem nos ia esmagar com a humilhante exposição do nosso tão óbvio desconhecimento, avançou: "Então vocês não sabem que passam por aqui as '24 horas de Le Mans'"?

Um ou dois segundos, para "digestão" mental da revelação, mediaram entre a frase e o coro de gargalhadas dos restantes viajantes. O lago à volta do qual passeávamos era o lago Léman, e o nosso interlocutor estava plenamente convencido que era nas estradas à volta desse lago que se disputavam as "24 horas de Le Mans". Ora Le Mans é uma localidade francesa a sudoeste de Paris...

Até ao final da viagem o nosso homem embatucou...

Há dias, ao passar por Le Mans, lembrei-me da história e também do facto de a Dra. Helena Sacadura Cabral, comentadora activa deste blogue, ter participado, pelo Banco de Portugal, nas reuniões preparatórias da delegação portuguesa àquela reunião da UNCTAD. Lembra-se?

Karzai

Só a peculiaridade da vida política do Afeganistão poderia dar origem ao título que o "International Herald Tribune" de hoje consagra ao artigo sobre as perspectivas em matéria de eleições naquele país: "Deeply unpopular, Karzai is likely to win".

Números

Esta bela imagem de números não ilude os que ontem a OCDE apresentou, relativos à (não) saída da crise, e que o sempre atento blogue Fio de Prumo nos refere aqui.

quinta-feira, junho 25, 2009

Música

Mais de uma centena de pessoas - algumas tiveram mesmo de ficar em pé - assistiram, na noite de ontem, ao terceiro espectáculo da série "Entre-pautas/entre-partitions", realizado no salão da Embaixada de Portugal em Paris.

Desta fez foi o som da guitarra de Paulo Vaz de Carvalho, que, durante uma hora, se passeou com arte por compositores do século XVII ao século XXI, com portugueses como Carlos Seixas, as gerações Paredes (Gonçalo, Artur e Carlos), Lopes-Graça e Jorge Peixinho, para além de Gaspar Sanz, Villa-Lobos e Leo Brouwer. Obrigado, Paulo, por esta excelente noite.

Vamos tentar que mais espectáculos regressem na "rentrée", sempre com intérpretes ou compositores portugueses.

Escolas


"O especialista canadiano em tecnologia Don Tapscott aponta Portugal como um exemplo a seguir na educação, elogiando o investimento em computadores individuais nas salas de aulas.

Num artigo de opinião publicado no blogue Huffington Post - onde já escreveu Barack Obama -, Tapscott dirige-se directamente ao presidente dos Estados Unidos da América: 'Quer resolver os problemas das escolas? Olhe para Portugal!'".

(Jornal "Público", 25.7.09)

quarta-feira, junho 24, 2009

Mollat

Confesso a minha perdição por livrarias, para quem ainda não tivesse desconfiado. Ontem, de manhã, regressei por breves minutos à livraria Mollat, no centro de Bordéus, uma das mais bem organizadas e profissionais que conheço. Onde me falaram de Mário Soares por lá ter passado, por mais de uma vez.

Como habitualmente faço, fui ver a estante de literatura portuguesa, traduzida em francês. Alguma óbvia: Eça, Saramago, Lobo Antunes, Pessoa e Agustina. Mas também Cardoso Pires, Torga, Ferreira de Castro, Carlos de Oliveira, Graça Moura e José Luís Peixoto, para além de antologias. Nada mais, o que é escasso, embora bem melhor do que em muitas livrarias em Paris.

Má surpresa na zona da nossa literatura publicada em português. Muito pouca coisa e a fantástica revelação de que tiveram de importar os nossos livros via Brasil (!), dada a falta de resposta e a excessiva demora (além de imprecisão nas encomendas) dos seus fornecedores possíveis em Portugal. E foi-me dito que existe uma real procura, a que não conseguem dar resposta, por virtude dessas limitações. Apenas incrível! A ver vamos se é possível à Embaixada intervir.

terça-feira, junho 23, 2009

Remodelação

A cena teve qualquer coisa de queirosiano. O último convidado a chegar, num jantar na noite de ontem em casa de amigos franceses, trouxe a lista, acabada de divulgar, da remodelação ministerial. O ambiente era algo diverso, com empresários, figuras da administração e alguns diplomatas. Todos se inclinaram com avidez sobre as notas do recém-chegado, com comentários sonoros apreciativos por parte dos franceses presentes. As senhoras, muito curiosamente, eram as mais "soltas", com os maridos, por dever institucional, a revelarem-se mais prudentes.

As deixas foram as imagináveis: "Então fulano subiu? Não era de esperar...". "Espanta-me que sicrano tenha sido reconduzido". "O que significará a mudança de beltrano?". "X acabou por ter o lugar que queria". Ou, mais honestos: "Não gosto nada de Y" ou "preferia que Z tivesse entrado".

À saída do jantar, já num ambiente de cumplicidade corporativa, sem franceses à escuta, os diplomatas abriam-se um pouco mais opinativamente entre si e avaliavam as escolhas, mentalmente preparando os telegramas com que, amanhã, irão dar a sua opinião às respectivas capitais sobre o como e o porquê do que aconteceu. Como o autor deste texto, claro.

VinExpo 2009

É de grande qualidade a presença portuguesa na VinExpo 2009, que esta semana decorre em Bordéus. Bastante mais de uma centena de produtores portugueses, de todo o tipo de vinhos, naquele que é o mais importante certame mundial da especialidade.

A crise terá afectado apenas marginalmente o número de presenças na feira, embora seja opinião unânime que está a provocar uma pressão global para a redução de preços, que apenas favorece os produtores de vinhos de menor qualidade. Isto será principalmente válido para os vinhos de mesa, mas os nossos Portos estarão também a ser afectados. De qualquer forma, o ambiente geral entre os nossos produtores era positivo e a qualidade dos nossos vinhos justifica a sua crescente procura em vários mercados. O que é uma boa notícia.

República francesa

A França é um país curioso. Embora com uma matriz republicana muito forte, conserva um fausto e alguma liturgia que são tributários óbvios da monarquia e do império. A V República é, manifestamente, o tempo político em que esses sinais mais se evidenciam. E, como não podia deixar de ser, é nos momentos em que não há coabitação política (maioria e presidente com diferentes lateralizações ideológicas) que isso se afirma com mais intensidade. Ontem, o presidente francês dirigiu-se ao Congresso, a figura constitucional que agrupa a Assembleia Nacional e o Senado. E, seguramente não por acaso, fê-lo no Palácio de Versalhes.

Durante muitos anos, alguns pensaram que a liturgia do modelo da V República era própria de chefes de Estado da área conservadora. Mitterrand provou que essa ideia era perfeitamente errada e demonstrou como a esquerda, quando no poder, vivia bem confortável com a grandeza e os dourados da vida palaciana francesa.

Bordéus

A primeira vez que passei por Bordéus foi há mais de quatro décadas, de mochila às costas, quando me deu na veneta atravessar a Europa "à boleia", da rotunda do Relógio (era então outro relógio, bem mais bonito) à Noruega. Recordo-me de uma cidade voltada "para dentro", ruas estreitas à moda mediterrânica, criando-me a imagem de uma certa França, de orgulhosa e burguesa província. Das restantes vezes que por lá passei, a imagem foi-se repetindo, até porque o progressivo declínio do porto não contribuiu, durante muito tempo, para uma renovação da economia e da paisagem da região e da cidade, não obstante terem tido como figura tutelar uma das mais interessantes e influentes personalidades da V República, Jacques Chaban-Delmas. Mas Bordéus parecia-me, de certa forma, ter parado no tempo.

O contraste entre a cidade de então e a Bordéus de hoje é imenso. E para isso muito contribuiu a recuperação da área junto ao rio Garonne, dando visibilidade a um conjunto magnífico de edifícios, então tapados pelo acesso ao feiíssimo porto. Uma obra, entre muitas outras, que a cidade fica a dever ao espírito reformador do actual "maire", e antigo Primeiro-ministro francês, Alain Juppé. Compete-nos encontrar maneira de estimular a geminação existente entre o Porto e Bordéus, que há anos anda "enguiçada". Ontem mesmo, Alain Juppé me garantiu o seu empenhamento pessoal em avançar bastante nesta área.

domingo, junho 21, 2009

Prix des Ambassadeurs

Há mais de 60 anos, foi criado em França o Prix des Ambassadeurs. Um júri, composto por um máximo de 20 embaixadores estrangeiros residentes em Paris, atribui anualmente um prémio a um autor de língua francesa, geralmente por um livro publicado nesse ano, sempre sobre um tema histórico ou histórico-político. Um grupo de membros da Academia Francesa faz um pré-selecção de um conjunto de títulos, submetidos depois, durante semanas, ao parecer dos diplomatas. A exemplo de antecessores meus, tive o prazer de ser cooptado para esse júri, pouco tempo após a minha chegada a Paris.

Depois de bastantes horas de leitura e algumas mais de deliberações, escolhemos, há dias, para o prémio deste ano, "La Fin - La République des Tourmentes", o volume que conclui a monumental obra de Georgette Elgey sobre a IV República - esse complexo período da História de França que vai desde o fim da II Guerra Mundial até à chegada ao poder do General de Gaulle, em 1958.

Festa da Música

Paris foi ontem a capital da música, como acontece no dia 21 de Junho de cada ano. Imensos eventos de acesso totalmente livre, de todos os géneros musicais, foram motivo para várias centenas de milhar de pessoas encherem as ruas da cidade, desde manhã até bem dentro da madrugada desta 2ª feira. É uma espécie de S. João do Porto em grande escala, que abrange todos os bairros e transforma a cidade num insólito festival de sons e danças. Outras cidades francesas tiveram também programas de animação idênticos, num total estimado de 18 mil concertos.

Nada de estranhar num país em que há 2,3 vezes mais músicos amadores do que futebolistas, com 800 mil alunos a frequentarem 3 mil escolas de música e 1,4 milhões de pessoas a serem membros de coros.

Que pena não termos esta animação em Portugal!

Bolos

Ao deparar hoje com esta imagem de Wayne-Thiebaud, num álbum de Pop Art, deu-me para pensar nesse tempo, já tão longínquo, em que Herman José ainda era Herman José. Para ver aqui.

sábado, junho 20, 2009

Chile

Um dia destes, o blogue vai ser acusado de ser mobilizado pelos obituários, mas a verdade é que as coisas da vida são suscitadas, muitas vezes, por quem dela sai. E as pessoas só morrem uma vez.

Ao ler a notícia da morte de Hortensia Allende, não pude deixar de recordar a primeira visita que fiz, em 2000, ao Palácio de la Moneda e a profunda emoção que senti ao percorrer aqueles corredores, por onde havia passado um vento de tragédia que iria afectar, por muitos anos, a vida do Chile. E que, à época, me marcou imenso.

José Miguel Insulza, ministro chileno do Interior, que me recebeu no Palácio, disse-me então que entendia bem o sentimento da nossa "generación de los claveles" perante o golpe chileno.

Voltei a encontrar Insulza, no ano seguinte, numa livraria, em Nova Iorque, poucas semanas depois do 11 de Setembro. Lembrou-me: "nosotros también tuvimos el nuestro 11 de septiembre". De facto: 28 anos antes, em 11 de Setembro de 1973, data do golpe de Pinochet e da morte de Salvador Allende. Uma tragédia não apaga a outra, mas, por uma qualquer razão, vale sempre a pena lembrá-las juntas.

Dîner en blanc

É uma tradição parisiense, com mais de 20 anos. Há dias reuniu mais de 8 mil pessoas. Numa convocatória boca-a-boca (mais recentemente, por SMS), os "happy few" informados deslocam-se, vestidos de obrigatório branco, numa noite pré-anunciada entre eles, para um local de Paris, que só é conhecido à última da hora, e fazem um piquenique, com bebidas e comida que cada um traz, em mesas portáteis, decoradas à moda que entendem, com o branco como regra. É uma manifestação "não autorizada", mas que nunca foi proibida. Este ano, teve lugar na Place da la Concorde. Elitista? Talvez, mas com muita graça. Coisas de Paris.

sexta-feira, junho 19, 2009

O "Lisboa"

Reconheço que se trata, talvez, de uma atitude muito geracional. Mas, tenho de confessar, a desaparição, já há quase duas décadas, do "Diário de Lisboa" acabou por ser, para mim, algo traumática, no saldo de memória da imprensa portuguesa em que fui criado. Por isso, a morte do seu antigo proprietário e director, António Ruella Ramos, agora ocorrida, associa-se a essa tristeza e convida aqui a uma nota sobre o jornal.

O vespertino lisboeta foi, durante as décadas da ditadura, uma referência diária na imprensa democrática portuguesa. Tentou sempre representar, ao lado do "República", um espaço para as vozes dissidentes, muito mais do que o equívoco "Diário Popular" (que me desculpem os amigos que por lá tive) e bem antes de "A Capital" - um jornal que resultou da saída , em 1968, de um grupo de jornalistas do "Lisboa". Uma anedota oposicionista espalhava então que os ardinas, pelas ruas de Lisboa, anunciavam assim os quatro jornais da tarde: "Lisboa / Capital / República / Popular!".

O "Lisboa" era um jornal diferente de todos os outros. Menos "popular" que o "Popular", menos "reviralhista" que o "República", menos "à la page" que "A Capital". Para nós, os fiéis, tinha códigos de leitura muito próprios, tinha entrelinhas que nos animavam as tardes nos cafés, funcionava como um repositório de esperança democrática. E tinha gente nova, que aí escrevia, com quem nos cruzávamos, depois da saída do jornal, na "Brasileira" ou no "Monte-Carlo".

Para mim, que "aderi" ao jornal aí por 1966, marcaram-me muito os tempos de "Mosca" (um suplemento humorístico dos sábados, que fez história), do DL Juvenil (suplemento literário para jovens, por onde passou quase tudo quanto "foi gente" na cultura portuguesa imediatamente posterior) e do seu destacável cultural (creio que às 4.ªs feiras, num tempo em que todos os vespertinos mantinham espaços idênticos). Comprar o "Lisboa" era um "vício": imaginem o que seria, nos dias que correm, esperar pelo jornal de ontem, a meio da tarde do dia seguinte! Pois era isso que nos acontecia, pela província onde passávamos férias, disputando com ardor os escassos exemplares vendáveis. Eram outros tempos! Melhores? Claro que não, apenas muito diferentes.

O "Lisboa" teve na redacção nomes da literatura como Sttau Monteiro, Cardoso Pires, Urbano Tavares Rodrigues, Carlos Eurico da Costa, Fernando Assis Pacheco ou José Saramago (fazia inicialmente traduções...). E jornalistas como Álvaro Salema, Norberto Lopes, Artur Portela, José Carlos de Vasconcelos, Veiga Pereira ou Manuel de Azevedo. E a pena ácida e certeira de Mário Castrim ou Pedro Alvim, entre tantos e tantos outros.

Recordo, em particular, os tempos eleitorais, em que aguardávamos o "Lisboa", com aquele "lettering" de título idêntico ao "Le Monde", com grande ansiedade, para ver o que a censura tinha "deixado passar". E, valha a verdade, também lembro os tempos de uma menos saudável ortodoxia, após o 25 de Abril, onde a antiga pluralidade se diluiu - e que terá contribuído, entre outros decisivos factores, para liquidar o jornal.

Mas hoje é tempo de saudar o saldo bem positivo do velho "Diário de Lisboa", na hora da saída de cena de Ruella Ramos, um homem de bem, uma grande figura da imprensa portuguesa, que manteve o seu jornal até onde lhe foi sustentável.

quinta-feira, junho 18, 2009

Frase

"Os iranianos devem, de facto, acender uma vela aos Estados Unidos, que começaram por os livrar do seu pior inimigo, Saddam Hussein, para depois lhes oferecerem de bandeja um Iraque shiita e acabarem por consagrar o seu papel de potência mundial".

Jean Daniel, no "Le Nouvel Observateur" desta semana

Obama

O presidente americano tem vindo a demonstrar, para surpresa de muitos, que a política de diálogo construtivo no quadro internacional, que havia anunciado durante a sua campanha, era... para levar a sério.

Na questão de Guantánamo, no Próximo Oriente, no Iraque, na atitude face ao mundo islâmico e quanto ao Irão, ninguém poderá dizer que o presidente Obama não está a cumprir o que prometeu. E sem arrogância, procurando perceber as razões dos outros, com uma contenção face a certas provocações que representa um registo quase inédito na política externa americana contemporânea.

Dentro dos Estados Unidos, há muitos sectores positivamente motivados com este comportamento, enquanto outros parecem, cada vez mais, aguardar por um desastre desta estratégia internacional, havendo já quem a apelide de uma "carterização" da acção externa - sabendo-se o que isso significa aos ouvidos de quem só sentiu o seu orgulho pós-Vietname resgatado pela agressividade reaganiana.

Porque o presidente Obama tem de manter internamente uma forte credibilidade para poder prosseguir com a sua ousada agenda reformista externa é que mais importante se torna que Estados com especiais responsabilidades à escala global - e, entre estes, em especial, a China e a Rússia - venham a perceber a importância de ajudarem a "nova América" a não se sentir tentada a subordinar-se à agenda da "velha América". É que esta última está já à espreita de algo que possa ser lido como uma humilhação de Washington ou uma qualquer crise grave que consiga imputar a uma suposta fragilização introduzida por Obama na defesa dos interesses americanos.

Carlos Candal (1938-2009)

Morreu Carlos Candal, advogado e democrata de Aveiro, figura histórica da oposição ao Estado Novo e político saliente em vários tempos da nossa vida pública.

Era uma figura que nunca recusava a polémica, nada "politicamente correcto", dotado de uma ironia sarcástica, que muitos confundiam com arrogância, que intervalava com as baforadas do seu emblemático charuto. Tinha uma voz grossa e uma gargalhada forte, de quem sempre esteve de bem consigo mesmo. A certo passo, deixou-se tentar pela aventura do Parlamento Europeu, onde nos cruzámos diversas vezes e comentámos uma Europa que sempre me pareceu ver de soslaio político. O que confirmei, num debate que tivemos em Aveiro, há mais de uma década.

No início dos anos 60, havia sido líder da luta académica, em Coimbra. Jorge Sampaio contou-me que, num dia desses tempos, foi de Lisboa a Coimbra para um diálogo entre lideranças universitárias, em período de tensão política forte. Com todos os cuidados que a segurança recomendava, dirigiu-se à "República" onde vivia Carlos Candal, que não conhecia pessoalmente. Bateu à porta e atendeu uma governanta, que disse que "já ia chamar o Dr. Candal" - em Coimbra, à época, "era-se" doutor antes do curso acabado. O ambiente era muito diferente do contexto homólogo lisboeta, com desenhos humorísticos pelas paredes, garrafões e outros artefactos pendurados do tecto, enfim, toda a parafernália simbólica da boémia coimbrã. Minutos depois, Jorge Sampaio ouviu, do alto da escada, um vozeirão: "Olá, menino! Já desço". Sampaio olhou e lá estava, ainda de roupão indiciador de grande noitada na véspera, a figura do seu interlocutor político, Carlos Candal. Nesse momento, o futuro Presidente da República terá percebido melhor a diferença eterna entre a maneira de ser das academias de Lisboa e de Coimbra. E dos políticos oriundos de ambas, claro.

Sem fugas

O 1.º Tour de France Pénitentiaire acabará amanhã em Paris. Foram 2200 km de uma corrida ciclística que envolveu mais de duas centenas de detidos e alguns funcionários penitenciários, num esforço de reinserção social.

A grande regra desta corrida - interrogo-me por que será... - é que o pelotão deve manter-se unido, do início ao fim das 14 etapas do percurso. O director da corrida foi peremptório: "Ceux qui sont venus pour l'exploit sportif et faire exploser le peloton se sont trompés d'endroit". É pena, teria graça ver algumas tentativas de fuga, com alguns "na roda" dos fugitivos e outros tantos na sua peugada.

Não há camisola amarela, nem de qualquer outra cor. As camisolas dos ciclistas são brancas. Felizmente, ninguém se lembrou de utilizar um equipamento similar ao do Boavista...

José Calvário (1951-2009)

Era por muitos considerado uma figura genial no âmbito da música portuguesa, como compositor e orquestrador. Entre muitos outros trabalhos, escreveu a parte musical da canção com que Paulo de Carvalho representou Portugal no festival da Eurovisão, em 1974, e que acabaria por ser a primeira senha para os militares que fizeram a Revolução dos Cravos.

Conheci-o vagamente em Londres, nos anos 90, cidade por onde ia muito nas suas andanças profissionais. Ficou-me então a recordação de uma personalidade que projectava uma imagem de inquietude e propensão para a acção. Desaparece agora, bem cedo.

Como singela homenagem, com um nome adequado, fica agora aqui o seu "E depois do adeus".

quarta-feira, junho 17, 2009

Sabiam?

São 16 PME portuguesas de altíssima craveira tecnológica, que se agrupam na PEMA - Portuguese SME for the Aerospace Industry. A partir de ontem estão, em stand próprio, na 100.ª edição do Salon de Le Bourget, aqui em Paris.

Claro que sei bem que a divulgação da afirmação e do sucesso internacional destas empresas vai a contraciclo do ambiente de "malaise" que é hoje o sentimento "politicamente correcto" prevalecente no quotidiano de um certo Portugal. Assim, e com um antecipado pedido de desculpas a quem se sentir ofendido na sua estimável depressão, aqui fica esta nota positiva.

Serviço público

No âmbito das informações recolhidas para a elaboração do livro "Les Portugais à Paris", a equipa de Michel Chandaigne acabou por criar um acervo muito interessante e actualizado de endereços portugueses na capital francesa, desde diversos tipos de lojas a restaurantes e instituições culturais. Uma "mina"...

Tornou-os agora públicos aqui e pede a quem possa e queira ajudar a completá-los que envie os dados que possuir.

A isto se chama um belo serviço público... privado.

Brasil e França

A nossa diplomacia no Brasil e na França, as comunidades portuguesas e o trabalho económico em Brasília e em Paris, medidas as respectivas diferenças, foram a base da minha entrevista ao site da Chambre de Commerce et Industrie Franco-Portugaise, que hoje foi publicada. Se acaso nisso tiver interesse, pode lê-la aqui em francês ou aqui em português.

Siza

É grande o prestígio de que Álvaro Siza Vieira desfruta em França. Ontem, ao ser-lhe atribuída a medalha de ouro da Académie d'Architecture francesa, foi impressionante ver um grande auditório, recheado das maiores figuras da arquitectura francesa, dispensar-lhe uma imensa ovação, depois de ter assistido a um filme sobre a sua obra. Siza falou, com modéstia e numa voz de portuense tímido, da sua carreira e do seu amor à profissão.

Um belo momento português em Paris.

terça-feira, junho 16, 2009

Cinema português

A propósito do "Aquele Querido Mês de Agosto", o Le Monde aborda os problemas e os sucessos da nova cinematografia portuguesa. Leia aqui.

Vinho

Contrariamente ao que se possa pensar, trazer vinhos portugueses para França não é a mesma coisa que "levar bananas para a Madeira". A qualidade da produção vinícola nacional - e não só do vinho do Porto - tem já hoje um lugar assegurado no exigente mercado francês e o seu reforço continua a constituir uma grande aposta nossa.

Ontem, com a Câmara de Comércio portuguesa em França, teve lugar uma prova de vinhos verdes portugueses, que concitou a atenção de muitos especialistas. E onde, para minha surpresa de não especialista, verifiquei a presença de vinhos verdes rosés, a corresponder a um novo gosto que o mercado parece alimentar.

Para a semana, em Bordéus, Portugal vai estar em grande força na maior feira vinícola do mundo. A França é a terra do vinho, mas Portugal tem hoje produções de grande qualidade, cuja afirmação temos de impulsionar neste mercado.

G8

"O G8 morreu, não representa mais nada. Não sei como vai ser o enterro, às vezes o enterro ocorre lentamente", disse Celso Amorim, ministro brasileiro das Relações Exteriores.

O chefe da diplomacia brasileira é um experiente político, com um conhecimento profundo da realidade internacional. As suas opiniões merecem sempre ser consideradas com bastante atenção. Mas, por uma vez, fico com a sensação de que toma os seus desejos por realidade, embalado no que foi o efeito político conjuntural da última reunião, a alto nível, do G20.

Durante muitos anos, o Brasil procurou aproximar-se do G8, não conseguindo melhor do que ser convidado para reuniões complementares do grupo dos países mais ricos. Isso foi provocando uma crescente irritação em Brasília, bem consciente de que as economias dos países emergentes cada vez mais representavam uma realidade que o modelo de "directório" do G8 não acolhia na medida merecida. A crise e a necessidade de encontrar um compromisso político susceptível de forçar medidas colectivas para lhe fazer face, a uma escala mais alargada que o G8, conduziram à reunião cimeira do G20, em Londres. Mas o sucesso dessa mesma reunião não pode iludir o facto de que, não obstante as suas virtualidades e representatividade, o G20 esteve sempre muito longe de ter uma coerência política sólida. Veremos o que sairá da sua próxima cimeira, mas,tudo indica que vamos ver criada, a prazo, uma entidade - que poderá ser um G13 ou um G14 - que pode funcionar como um G8 alargado - mas já não um G20, cujo destino funcional poderá revestir apenas a forma de modelos de coordenação ministerial. Mas, antes, haverá que ver se há consenso quanto a isto.

A menos que haja uma "revolução" no sistema de gestão político-económica global, que ainda nada indica que esteja aí ao virar da esquina, parece-me que, sobre o G8, se poderia utilizar a fórmula célebre de Mark Twain: as notícias sobre a sua morte são, por ora, muito exageradas.

segunda-feira, junho 15, 2009

Variações

Foi há 25 anos. Pouco se falava então da Sida, mas um excêntrico barbeiro de Lisboa morria já então dessa doença.

Deixou uma obra musical interessantíssima, como compositor e como intérprete, com uma voz estranhamente singular. Hoje, cantam-no alguns consagrados. Recordemo-lo no É p'ra amanhã.

domingo, junho 14, 2009

Irão

O resultado das eleições iranianas prova que a a balança pende ainda, naquele país, para um sector muito ligado à revolução islâmica dos anos 80, bastante ancorado nas zonas rurais.

Mas o que se passou durante o período eleitoral e na sua sequência, qualquer que seja o desfecho imediato que venha a ter, até em termos de repressão política, revelou que há muito mais na sociedade iraniana do que aquela caricatura de monolitismo religioso que Teerão havia feito passar para o mundo. E isso não vai ser indiferente para o próprio posicionamento futuro do Governo iraniano no quadro internacional. O Irão não é a Coreia do Norte.

Portugueses

As festas populares no seio da comunidade de origem portuguesa em França têm um carácter de grande autenticidade e de uma extrema fidelidade às raízes nacionais. Andei por várias nestes dias e pude falar com imensa da nossa gente que já tornou francês o seu sonho de vida.

Achei muito curioso nelas ver os símbolos do futebol português, com expressão nacional ou clubística, surgirem como "bandeiras" de orgulho português. Embora eu me pergunte se parte desse mesmo orgulho, expresso em alguns outros símbolos mais radicais de teor nacionalista, patente em peças de vestuário, não poderá vir a contribuir para um isolamento, no seio da sociedade francesa, de quem recorre à sua afirmação quase agressiva. A ver vamos.

A festa da Rádio Alfa, realizado no domingo, foi um desses momentos onde pressenti que os portugueses revelam hoje uma saudável serenidade face à livre e alegre expressão da sua identidade numa sociedade que, podendo pontualmente ser tentada a menorizá-los, no fundo os respeitam e até os admiram. Por razões que são cada vez mais óbvias, a França encontra, dia-a-dia, razões de sobra para reforçar essa atitude face aos "seus" portugueses.

Igualmente emocionante, mesmo para quem as coisas da fé nada dizem, foi o encontro dos portugueses que encheu a Notre-Dame de Paris, ao final da tarde de sábado, com os coros da comunidade de origem portuguesa a ressoarem, na nossa língua, naquele magnífico espaço, durante a cerimónia religiosa que lhes foi dedicada, celebrada a elevado nível eclesiástico. No final, alguns dos nossos compatriotas pediram-me para, no próximo ano, podermos ter por lá a nossa bandeira nacional. Confesso que estou hesitante: os portugueses que ali estiveram presentes são, por estas terras, a nossa verdadeira bandeira. Não é preciso nenhuma outra.

sábado, junho 13, 2009

O mal europeu

"A abstenção e a inércia cívicas continuam a ser o mal europeu por excelência. O do cepticismo, do fatalismo, desta espécie de degenerescência democrática que arruina a participação activa e pessoal do cidadão no destino da 'cidade'. Será uma desafeição deliberada pela Europa? Não! É mais a indiferença face a um destino comunitário que, desde as suas origens, esteve confiado às elites. E talvez, aqui e ali, com um gosto preverso e vagamente inconsciente dos povos: poder fazer da Europa que abandonam o bode expiatório da sua própria abdicação..."

Claude Imbert, no "Le Point" desta semana

Vila

Os habitantes de cinco novas cidades e de 22 novas vilas portuguesas comemoram hoje a "promoção" que a Assembleia da República ontem decidiu fazer ao seu estatuto. Consequências? Nenhumas, salvo o usufruto do orgulho por subirem na escala urbana do país.

Porém, há uma vila que persiste em manter-se como tal, desde há muito: Ponte de Lima. Vale a pena registar aqui esta saudável "teimosia", de quem há muito entende não precisar de mudar de estatuto para se impor como uma das mais belas localidades do país.

E, já agora, se puderem, um conselho: não percam as fantásticas Feiras Novas de Ponte de Lima, de 18 a 20 de Setembro. Procurem apenas resguardar-se dos políticos, que por lá andarão seguramente, por essa altura, à caça de uns votitos...

sexta-feira, junho 12, 2009

Lucky?

O duelo anuncia-se terrível, entre o cigarro da versão original de Morris e a palhinha "politicamente correcta" do filme de Lucky Luke que sairá aqui em França, em Outubro.

Onde é que isto nos levará?

Aristides Sousa Mendes

É hoje à noite, pelas 20h35, que o canal televisivo France 2 projecta o filme "Désobéir. Aristides Sousa Mendes". Leia o texto da apresentação feita:

Juin 1940. La France vient de capituler. Les Allemands arrivent, poussant devant eux des cortèges de réfugiés jetés sur les routes par la peur et le danger. A Bordeaux, le consul du Portugal, Aristides de Sousa Mendes (Bernard Le Coq, tel qu'en lui-même), voit affluer à ses grilles des centaines de malheureux, suppliant son pays, neutre, de leur accorder un visa. Après trois jours de réflexion, l'aristocrate catholique, le fonctionnaire sans histoire va prendre une décision qui plongera sa vie dans le chaos et en sauvera 30 000 autres : en un mois, aidé de son fidèle secrétaire (trop rare Roger Souza), Sousa Mendes délivrera autant de visas, dont un tiers à des juifs, malgré une circulaire de Salazar l'interdisant formellement. Racontée avec sobriété et sensibilité par Joël Santoni sur un scénario de José-Alain Fralon et Jean-Carol Larrivé, cette histoire belle et vraie rend justice à l'homme de bien. Enterré vivant par la dictature de Lisbonne, qui ne pardonnera jamais à ce juste d'avoir désobéi, Sousa Mendes accomplit la plus grande action de sauvetage menée par une seule personne durant la Shoah.

E leia mais aqui. Tempos futuros trarão outras homenagens a Aristides Sousa Mendes, a que a Embaixada de Portugal vai associar-se ou promover.

quinta-feira, junho 11, 2009

Cohn-Bendit e nós

Há mais de 40 anos, ele era o estudante contestatário que desafiava a polícia, como um dos líderes do Maio de 1968, de que a foto junta é um belo testemunho. Hoje, em especial depois do magnífico resultado que a formação política que chefia, a Europe-Ecologie, obteve nas eleições europeias, Daniel Cohn-Bendit é olhado com um dos actores incontornáveis do futuro próximo da esquerda em França.

Ao lembrar-me dele e do Parlamento Europeu, recordei também uma história passada com Cohn-Bendit, em Estrasburgo, no início de 2000. A presidência portuguesa da União Europeia, que acabara de iniciar-se, tinha de fazer a sua apresentação naquele Parlamento e, para além da presença do primeiro-ministro em plenário e dos vários ministros em comissões, competia-me a mim calcorrear, entre outras, todas as comissões e subcomissões que tivessem a seu cargo questões de relações externas da União, nas suas diversas dimensões. Ao todo, o meu percurso pelas diversas salas incluía sete ou oito reuniões, tudo concentrado em menos de três dias.

Cada exercício tinha um formato idêntico. De acordo com um calendário negociado, eu entrava num determinado momento dos trabalhos e, acabado que fosse o expediente em curso, o presidente da comissão dizia umas palavras de apresentação e, de seguida, eu fazia uma explanação sobre as prioridades da nossa presidência na respectiva temática. Depois, seguia-se uma sessão com perguntas dos deputados e respostas minhas. Coisa para 45 minutos a uma hora, em cada uma das sessões, dependendo do curso do debate.

Ora acontece que um almoço com um grupo regional, sobre temas mediterrânicos, havia demorado mais tempo do que o previsto e, quando cheguei à comissão em que deveria falar, eu estava já bastante atrasado. Tinha sido uma correria pelos intermináveis corredores de Estrasburgo (quem os conhece sabe do que falo) e, ao entrar na nova sala... dei-me conta de que havia deixado para trás a minha assessora, a qual era portadora de toda a papelada e, em especial, do dossiê com os tópicos preparados para a minha intervenção e para as respostas às perguntas dos deputados.

A questão agravou-se quando o presidente da sessão, depois de explicar simpaticamente as razões do meu atraso, informou que ia dar-me de imediato a palavra, sem fazer qualquer introdução, porque sabia do calendário apertado em que eu me movimentava, em especial pelo facto de eu ter de partir rapidamente para o plenário, onde iria passar a responder à tradicional bateria de perguntas, em cerca de hora e meia de debate geral.

A minha angústia aumentou e eu olhava desesperadamente para a porta, mas a minha assessora, por uma vez, teimava em não aparecer. Mas será que não podia improvisar? Claro que sim. Tinha sido o responsável pelo texto final do programa da presidência portuguesa e, mais ou menos, conhecia de cor todos os temas, nos seus aspectos gerais. No entanto, havia uma problema dramático: eu não sabia em que comissão ou subcomissão estava! Não fazia a mais leve ideia do tema que ela abordava! O que é que eu poderia dizer?

Olhei a sala, à procura de deputados portugueses, cuja presença me pudesse ajudar a situar a reunião. Nem um! Tentei deitar um olhar de viés para o papel que o presidente da sessão, à minha esquerda na mesa, tinha à sua frente, com vista a tentar descortinar uma qualquer palavra ou frase que me pudesse dar uma ideia do tema que unia, naquela sala, as cerca de cem pessoas que estavam à minha frente. Mas nada: a papelada não tinha mais do que horários e listas de presenças. Nem uma palavra sobre o título da reunião. E havia quatro temas ainda possíveis. Seria a defesa e segurança? Ou os direitos humanos? Seriam as questões de desenvolvimento? Ou o comércio internacional?

É aqui que Cohn-Bendit entra na história. Ele estava sentado numa das primeiras filas do auditório, como deputado europeu que era. Conhecia-o apenas de fotografia, como figura pública regulamente presente na comunicação social. O que faria ele ali? Não me parecia que o seu centro de preocupações fossem os temas comerciais, nunca lhe lera uma palavra sobre o assunto. Defesa e segurança? Também não me recordava que isso o motivasse, muito embora a sua ligação franco-alemã remotamente o pudesse levar a interessar-se a ir por esse caminho.

De repente, lembrei-me de ter lido, semanas antes, um artigo seu, creio que no "Libération", sobre uma qualquer questão ligada ao ambiente e às questões de desenvolvimento. Tinha de ser rápido no raciocínio. Se excluídos os restantes, ficavam apenas o desenvolvimento e os direitos humanos, numa lógica de 50/50, típica do "quem quer ser milionário?". Optei pelo desenvolvimento, coisa mais pragmática e substantiva. Mas deixei aberta a porta para os direitos humanos...

Tomada a palavra, comecei por falar da filosofia geral da presidência portuguesa, em matéria de relações externas. Disse o óbvio sobre a abertura da Europa ao mundo e sobre o modo como Portugal lia esse tecido de relações. E falei de África, do desenvolvimento e - não fosse o diabo tecê-las... - referi a importância que dávamos a que as políticas de ajuda tivessem sempre em atenção a dimensão direitos do homem, boa governação, preservação dos princípios do Estado de direito, etc. Comecei a ver acenos positivos com a cabeça por parte de alguns deputados, o que me alentou a continuar.

Aproveitando uma pausa, ocorreu-me perguntar, em voz baixa, ao presidente da comissão: "Há algum ponto específico que ache que eu deva desenvolver?". A resposta sossegou-me, em definitivo: "Diga algo sobre a política de ajuda aos 'países menos avançados'". Pronto, era a sub-comissão de Desenvolvimento! Uf! E lá me relancei na doutrina que, sobre o tema, tínhamos estabelecido. No final da minha apresentação, alguns deputados, entre os quais o próprio Cohn-Bendit, colocaram questões, a que respondi como soube e pude, então já com a documentação à minha frente, que a minha "desaparecida" assessora entretanto me trouxera. Aproveitei para recordar que o então secretário de Estado português para o sector, Luís Amado, ali viria, semanas mais tarde, para aprofundar em detalhe a nossa posição. E tudo acabou bem, comigo a sair disparado para o plenário.

E foi assim, com a involuntária ajuda de Cohn-Bendit, por estes dias uma figura das primeiras páginas da imprensa francesa, que a presidência portuguesa da União escapou a uns instantes menos fáceis.

Bola

O orçamento do Ministério dos Negócios Estrangeiros, para 2009, dava para comprar 3,5 Cristianos Ronaldos.

Teríamos, no entanto, que fechar as Necessidades, todas as embaixadas e consulados e deixar de pagar aos nossos milhares de funcionários.

quarta-feira, junho 10, 2009

"A Europa não nos divide"

Quem estiver interessado em ler o artigo que ontem publiquei no jornal diário português "i", sob o título "A Europa não nos divide", pode encontrá-lo aqui ou aqui.

terça-feira, junho 09, 2009

10 de Junho

Há 429 anos, dia por dia, morreu o poeta que nos habituamos a ligar à própria identidade do país - Luís de Camões. Foi um ano duplamente triste, esse de 1580, em que a soberania portuguesa passou a ser tutelada por Madrid, uma humilhação histórica que duraria ainda seis décadas.

O sentimento nostálgico que nos atribuem está bem expresso na escolha da data da morte de um poeta como o nosso dia nacional. E a arte do compromisso está, de forma bem visível, flagrada no complexo nome que o 10 de Junho hoje tem - Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

Infelizmente, para muitas pessoas, esta data não passa de mais um feriado, que a habilidade ajuda frequentemente a transformar numa longa ponte. Este, porém, é o verdadeiro Dia dos Portugueses, uma festa que sublinha a forma diferente que temos de estar no mundo e pelo mundo. E é assim que o vêm, saudavelmente, muitas associações portuguesas aqui em França, celebrando-o com alegria e sem pompa, em imensas iniciativas populares realizadas ao longo das últimas semanas.

Agosto Português

É um filme estranho mas interessante, dirigido pelo português Miguel Gomes, este "Ce Cher Mois d'Août" (Aquele Querido Mês de Agosto), que acabo de ver em ante-estreia num cinema da "Rive Gauche". É uma obra onde se cruzam uma ficção leve com o realismo da simplicidade rural portuguesa, sob o pano de fundo da música popular que enche as festas do nosso Agosto. São duas horas e meia de um filme que, por um momento, se teme cruel, mas cuja linguagem se solta em registos de um humor, involuntário ou procurado, que chega a projectar-se sobre o próprio trabalho, ironizando com os respectivos autores. A cena final é, a este respeito, uma das melhores.

O filme teve já vários prémios e, em Portugal, terá tido uma audiência muito superior à média para filmes de autor. Veremos como a França o acolhe, tanto mais que, a espaços, há ressonâncias de outras filmografias que por aqui são apreciadas, como Oliveira ou César Monteiro. Teste muito curioso seria o confronto do filme com os cidadãos de origem portuguesa que vivem em França.

segunda-feira, junho 08, 2009

África

A morte de Omar Bongo, hoje confirmada, põe termo a uma liderança de mais de quatro décadas no Gabão. Para a França, trata-se do desaparecimento de uma personalidade que esteve quase sempre bem próxima de Paris - de De Gaulle a Giscard, de Mitterrand a Sarkozy, passando por Pompidou e Chirac - e que muito ajudou à gestão de tempos complexos na chamada "françafrique". Agora, resta esperar que a sucessão se faça de uma forma que não provoque situações de ruptura na ordem interna, como as que tiveram lugar, de modo desastroso, em outros países a antiga África francesa.

Nesse mesmo contexto trágico, não podemos deixar de lamentar a profunda crise que hoje afecta a Guiné-Bissau, onde violentas conflitualidades, ao que tudo indica exacerbadas por interesses criminosos que potenciam clivagens tradicionais, estão a destruir o já pouco que restava do sonho de Amílcar Cabral. Neste caso, Portugal deu já nota de estar disponível, se necessário for, para contribuir para uma solução de pacificação, de natureza regional, que possa abrir caminho à retoma da normalidade do processo constitucional.

Uma vez mais, Portugal mostra ser solidário com os países amigos, no prosseguimento de uma política externa que, sem tentações paternalistas, defende soluções de estabilidade e paz, assentes no respeito pelo Estado de direito. Alguns dirão que, em certos países, isso não passa de uma miragem longínqua. Pode ser que, por muito tempo, assim seja, mas importa perseverar e não perder a esperança. Uma política de indiferença seria o contrário da imagem que Portugal hoje tem pelo mundo e que lhe granjeia um grande respeito.

domingo, junho 07, 2009

O ciclo trabalhista

A vida política do Reino Unido tem, para o equilíbrio global da Europa, uma importância muito maior do que às vezes se supõe. A crise que atravessa a liderança britânica, no que pode vir a representar de mudança no paradigma de comportamento de Londres face ao projecto europeu e do seu potencial impacto na "special relationship" com os Estados Unidos, acaba por ser um tema que diz respeito a todos nós.

Nas últimas semanas, entretive-me, em algumas escassas horas vagas, a fazer a leitura cruzada de quatro livros que ajudam a explicar as tensões que afectam o "Labour" britânico, em especial a evolução da complexa relação entre as suas duas mais importantes personalidades, em tempos mais recentes: Tony Blair e Gordon Brown.

(Este é um velho "vício" de que não me liberto: juntar alguns livros de memórias sobre um determinado período e lê-los em paralelo, avaliando as diferentes visões dos mesmos factos. Fiz isto em temas tão diversos como o fim dos anos De Gaulle, o caso Watergate, as transições democráticas espanhola e brasileira, a queda de Margareth Thatcher, os últimos anos Clinton, etc. A quem tiver tempo e paciência, recomendo o método, porque vale francamente a pena.)

"The Point of Departure", do falecido ex-MNE Robin Cook, "The Blair Years", um diário de Alastair Campbell, assessor de imprensa de Blair, "Tony's Ten Years: Memoires of the Blair Administration", do jornalista televisivo Adam Boulton, e, finalmente, o curioso "Speaking for Myself", de Cherie Blair, a advogada e mulher de Tony Blair, são importantes testemunhos que hoje nos ajudam a perceber, não apenas o que se passou, mas igualmente o que se está a passar no actual ciclo do trabalhismo britânico. Um ciclo que, em 1997, trouxe de volta o "Labour" ao poder, 18 anos depois da experiência de Callaghan, pondo fim a uma travessia do deserto com as lideranças sem êxito de Michael Foot, Niel Kinnock e John Smith.

Para melhor fixar o retrato deste período, aí virão em breve as memórias de Tony Blair. Depois, seguramente, será a vez de Gordon Brown. E, para melhor se entender o duo deste ciclo trabalhista, teremos de ficar à espera das de Peter Mandelson, cujo livro de 2002 já está inapelavelmente datado.

Este tipo de revisitação memorialista do passado recente, em que os britânicos são mestres, é também uma forma de transparência democrática, que qualifica positivamente o sistema político do Reino Unido.

sábado, junho 06, 2009

A planta


Era um aeroporto de um país tropical. A sala VIP era desconfortável, arejada por ruidosos aparelhos à espera eterna de revisão, que quase abafavam as conversas. A delegação portuguesa espojava-se por horrorosos sofás de napa, no final de cinco dias de uma viagem oficial quase tão intensa quanto inútil.

O dignitário português que chefiava a comitiva, enfarpelado como a ocasião ainda recomendava, encaixara-se num canto, acompanhado por um qualquer ministro local, trocando banalidades.

Sem uma contraparte natural para a ocasião da despedida, já ansiosa pela "executiva" do avião que tardava, a esposa do chefe da delegação portuguesa errava pela sala, comentando as peças de artesanato que algumas senhoras da comitiva tinham ido adquirir, à última da hora, ao comércio do aeroporto, como forma de se verem livres do resto da moeda local.

Porém, a certa altura, nota-se que a senhora avança em direcção a um arbusto que fazia paisagem no fundo da sala. A embaixatriz de Portugal, mais por tropismo protocolar do que por uma qualquer evidente necessidade de apoio, segue-a, um tanto intrigada com aquele súbito interesse. E quando a vê, bem decidida, agarrar um dos ramos do arbusto, puxando-o com força, ousa perguntar-lhe, um tanto assarapantada: "O que está a fazer?". A resposta elucidou-a: "Estou a tirar um raminho para plantar lá no jardim. Não acha gira esta planta?". A embaixatriz, de facto, achava, mas duvidava muito que o plástico viesse a frutificar no jardim da esposa do nosso político.

Dia D

Hoje, na Normandia, comemoraram-se os 65 anos de um dia decisivo para a libertação da Europa. De toda a Europa? Não. Para além da Europa que Ialta deixou sob a tutela de Moscovo, os aliados "esqueceram-se", por razões que a Guerra Fria explicará, de fazer um gesto favorável ao desmantelamento das duas ditaduras ibéricas. E assim o povo português foi condenado a mais três décadas de autoritarismo e o nosso Dia D foi adiado até 25 de Abril de 1974.

sexta-feira, junho 05, 2009

Voto

Como aqui já foi dito, o Parlamento Europeu tem hoje, na vida política da União Europeia, bastante mais importância do que a que tinha no passado. E, se acaso o Tratado de Lisboa vier a entrar em vigor, essa importância irá aumentar e a capacidade da instituição de influenciar o nosso destino vai ainda reforçar-se. Por isso, é fundamental que tenhamos naquele Parlamento um grupo de deputados em quem confiemos, que defendam as nossas ideias e que o façam de forma eficaz.

Talvez ainda mais do que para os cidadãos que vivem no seu próprio país, a Europa comunitária é hoje um enquadramento decisivo para a actividade de quem está fixado noutro Estado-membro da União. O aperfeiçoamento do quadro dos direitos que a cidadania europeia concede é, assim, uma matéria que não pode ser indiferente a quem está expatriado, tanto mais que essa é uma das áreas relevantes da actividade do Parlamento Europeu.

Por essa razão, se acaso o leitor deste blogue é um cidadão português inscrito nos cadernos eleitorais num país estrangeiro, faça um esforço e, hoje ou amanhã, procure uma estrutura consular portuguesa e vote nas eleições para o Parlamento Europeu. É que, a exemplo das eleições para Presidente da República, nas eleições europeias o seu voto conta como qualquer outro e, se acaso esse mesmo voto não estiver no apuramento final, o leitor deixa de ter qualquer legitimidade para se queixar do resultado que os outros - os que não foram preguiçosos e foram votar - lhe impuseram. E, por cinco anos, vai ter de suportar as consequências políticas do resultado que esses outros decidiram por si, porque o Parlamento Europeu - é bom que saiba! - não pode ser dissolvido. Lembre-se disto!

Necessidades

A Associação Sindical dos Diplomatas Portugueses acaba de tornar público o seu novo site. Para quem se interessar, pode aí ler várias opiniões sobre a carreira diplomática, entre as quais a minha, ligando aqui.

Nomes

Telefonou-me, há pouco, um amigo a contar que vai abrir um bar com o nome de "O Bicho da Sede". Acho magnífico, embora eu tenha, há vários anos, a ideia de que seria um sucesso, em especial para uma clientela estrangeira nostálgica do 25 de Abril, abrir em Campo de Ourique, em Lisboa, o "Hotel Saraiva de Carvalho". Mas, vá-se lá saber porquê, ninguém pega na ideia...

Agustina


Foi já no dia 3, eu estava bastante longe, mas dizem-me que foi muito interessante e apreciada pelas dezenas de pessoas presentes a conferência que teve lugar na Embaixada, subordinada ao tema “Agustina Bessa-Luis e Manoel de Oliveira – um tecer do tempo e da vida” proferida por Catherine Dumas (professora na Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III) e por António Preto (doutorando na Universidade Paris VII).



Esta sessão inseriu-se no âmbito das comemorações do Ano Agustina - uma iniciativa da Guimarães Editores, apoiada pelo Instituto Camões e que assinalam o 55º aniversário da primeira edição do romance "A Sibila" - e foi feita em colaboração com os Leitorados de Português nas universidades de Paris.

Esta é uma teimosia minha: vamos continuar de portas cada vez mais abertas para as coisas culturais.

Obama

O poder é algo que, por vezes, não precisa de se afirmar para ser reconhecido. O modo como o mundo em geral - e Israel e os árabes em particular - aguardou o discurso no Cairo do presidente Obama foi a prova provada de que os EUA continuam a ser o dono do jogo estratégico à escala global, com ou sem crise, goste-se ou não. Com a Europa a ver, claro.

quinta-feira, junho 04, 2009

Benjamim Marques

Benjamim Marques é um nome da cultura portuguesa em França, onde vive desde há muito. Conhecia-o de nome, mas não ao seu trabalho. Abriu ontem uma exposição retrospectiva sobre alguns tempos mais recentes da sua obra - das "geologias" às "galaxiais", passando por outros caminhos novos, como me disse. Óleos, desenhos e aguarelas compõem um conjunto bastante interessante de um autor que, historicamente, se reivindica do surrealismo português do Café Gelo (embora "dissidente") e do seu trabalho junto de Vieira da Silva.

Esta exposição de Benjamim Marques está patente no "suR un R de Flora", um espaço multicultural de dimensão lusófona - "restaurant & bar musical & galerie d'art" - para os lados da Place de la Nation, em Paris, que merece uma visita mais cuidada do que a que ontem me foi possível fazer.

Marcello

Marcello Duarte Mathias é, para além de um amigo e colega diplomata, um excelente escritor. De quem creio ter lido tudo quanto publicou em livro.

Ontem, na Fundação Gulbenkian, aqui em Paris, foi lançado "À contre-jour: journal 1962-2008", uma selecção dos seus vários diários, editado na "La Différence", por essa personalidade a quem a cultura portuguesa em França muito deve, que se chama Joaquim Vital.

Um público interessado, entre o qual tive o prazer de me contar, ainda mal refeito do "jet lag" transatlântico, seguiu a apresentação feita por Catherine Dumas, também tradutora, tendo ouvido extractos lidos por Jean-Luc Debattice.

Marcello é autor de uma escrita culta, onde há muito de Camus e de um decantar crítico, às vezes algo cruel mas sempre inteligente, da sua experiência de vida, feita por alguns locais que também me coube em sorte frequentar, como Nova Iorque, Brasília ou Paris. Mas foi, sem dúvida, Paris, onde estudou, quando o seu pai por aqui foi embaixador, por quase duas décadas, a cidade que o terá marcado. E onde terminou a sua carreira, como embaixador junto da UNESCO. Talvez por isso, nas palavras que proferiu, retomou como sua a frase de Thomas Jefferson: "Tout homme a deux patries: la sienne et la France".

Comissão Europeia

João Vale de Almeida, chefe de gabinete de Durão Barroso, é o novo director-geral português na União Europeia. Uma ascensão merecida para alguém que tem uma longa carreira dentro das instituições comunitárias, essencialmente construída pelo próprio, como resultado do seu esforço e prestígio pessoais.

Dez anos depois de Portugal ter deixado de ter um director-geral e cinco anos depois de ter sido escolhido um presidente da Comissão com a nacionalidade portuguesa, o nosso país volta a ter acesso a um dos 34 lugares de topo da administração comunitária.

Um dia tenciono contar, em detalhe, a história da "perda" do director-geral português, um episódio onde se cruzam algumas responsabilidades nunca assumidas. E fá-lo-ei "naming names", como dizem os anglo-saxónicos.

A comunidade silenciosa

Às vezes, torna-se importante recordar o que alguns passaram, em tempos bem difíceis, para melhor se medir o caminho percorrido desde então. E ter legítimo orgulho nele.

Recomendo que leiam isto.

quarta-feira, junho 03, 2009

GM

"What's good for the country is good for General Motors, and vice-versa" - disse um dia, para a História, Charles E. Wilson, antigo presidente da General Motors e, mais tarde, responsável pela pasta da Defesa nos Estados Unidos.

Ao ler-se hoje, em toda a grande imprensa americana, uma patética carta do sucessor de Wilson aos actuais clientes da empresa, no dia em que se consagra a sua falência e a aquisição de parte por uma obscura firma chinesa, não podemos deixar de reflectir nas partidas que o destino pode pregar àquele que já foi um dos grandes emblemas da América.

Notas americanas


1. Referências em vinhos na lista de um restaurante em Washington: "Organic grapes", "Biodynamic solar powered winery", "Sustainable viticulture". Uma percentagem das receitas da venda dos vinhos é dedicada a "to help disadvantadge women transition into work place". A América é, de facto, outro mundo.

2. Magnífico (e tentador...) o hábito americano de manter abertas as livrarias de "bargains" e usados até bem tarde.

3. Pululam novas edições elogiosas da política securitária da administração Bush e sente-se que a administração Obama está sujeita a um fogo crítico pouco comum, num período que costuma ser de "estado de graça". Se há um azar...

4. Reencontro a "Dissent", a revista liberal que faz as delícias do "Upper West Side" nova-iorquino, da qual já fui assinante e leitor atento. Tal como muitas congéneres, permanece muito centrada na perspectiva americana, com o mundo islâmico e a China como focos prioritários de interesse. O crédito de Obama no seio do radicalismo liberal está claramente sob teste.

5. Não é só impressão minha: confirmam-me a crescente presença de locutores de cor nas televisões americanas.

6. Cada vez é mais comum encontrar falantes de espanhol nos EUA. Em 2050 serão um terço da população. Hoje, os avisos em espanhol fazem já parte da paisagem pública.

7. O grande tema mediático é a nova candidata hispânica à Corte Suprema, uma aposta de Obama já sujeita a críticas, algumas com laivos preconceituosos.

8. O voo da Air France no qual, daqui a pouco, vou atravessar o Atlântico oferece imensos lugares vagos. Sem surpresas.

terça-feira, junho 02, 2009

Brasil

Há ocasiões em que se percebe melhor o êxito de um país como os Estados Unidos da América. São as mesmas ocasiões em que não se entende como esse mesmo país pode, por vezes, cometer erros históricos de uma dimensão inimaginável. A capacidade que os EUA têm de gerar informação de alta qualidade não condiz com o ocasional tropismo que Washington tem para a não utilizar devidamente na suas opções de política.

Um seminário sobre as relações entre os EUA, a Europa e o Brasil, em que me coube o papel de "keynote speaker" sobre a perspectiva europeia, lado a lado com um investigador alemão, numa mesa com 20 pessoas, foi também uma ocasião para ouvir excelentes análises feitas por personalidades de 8 países, entre os quais professores de Bolonha, Sciences-Po/Paris, Munique, S. Paulo, MIT, Columbia, etc., para além de figuras do Banco Mundial e de diversos "think tanks" americanos.

O Brasil está na moda e a Johns Hopkins University conseguiu congregar especialistas da área económica, do mundo académico e de centros de estudo de relações internacionais que nos proporcionaram visões profundas, despreconceituadas e - o que é reconfortante - genericamente bastante positivas sobre o futuro do Brasil.

segunda-feira, junho 01, 2009

USA

Palestrar do outro lado do Atlântico é algo que, para além de satisfação, dá algum trabalho e cansaço. Mas a um convite da Johns Hopkins University não se resiste.

Para já, algumas horas depois de chegar, apenas pude notar que Washington está "obâmica" de esperança.

Entrevista à revista "Must"

Aque horas se costuma levantar?  Em regra, tarde. Desde que saí da função pública, recusei todos os convites para atividades “from-nine-to-f...