sábado, junho 20, 2009

Chile

Um dia destes, o blogue vai ser acusado de ser mobilizado pelos obituários, mas a verdade é que as coisas da vida são suscitadas, muitas vezes, por quem dela sai. E as pessoas só morrem uma vez.

Ao ler a notícia da morte de Hortensia Allende, não pude deixar de recordar a primeira visita que fiz, em 2000, ao Palácio de la Moneda e a profunda emoção que senti ao percorrer aqueles corredores, por onde havia passado um vento de tragédia que iria afectar, por muitos anos, a vida do Chile. E que, à época, me marcou imenso.

José Miguel Insulza, ministro chileno do Interior, que me recebeu no Palácio, disse-me então que entendia bem o sentimento da nossa "generación de los claveles" perante o golpe chileno.

Voltei a encontrar Insulza, no ano seguinte, numa livraria, em Nova Iorque, poucas semanas depois do 11 de Setembro. Lembrou-me: "nosotros también tuvimos el nuestro 11 de septiembre". De facto: 28 anos antes, em 11 de Setembro de 1973, data do golpe de Pinochet e da morte de Salvador Allende. Uma tragédia não apaga a outra, mas, por uma qualquer razão, vale sempre a pena lembrá-las juntas.

4 comentários:

Alcipe disse...

O Eliot dizia "every poem is an epitaph"...
Sejam assim os teus posts!

Anónimo disse...

A França recebeu, a seguir ao golpe de estado, muitos Chilenos que aqui se refugiaram. Aquela razao dramàtica levou-me a conviver com muitos deles, anonimos, com quem compartilhei emoçoes que ficam gravadas para sempre. Parece-me que ainda tenho nos ouvidos o barulho das botas cardadas que levaram à força milhares de prisioneiros para o estàdio e as melodias de Victor Jara que mesmo depois de lhe esmagarem as falanges ele continuou a tirar sons da sua guitarra e a cantar!
Nem ao proprio Neruda pouparam vexames. Ele que tanto amava o seu Pais, deveria viver os ultimos dia da sua vida, entre o 11 e o 23 de Setembro, num sofrimento sem nome...
Periodo dificil de apagar na historia do Chile... O paralelo com o 11 de Setembro na américa, em que uma tragédia nao apaga a outra, poderà ser procurado no facto de haver, ou nao, americanos implicados nas duas datas...
José Barros.

CARLOS CRISTO disse...

Marx tinha toda a razao ao falar do "momento historico", aquele "revolucionario" que significava um perigo para as elites chilenas, seria, hoje, um quase conservador,....

Anónimo disse...

Lembro-me desse momento, do Golpe de Pinhochet e da morte de Salvador Allende, como se fosse hoje. Ouvi a notícia à meia-noite, ao entrar para o carro que meu pai me emprestara (ainda conduzia há pouco tempo) e fiquei ali parado, estupefacto, como que não querendo acreditar no que acabara de ouvir. E foi com algum pesar, com a consciência política que já tinha, que pus o carro em marcha.
E Pinochet acabou por nunca ter sido realmente punido por aquele e muitos outros crimes de que foi responsável. Às vezes, na política, nem sempre ganham “os bons”.
P.Rufino

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