Olá, Nuno
Desculpa o atraso, mas nos Correios, desde que foram passados a patacos, uma carta parece-se com os comboios espanhóis do antigamente: “llega cuando llega”.
Ontem, não me esqueci, fez 73 anos que começou a batalha das Ardenas, que os alemães tiveram o cuidado de fazer coincidir com o dia em que tu nasceste. Sabe-se quando uma batalha começa, não se sabe quando vai acabar. É como as vidas, Nuno.
Não nos temos visto, nos últimos tempos. Nem tu nem eu, embora por razões diversas, temos passado pela nossa (bem mais tua do que minha) “mesa dois”. Ao que consta, aquilo, lá pelo Procópio, vai de vento em popa, para alegria do iban da Sedonalice. Parece um apeadeiro do 28, cheio de turistas, já só se ouve falar línguas da estranja. Dizem-me que, há dias, saltou da mesa do piano uma frase sonante. Soou a uma boca do Strecht mas, afinal, era um expatriado da Guiné-Equatorial, país onde, graças à CPLP, vai para cadeia quem não souber declamar Álvaro de Campos - diz-se que também vão por outras razões menos literárias, mas devem ser “fake news”, uma coisa que por cá agora há muito.
Deste nosso país, Nuno, nem sei bem o que te diga. Se eu te contasse que o Centeno vai presidir ao Eurogrupo, acho que me acreditavas tanto como se te dissesse que o Louçã e o Schäuble tivessem escrito um artigo a duas mãos para o boletim da IV Internacional. Na política, este foi um ano do nosso duche escocês: houve coisas muito boas na economia, ganhámos a Eurovisão (não estou a gozar!), Portugal andou cada vez mais na moda e parecia que o mundo nos sorria. Depois, um dia, tudo isso ardeu e este nosso velho país, afinal desordenado e tão frágil, acabou por vir ao de cima. E o governo do nosso amigo António Costa, que, tal como o Mendes Cabeçadas no 28 de maio, está cada vez mais “ministro de todas as pastas”, entrou numa deriva de trapalhadas. Deve ser por isso, por saber-se imbatível mestre neste domínio, que o Santana Lopes, que estava posto em sossego naquele papel de Madre Teresa que lhe caia tão bem, deu um golpe de Misericórdia e está a concorrer à liderança do PSD - é verdade, Nuno, ainda não nos recompusémos do abalo da saída do Passos, essa Axa que abençoava a Geringonça. Do Marcelo, que te hei-de dizer? Espalha imensos afetos, o país continua a gostar dele e a esperar que permaneça fiel àquilo que justifica essa afeição.
Caro Nuno, recebe um abraço do tamanho deste mundo onde fazes muita falta.
Francisco