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quinta-feira, maio 27, 2010

Debate transatlântico

Voltei hoje a Nanterre, a universidade mítica do Maio 68, para inaugurar um interessante colóquio sobre os olhares cruzados da intelectualidade portuguesa e brasileira, durante o último e republicano século comum. Tive o prazer de constatar, nesta organização que muito deve ao entusiasmo do professor José Manuel Esteves, os frutos da ligação da universidade francesa à UTAD - a universidade portuguesa a cujo Conselho Geral presido.

A palestra que apresentei assentou na análise das perceções mútuas entre Portugal e o Brasil, na sua complexidade e ambiguidade, para além da almofada ritual da retórica, um bosquejo histórico  e cultural que procurei conduzir desde o final do século XVIII até aos tempos da CPLP. Com alguns exemplos, defendi a tese, que há muito alimento, de que é a África - e a relação diferente de Portugal e do Brasil com a África - uma importante chave para entender muito do que tem sido o curso das relações políticas bilaterais ao longo dos últimos dois séculos.

Saiba mais sobre este interessante colóquio aqui.

quarta-feira, março 31, 2010

Augusto Maria de Saa

Foi já há cinco anos, contados dias por dia, mas parece que foi ontem. Uma emissão simultânea do programa Ritornello, da RDP2, com a Rádio Cultura, de Brasília, levou ao mundo um conjunto de testemunhos sobre essa figura ímpar da cultura luso-brasileira que deu pelo nome de Augusto Maria de Saa. 

Mobilizada a emissão pelo (afinal não confirmado) boato de que a Pléiade, da Gallimard, se preparava para editar, em papel bíblia, as obras completas de Saa, quando nem Portugal nem o Brasil haviam tido esse cuidado, na Lello ou na Aguilar, várias personalidades escalpelizaram então aspetos da personalidade desse prolífico escritor, de quem foram lidos poemas, recordados episódios e de cujos descendentes, na Rondônia, foram colhidas tocantes memórias.

A Augusto Maria de Saa, cuja morte trágica no cenário do regicídio de 1908 é desconhecida para muitos, é atribuída uma das melhores definições do destino luso-brasileiro: "Brasil e Portugal acabam por ser um verdadeiro enigma da geometria. Trilhando historicamente dois caminhos paralelos, esses caminhos acabam regularmente por se cruzar".

Torna-se muito difícil, no espaço modesto de um post, dizer algo que, ainda que remotamente, possa sintetizar a importância da obra que ocupa o labor do prestigiado Centro de Estudos Saaianos, em Taguatinga, hoje sob a douta direção do professor Romário Ibarapuera. Por isso, permito-me encaminhar os leitores interessados para um breve blogue, criado à época, onde poderão colher outros dados complementares: Memória de Saa.

Ah! convém que se diga: a emissão foi no 1º de Abril de 2005.

sexta-feira, janeiro 29, 2010

Trabalho

Para começar bem o fim-de-semana, deixo-os com uma história clássica da diplomacia brasileira. Já a vi contada como se tivesse sido passada em Lisboa ou em Paris, mas sempre com um porteiro português à mistura.

Um dia, de visita a uma daquelas cidades, uma senhora brasileira decide fazer uma surpresa ao seu sobrinho, diplomata em posto. Bate à porta do consulado brasileiro e pergunta por ele. O porteiro - que tinha de ser português... - responde-lhe:

- Não está.

- E não vem?

- Não, de manhã ele não vem.

- Então volto à tarde.

- Não vale a pena, minha senhora, porque, à tarde, ele não trabalha.

Já houve belos tempos na diplomacia!

Jô Soares

Leio na imprensa que Jô Soares inicia hoje, em Lisboa, espetáculos em torno de Fernando Pessoa.

Jô Soares é uma figura interessante, culturalmente com substância,  com uma escrita limpa e ritmada, autor e ator de grandes momentos de comédia televisiva, com a criação de personagens que ficaram na memória coletiva. Hoje, infelizmente, perde-se um pouco pela obrigatoriedade que a si próprio se impôs de apresentar um talk show seis dias em cada semana. Com raras exceções, acaba, nessa atividade, por fazer programas demasiado "leves", muito abaixo daquilo que é a sua real qualidade profissional. Por isso, um pouco como acontece com Herman José, conheço muita gente que hoje já tem grandes saudades do "velho Jô Soares".

Há três anos, no Brasil, convidou-me para ser entrevistado no seu programa, um dos mais vistos de toda a TV brasileira. É um trabalho de produção e realização impressionante. Há duas gravações por semana. Em cada um desses dias são feitos, de seguida, três programas, que depois são apresentados em três dias consecutivos.

A conversa que tivemos foi bastante simpática, com referências ao amigo comum que era Raul Solnado. Falámos da vida diplomática, do 25 de Abril, de dom João VI e, inevitavelmente, das diferenças entre o português do Brasil e de Portugal. Com notas dele ao nosso "sotaque", claro. E também lá se falou da sua paixão pela obra de Fernando Pessoa.

Para mim, o momento mais delicado do programa foi quando Jô Soares puxou a conversa para uma velha anedota sobre Salazar e Américo Tomás, passada no hospital onde o primeiro estava internado após a sua queda, historieta em que intervém o médico americano que tratou o ditador. Jô Soares procurou a minha ajuda para completar a anedota, a qual, aliás, é algo cruel. Não lhe dei "saída". Acho que ser embaixador de Portugal  não é compatível com a colaboração no apoucamento, num país estrangeiro, de figuras de Estado portuguesas, por mais detestáveis que elas possam ser, como era o caso. Assim, acabei por ficar aquilo que se pode dizer, desta vez muita com propriedade, "sem graça".

sábado, janeiro 23, 2010

e-book


Um amigo brasileiro, diplomata e prolífico escritor da área das relações internacionais, mandou-me um convite para o "lançamento virtual", hoje, de um seu e-book, isto é, um livro em edição eletrónica, que pode ser adquirido aqui. A sessão tem como ponto alto um "chat" com o autor, a ter lugar aqui. Para o convite ser completo, só não fica clara a forma como poderemos ter acessos aos salgadinhos que estas ocasiões sempre proporcionam.

O mundo muda muito...

quarta-feira, janeiro 20, 2010

Futebóis

Há dias, o "Blogue" de Marcelo Rebelo de Sousa publicado pelo "Sol" (semanário que, aqui a Paris, "llega quando llega"), recordou uma historieta clássica da relação luso-brasileira, que não resisto a registar, com a devida vénia.

Estávamos em Março de 1975, tempo "quente" e revolucionário da política portuguesa, com Vasco Gonçalves como primeiro-ministro de Portugal. No Brasil, a ditadura estava em pleno, com Ernesto Geisel na presidência. Enfim, época forte para os militares de ambos os países, embora de sinal bem contrário. Por isso, um ambiente de alguma tensão nas relações bilaterais, em que cabia ao embaixador português, Futscher Pereira, usar toda a sua conhecida genialidade diplomática para acalmar as hostes locais.

A seleção portuguesa fora convidada para disputar contra o Brasil o jogo inaugural de um estádio, numa cidade não muito distante de Brasília. Embora formalmente "amistoso",  o jogo acabou, a certa altura, por gerar um incidente: um jogador português lesionou-se e foi substituído. Minutos depois, aparentemente por confusão, o mesmo jogador reentrou no jogo. Portugal jogava, assim, com 12... O árbitro apercebeu-se e encetou um longo e ácido "bate-boca" com Pedroto, então treinador português. A nossa equipa começou a ser apupada por todo o estádio e o anedotário lusófobo deve ter sido escasso para alimentar a expressão do desagrado do público local. Pedroto pretendia que a sua equipa abandonasse o terreno de jogo. Marcelo Rebelo de Sousa (à época, membro da direcção da Federação Portuguesa de Futebol, para quem não saiba) e o seleccionador Abílio Rodrigues conseguem evitar o que seria um escândalo. Mas não conseguem evitar que os brasileiros, na ressaca da irritação, cancelem a receção em honra dos representantes da "mãe pátria".

A vida não ia então fácil para as relações luso-brasileiras. Para a história, Portugal perdeu o jogo, o que terá acabado por atenuar o desfecho do incidente.

33 anos depois, também na inauguração de outro estádio, também perto de Brasília, também num jogo amigável, Portugal voltou também a perder - desta vez por uns esmagadores 6-2! O embaixador português era outro, não ameaçámos abandonar o terreno de jogo, não houve incidentes diplomático-protocolares, mas, podem crer!, a noite também não foi fácil para quem então representava Portugal no Brasil. E se, em 1975, jogámos com um dúzia, fiquei com a sensação de que, dessa vez, jogámos apenas com meia-dúzia... É que houve jogadores que não cheguei a "ver" em campo. Valha-nos o facto de, agora, as relações bilaterais serem excelentes.

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Cleonice


Chama-se Cleonice Berardinelli. É brasileira, tem 93 anos e uma frescura de espírito de fazer inveja a muitos. Foi sempre professora de literatura portuguesa. Fez, há meses, uma conferência sobre Camões no Centro Gulbenkian em Paris sobre Camões, que registei aqui. Entrou, há dois dias, para a prestigiada Academia Brasileira de Letras. É minha amiga e amiga de Portugal.

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Niemeyer

Oscar Niemeyer, o genial arquitecto brasileiro, faz hoje 102 anos.

Em 2007, ano do seu centenário, Niemeyer foi eleito membro da Academia das Ciências de Portugal. Antes, falei-lhe pelo telefone, sondando-o sobre a aceitação do título. Ficou encantado com o convite e deu-me logo conta das suas raízes portuguesas, origem dos apelidos "Ribeiro de Almeida", que figuram no seu nome.

Fui depois visitá-lo ao Rio de Janeiro, para lhe entregar o diploma. Foi uma conversa longa, a que também esteve presente o meu colega António Almeida Lima, cônsul-geral no Rio de Janeiro, durante a qual demonstrou uma agilidade de espírito e uma memória notáveis.  Falou das suas passagens por Portugal, onde se deslocava sempre de barco, porque detesta aviões. Recordou uma deslocação a Lisboa, em 1975, com as paredes da cidade cheias de slogans revolucionários: "Os restantes passageiros, quase todos uns insuportáveis reaccionários, estavam escandalizados. Eu adorei!" - disse, fazendo juz à fé comunista que, até hoje, nunca o abandonou.

Entre outras coisas, disse-me ter pena que a única obra em Portugal do seu escritório seja um hotel no Funchal (uma outra construção, planeada para os arredores de Lisboa, nunca chegou a ser concluída), tendo tomado a iniciativa de destacar o "excelente arquitecto" que é Álvaro Siza Vieira.

Nessa conversa, Niemeyer falou também do seu gosto pela literatura portuguesa, citando Diogo do Couto e Guerra Junqueiro. Da estante do seu escritório pendia uma folha de papel, com um poema dactilografado. À saída, por curiosidade, deitei um olhar mais atento. Era a "Trova do Vento que Passa", de Manuel Alegre.

Brasília fará 50 anos em 2010. Aposto em como Niemeyer estará nas comemorações!

terça-feira, dezembro 08, 2009

Brasil - um ano depois


Dia por dia, faz hoje precisamente um ano que deixei o Brasil.

Como memória desse tempo, fica o texto que então publiquei, na introdução ao meu livro "Tanto Mar? - Portugal, o Brasil e a Europa", e que pode ser lido aqui.

segunda-feira, dezembro 07, 2009

Caetano Veloso



Caetano Veloso é um compositor e um cantor excepcional. Há dois anos, em S. Paulo, apenas com uma viola e a sua voz, vi-o encher um palco e conquistar o público de uma forma que muito raramente acontece. Foi um dos melhores espectáculos a que já assisti.

Por uma razão que nunca descortinei, Caetano Veloso dá-se ares de intelectual e muita gente vai nisso, mesmo entre nós. É talvez a emulação com Chico Buarque que o leva a aventurar-se pelos caminhos do pensamento, onde tropeça em algumas notas, com uma presunção que se alimenta de ideias arrevezadas, de frases para parangona, de um "name-dropping" para provar não se sabe bem o quê. Nestes caminhos, hoje como no passado, assume com regularidade uma lusofobia que sabe tocar de perto o sentimento de uma certa intelectualidade.

Há dias, lá esteve na Casa Fernando Pessoa. Falou de Lula, para dizer esta pérola: "à luz tropical do sebastianismo de Pessoa via Agostinho, Lula surge a meus olhos como uma figura de grandeza histórica e épica. Uma grandeza do tipo épico em versos líricos que se encontra em ‘Mensagem’ [ao dizer isto, quase começa a rir-se, refere o Público]. Sinto ternura, simpatia, amor pelas figuras que pareçam carregar a tocha dessa caminhada em que me descobri implicado desde menino”.

Sobre as razões que levam o seu país a apreciar um presidente que “nem sequer concorde os artigos com os substantivos que usa, se elegendo e tendo 80 por cento de aprovação”, Caetano adianta tratar-se de um sinal “dessa originalidade brasileira” que vem do facto de “sermos portugueses, de termos sido colonizados dessa maneira que agradou ao Gilberto Freyre”. Mas que não agrada a Caetano, que talvez tivesse preferido os holandeses. Pois é, mas foram os portugueses, desculpa, ó Caetano!

E agora, se me permitem, vou começar a noite a ouvir o magnífico cantor que é Caetano Veloso.

Em tempo: Inês Pedrosa, em comentário, afirma que as citações reportadas pela imprensa foram decontextualizadas e que o texto completo confirmará isso. Concedo que possa ser assim, mas já ouvi, no passado, Caetano Veloso fazer considerações lusofóbicas. Mas fico a aguardar mais dados.

sábado, dezembro 05, 2009

América Latina

A avaliação feita por grande parte da comunicação social sobre os resultados da recente cimeira ibero-latinoamericana, realizada em Portugal, tendeu a sublinhar as supostas ineficiências desta comunidade de países, relegando para um notório segundo plano as virtualidades do trabalho conjunto, que vem sendo desenvolvido ao longo dos anos que a mesma leva de actividade.

Julgo que teria sido importante que a opinião pública pudesse ter elementos mais concretos sobre este exercício, sem dele esperar aquilo que ele não pode dar, mas igualmente tendo em atenção os progressos por ele alcançados.

Esta relação da América Latina com Portugal e Espanha tem vindo a aculturar uma atitude comum face a um conjunto muito diverso de sectores, com uma cooperação cujo aprofundamento sofre, naturalmente, da circunstância de estarmos perante Estados muito diversos, marcados por realidades nacionais muito distintas, algumas das quais conflituais entre si.

É sabido que o processo político na América Latina tem tido uma progressão não linear, com avanços e recuos, em especial em países cuja estabilização económico-social está longe de concluída. Nenhuma força exterior, muito menos uma estrutura de enquadramento oriunda de vectores de proximidade cultural, como é o caso da comunidade ibero-latinoamericana, tem condições de forçar essa realidade e de "apressar" decisivamente o futuro de todos e de cada um.

Não será, porém, por acaso que o conjunto de Estados agregados nesta comunidade continua interessado em mantê-la. É por detectar muitos pontos positivos no prosseguimento desse trabalho que todo aquele vasto número de países se mantém empenhado no exercício - cuja actividade, convém lembrar, se desenvolve numa multiplicidade de modelos de cooperação que estão diariamente no terreno e de que as cimeiras são apenas um momento pontual de avaliação e de reorientação programática e política.

A conflitualidade interna em certos Estados latino-americanos, bem como a ocorrência de dissídios entre outros, fazem parte integrante da vida internacional e têm de ser compreendidos como factos que não é possível evitar. O que a comunidade deve fazer, e fá-lo com regularidade, é colocar à disposição desses mesmos Estados, sob a óptica de um património de valores e princípios que todos subscreveram, a possibilidade de gizar plataformas de diálogo. Umas vezes isso é possível, outras vezes não.

Além disso, julgo que a nossa opinião pública também não se dá conta da valia que esta vertente de relação geográfica tem para a relevância da acção de Portugal e Espanha no seio da definição da política exterior da União Europeia - onde ambos os países se assumem hoje, com enorme e inigualado destaque, em todo o quadro de definição da relação Europa-América Latina.

Esta cimeira em Portugal, realizada num contexto difícil para alguns Estados latino-americanos, constituiu-se como um esforço colectivo muito meritório para o prosseguimento da comunidade ibero-latinoamericana.

Alguns aspectos haverá, porventura, que analisar mais aprofundadamente no futuro, com vista a dar a esta comunidade um carácter cada vez mais satisfatório para todos os seus integrantes. Penso, por exemplo, no interesse que haverá em fazer prevalecer, naquele contexto, um maior equilíbrio entre os dois grupos linguísticos que a compõem, gizando atempadamente um agenda comum entre Portugal e o Brasil, que possa ir em paralelo com aquela que hoje é assumida pelos países de língua espanhola e que tem já importante expressão em muita da estrutura e actividade da comunidade. Esse é, aliás, um dos caminhos para vir a conferir ao Brasil o relevo que tem direito a usufruir no seio da comunidade, pelo facto de ser o maior e mais importante país desta estrutura bi-regional.  O tempo ensinou-me que uma condição sine qua non para o progresso da comunidade ibero-latinoamericana assenta na possibilidade de potenciar do entusiasmo do Brasil neste exercício. Com isso, por variadas razões, Portugal só terá a ganhar.

Em tempo: chamo a atenção para os oportunos comentários sobre este post inseridos no Blogue Notas.

quarta-feira, novembro 25, 2009

Recife

Com grande pena minha, não irei estar no Recife para receber, com 13 outros galardoados, o diploma "Personalidade da Neolatinidade 2009", durante o III Festlatino, Festival Internacional de Línguas e Literaturas Neolatinas, organizado pela Fundação Joaquim Nabuco.

Entre as línguas neolatinas presentes no Festlatino contam-se o português, o francês, o italiano, o espanhol, o galego, o catalão, o romeno, o romanche, o ladino, o sardo e o provençal. O Festival inclui colóquios, seminários, exposições e espectáculos do património latino.

Aproveito este post para enviar um abraço aos meus amigos Fernando Lyra, presidente da Fundação Joaquim Nabuco, e Humberto França, organizador do Festlatino. E também aos amigos do Gabinete Português de Leitura. Desta vez, não poderemos ir ao Leite experimentar o bolo Souza Leão... Não sabem o que é? Vejam na internet!

segunda-feira, novembro 23, 2009

Pomar em Brasília

Júlio Pomar é hoje um dos mais importantes pintores portugueses. Vive entre Paris e Lisboa. Hoje, em Brasília, é inaugurado um seu painel de azulejos, que passa a figurar numa longa parede da Biblioteca, esse magnífico edifício desenhado por Oscar Niemeyer na Esplanada dos Ministérios. Assim se conclui a ideia, em que me envolvi há quatro anos, de recuperar este trabalho. A obra original de Júlio Pomar, com mais de duas décadas, havia sido desmontada do local onde estivera colocada e jazia armazenada em caixotes.

Graças à persistência da Secretaria da Cultura do governo do Distrito Federal, com a ajuda financeira da Caixa Geral de Depósitos, o projecto de recuperação foi levado avante, como o Correio Braziliense ontem assinala e o Portugal Digital hoje refere.

Na vida diplomática, nem sempre conseguimos concretizar aquilo a que nos propomos. Mas, às vezes. isso acontece. Brasília merece bem este belo painel, sonhado por Júlio Pomar e por alguém que muito gostaria de o ver no local onde agora fica, essa grande figura da lusofonia que foi José Aparecido de Oliveira.

domingo, novembro 08, 2009

Vasco

É o afloramento da minha "costela" brasileira, mas não posso deixar de congratular-me vivamente com o retorno à divisão principal do Brasil do velho Vasco da Gama, o mais representativo clube português por aquelas terras.

Um forte abraço ao meus amigos vascaínos!

terça-feira, novembro 03, 2009

Trópicos mais tristes

Nos obituários, a generosidade costuma abundar. Porém, quero crer que o sentimento de perca que a morte de Claude Lévy-Strauss desencadeou por todo o mundo tem uma genuinidade muito grande. Foi um homem que deu um notável contributo às Ciências Sociais.

No que me toca, passei a ver muitas coisas de forma diferente depois de ler o seu "Tristes Trópicos" e a minha compreensão do Brasil ficaria muito incompleta sem ter antes feito essa leitura.

terça-feira, outubro 20, 2009

Portugal e Brasil

Depois do triste "affaire" Maitê Proença, talvez valha a pena lembrar que há quem, no Brasil, tenha uma visão bem mais interessante - e incomensuravelmente mais culta! - daquilo que liga os dois países.

É claro que não me dá jeito nenhum aceitar o amável convite que recebi para ir ao Leblon na próxima semana, mas este livro de Ângela Dutra de Menezes, agora em nova edição, é um excelente exemplo de como a realidade portuguesa pode ser lida de outra forma, bem mais carinhosa e elaborada, embora sem necessitar de ser pesada, e por mais provocatório que o título possa parecer à "sensibilidade" de alguns ouvidos portugueses.

quarta-feira, outubro 14, 2009

Palhaçadas

Nos últimos dias, a internet foi inundada por um vídeo no qual a actriz brasileira Maitê Proença revela ideias fortemente preconceituosas em relação aos portugueses. Trata-se de graçolas de quem, finalmente, tornou clara uma lusofobia que, com inegável sucesso, há anos que vinha a disfarçar bastante bem. Entretanto, fez já um acto de contrição, porque, afinal, o mercado português sempre lhe dá regular jeito à conta bancária.

Quando fui embaixador no Brasil, defrontei-me, por mais de uma ocasião, com situações idênticas. Algumas vezes em que achei oportuno, respondi a esses comentários. Outras, optei por não reagir.

Este é um problema que se coloca, de forma recorrente, a muitos embaixadores: avaliar se devem ou não actuar, em face de ataques públicos ao seu país ou aos seus cidadãos. Há que ponderar se tal reacção não acabará por ter um efeito desproporcionado, isto é, se não ajudará a chamar mais atenção para a questão, do que aquela que ela teve no momento em que ocorreu. E, depois, nos casos em que decidirmos intervir, há que ainda que escolher e medir o tom que essa intervenção deve ter. Podem crer que é uma questão nada fácil.

Também aqui em França, o problema se coloca. Um conhecido cómico de "stand-up comedy", Patrick Timsit, tem feito, num espectáculo público em exibição em Paris, comentários desagradáveis sobre os portugueses. Vários compatriotas sugeriram uma reacção a esse "sketch". Também acho que devemos tê-la: rir dele. Não é isso que os palhaços querem?

sexta-feira, outubro 09, 2009

Abstenção nas Comunidades

O Portugal Digital, uma interessante plataforma informática luso-brasileira, muito atenta às questões económicas e sociais, dá hoje conta da subida da abstenção entre os votantes, no Brasil, nas recentes eleições legislativas.

Nos últimos anos, correspondendo a um imperativo cívico mas, igualmente, a apelos públicos de várias origens, os consulados portugueses estimulam os cidadãos nacionais, no momento em que fazem a sua inscrição ou praticam actos consulares, a promoverem simultaneamente o seu registo no recenseamento eleitoral.

Os números do recenseamento, se bem que em dimensões geograficamente diferenciadas, mostram bem o êxito desse esforço. Porém, há um outro "lado" desta realidade: muitos desses cidadãos, não obstante terem acedido ao convite para se recensearem, mantêm-se, na prática, completamente alheios à realidade política em Portugal, pelo que, chegado que seja o momento das eleições, ficam alheios a elas e não votam.

Esta é uma importante razão que não pode ser esquecida, ao fazer-se a leitura deste aumento da abstenção. E é também um alerta para a necessidade das forças políticas portuguesas não se lembrarem dos cidadãos nos estrangeiros apenas na ocasião das eleições, importando manter com eles um continuado esforço de informação ao longo do tempo.

sexta-feira, outubro 02, 2009

Rio olímpico

O Cristo do Corcovado pode sorrir. Daqui a sete anos terá a seus pés os Jogos Olímpicos.

Um forte abraço de parabéns para os meus amigos brasileiros.

quarta-feira, setembro 23, 2009

Asilo Político

A propósito do refúgio que o presidente hondurenho obteve na Embaixada brasileira em Tegucigalpa, lembrei-me de uma pequena história.

Há alguns uns anos, num final de manhã, o ministro-conselheiro entrou no meu gabinete, em Brasília, com um ar esbaforido: "Temos aqui na Embaixada um homem a pedir asilo político!". Era 6ª feira, dia em que a Embaixada fechava um pouco mais cedo. Muitos funcionários já tinham mesmo saído.

Uma asilado político é uma "dor-de-cabeça" tradicional na diplomacia. Cada caso é um caso e a doutrina que se desenvolve sobre o assunto situa-se sempre numa margem de grande ambiguidade.

De que se tratava? Um cidadão brasileiro, oriundo de uma localidade a algumas centenas de quilómetros de Brasília, surgira na secção consular da Embaixada, transportando uma grande mala que alguma incúria deixara entrar sem questionar, e afirmara que estava a ser perseguido politicamente pelas autoridades brasileiras, que estava na iminência de ser detido e que, por essa razão, vinha pedir asilo político. Um problema adicional era a mala: segundo disse, ela tinha uma bomba que faria explodir, no caso da sua reivindicação não ser aceite.

Nestas ocasiões, nunca sabemos, à partida, se estamos perante um simples "bluff" ou uma coisa mais séria, obrigando o sentido de responsabilidade a começarmos por considerar a segunda opção. Pedi a um funcionário experiente para ser o único interlocutor do homem e mandei reduzir ao mínimo o pessoal, mantendo-se um total "black-out" para fora da Embaixada sobre o incidente. O homem, desde o primeiro momento, deu sinais de algum desequilíbrio psicológico - factor com que era importante contar mas que não ajudava a nos sossegar. Ao que disse, embora sempre de forma muito confusa, seria amigo de uma personagem política de segunda linha, envolvida num recente escândalo, sentindo-se perseguido e sob ameaça iminente.

Foi-lhe explicado, com muita calma, que o Brasil era um país livre, uma sólida democracia, onde "quem não deve não teme" e onde cada cidadão tem hoje todos os meios possíveis - da comunicação social à Justiça - para assegurar a preservação e defesa dos seus direitos, em especial políticos. No Brasil, há muito que não há presos políticos, pelo que um ambiente de perseguição sem fundamento não era plausível. E que, por essa e por outras razões ligadas à inexistência de um enquadramento jurídico bilateral na matéria, não era possível conceder-lhe asilo.

O homem manteve-se renitente e obstinado, por algumas horas. A certo ponto das conversas que mantinha com o seu interlocutor, mencionou o nome de um deputado brasileiro local, de quem seria conhecido. Telefonei de imediato ao político que me esclareceu que estávamos perante uma pessoa muito desequilibrada, embora pacífica e totalmente inofensiva, de uma profunda religiosidade. Pedi-lhe para falar com o nosso homem, para o acalmar, o que simpaticamente fez.

Entretanto, a questão da religiosidade do homem fez-nos alguma luz! O interlocutor do putativo "asilado", percebendo já o respectivo cansaço, perguntou-lhe, a certo passo, se, em face da sua fé, não quereria aconselhar-se com um sacerdote. O nosso homem hesitou um pouco, mas, ao fim de algumas persuasivas insistências, acabou por dizer que aceitava essa hipótese.

E é aí que as "artes" diplomáticas vêm ao de cima. Num edifício situado a pouco mais de cem metros da Embaixada fica a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Foi-lhe explicado que, mais do que um simples sacerdote, poderia até falar com um bispo! Este "upgrading" religioso pareceu agradar-lhe. Sugerimos ao homem que fosse até lá, que reflectisse com a ajuda dos "bispos" (não fazíamos a mínima ideia se estava por lá algum bispo...) e que, depois, "voltasse para nos dizer alguma coisa". Surpreendentemente, aceitou. Enviei um carro da Embaixada, com o seu interlocutor a acompanhar, levá-lo à porta da CNBB. Pelo caminho, confessou que a mala não tinha nenhuma bomba, que continha apenas roupa...

Não sei pormenores do que aconteceu na conversa do nosso "refugiado" na CNBB, entidade que avisámos telefonicamente do que ia acontecer e que, pelo sim pelo não, não deveriam deixar entrar a mala que o homem transportava. Vim a saber que acabou por regressar nessa tarde a casa, sem mais problemas.

Foi um susto, embora pequeno, um tipo de incidentes que faz parte da vida diplomática.

A fórmula de Garrincha

Foi no Mundial de 1958. Garrinha estava a ser instruído pelo treinador Feola sobre o modo de ultrapassar a defesa russa. Feola dava sucessiv...